Fake News: a era da pós-verdade
As fake news invadem as redes com falsas novidades todos os dias. No artigo a seguir, entenda como estas notícias são capazes de mudar a direção e vida de muitas pessoas. E mais, saiba quais são os principais sites de Fake News brasileiros e como atuam. Leia! (Imagem: Folha de São Paulo)
“A diferença é quando você engana, quando cria uma realidade na medida certa para alguém, quando você se dirige a uma pessoa porque sabe que é mais suscetível de cair em teorias conspiratórias porque você obteve esse perfil dela, e a conduz a uma espiral de notícias falsas. É diferente de bater numa porta indeterminada se identificando como parte de uma campanha. Uma das coisas que fazíamos nos Estados Unidos era pesquisar essa noção de deep state e a paranoia com o Governo. Coisas como o que acontece se chegarem e levarem as suas armas. Você pode traçar o perfil de um grupo de pessoas muito receptivas a essas teorias conspiratórias, do tipo de que Obama mandou tropas para o Texas porque não está disposto a sair. Então você fabrica blogs ou sites que parecem notícias e os mostra o tempo todo às pessoas mais receptivas a esse pensamento conspiratório. Depois elas assistem à CNN e lá não há nada do que eles veem o tempo todo na Internet, e pensam que a CNN esconde alguma coisa.”
Não está entendendo nada? Calma, não é uma narrativa muito louca de ficção, muito menos The Sims!, aquele jogo de realidade virtual (e quem dera fosse). As palavras acima são de Christopher Wylie, em entrevista para o El País Internacional. Esse cara é nada mais nada menos que a principal peça de uma investigação sobre os desvios de dados de 50 milhões de usuários estadunidenses do Facebook. Ele fez parte de uma consultoria privada americana e com matriz no Reino Unido, a Cambridge Analytica (CA), que aparentemente usou esse material para alinhar perfis psicológicos com táticas de captação eleitoral, na última eleição norte-americana, pela qual a curiosa figura, Donald Trump, foi eleito presidente. Além disso, a maior e mais conhecida rede social do mundo tem sido alvo de apurações sobre sua possível influência política em favorecimento do Brexit (abreviação usada para se referir à saída de parte do Reino Unido da União Europeia.)
Afinal, o que isso tem a ver com o artigo de hoje? Tudo. Pois, a principal ferramenta da, como tem sido chamada, “publicidade política”, é a manipulação e redirecionamento dos fatos, ou seja, a pura criação de fakes news, notícias falsas, com foco em influenciar ou controlar o eleitorado. O escândalo, sem dúvidas, é o maior e mais expressivo da história da rede social, o que acabou dando origem a maior queda de suas ações em Wall Street desde 2012. Mas, como essas notícias afetam a nossa vida? é o que você vai conferir nas linhas a seguir, além dos principais redatores de notas falsas da “imprensa” e suas características, assim como as maneiras de se reconhecer essas notícias.
O que é a pós-verdade?
Todo ano, o departamento Oxford Dictionaries, da consagrada universidade de Oxford, escolhe um termo de destaque da Língua Inglesa como sendo o vocábulo do ano. Em 2016, “post-truth” (pós-verdade), foi a palavra eleita, que, segundo o Dicionário Oxford, significa algo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.
Apesar de já haver relatos de seu uso por Steve Tesich, dramaturgo sérvio-americano, em 1992, segundo a editora em seu texto de divulgação da palavra eleita, a ""pós-verdade" deixou de ser um termo periférico para se tornar central no comentário político, agora frequentemente usado por grandes publicações sem a necessidade de esclarecimento ou definição em suas manchetes". E isso, segundo a própria Oxford Dictionaries, deu-se principalmente pelo grande compartilhamento de notícias falsas nas eleições americanas de 2016, assim como a campanha a favor do Brexit, (aquela história que contamos na introdução.
Para se ter uma ideia da proporção do assunto, boatos como o de que o ex-presidente Barack Obama não seria americano e teria formado o Estado Islâmico, e de que imigrantes turcos tomariam a Inglaterra caso sua saída da União Europeia não fosse confirmada, se espalharam amplamente na época da de campanhas políticas americana e de campanha do plebiscito do Bric. Além disso, na Colômbia, recentemente um referendo para aprovação de um acordo de paz entre as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo flopou graças ao forte movimento que as igrejas, em sua maioria protestantes, fizeram contra a decisão, defendendo que o mesmo influenciaria o fim da família tradicional e que estimularia a prática da homossexualidade em crianças. Barack Obama nasceu em Honolulu, Havaí, território americano. Nunca se confirmou qualquer ameaça de invasão de refugiados turcos na Inglaterra. O referendo de paz da Colômbia jamais propôs o fomento da prática homessexual, mas sim a igualdade de gênero, “para garantir que mulheres e homens participem e se beneficiem em pé de igualdade da implementação desse acordo”, como é citado em meio às suas 297 páginas.
Como reconhecer uma fake news?
Usando como suporte os parâmetros de um grupo de estudo da Universidade de São Paulo (USP), a Associação dos Especialistas em Políticas Públicas de São Paulo (AEPPSP), conseguiu elencar o sites que mais passam adiante notícias duvidosas, informações falsas, ou boatos, no Brasil. Por meio de um instrumento, elaborado por pesquisadores da USP, o “Monitor do Debate Político no Meio Digital”, foi possível mensurar os compartilhamentos de notícias no Facebook e ter um pouco da proporção da abrangência de notícias postadas por sites que tem como objetivo a arquitetar e distribuir conteúdos de pós-verdade política em nosso país.
Por meio da pesquisa, foi possível indicar que esses “veículos de comunicação” não possuem assinatura em suas “reportagens”, ou mesmo editores responsáveis e atualmente são os encarregados pelas chamadas bolhas sociais, nas principais redes, mas principalmente pelo Facebook e pelo WhatsApp. Graças aos algoritmos do tio Mark, os usuários têm propensão a receber informações que colaborem com a sua perspectiva.
Além disso, esses sites possuem mais características em comum, como ficou categorizado pelo estudos. Listamos abaixo para você se ligar e ficar de olho:
1. Foram registrados com domínio .com ou .org (sem o .br no final), o que dificulta a identificação de seus responsáveis com a mesma transparência que os domínios registados no Brasil.
2. Não possuem qualquer página identificando seus administradores, corpo editorial ou jornalistas. Quando existe, a página ‘Quem Somos’ não diz nada que permita identificar as pessoas responsáveis pelo site e seu conteúdo.
3. As “notícias” não são assinadas.
4. As “notícias” são cheias de opiniões — cujos autores também não são identificados — e discursos de ódio (haters).
5. Intensiva publicação de novas “notícias” a cada poucos minutos ou horas.
6. Possuem nomes parecidos com os de outros sites jornalísticos ou blogs autorais já bastante difundidos.
7. Seus layouts deliberadamente poluídos e confusos fazem-lhes parecer grandes sites de notícias, o que lhes confere credibilidade para usuários mais leigos.
8. São repletas de propagandas (ads do Google), o que significa que a cada nova visualização o dono do site recebe alguns centavos (estamos falando de páginas cujos conteúdos são compartilhados dezenas ou centenas de milhares de vezes por dia no Facebook).
O mesmo estudo também concluiu que os produtores de “pós-verdades” mais compartilhados nas timelines dos brasileiros são:
* Ceticismo Político: http://www.ceticismopolitico.com/
* Correio do Poder: http://www.correiodopoder.com/
* Crítica Política: http://www.criticapolitica.org/
* Diário do Brasil: http://www.diariodobrasil.org/
* Folha do Povo: http://www.folhadopovo.com/
* Folha Política: http://www.folhapolitica.org/
* Gazeta Social: http://www.gazetasocial.com/
* Implicante: http://www.implicante.org/
* JornaLivre: https://jornalivre.com/
* Pensa Brasil: https://pensabrasil.com/
Em nota de divulgação, a AEPPSP, esclareceu que o seu “objetivo é contribuir com todos aqueles que estão empenhados na luta para que a Internet brasileira seja um espaço democrático e livre — livre, inclusive, de haters, de discursos de ódio e de notícias falsas.
Lista com os 17 sites ANÔNIMOS mapeados, ordenados em ordem alfabética e sem outros filtros:
* Ceticismo Político: http://www.ceticismopolitico.com/
* Click Política: http://clickpolitica.com.br/
* Correio do Poder: http://www.correiodopoder.com/
* Crítica Política: http://www.criticapolitica.org/
* Diário do Brasil: http://www.diariodobrasil.org/
* Folha do Povo: http://www.folhadopovo.com/
* Folha Política: http://www.folhapolitica.org/
* Gazeta Social: http://www.gazetasocial.com/
* Implicante: http://www.implicante.org/
* JornaLivre: https://jornalivre.com/
* PassaPalavra: http://www.passapalavra.info/
* Pensa Brasil: https://pensabrasil.com/
* Política na Rede: http://www.politicanarede.com/
* Rádio Vox: http://radiovox.org/
* Rede de Informações Anarquista: https://redeinfoa.noblogs.org/
* Revolta Brasil: http://www.revoltabrasil.com.br/
Viu, só? Nem tudo que “Selena Internet” é verdade. É importante ficar esperto, pesquisar e ver qual a autoria das notícias, assim é mais fácil se desviar dos boatos e também não passar mentiras para frente. Afinal, isso pode levar às diversas consequências e, muitas vezes, podem ser muito injustas e perigosas.
Lucas Lemos
Redator, social mídia, pesquisador e entusiasta das artes pelo Cena Livre de Teatro, grupo atuante na UFMT. Aluno do terceiro ano de Letras-Literatura na instituição federal, e fotógrafo nas horas vagas.
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