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Texto II
Vencedor de Cannes, “Entre os muros da escola”, retrata cotidiano de estudantes franceses
Em uma escola francesa, na periferia de Paris, reúnem-se jovens de origens, etnias, religiões e hábitos muito diferentes. Como Wei, imigrante chinês estudioso e fã de games; Souleymane, filho de imigrantes malineses desinteressado nas aulas, mas com um talento secreto para a fotografia; e Esmeralda, a garota rebelde que só usa gírias durante a classe, mas lê Platão nas horas vagas. Com o giz na mão e a árdua tarefa de atrair a atenção e ensinar francês aos garotos está o professor François Marin, dedicado e apaixonado pelo ofício, mas visivelmente frustrado com a dificuldade de lidar com a falta de interesse da turma. É em torno da relação conflituosa criada na sala de aula que gira o filme de Laurent Cantet.
Os alunos de Marin são uma espécie de síntese da França atual. Filhos de imigrantes asiáticos, árabes e africanos, não se reconhecem nem como franceses nem como estrangeiros e transitam numa espécie de limbo de identidade. Do outro lado, os professores também não sabem como reagir à apatia e à falta de disciplina dos alunos. E enquanto o assunto é discutido exaustivamente em reuniões a portas fechadas, a escalada da violência na sala de aula aumenta.
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano passado, o filme é baseado no livro homônimo de François Bégaudeau – que também vive o protagonista do filme e assina o roteiro – sobre sua experiência como professor em Paris.
Apesar de ser uma ficção, a fita tem um tom documental. Com fotografia discreta e sem trilha sonora, toda a ação se passa dentro da escola.
Os personagens são interpretados por alunos e professores da escola onde foi feita a filmagem.
Para ter mais agilidade, Cantet optou pelo uso de câmeras digitais, que registraram minuciosamente gestos e expressões dos garotos.
Partindo de um roteiro inicial genérico, as cenas e os diálogos foram ganhando forma ao longo desse processo, com a participação dos adolescentes e dos professores.
FOLHA DE S. PAULO, São Paulo, 9 mar. 2009, p. 3. Folhateen. Cinema. (Adaptado).
Segundo a resenha (texto II), a principal ideia defendida pelo filme Entre os muros da escola parte do argumento de que
Texto II
Vencedor de Cannes, “Entre os muros da escola”, retrata cotidiano de estudantes franceses
Em uma escola francesa, na periferia de Paris, reúnem-se jovens de origens, etnias, religiões e hábitos muito diferentes. Como Wei, imigrante chinês estudioso e fã de games; Souleymane, filho de imigrantes malineses desinteressado nas aulas, mas com um talento secreto para a fotografia; e Esmeralda, a garota rebelde que só usa gírias durante a classe, mas lê Platão nas horas vagas. Com o giz na mão e a árdua tarefa de atrair a atenção e ensinar francês aos garotos está o professor François Marin, dedicado e apaixonado pelo ofício, mas visivelmente frustrado com a dificuldade de lidar com a falta de interesse da turma. É em torno da relação conflituosa criada na sala de aula que gira o filme de Laurent Cantet.
Os alunos de Marin são uma espécie de síntese da França atual. Filhos de imigrantes asiáticos, árabes e africanos, não se reconhecem nem como franceses nem como estrangeiros e transitam numa espécie de limbo de identidade. Do outro lado, os professores também não sabem como reagir à apatia e à falta de disciplina dos alunos. E enquanto o assunto é discutido exaustivamente em reuniões a portas fechadas, a escalada da violência na sala de aula aumenta.
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano passado, o filme é baseado no livro homônimo de François Bégaudeau – que também vive o protagonista do filme e assina o roteiro – sobre sua experiência como professor em Paris.
Apesar de ser uma ficção, a fita tem um tom documental. Com fotografia discreta e sem trilha sonora, toda a ação se passa dentro da escola.
Os personagens são interpretados por alunos e professores da escola onde foi feita a filmagem.
Para ter mais agilidade, Cantet optou pelo uso de câmeras digitais, que registraram minuciosamente gestos e expressões dos garotos.
Partindo de um roteiro inicial genérico, as cenas e os diálogos foram ganhando forma ao longo desse processo, com a participação dos adolescentes e dos professores.
FOLHA DE S. PAULO, São Paulo, 9 mar. 2009, p. 3. Folhateen. Cinema. (Adaptado).
Por se tratar de uma resenha jornalística, o autor do texto II avalia o filme recorrendo ao uso de
Texto II
Vencedor de Cannes, “Entre os muros da escola”, retrata cotidiano de estudantes franceses
Em uma escola francesa, na periferia de Paris, reúnem-se jovens de origens, etnias, religiões e hábitos muito diferentes. Como Wei, imigrante chinês estudioso e fã de games; Souleymane, filho de imigrantes malineses desinteressado nas aulas, mas com um talento secreto para a fotografia; e Esmeralda, a garota rebelde que só usa gírias durante a classe, mas lê Platão nas horas vagas. Com o giz na mão e a árdua tarefa de atrair a atenção e ensinar francês aos garotos está o professor François Marin, dedicado e apaixonado pelo ofício, mas visivelmente frustrado com a dificuldade de lidar com a falta de interesse da turma. É em torno da relação conflituosa criada na sala de aula que gira o filme de Laurent Cantet.
Os alunos de Marin são uma espécie de síntese da França atual. Filhos de imigrantes asiáticos, árabes e africanos, não se reconhecem nem como franceses nem como estrangeiros e transitam numa espécie de limbo de identidade. Do outro lado, os professores também não sabem como reagir à apatia e à falta de disciplina dos alunos. E enquanto o assunto é discutido exaustivamente em reuniões a portas fechadas, a escalada da violência na sala de aula aumenta.
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano passado, o filme é baseado no livro homônimo de François Bégaudeau – que também vive o protagonista do filme e assina o roteiro – sobre sua experiência como professor em Paris.
Apesar de ser uma ficção, a fita tem um tom documental. Com fotografia discreta e sem trilha sonora, toda a ação se passa dentro da escola.
Os personagens são interpretados por alunos e professores da escola onde foi feita a filmagem.
Para ter mais agilidade, Cantet optou pelo uso de câmeras digitais, que registraram minuciosamente gestos e expressões dos garotos.
Partindo de um roteiro inicial genérico, as cenas e os diálogos foram ganhando forma ao longo desse processo, com a participação dos adolescentes e dos professores.
FOLHA DE S. PAULO, São Paulo, 9 mar. 2009, p. 3. Folhateen. Cinema. (Adaptado).
Ao descrever os fatos recriados no filme, o resenhista sugere que, na trama, predomina a
A senhora imagine, por favor. Eu tinha dezenove anos. Podia ter mais ou menos, podia ter quinze ou quarenta, essa questão do tempo já não se resolve mais do modo normal para mim, nem me preocupo em saber quantos anos tenho hoje, pode arriscar um palpite, se quiser, pouco me importa, sei que tinha dezenove anos porque a data ficou marcada em vermelho naquele calendário ali, na parede, veja. Aliás, devia rasgar isso, vou rasgar, pronto, rasguei, pode conferir, rasguei o calendário, apaguei o tempo assim, num passe de mágica,agora não saberemos nada do passado remoto, anterior à data marcada naquele ex-calendário, em breve não nos lembraremos mais sequer de que dia é hoje, em que ano estamos, vou fazê-la esquecer de tudo, em breve seremos quase eternos.
Era uma noite fria, eu estava no metrô, voltando do cinema, não devia ser muito tarde, dez e meia, onze horas, estava com sono, como sempre me acontecia ao sair do cinema, agora não vou mais ao cinema, há milênios não vejo um filme. [...]
Havia pouca gente no metrô, eu estava sentado sozinho numa fileira de bancos duplos, encostado à janela, não queria pensar
em nada, ver nada, só queria ficar quieto, feito um cão sob a marquise num dia de chuva, enroscado em si mesmo, se aquecendo, eu não pensava em nada, via o escuro do túnel pela janela do metrô e os anúncios nas estações quando o trem parava, anúncios gigantes, luminosos. Um deles era de uma churrascaria e fiquei puto, desculpe o linguajar, sei que não gosta desses termos chulos, mas fiquei muito puto quando vi aquele anúncio, um espeto enorme, com a carne sangrando. Senti uma dor na boca do estômago, estava com fome, naquele dia só tinha almoçado, e mal, não tinha um centavo no bolso, só conseguiria algum dinheiro no dia seguinte e o dia seguinte ainda demoraria horas para chegar, aquela foto me acertou um direto na barriga, o cara que botou aquilo ali acabara de me dar um soco, o filho da puta, perdão.
[…] Eu às vezes abordava uns turistas e os mais ingênuos acabavam me aceitando como guia, o que me rendia alguns trocados, vez ou outra ajudava num bar perto de onde eu morava, servia os fregueses, ajudava no balcão quando um funcionário faltava, também trabalhei distribuindo na rua aqueles panfletos de propaganda, na Saara, fazia coisas desse tipo, bicos, nada muito sério, na verdade minha principal fonte de renda, digamos assim, vinha dos livros que eu vendia para os sebos e, vez ou outra, para algum colecionador.
Os livros eu roubava das bibliotecas. Era um ladrão de livros, ladrãozinho de terceira categoria mas ladrão, roubava de bibliotecas públicas, ou de universidades, vez ou outra arriscava uma livraria também, era um trabalho agradável, se me permitir que chame de trabalho aquele exercício de mudar o endereço dos livros. Meu ganho era mínimo, uma ninharia, mas meus gastos também eram mínimos, de modo que aquilo era o suficiente pelo menos para me manter vivo, e naquela época eu não queria muito mais do que isso, estar vivo.
CARNEIRO, Flávio. A confissão. Rio de Janeiro: Rocco, 2006. p. 11-14. (Adaptado).
Com base no trecho do romance A Confissão, pode-se reconhecer como características discursivas do texto
A senhora imagine, por favor. Eu tinha dezenove anos. Podia ter mais ou menos, podia ter quinze ou quarenta, essa questão do tempo já não se resolve mais do modo normal para mim, nem me preocupo em saber quantos anos tenho hoje, pode arriscar um palpite, se quiser, pouco me importa, sei que tinha dezenove anos porque a data ficou marcada em vermelho naquele calendário ali, na parede, veja. Aliás, devia rasgar isso, vou rasgar, pronto, rasguei, pode conferir, rasguei o calendário, apaguei o tempo assim, num passe de mágica,agora não saberemos nada do passado remoto, anterior à data marcada naquele ex-calendário, em breve não nos lembraremos mais sequer de que dia é hoje, em que ano estamos, vou fazê-la esquecer de tudo, em breve seremos quase eternos.
Era uma noite fria, eu estava no metrô, voltando do cinema, não devia ser muito tarde, dez e meia, onze horas, estava com sono, como sempre me acontecia ao sair do cinema, agora não vou mais ao cinema, há milênios não vejo um filme. [...]
Havia pouca gente no metrô, eu estava sentado sozinho numa fileira de bancos duplos, encostado à janela, não queria pensar
em nada, ver nada, só queria ficar quieto, feito um cão sob a marquise num dia de chuva, enroscado em si mesmo, se aquecendo, eu não pensava em nada, via o escuro do túnel pela janela do metrô e os anúncios nas estações quando o trem parava, anúncios gigantes, luminosos. Um deles era de uma churrascaria e fiquei puto, desculpe o linguajar, sei que não gosta desses termos chulos, mas fiquei muito puto quando vi aquele anúncio, um espeto enorme, com a carne sangrando. Senti uma dor na boca do estômago, estava com fome, naquele dia só tinha almoçado, e mal, não tinha um centavo no bolso, só conseguiria algum dinheiro no dia seguinte e o dia seguinte ainda demoraria horas para chegar, aquela foto me acertou um direto na barriga, o cara que botou aquilo ali acabara de me dar um soco, o filho da puta, perdão.
[…] Eu às vezes abordava uns turistas e os mais ingênuos acabavam me aceitando como guia, o que me rendia alguns trocados, vez ou outra ajudava num bar perto de onde eu morava, servia os fregueses, ajudava no balcão quando um funcionário faltava, também trabalhei distribuindo na rua aqueles panfletos de propaganda, na Saara, fazia coisas desse tipo, bicos, nada muito sério, na verdade minha principal fonte de renda, digamos assim, vinha dos livros que eu vendia para os sebos e, vez ou outra, para algum colecionador.
Os livros eu roubava das bibliotecas. Era um ladrão de livros, ladrãozinho de terceira categoria mas ladrão, roubava de bibliotecas públicas, ou de universidades, vez ou outra arriscava uma livraria também, era um trabalho agradável, se me permitir que chame de trabalho aquele exercício de mudar o endereço dos livros. Meu ganho era mínimo, uma ninharia, mas meus gastos também eram mínimos, de modo que aquilo era o suficiente pelo menos para me manter vivo, e naquela época eu não queria muito mais do que isso, estar vivo.
CARNEIRO, Flávio. A confissão. Rio de Janeiro: Rocco, 2006. p. 11-14. (Adaptado).
O título “A confissão”, associado ao trecho transcrito do romance de Flávio Carneiro, permite a afirmação de que
A senhora imagine, por favor. Eu tinha dezenove anos. Podia ter mais ou menos, podia ter quinze ou quarenta, essa questão do tempo já não se resolve mais do modo normal para mim, nem me preocupo em saber quantos anos tenho hoje, pode arriscar um palpite, se quiser, pouco me importa, sei que tinha dezenove anos porque a data ficou marcada em vermelho naquele calendário ali, na parede, veja. Aliás, devia rasgar isso, vou rasgar, pronto, rasguei, pode conferir, rasguei o calendário, apaguei o tempo assim, num passe de mágica,agora não saberemos nada do passado remoto, anterior à data marcada naquele ex-calendário, em breve não nos lembraremos mais sequer de que dia é hoje, em que ano estamos, vou fazê-la esquecer de tudo, em breve seremos quase eternos.
Era uma noite fria, eu estava no metrô, voltando do cinema, não devia ser muito tarde, dez e meia, onze horas, estava com sono, como sempre me acontecia ao sair do cinema, agora não vou mais ao cinema, há milênios não vejo um filme. [...]
Havia pouca gente no metrô, eu estava sentado sozinho numa fileira de bancos duplos, encostado à janela, não queria pensar
em nada, ver nada, só queria ficar quieto, feito um cão sob a marquise num dia de chuva, enroscado em si mesmo, se aquecendo, eu não pensava em nada, via o escuro do túnel pela janela do metrô e os anúncios nas estações quando o trem parava, anúncios gigantes, luminosos. Um deles era de uma churrascaria e fiquei puto, desculpe o linguajar, sei que não gosta desses termos chulos, mas fiquei muito puto quando vi aquele anúncio, um espeto enorme, com a carne sangrando. Senti uma dor na boca do estômago, estava com fome, naquele dia só tinha almoçado, e mal, não tinha um centavo no bolso, só conseguiria algum dinheiro no dia seguinte e o dia seguinte ainda demoraria horas para chegar, aquela foto me acertou um direto na barriga, o cara que botou aquilo ali acabara de me dar um soco, o filho da puta, perdão.
[…] Eu às vezes abordava uns turistas e os mais ingênuos acabavam me aceitando como guia, o que me rendia alguns trocados, vez ou outra ajudava num bar perto de onde eu morava, servia os fregueses, ajudava no balcão quando um funcionário faltava, também trabalhei distribuindo na rua aqueles panfletos de propaganda, na Saara, fazia coisas desse tipo, bicos, nada muito sério, na verdade minha principal fonte de renda, digamos assim, vinha dos livros que eu vendia para os sebos e, vez ou outra, para algum colecionador.
Os livros eu roubava das bibliotecas. Era um ladrão de livros, ladrãozinho de terceira categoria mas ladrão, roubava de bibliotecas públicas, ou de universidades, vez ou outra arriscava uma livraria também, era um trabalho agradável, se me permitir que chame de trabalho aquele exercício de mudar o endereço dos livros. Meu ganho era mínimo, uma ninharia, mas meus gastos também eram mínimos, de modo que aquilo era o suficiente pelo menos para me manter vivo, e naquela época eu não queria muito mais do que isso, estar vivo.
CARNEIRO, Flávio. A confissão. Rio de Janeiro: Rocco, 2006. p. 11-14. (Adaptado).
No texto, acontece uma transformação no estado de espírito do narrador-personagem. Considerando a ordem das expressões abaixo, quais figurativizam essa transformação?