Os poemas
[1] Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
[5] como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
[10] E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
MÁRIO QUINTANA Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005
O texto é todo construído por meio do emprego de uma figura de estilo.
Essa figura é denominada de:
Os poemas
[1] Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
[5] como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
[10] E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
MÁRIO QUINTANA Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti... (v. 10-12)
De acordo com esses versos, um dos efeitos da compreensão da leitura é:
Os poemas
[1] Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
[5] como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
[10] E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
MÁRIO QUINTANA Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005
Eles não têm pouso
nem porto (v. 6-7)
Os versos acima podem ser lidos como uma pressuposição do autor sobre o texto literário.
Essa pressuposição está ligada ao fato de que a obra literária, como texto público, apresenta o seguinte traço:
Como e porque sou romancista
Minha mãe e minha tia se ocupavam com trabalhos de costuras, e as amigas para não ficarem ociosas
as ajudavam. Dados os primeiros momentos à conversação, passava-se à leitura e era eu chamado ao
lugar de honra.
Muitas vezes, confesso, essa honra me arrancava bem a contragosto de um sono começado ou de um
[5] folguedo querido; já naquela idade a reputação é um fardo e bem pesado.
Lia-se até a hora do chá, e tópicos havia tão interessantes que eu era obrigado à repetição. Compensavam
esse excesso, as pausas para dar lugar às expansões do auditório, o qual desfazia-se em recriminações
contra algum mau personagem, ou acompanhava de seus votos e simpatias o herói perseguido.
Uma noite, daquelas em que eu estava mais possuído do livro, lia com expressão uma das páginas
[10] mais comoventes da nossa biblioteca. As senhoras, de cabeça baixa, levavam o lenço ao rosto, e poucos
momentos depois não puderam conter os soluços que rompiam-lhes o seio.
Com a voz afogada pela comoção e a vista empanada pelas lágrimas, eu também cerrando ao peito o
livro aberto, disparei em pranto e respondia com palavras de consolo às lamentações de minha mãe e
suas amigas.
[15] Nesse instante assomava à porta um parente nosso, o Revd.º Padre Carlos Peixoto de Alencar, já
assustado com o choro que ouvira ao entrar – Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, ainda mais
perturbou-se:
- Que aconteceu? Alguma desgraça? Perguntou arrebatadamente.
As senhoras, escondendo o rosto no lenço para ocultar do Padre Carlos o pranto e evitar seus remoques1,
[20] não proferiram palavra. Tomei eu a mim responder:
- Foi o pai de Amanda que morreu! Disse, mostrando-lhe o livro aberto.
Compreendeu o Padre Carlos e soltou uma gargalhada, como ele as sabia dar, verdadeira gargalhada
homérica, que mais parecia uma salva de sinos a repicarem do que riso humano. E após esta, outra e
outra, que era ele inesgotável, quando ria de abundância de coração, com o gênio prazenteiro de que a
[25] natureza o dotara.
Foi essa leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a
tendência para essa forma literária [o romance] que é entre todas a de minha predileção?
Não me animo a resolver esta questão psicológica, mas creio que ninguém contestará a influência das
primeiras impressões.
JOSÉ DE ALENCAR Como e porque sou romancista. Campinas: Pontes, 1990.
A reação do Padre Carlos é muito diferente daquela que apresentam as senhoras diante da “morte” do personagem, situação que, no texto, é demarcada também pelo emprego de certas palavras.
A diferença entre a reação das senhoras e a do Padre Carlos é indicada pelo uso das seguintes palavras:
Como e porque sou romancista
Minha mãe e minha tia se ocupavam com trabalhos de costuras, e as amigas para não ficarem ociosas
as ajudavam. Dados os primeiros momentos à conversação, passava-se à leitura e era eu chamado ao
lugar de honra.
Muitas vezes, confesso, essa honra me arrancava bem a contragosto de um sono começado ou de um
[5] folguedo querido; já naquela idade a reputação é um fardo e bem pesado.
Lia-se até a hora do chá, e tópicos havia tão interessantes que eu era obrigado à repetição. Compensavam
esse excesso, as pausas para dar lugar às expansões do auditório, o qual desfazia-se em recriminações
contra algum mau personagem, ou acompanhava de seus votos e simpatias o herói perseguido.
Uma noite, daquelas em que eu estava mais possuído do livro, lia com expressão uma das páginas
[10] mais comoventes da nossa biblioteca. As senhoras, de cabeça baixa, levavam o lenço ao rosto, e poucos
momentos depois não puderam conter os soluços que rompiam-lhes o seio.
Com a voz afogada pela comoção e a vista empanada pelas lágrimas, eu também cerrando ao peito o
livro aberto, disparei em pranto e respondia com palavras de consolo às lamentações de minha mãe e
suas amigas.
[15] Nesse instante assomava à porta um parente nosso, o Revd.º Padre Carlos Peixoto de Alencar, já
assustado com o choro que ouvira ao entrar – Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, ainda mais
perturbou-se:
- Que aconteceu? Alguma desgraça? Perguntou arrebatadamente.
As senhoras, escondendo o rosto no lenço para ocultar do Padre Carlos o pranto e evitar seus remoques1,
[20] não proferiram palavra. Tomei eu a mim responder:
- Foi o pai de Amanda que morreu! Disse, mostrando-lhe o livro aberto.
Compreendeu o Padre Carlos e soltou uma gargalhada, como ele as sabia dar, verdadeira gargalhada
homérica, que mais parecia uma salva de sinos a repicarem do que riso humano. E após esta, outra e
outra, que era ele inesgotável, quando ria de abundância de coração, com o gênio prazenteiro de que a
[25] natureza o dotara.
Foi essa leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a
tendência para essa forma literária [o romance] que é entre todas a de minha predileção?
Não me animo a resolver esta questão psicológica, mas creio que ninguém contestará a influência das
primeiras impressões.
JOSÉ DE ALENCAR Como e porque sou romancista. Campinas: Pontes, 1990.
Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, (ℓ. 16)
O fragmento acima poderia ser reescrito, com o emprego de um conectivo.
A reescritura que preserva o sentido original do fragmento é:
Como e porque sou romancista
Minha mãe e minha tia se ocupavam com trabalhos de costuras, e as amigas para não ficarem ociosas
as ajudavam. Dados os primeiros momentos à conversação, passava-se à leitura e era eu chamado ao
lugar de honra.
Muitas vezes, confesso, essa honra me arrancava bem a contragosto de um sono começado ou de um
[5] folguedo querido; já naquela idade a reputação é um fardo e bem pesado.
Lia-se até a hora do chá, e tópicos havia tão interessantes que eu era obrigado à repetição. Compensavam
esse excesso, as pausas para dar lugar às expansões do auditório, o qual desfazia-se em recriminações
contra algum mau personagem, ou acompanhava de seus votos e simpatias o herói perseguido.
Uma noite, daquelas em que eu estava mais possuído do livro, lia com expressão uma das páginas
[10] mais comoventes da nossa biblioteca. As senhoras, de cabeça baixa, levavam o lenço ao rosto, e poucos
momentos depois não puderam conter os soluços que rompiam-lhes o seio.
Com a voz afogada pela comoção e a vista empanada pelas lágrimas, eu também cerrando ao peito o
livro aberto, disparei em pranto e respondia com palavras de consolo às lamentações de minha mãe e
suas amigas.
[15] Nesse instante assomava à porta um parente nosso, o Revd.º Padre Carlos Peixoto de Alencar, já
assustado com o choro que ouvira ao entrar – Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, ainda mais
perturbou-se:
- Que aconteceu? Alguma desgraça? Perguntou arrebatadamente.
As senhoras, escondendo o rosto no lenço para ocultar do Padre Carlos o pranto e evitar seus remoques1,
[20] não proferiram palavra. Tomei eu a mim responder:
- Foi o pai de Amanda que morreu! Disse, mostrando-lhe o livro aberto.
Compreendeu o Padre Carlos e soltou uma gargalhada, como ele as sabia dar, verdadeira gargalhada
homérica, que mais parecia uma salva de sinos a repicarem do que riso humano. E após esta, outra e
outra, que era ele inesgotável, quando ria de abundância de coração, com o gênio prazenteiro de que a
[25] natureza o dotara.
Foi essa leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a
tendência para essa forma literária [o romance] que é entre todas a de minha predileção?
Não me animo a resolver esta questão psicológica, mas creio que ninguém contestará a influência das
primeiras impressões.
JOSÉ DE ALENCAR Como e porque sou romancista. Campinas: Pontes, 1990.
que rompiam-lhes o seio. (ℓ. 11)
O vocábulo sublinhado faz referência a uma palavra já enunciada no texto.
Essa palavra a que se refere o vocábulo lhes é: