Texto III
Vícios na fala
Para dizerem milho, dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Fonte: ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. In.: ANDRADE, Oswald de. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p. 47.
O uso de termos da variante não padrão nesse texto se justifica
Texto I
Leia este texto e responda a questão.
TEM CERTEZA QUE VOCÊ FALA PORTUGUÊS?
As diferenças lexicais entre o Português e o Brasileiro não se resume a meia dúzia de exemplos
Ano 2000, 500 anos da chegada de Cabral às terras do Brasil. Datas redondas como essa estimulam paradas para reflexão: o que é ser ex-colônia? O que nos resta desse estatuto de dominado? O que deve ser reanalisado em nossa historia? E por aí vai. São questões árduas que exigem o maior distanciamento possível para o seu estudo. Dentre as indagações que se apresentam, a relação que temos com nosso idioma português de origem merecem muita atenção. Postulo que no Brasil se fala brasileiro. Neste artigoresenha, apresento alguns argumentos lexicais e sentenciais para sustentar tal proposta. Lá vai.
Se algum dia você estiver em Lisboa e ler que a sala de banhos está interditada, pois o autoclisma está avariado, não se assuste. Essa frase não faz alusão a nada além da impossibilidade de se usar o banheiro; a descarga, coitada!, pifou.
Mário Prata, em Schifaizfavoire, tece uma série de comentários hilários sobre as diferenças entre o léxico português europeu, como é chamado o idioma lusitano, e o brasileiro. Alguns casos são conhecidos: bicha não é uma pessoa com opções sexuais não ortodoxas. Em Portugal, se escutar que a bicha é grande e que quem entrar na bicha ganha um brinde, não hesite, pois a fila ainda não dobrou a esquina. Há outros termos que chamam a atenção. Peão quer dizer pedestre; girafa é caneca grande; marinalva é conquistador. Imagine a Vera Fischer nos braços do Tony Ramos: - Você é o marinalva da minha vida. E ainda: peúgas são meias masculinas e penca é nariz grande. As diferenças no léxico não devem ser desprezadas. Não se tem apenas uma meia dúzia de exemplos. Podemos listar uma relação significativa de palavras com significados diferentes.
Há ainda, e se calhar é o mais importante, diferenças de ordem sentencial. Em Portugal, não se diz uma frase como Paulo comeu a banana. Os artigos antes dos nomes próprios de pessoas são necessários. As pessoas se conheceram também é outra frase estranha para os ouvidos portugueses. Para eles, necessariamente seria mais aceitável a forma As pessoas conheceram-se.
Afinal, no Brasil e em Portugal, se fala a mesma língua?
O que se sabe em todo caso é que se você estiver numa praia de Portugal e sua namorada lhe disser que vai se despir no banheiro, tome cuidado, meu gajo, banheiro quer dizer salva-vidas. E você, senhorita, se seu gato apaixonadamente anunciar que vai comprar umas cuecas para o amor da vida dele, não se apoquente, não casculhe, não fofoque, porque cuecas quer dizer calcinha.
Fonte: PERINI-SANTOS, Pedro. Gramaticalmente crônico. Belo Horizonte: Edição Independente, 2003. Publicado originalmente no Jornal Hoje em Dia de 22 de novembro de 1999.
O uso da variante padrão nesse texto é
Texto I
Leia este texto e responda a questão.
TEM CERTEZA QUE VOCÊ FALA PORTUGUÊS?
As diferenças lexicais entre o Português e o Brasileiro não se resume a meia dúzia de exemplos
Ano 2000, 500 anos da chegada de Cabral às terras do Brasil. Datas redondas como essa estimulam paradas para reflexão: o que é ser ex-colônia? O que nos resta desse estatuto de dominado? O que deve ser reanalisado em nossa historia? E por aí vai. São questões árduas que exigem o maior distanciamento possível para o seu estudo. Dentre as indagações que se apresentam, a relação que temos com nosso idioma português de origem merecem muita atenção. Postulo que no Brasil se fala brasileiro. Neste artigoresenha, apresento alguns argumentos lexicais e sentenciais para sustentar tal proposta. Lá vai.
Se algum dia você estiver em Lisboa e ler que a sala de banhos está interditada, pois o autoclisma está avariado, não se assuste. Essa frase não faz alusão a nada além da impossibilidade de se usar o banheiro; a descarga, coitada!, pifou.
Mário Prata, em Schifaizfavoire, tece uma série de comentários hilários sobre as diferenças entre o léxico português europeu, como é chamado o idioma lusitano, e o brasileiro. Alguns casos são conhecidos: bicha não é uma pessoa com opções sexuais não ortodoxas. Em Portugal, se escutar que a bicha é grande e que quem entrar na bicha ganha um brinde, não hesite, pois a fila ainda não dobrou a esquina. Há outros termos que chamam a atenção. Peão quer dizer pedestre; girafa é caneca grande; marinalva é conquistador. Imagine a Vera Fischer nos braços do Tony Ramos: - Você é o marinalva da minha vida. E ainda: peúgas são meias masculinas e penca é nariz grande. As diferenças no léxico não devem ser desprezadas. Não se tem apenas uma meia dúzia de exemplos. Podemos listar uma relação significativa de palavras com significados diferentes.
Há ainda, e se calhar é o mais importante, diferenças de ordem sentencial. Em Portugal, não se diz uma frase como Paulo comeu a banana. Os artigos antes dos nomes próprios de pessoas são necessários. As pessoas se conheceram também é outra frase estranha para os ouvidos portugueses. Para eles, necessariamente seria mais aceitável a forma As pessoas conheceram-se.
Afinal, no Brasil e em Portugal, se fala a mesma língua?
O que se sabe em todo caso é que se você estiver numa praia de Portugal e sua namorada lhe disser que vai se despir no banheiro, tome cuidado, meu gajo, banheiro quer dizer salva-vidas. E você, senhorita, se seu gato apaixonadamente anunciar que vai comprar umas cuecas para o amor da vida dele, não se apoquente, não casculhe, não fofoque, porque cuecas quer dizer calcinha.
Fonte: PERINI-SANTOS, Pedro. Gramaticalmente crônico. Belo Horizonte: Edição Independente, 2003. Publicado originalmente no Jornal Hoje em Dia de 22 de novembro de 1999.
A estratégia argumentativa recorrentemente utilizada na construção desse texto foi o uso de
Texto I
Leia este texto e responda a questão.
TEM CERTEZA QUE VOCÊ FALA PORTUGUÊS?
As diferenças lexicais entre o Português e o Brasileiro não se resume a meia dúzia de exemplos
Ano 2000, 500 anos da chegada de Cabral às terras do Brasil. Datas redondas como essa estimulam paradas para reflexão: o que é ser ex-colônia? O que nos resta desse estatuto de dominado? O que deve ser reanalisado em nossa historia? E por aí vai. São questões árduas que exigem o maior distanciamento possível para o seu estudo. Dentre as indagações que se apresentam, a relação que temos com nosso idioma português de origem merecem muita atenção. Postulo que no Brasil se fala brasileiro. Neste artigoresenha, apresento alguns argumentos lexicais e sentenciais para sustentar tal proposta. Lá vai.
Se algum dia você estiver em Lisboa e ler que a sala de banhos está interditada, pois o autoclisma está avariado, não se assuste. Essa frase não faz alusão a nada além da impossibilidade de se usar o banheiro; a descarga, coitada!, pifou.
Mário Prata, em Schifaizfavoire, tece uma série de comentários hilários sobre as diferenças entre o léxico português europeu, como é chamado o idioma lusitano, e o brasileiro. Alguns casos são conhecidos: bicha não é uma pessoa com opções sexuais não ortodoxas. Em Portugal, se escutar que a bicha é grande e que quem entrar na bicha ganha um brinde, não hesite, pois a fila ainda não dobrou a esquina. Há outros termos que chamam a atenção. Peão quer dizer pedestre; girafa é caneca grande; marinalva é conquistador. Imagine a Vera Fischer nos braços do Tony Ramos: - Você é o marinalva da minha vida. E ainda: peúgas são meias masculinas e penca é nariz grande. As diferenças no léxico não devem ser desprezadas. Não se tem apenas uma meia dúzia de exemplos. Podemos listar uma relação significativa de palavras com significados diferentes.
Há ainda, e se calhar é o mais importante, diferenças de ordem sentencial. Em Portugal, não se diz uma frase como Paulo comeu a banana. Os artigos antes dos nomes próprios de pessoas são necessários. As pessoas se conheceram também é outra frase estranha para os ouvidos portugueses. Para eles, necessariamente seria mais aceitável a forma As pessoas conheceram-se.
Afinal, no Brasil e em Portugal, se fala a mesma língua?
O que se sabe em todo caso é que se você estiver numa praia de Portugal e sua namorada lhe disser que vai se despir no banheiro, tome cuidado, meu gajo, banheiro quer dizer salva-vidas. E você, senhorita, se seu gato apaixonadamente anunciar que vai comprar umas cuecas para o amor da vida dele, não se apoquente, não casculhe, não fofoque, porque cuecas quer dizer calcinha.
Fonte: PERINI-SANTOS, Pedro. Gramaticalmente crônico. Belo Horizonte: Edição Independente, 2003. Publicado originalmente no Jornal Hoje em Dia de 22 de novembro de 1999.
Texto II
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O drama linguístico no Brasil
Em todas as sociedades, existe sempre um grupo de pessoas, uma classe social ou uma comunidade local específica, que acredita que o seu modo particular de falar a língua é o mais correto, o mais bonito, o mais elegante e, por isso, deve ser o modelo que as outras classes e comunidades precisam imitar. Em geral, são os moradores das regiões economicamente mais ricas, os habitantes de alto poder aquisitivo dos grandes centros urbanos, os cidadãos com acesso aos melhores meios de escolarização – enfim, aquilo que nas ciências sociais se chama de classes dominantes.
Essa situação varia muito de acordo com o grau de democratização das relações sociais de um país. Seja como for, esse elemento cultural está presente em qualquer grupo humano e em muitos lugares constitui um instrumento de conflitos e tensões sociais. [...]
No Brasil, a situação linguística revela um drama parecido, embora a violência aqui seja exercida no nível simbólico, mas nem por isso menos violenta. Os brasileiros urbanos letrados não só discriminam o modo de falar de seus compatriotas analfabetos, semianalfabetos, pobres e excluídos, como também discriminam o seu próprio modo de falar, as suas próprias variedades linguísticas.
Podemos dizer, portanto, que o preconceito linguístico no Brasil se exerce em duas direções: dentro da elite para fora dela, contra os que não pertencem às camadas sociais privilegiadas; e de dentro da elite para ao redor de si mesma, contra seus próprios membros. Isso porque, como eu já disse, existe uma mentalidade dos brasileiros em geral, e dos falantes urbanos escolarizados em particular, a convicção muito arraigada de que no Brasil ninguém fala bem o português. [...]
Fonte: BAGNO, Marcos. Não é errado falar assim: em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2010. 2 ed. Adaptado
A relação existente entre os textos I e II se dá
Texto II
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O drama linguístico no Brasil
Em todas as sociedades, existe sempre um grupo de pessoas, uma classe social ou uma comunidade local específica, que acredita que o seu modo particular de falar a língua é o mais correto, o mais bonito, o mais elegante e, por isso, deve ser o modelo que as outras classes e comunidades precisam imitar. Em geral, são os moradores das regiões economicamente mais ricas, os habitantes de alto poder aquisitivo dos grandes centros urbanos, os cidadãos com acesso aos melhores meios de escolarização – enfim, aquilo que nas ciências sociais se chama de classes dominantes.
Essa situação varia muito de acordo com o grau de democratização das relações sociais de um país. Seja como for, esse elemento cultural está presente em qualquer grupo humano e em muitos lugares constitui um instrumento de conflitos e tensões sociais. [...]
No Brasil, a situação linguística revela um drama parecido, embora a violência aqui seja exercida no nível simbólico, mas nem por isso menos violenta. Os brasileiros urbanos letrados não só discriminam o modo de falar de seus compatriotas analfabetos, semianalfabetos, pobres e excluídos, como também discriminam o seu próprio modo de falar, as suas próprias variedades linguísticas.
Podemos dizer, portanto, que o preconceito linguístico no Brasil se exerce em duas direções: dentro da elite para fora dela, contra os que não pertencem às camadas sociais privilegiadas; e de dentro da elite para ao redor de si mesma, contra seus próprios membros. Isso porque, como eu já disse, existe uma mentalidade dos brasileiros em geral, e dos falantes urbanos escolarizados em particular, a convicção muito arraigada de que no Brasil ninguém fala bem o português. [...]
Fonte: BAGNO, Marcos. Não é errado falar assim: em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2010. 2 ed. Adaptado
O pronome essa utilizado no segundo parágrafo do texto II refere-se
Texto II
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O drama linguístico no Brasil
Em todas as sociedades, existe sempre um grupo de pessoas, uma classe social ou uma comunidade local específica, que acredita que o seu modo particular de falar a língua é o mais correto, o mais bonito, o mais elegante e, por isso, deve ser o modelo que as outras classes e comunidades precisam imitar. Em geral, são os moradores das regiões economicamente mais ricas, os habitantes de alto poder aquisitivo dos grandes centros urbanos, os cidadãos com acesso aos melhores meios de escolarização – enfim, aquilo que nas ciências sociais se chama de classes dominantes.
Essa situação varia muito de acordo com o grau de democratização das relações sociais de um país. Seja como for, esse elemento cultural está presente em qualquer grupo humano e em muitos lugares constitui um instrumento de conflitos e tensões sociais. [...]
No Brasil, a situação linguística revela um drama parecido, embora a violência aqui seja exercida no nível simbólico, mas nem por isso menos violenta. Os brasileiros urbanos letrados não só discriminam o modo de falar de seus compatriotas analfabetos, semianalfabetos, pobres e excluídos, como também discriminam o seu próprio modo de falar, as suas próprias variedades linguísticas.
Podemos dizer, portanto, que o preconceito linguístico no Brasil se exerce em duas direções: dentro da elite para fora dela, contra os que não pertencem às camadas sociais privilegiadas; e de dentro da elite para ao redor de si mesma, contra seus próprios membros. Isso porque, como eu já disse, existe uma mentalidade dos brasileiros em geral, e dos falantes urbanos escolarizados em particular, a convicção muito arraigada de que no Brasil ninguém fala bem o português. [...]
Fonte: BAGNO, Marcos. Não é errado falar assim: em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2010. 2 ed. Adaptado
É objetivo do autor do texto II: