Questões de Literatura - Teoria literária
Leia o trecho inicial do conto “Miss Dollar”, de Machado de Assis, para responder à questão.
Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar. Mas por outro lado, sem a apresentação de Miss Dollar, seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada, escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dous grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas longas tranças louras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare; deve ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido [...] A sua fala deve ser um murmúrio de harpa- -eólia1 ; o seu amor um desmaio, a sua vida uma contemplação, a sua morte um suspiro.
A figura é poética, mas não é a da heroína do romance. Suponhamos que o leitor não é dado a estes devaneios e melancolias; nesse caso imagina uma Miss Dollar totalmente diferente da outra. Desta vez será uma robusta americana, vertendo sangue pelas faces, formas arredondadas, olhos vivos e ardentes, mulher feita, refeita e perfeita. [...]
Já não será do mesmo sentir o leitor que tiver passado a segunda mocidade e vir diante de si uma velhice sem recurso. Para esse, a Miss Dollar verdadeiramente digna de ser contada em algumas páginas, seria uma boa inglesa de cinquenta anos, dotada com algumas mil libras esterlinas, e que, aportando ao Brasil em procura de assunto para escrever um romance, realizasse um romance verdadeiro, casando com o leitor aludido. [...]
Mais esperto, que os outros, acode um leitor dizendo que a heroína do romance não é nem foi inglesa, mas brasileira dos quatro costados, e que o nome de Miss Dollar quer dizer simplesmente que a rapariga é rica.
A descoberta seria excelente, se fosse exata; infelizmente nem esta nem as outras são exatas. A Miss Dollar do romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta, nem a velha literata, nem a brasileira rica. Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores; Miss Dollar é uma cadelinha galga2.
(Todos os contos, 2019. Adaptado.)
1harpa-eólia: instrumento musical antigo em que o som é produzido pela fricção do vento em cordas tensionadas.
2galgo: raça canina cujos indivíduos têm patas e pescoço alongados.
No livro A ilusão do fausto, a autora Edineia Mascarenhas Dias faz considerações sobre a cidade de Manaus na passagem do século XIX para o século XX.
A autora dá destaque no livro
Leia o fragmento da peça teatral A pena e a lei, de Ariano Suassuna, para responder a QUESTÃO.
PRIMEIRO ATO
O primeiro Ato de A pena e a lei denomina-se “A inconveniência de ter coragem”. Deve ser encenado como se se tratasse de uma representação de mamulengos, com os atores caracterizados como bonecos de teatro nordestino, com gestos mecanizados e rápidos. [...]
Com a introdução terminando, os personagens arreiam dentro do mamulengo, como se fossem bonecos, e Cheiroso anuncia o espetáculo.
CHEIROSO
Atenção, respeitável público, vai começar o espetáculo!
CHEIROSA
Vai começar o espetáculo!
CHEIROSO
Vai começar o maior espetáculo teatral do País!
CHEIROSA
Vai começar o maior espetáculo músico-teatral do universo!
CHEIROSO
O presente presépio de hilariante teatral denomina-se A pena e a lei porque nele se verão funcionando algumas leis e castigos que se inventaram para disciplinar os homens. E, como era de esperar, tudo isso tem de começar por algumas transgressões da lei, pois quando se traçam normas e sanções, aparece logo alguém para transgredi-las e desafiálas!
Fonte: SUASSUNA, Ariano. A pena e a lei. Rio de Janeiro: Editora Agir, 2005, p. 09-12. [Fragmento]
Sobre o fragmento, assinale a alternativa CORRETA. O título, o tipo de encenação e a caracterização dos personagens, respectivamente, indicam:
Analise as asserções a seguir, relativas ao romance A Sibila, de Agustina Bessa-Luís.
I. A personagem Quina conota dependência emocional, por isso aspira ao casamento, em vez de aspirar à autonomia financeira fora do matrimônio.
II. O narrador aborda aspectos da condição sócio-histórica e psicossocial feminina, entre eles, a relação entre dinheiro, casamento e independência.
III. A localização do enredo, no Norte de Portugal, intensifica supostos comportamentos de gênero esperados de Quina.
IV. O choque geracional entre mulheres da mesma família inexiste no romance; assim como inexistem argumentos que envolvem questões financeiras.
V. Quina problematiza o casamento e a maternidade como traços fundamentais para a constituição do papel social da mulher.
Assinale a alternativa que apresenta apenas asserções corretas.
Em relação à correlação entre Romantismo e Modernismo, analise as afirmativas a seguir:
I. Ao passo que o Romantismo busca se libertar das raízes
europeias da colonização do Brasil, o Modernismo se volta
para as vanguardas europeias para retomá-las.
II. No Modernismo, existe uma intensificação do processo de
rompimento com a literatura europeia, em busca de uma
literatura essencialmente nacional.
III. A primeira geração romântica, ao buscar o índio como herói
nacional, o faz diferentemente do Modernismo, em que não
há a idealização comum no Romantismo.
Assinale
Leia o comentário crítico de João Pacheco, para responder à questão.
O sentimentalismo excessivo, que chegava por vezes ao pieguismo vulgar, o predomínio da imaginação, o subjetivismo avassalador, o transbordamento do eu, cansavam. Os temas se repetiam, a linguagem se descuidava, as concepções se tornavam convencionais. O emprego preferencial de alguns metros acabara por enfarar. Não menos enfadava a predileção por determinadas formas de composição, que ficaram por demais batidas. Causa de enfado era também a repetição constante do mesmo ritmo. Desgostava ainda o uso de metáforas e imagens que se haviam transformado em domínio comum. Enfim, este movimento havia perdido sua seiva e exauria-se na imitação.
(João Pacheco. A literatura brasileira, vol. III, 1963. Adaptado.)
O comentário crítico trata do esgotamento da literatura
Para responder à questão, leia alguns trechos do “Prefácio Interessantíssimo” de Pauliceia Desvairada, de Mário de Andrade, obra considerada marco do Modernismo brasileiro e publicada originalmente em julho de 1922.
Leitor:
Está fundado o Desvairismo.
*
Este prefácio, apesar de interessante, inútil.
*
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo
o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para
corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste
Prefácio Interessantíssimo.
*
E desculpe-me por estar tão atrasado dos movimentos
artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém pode se
libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu; e o autor
deste livro seria hipócrita se pretendesse representar orienta-
ção moderna que ainda não compreende bem.
*
Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o.
Tenho pontos de contato com o futurismo. Oswald de Andra-
de, chamando-me de futurista, errou. A culpa é minha. Sabia
da existência do artigo e deixei que saísse. Tal foi o escânda-
lo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da
obscuridade. Hoje tenho orgulho. Não me pesaria reentrar na
obscuridade. Pensei que se discutiram minhas ideias (que
nem são minhas): discutiram minhas intenções.
*
Um pouco de teoria?
Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acriso-
lado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são
versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com
acentuação determinada.
(Mário de Andrade. Poesias completas, 2013.)
Mário de Andrade recorre à metalinguagem no seguinte trecho: