Questões de EFAF Português - Leitura e Interpretação de Texto - Gêneros textuais - Verbais/Narrativos
“Ele chegou até a janela. A chuva, miúda, continuava a cair sobre as casas de telhados antigos. Um pouco mais longe estava o rio, de águas barrentas, com bananeiras à margem. O céu coberto, o dia escuro, ninguém passando na rua. Era uma paisagem triste, e ela o fazia recordar-se de outras, antigas, que ele não sabia quando nem onde mas que estavam bem lá no fundo de sua memória, na parte mais solitária de seu ser. E ele então sentiu de novo o que tantas vezes sentira: aquele gosto antecipado de perda, a inutilidade dos esforços, o irremediável das coisas. Tudo já estava há muito tempo traçado, e qualquer tentativa de mudar as coisas terminava sempre em fracasso”
Fragmento do conto “A chuva nos telhados antigos”
Entre os recursos expressivos empregados nesse fragmento, destaca-se a
Leia o texto para responder à questão.
Como filha de um homem abastado, a noiva fora instruída nos rudimentos da leitura e da escrita [...]. Só que a noiva era uma criatura histriônica*. Tudo que lia, poesia ou canção, era compartilhado com a Escrava; tudo que escrevia, em seguida lia em voz alta para a Escrava. Em segredo, a africana desconfiava daqueles sinais mágicos, tinha medo do papel que podia transportar vozes humanas. Porém, contanto que fosse a sua favorita quem dava voz às palavras, ela se sentia em segurança; contanto que fosse ela quem transformava em música os sinais no papel, a Escrava ficava contente. Agora, pela primeira vez, foi excluída. A mensagem do anjo tinha erguido uma barreira de escrita entre ambas.
*histriônica: relativo a histrião, aquele que representava as farsas, logo, comediante, farsista.
(Bahiyyih Nakhjavani, O alforje. Porto Alegre: Dublinense, 2018, p. 180.)
Sobre o foco narrativo do trecho transcrito, é certo afirmar que se trata de um narrador
Leia o texto para responder à questão.
Como filha de um homem abastado, a noiva fora instruída nos rudimentos da leitura e da escrita [...]. Só que a noiva era uma criatura histriônica*. Tudo que lia, poesia ou canção, era compartilhado com a Escrava; tudo que escrevia, em seguida lia em voz alta para a Escrava. Em segredo, a africana desconfiava daqueles sinais mágicos, tinha medo do papel que podia transportar vozes humanas. Porém, contanto que fosse a sua favorita quem dava voz às palavras, ela se sentia em segurança; contanto que fosse ela quem transformava em música os sinais no papel, a Escrava ficava contente. Agora, pela primeira vez, foi excluída. A mensagem do anjo tinha erguido uma barreira de escrita entre ambas.
*histriônica: relativo a histrião, aquele que representava as farsas, logo, comediante, farsista.
(Bahiyyih Nakhjavani, O alforje. Porto Alegre: Dublinense, 2018, p. 180.)
Na cena transcrita, a personagem Escrava vê, na linguagem escrita,
A questão refere-se ao texto a seguir.
O tipo era atarracado, braços e pernas como pequenas toras. [...] A parte inferior da barriga protuberante não se continha dentro da camisa vermelho-sangue: saltava para fora por baixo e pelas aberturas entre os botões produzidas pela pressão do corpo roliço sob a justeza do tecido. [...] Embora fizesse calor naquele mês de agosto, trazia sobre a camisa vermelho-sangue e a calça clara de linho um longo quimono de seda espalhafatosamente estampado, que, de tão comprido, arrastava no chão e levava consigo poeira, areia, pedrinhas e toda sorte de detritos que porventura encontrasse pelo caminho. Levava, com esforço, quatro malas de tamanhos diferentes: duas em cada uma das mãos e duas debaixo dos braços troncudos. Ao ver Opalka sentado num dos bancos da estação, lendo compenetrado o jornal, sorriu feliz. Acelerou o passinho, tropeçou na barra do quimono e se espatifou no chão a apenas alguns passos do banco.
STIGGER, Veronica. Opisanie Świata. São Paulo: SESI-SP, 2018. p. 23.
No fragmento, a apresentação da personagem ressalta sua
Leia a crônica Brincadeira para responder à questão.
Brincadeira
Começou como uma brincadeira. Telefonou para um conhecido e disse:
- Eu sei de tudo.
Depois de um silêncio, o outro disse:
- Como é que você soube?
[5] - Não interessa. Sei de tudo.
- Me faz um favor. Não espalha.
- Vou pensar.
- Por amor de Deus.
- Está bem. Mas olhe lá, hein?
[10] Descobriu que tinha poder sobre as pessoas.
- Sei de tudo.
- Co-como?
- Sei de tudo.
- Tudo o quê?
[15] - Você sabe.
- Mas é impossível. Como é que você descobriu?
A reação das pessoas variava. Algumas perguntavam em seguida:
- Alguém mais sabe?
- Outras se tornavam agressivas:
[20] - Está bem, você sabe. E daí?
- Daí nada. Só queria que você soubesse que eu sei.
- Se você contar para alguém, eu...
- Depende de você.
- De mim, como?
[25] - Se você andar na linha, eu não conto.
- Certo
Uma vez, parecia ter encontrado um inocente.
- Eu sei de tudo.
- Tudo o quê?
[30] - Você sabe.
- Não sei. O que é que você sabe?
- Não se faça de inocente.
- Mas eu realmente não sei.
- Vem com essa.
[35] - Você não sabe de nada.
- Ah, quer dizer que existe alguma coisa pra saber, mas eu é que não sei o que é?
Não existe nada.
- Olha que eu vou espalhar...
- Pode espalhar que é mentira.
[40] - Como é que você sabe o que eu vou espalhar?
- Qualquer coisa que você espalhar será mentira.
- Está bem. Vou espalhar.
Mas dali a pouco veio um telefonema.
- Escute. Estive pensando melhor. Não espalha nada sobre aquilo.
[45] - Aquilo o quê?
- Você sabe.
Passou a ser temido e respeitado. Volta e meia alguém se aproximava dele e sussurrava:
- Você contou pra alguém?
- Ainda não.
[50] - Puxa. Obrigado.
Com o tempo, ganhou uma reputação. Era de confiança. Um dia, foi procurado por um amigo com
uma oferta de emprego. O salário era enorme.
- Por que eu? – quis saber.
- A posição é de muita responsabilidade – disse o amigo. – Recomendei você.
[55] - Por quê?
- Pela sua discrição.
Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo sobre todos mas nunca abria a boca para falar de
ninguém. Além de bem-informado, um gentleman. Até que recebeu um telefonema. Uma voz
misteriosa que disse:
[60] - Sei de tudo.
- Co-como?
- Sei de tudo.
- Tudo o quê?
- Você sabe.
[65] Resolveu desaparecer. Mudou-se de cidade. Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino.
Investigaram. O que ele estaria tramando? Finalmente foi descoberto numa praia distante. Os
vizinhos contam que uma noite vieram muitos carros e cercaram a casa. Várias pessoas entraram na
casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam que a voz que se ouvia era a dele, gritando:
- Era brincadeira! Era brincadeira!
[70] Foi descoberto de manhã, assassinado. O crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas que o
conheciam não têm dúvidas sobre o motivo.
Sabia demais.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Brincadeira In: Comédias da Vida Privada. Porto Alegre: L&PM, 1995, p.189-91. Adaptado.
Considerando o modo como o narrador conduz o texto, analise as seguintes assertivas.
I. recorre a sequências narrativas para justificar a sua opinião acerca de brincadeiras de mau gosto.
II. faz uso de expressões peculiares da linguagem falada.
III. estabelece diálogo com seu leitor, sobretudo através de frases interrogativas.
IV. utiliza-se do discurso indireto para dar mais expressividade ao texto.
Assinale a alternativa CORRETA.
Leia a crônica de Paulo Brabo e responda à questão.
DUZENTAS GRAMAS
Meu amigo Hélio, que é pai do Arthur e diz sonoramente trêss e déss (ao invés de, digamos, “trêis” e “déis”) fica indignado quando peço na padaria duzentas gramas de presunto – quando a forma correta, insiste ele, é “duzentos” gramas. Sempre que acontece e estamos juntos acabamos discutindo uns dez minutos sobre modos diferentes de falar. Ele de praxe argumenta que as regras de pronúncia e ortografia, se existem, devem ser obedecidas – e que os mais cultos (como eu, um cara que traduz livros!) devem insistir na forma correta a fim de esclarecer e encaminhar gente menos iluminada, como supõe-se seja a moça que me vende na padaria o presunto e o queijo. Eu sempre argumento que quando ele diz que só existe uma forma correta de falar está usurpando um termo de outro ramo, e tentando aplicar a ética à gramática: como se falar “corretamente” implicasse em algum grau de correção moral; como se dizer “duzentas” gramas fosse incorrer numa falha de caráter e dizer “duzentos” fosse prova de virtude e integridade. [...]
<https://tinyurl.com/ya6ta9cr> Acesso em: 09.11.2017.
Segundo o texto, é possível afirmar que