Questões de Português - Leitura e interpretação de textos - Estratégias de leitura
Texto 2
Agora leia o excerto de um ensaio do físico e naturalista francês Bill François, escrito após uma visita ao Pantanal.
Como o apelido “pintado” sugere, os surubins são peixes com pintas. Eles exibem, em seu couro liso e prateado, elegantes padrões pretos, como pinturas rituais. Com certeza são um dos mais belos peixes de água doce do mundo, venerados por muitos povos ameríndios. As oito espécies de surubim são quase idênticas: mesma forma alongada, mesmas nadadeiras pontudas (...). Os oito primos apresentam uma única diferença significativa: as pintas. Cada espécie tem os próprios padrões. (...)
Em 1952, o matemático Alan Turing, pai da informática, refletia muito sobre o mundo vivo. Ele tentava explicar cientificamente o surgimento dos padrões e das formas que observamos na natureza. (...) Turing imaginou que as células que carregavam os pigmentos das cores na pele dos animais se comportavam como predadores e presas, umas tentando constantemente devorar as outras. (...) Com a cor predadora devorando a cor presa e a cor presa alimentando a cor predadora, se instauraria, como em um ecossistema, um equilíbrio entre as diferentes cores. E estas se espalhariam pela pele do animal segundo padrões (...). Era uma simples suposição. (...) Algumas décadas mais tarde, outra invenção de Turing, a informática, corroborou sua hipótese. Cálculos informáticos simularam o fenômeno imaginado por Turing. Determinavam-se os parâmetros que regiam o sistema: a voracidade dos predadores, a fecundidade das presas, o tamanho da pele do animal. O computador calculava o resultado e apresentava os desenhos obtidos. E… surpresa: dependendo dos parâmetros, o computador desenhava manchas, listras, pintas etc. Do fundo de seu rio pantanoso, o surubim teria rido do trabalho de todos aqueles pesquisadores (...).
A teoria de Turing funcionava perfeitamente nas telas dos computadores. Mas ela continuava muito teórica. (...). Foi preciso aguardar o início dos anos 2020 para que o surubim finalmente decidisse acabar com esse suspense. Nas bacias remotas da Amazônia, surubins de espécies até então desconhecidas se deixaram capturar e estudar. E os cientistas notaram que a família dos surubins apresentava, sozinha, toda a gama de padrões básicos do mundo vivo.
O modelo informático de Turing permitiu reproduzir à perfeição os desenhos de todos os surubins, e passar do padrão de uma espécie para o de outra através da variação dos parâmetros do modelo (...). E mais: atribuindo aos parâmetros valores intermediários, entre os que correspondiam a duas espécies diferentes, o modelo apresentava padrões estranhos… e esses padrões correspondiam exatamente aos do surubim híbrido nascido da união das duas espécies!
(...)Turing, infelizmente, nunca viu a comprovação de sua teoria. Ele teve a infelicidade de ser homossexual numa época em que a lei britânica proibia a homossexualidade. (...) Ele foi condenado a uma violenta castração química, que o enlouqueceu e acabou por matá-lo em 1954. À sua maneira, o surubim também honra com seus desenhos esse gênio de destino trágico.
(FRANÇOIS, B. A origem da beleza. Quatro cinco um, ano 7, n. 65, p. 26-27, jan. 2023.)
Texto 3
A seguir, está reproduzido o resumo de um projeto de mestrado na área de Arquitetura e Urbanismo.
Esta pesquisa pretende mapear a presença de jardins, hortas, pomares e herbários nos locais de ocupação jesuítica na América Portuguesa, entre os séculos XVI e XVIII, com um olhar para a sua conformação arquitetônica e paisagística, através do levantamento de fontes documentais textuais e iconográficas que nos informem sobre tais espaços de cultivo e estudo das plantas. Parte-se da compreensão de tais ambientes enquanto locais privilegiados de trânsito, aclimatação e cultivo de espécies vegetais, tanto exóticas – trazidas da Europa ou dos outros territórios coloniais da Ásia e África –, como nativas das Américas, em um contexto de crescente mundialização viabilizada pelo processo de expansão ultramarina ibérica e, portanto, cruciais para os processos de alteração e conformação das paisagens brasileiras. Para esta pesquisa, serão considerados os antecedentes históricos dos hortos botânicos construídos em instituições científicas, as experiências da Companhia de Jesus e de outras ordens religiosas, bem como as práticas e os saberes dos indígenas no manuseio das plantas dentro de seu universo cultural. Espera-se que este levantamento fundamente futuras pesquisas na área, permitindo o aprofundamento dos estudos sobre estes espaços de cultivo jesuíticos e sobre seus impactos na formação das paisagens e tecidos urbanos do qual fizeram/fazem parte.
(ANDRÉ, M. B.. Jardins, hortas, pomares e herbários nos espaços jesuíticos da América Portuguesa. Biblioteca Virtual da FAPESP. Disponível em: https://bv. fapesp.br/pt/bolsas/199656/jardins-hortas-pomares-e-herbarios-nos-espacos-jes uiticos-da-america-portuguesa-seculos-xvi-xviii/. Acesso em 12/08/2023.)
Compare os efeitos de objetividade e subjetividade no texto 2 (um ensaio de divulgação científica) e no texto 3 (um resumo de projeto de pesquisa) e assinale a alternativa correta.
Em relação à epígrafe, responda a questão.
“Acha-se num dos contos de Grimm uma narrativa sobre um moço que saiu a aventurar-se pelo mundo para aprender a angustiar-se. Deixemos esse aventureiro seguir o seu caminho, sem nos preocuparmos em saber se encontrou ou não o terrível. Ao invés disso, quero afirmar que essa é uma aventura pela qual todos tem de passar: a de aprender a angustiar-se, para que não venham a perder, nem por jamais terem estado angustiados nem por afundarem na angústia; por isso, aquele que aprender a angustiar-se corretamente, aprendeu o que há de mais elevado.”
(Soren Kierkegaard – O conceito de Angústia)
Na epígrafe do texto, o autor defende que aprender a angustiar-se é:
Leia o texto e responda à questão.
O APRENDIZADO DA ANGÚSTIA
por Marcia Tiburi
Acha-se num dos contos de Grimm uma narrativa sobre um moço que saiu a aventurar-se pelo mundo para aprender a angustiar-se. Deixemos esse aventureiro seguir o seu caminho, sem nos preocupar-mos em saber se encontrou ou não o terrível. Ao invés disso, quero afirmar que essa é uma aventura pela qual todos tem de passar: a de aprender a angustiar-se, para que não venham a perder, nem por jamais terem estado angustiados nem por afundarem na angústia; por isso, aquele que aprender a angustiar-se corretamente, aprendeu o que há de mais elevado.
(Soren Kierkegaard – O conceito de Angústia)
Uma sensação difusa, próxima de uma ansiedade, mas sem objeto, parecida também com o medo, mas sem causa específica. Uma inquietude metafísica, mas sem linguagem organizada. Nem bem um pavor, nem bem horror ou terror, mas um mal estar, uma falta flutuante, uma ameaça fantasmática e um sobressalto iminente. Eis o quadro de uma experiência conhecida individualmente e que hoje se torna um sintoma social. Ele diz respeito a um conceito filosófico fundamental, a angústia.
A angústia é um sentimento disperso e desagradável e, ao mesmo tempo que carrega uma inquietação metafísica, é algo paralisante. Um filósofo que pode nos ajudar a compreendê-la é Kierkegaard que viveu no século 19 na Dinamarca. Kierkegaard vai influenciar muitos pensadores com seu tratado sobre O conceito de Angústia escrito em 1844 sob o pseudônimo de Vigilius Haufniensis. Nesse livro ele nos apresenta o conceito de angústia como uma posição fundamental, talvez a mais essencial no desenho do complexo ser humano. E por que a angústia seria tão fundamental? Porque ela que nos ensina o que é a “interioridade existencial”. É a angústia que nos dá a medida da experiência do sujeito enquanto sujeito humano. No lugar de um “penso, logo existo”, poderíamos definir a experiência da angústia como aquilo que está no lugar do pensamento. Como se a angústia fosse o nascedouro da consciência.
Na visão do filósofo dinamarquês, a angústia é constitutiva da condição humana. Ela faz parte da vida. Inevitável, ela surge no momento em que somos confrontados justamente com as possibilidades da vida, sejam elas boas ou não aos olhos acostumados às sombras das verdades prontas. Surgirá daí a liberdade como uma condenação, como depois nos explicarão Sartre, Beauvoir e outros pensadores existencialistas.
A angústia é o efeito do nosso contato com as possibilidades da vida mais ou menos estreitas conforme as circunstâncias vividas por cada um. Ao falar de angústia, estamos diante daquilo que nos oprime, como um canal estreito, um obstáculo a ser atravessado. Tal é a sua etimologia. Mas ela é mais do que um sentimento, ela é a posição que implica a percepção, um certo tipo primitivo de saber sobre o caráter absurdo da vida e, no meio dele, a consciência do minúsculo ser humano lançado entre a potência e a impotência, o brilho e o apagamento, a grandeza e a miséria de sua própria condição
Heidegger, influenciado por Kierkegaard, dizia que temos que fazer escolhas, mas não temos certeza de que haverá resultados favoráveis a nós. “A única certeza é a vida de culpa e ansiedade”, ele dirá em um livro como Ser e tempo (1927).
Talvez o reconhecimento de que há um destino para além da vontade humana reposicione o ser humano diante da natureza, da história, do outro e de si mesmo. Talvez a angústia ceda de sua imobilidade diante da aceitação da finitude. Mas como aceitar a finitude nesse tempo em que perdemos a capacidade de meditar sobre a morte e, ao mesmo tempo, tudo parece tão morto?
Autopedagogia
A angústia nos coloca, portanto, a questão de nossa presença no mundo. Não se trata apenas da pergunta pelo que somos, ou o que fazemos, mas o que estamos experimentando. O que recebemos, damos e “levamos” dessa vida? O que é realmente importante? O que realmente pode ou deve ser vivido? Como vivemos diante do fato de que estamos necessariamente relacionados a nós mesmos, além de estarmos relacionados aos outros e à alteridade como lugar da diferença?
Bem vivida, a angústia é a chance de estabelecer uma relação autêntica com a gente mesmo. Com o que somos. Ela envolve uma autopedagogia pessoal. Nela é que podemos nos perguntar “como me relaciono comigo mesmo?”, que é algo bem mais complexo do que a crença em um “autoco-nhecimento”. É a angústia que pode nos dar as condições de fazer a pergunta “como me torno quem eu sou?”.
E me faz saber que não posso responder a ela se não avaliar as demandas, as imposições, as ordens e os modismos que me afastam de mim. É a angústia, portanto, que me devolve a mim mesmo. Que evita a alienação à qual nos convida o nosso tempo sombrio.
Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/o-aprendizado-da-angustia/. Publicado em 04/09/2019.
Sendo a angústia constitutiva da condição humana, ela faz parte da vida, surgindo em momentos em que os sujeitos são confrontados com suas possibilidades.
Sobre essa afirmação assinale a alternativa CORRETA.
Leia o texto e responda à questão.
O APRENDIZADO DA ANGÚSTIA
por Marcia Tiburi
Acha-se num dos contos de Grimm uma narrativa sobre um moço que saiu a aventurar-se pelo mundo para aprender a angustiar-se. Deixemos esse aventureiro seguir o seu caminho, sem nos preocupar-mos em saber se encontrou ou não o terrível. Ao invés disso, quero afirmar que essa é uma aventura pela qual todos tem de passar: a de aprender a angustiar-se, para que não venham a perder, nem por jamais terem estado angustiados nem por afundarem na angústia; por isso, aquele que aprender a angustiar-se corretamente, aprendeu o que há de mais elevado.
(Soren Kierkegaard – O conceito de Angústia)
Uma sensação difusa, próxima de uma ansiedade, mas sem objeto, parecida também com o medo, mas sem causa específica. Uma inquietude metafísica, mas sem linguagem organizada. Nem bem um pavor, nem bem horror ou terror, mas um mal estar, uma falta flutuante, uma ameaça fantasmática e um sobressalto iminente. Eis o quadro de uma experiência conhecida individualmente e que hoje se torna um sintoma social. Ele diz respeito a um conceito filosófico fundamental, a angústia.
A angústia é um sentimento disperso e desagradável e, ao mesmo tempo que carrega uma inquietação metafísica, é algo paralisante. Um filósofo que pode nos ajudar a compreendê-la é Kierkegaard que viveu no século 19 na Dinamarca. Kierkegaard vai influenciar muitos pensadores com seu tratado sobre O conceito de Angústia escrito em 1844 sob o pseudônimo de Vigilius Haufniensis. Nesse livro ele nos apresenta o conceito de angústia como uma posição fundamental, talvez a mais essencial no desenho do complexo ser humano. E por que a angústia seria tão fundamental? Porque ela que nos ensina o que é a “interioridade existencial”. É a angústia que nos dá a medida da experiência do sujeito enquanto sujeito humano. No lugar de um “penso, logo existo”, poderíamos definir a experiência da angústia como aquilo que está no lugar do pensamento. Como se a angústia fosse o nascedouro da consciência.
Na visão do filósofo dinamarquês, a angústia é constitutiva da condição humana. Ela faz parte da vida. Inevitável, ela surge no momento em que somos confrontados justamente com as possibilidades da vida, sejam elas boas ou não aos olhos acostumados às sombras das verdades prontas. Surgirá daí a liberdade como uma condenação, como depois nos explicarão Sartre, Beauvoir e outros pensadores existencialistas.
A angústia é o efeito do nosso contato com as possibilidades da vida mais ou menos estreitas conforme as circunstâncias vividas por cada um. Ao falar de angústia, estamos diante daquilo que nos oprime, como um canal estreito, um obstáculo a ser atravessado. Tal é a sua etimologia. Mas ela é mais do que um sentimento, ela é a posição que implica a percepção, um certo tipo primitivo de saber sobre o caráter absurdo da vida e, no meio dele, a consciência do minúsculo ser humano lançado entre a potência e a impotência, o brilho e o apagamento, a grandeza e a miséria de sua própria condição
Heidegger, influenciado por Kierkegaard, dizia que temos que fazer escolhas, mas não temos certeza de que haverá resultados favoráveis a nós. “A única certeza é a vida de culpa e ansiedade”, ele dirá em um livro como Ser e tempo (1927).
Talvez o reconhecimento de que há um destino para além da vontade humana reposicione o ser humano diante da natureza, da história, do outro e de si mesmo. Talvez a angústia ceda de sua imobilidade diante da aceitação da finitude. Mas como aceitar a finitude nesse tempo em que perdemos a capacidade de meditar sobre a morte e, ao mesmo tempo, tudo parece tão morto?
Autopedagogia
A angústia nos coloca, portanto, a questão de nossa presença no mundo. Não se trata apenas da pergunta pelo que somos, ou o que fazemos, mas o que estamos experimentando. O que recebemos, damos e “levamos” dessa vida? O que é realmente importante? O que realmente pode ou deve ser vivido? Como vivemos diante do fato de que estamos necessariamente relacionados a nós mesmos, além de estarmos relacionados aos outros e à alteridade como lugar da diferença?
Bem vivida, a angústia é a chance de estabelecer uma relação autêntica com a gente mesmo. Com o que somos. Ela envolve uma autopedagogia pessoal. Nela é que podemos nos perguntar “como me relaciono comigo mesmo?”, que é algo bem mais complexo do que a crença em um “autoco-nhecimento”. É a angústia que pode nos dar as condições de fazer a pergunta “como me torno quem eu sou?”.
E me faz saber que não posso responder a ela se não avaliar as demandas, as imposições, as ordens e os modismos que me afastam de mim. É a angústia, portanto, que me devolve a mim mesmo. Que evita a alienação à qual nos convida o nosso tempo sombrio.
Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/o-aprendizado-da-angustia/. Publicado em 04/09/2019.
Para o filósofo Kierkegaard, a angústia seria fundamental para o ser humano, porque:
INSTRUÇÃO: Leia, atentamente, o texto a seguir para responder às questões que a ele se referem.
Mãe Bernadete, presente!
Itamar Vieira Junior
Geógrafo e escritor, autor de “Torto Arado”.
“Eu quero que você escreva minha história”, disse Bernadete Pacífico, ialorixá e líder, ao descobrir
que eu escrevia. Conheci sua luta há mais de dez anos nas dependências da Superintendência Regional do
Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) da Bahia e depois em Pitanga de Palmares,
território quilombola localizado em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador.
[5] Quando soube do seu brutal assassinato ontem à noite, [...] recordei essa e muitas outras histórias
dos nossos anos de convivência. Aos 72, dona Bernadete, como a chamávamos, poderia estar aposentada
e ter se retirado da militância depois de tantos anos de serviços prestados à causa. Mas preferiu estar na
linha de frente, reivindicando a titulação do seu território e políticas públicas para sua comunidade.
Dona Bernadete era incansável na defesa do reconhecimento e da regularização fundiária do
[10] território quilombola onde vivia. Foi lá também que, em 2017, viu seu filho Binho do Quilombo, também líder
comunitário, ser assassinado. O crime jamais foi esclarecido, mesmo com a resiliência dessa mãe visitando
o Ministério Público, delegacias de polícia e órgãos de direitos humanos e de Justiça, mesmo encontrando
autoridades em Brasília e em outros estados.
Vê-la tão destemida exigindo resposta para esse crime bárbaro fez com que eu e muitos outros
[15] temêssemos por sua vida, mas sua postura era um exemplo de que é preciso cultivar a coragem para mover
e mudar o mundo. [...]
O Brasil não protege nem ampara os que lutam por dignidade humana e justiça. Foi assim com João
Pedro Teixeira, Margarida Alves, Chico Mendes, a irmã Dorothy Stang e Marielle Franco. São tantos os que
tombaram nesse caminho por equidade e reparação que não caberiam em todas as páginas deste jornal.
[20] [...]
Na última vez que estive em Pitanga de Palmares, em dezembro de 2021, fui recebido com um
almoço e muitos risos. Apesar de toda a dor que ainda pairava sobre a família com a impunidade pela morte
de seu filho, ela cultivava o bom humor, interpelava políticos e autoridades por onde passava, cativava todos
com sua firmeza e obstinação.
[25] A certeza da impunidade – a morte de Binho do Quilombo jamais foi esclarecida e os responsáveis
continuam soltos – abriu caminhos para que mais um dos nossos tombasse novamente. [...]
A necropolítica não está refletida apenas nos assassinatos diretos praticados pelo Estado, mas
também na falta de resposta para os crimes cometidos contra as populações vulneráveis. Reflete também
na burocracia sem fim e na falta de investimento que fazem com que conflitos diversos, como a disputa por
[30] terra em Pitanga de Palmares, se arrastem sem nenhuma solução no horizonte.
Gostaria de poder escrever sobre a resiliência, a coragem e o inquebrantável espírito humano. Para
evocar a memória de dona Bernadete, eu escrevo, mas gostaria que o final dessa história fosse outro: vê-la
recebendo o título do seu território, vê-la em paz com a responsabilização e a punição dos responsáveis
pela morte de seu filho.
[35] Gostaria de escrever que o tempo está mudando, que a violência fundiária, religiosa e racial ficou
no passado, mas a brutalidade que vitimou dona Bernadete me diz que o Brasil continua encalhado no seu
passado tenebroso. [...]
Fonte: VIEIRA JUNIOR, Itamar. Mãe Bernadete, presente! Folha de São Paulo. 18 ago. 2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/itamar-vieira-junior/2023/08/mae-bernadete-presente.shtml. Acesso em: 26 set. 2023. Adaptado.
Sobre os mecanismos de progressão temática usados no texto “Mãe Bernadete, presente!”, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( ) Em “[...] essa e muitas outras histórias [...]” (linha 5), o termo “essa” retoma um pedido de dona Bernadete ao escritor Itamar Vieira Junior.
( ) Em “O Brasil não protege nem ampara os que lutam por dignidade humana e justiça. Foi assim [...]” (linha 17), o termo “assim” encapsula anaforicamente todo o argumento anterior.
( ) Em “A certeza da impunidade – a morte de Binho do Quilombo jamais foi esclarecida e os responsáveis continuam soltos – abriu caminhos para que mais um dos nossos tombasse novamente.” (linhas 25- 26), a expressão “mais um” retoma a expressão “Binho do Quilombo”.
( ) Em “[...] mas a brutalidade que vitimou dona Bernadete me diz que o Brasil continua encalhado [...]” (linha 36), o termo “que”, seguido do termo “vitimou”, retoma a expressão “a brutalidade”.
Considerando as afirmativas de cima para baixo, a sequência CORRETA é
Leia o trecho da reportagem:
“Mulher espancada após boatos em rede social morre no Guarujá, SP (...)
A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, morreu na manhã desta segunda-feira (5), dois dias após ter sido espancada por dezenas de moradores do Guarujá, no litoral de São Paulo. Segundo a família, ela foi agredida a partir de um boato gerado por uma página em uma rede social (...)”
(G1, Santos, 05/05/2014. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/05/mulher-espancada-apos-boatos-em-rede-social-morre-em-guaruja-sp.html. Acessado em 04/07/2023.)
Assinale o trecho de um dos contos a seguir – extraídos de EVARISTO, Conceição. Olhos d’Água. Rio de Janeiro: Pallas; Fundação Biblioteca Nacional, 2016 –, trecho este que relaciona o acontecimento da reportagem ao texto de ficção: