Leia o trecho de O quinze, de Rachel de Queiroz (1910-2003), para responder à questão.
Mas foi em vão que Chico Bento contou ao homem das passagens a sua necessidade de se transportar a Fortaleza com a família. Só ele, a mulher, a cunhada e cinco filhos pequenos.
O homem não atendia.
– Não é possível. Só se você esperar um mês. Todas as passagens que eu tenho ordem de dar, já estão cedidas. Por que não vai por terra?
– Mas meu senhor, veja que ir por terra, com esse magote de meninos, é uma morte!
O homem sacudiu os ombros:
– Que morte! Agora é que retirante tem esses luxos... No 77 não teve trem para nenhum. É você dar um jeito, que, passagens, não pode ser...
Chico Bento foi saindo.
Na porta, o homem ainda o consolou:
– Pois se quiser esperar, talvez se arranje mais tarde. Imagine que tive de ceder cinquenta passagens ao Matias Paroara, que anda agenciando rapazes solteiros para o Acre!
Na loja do Zacarias, enquanto matava o bicho, o vaqueiro desabafou a raiva:
– Desgraçado! Quando acaba, andam espalhando que o governo ajuda os pobres... Não ajuda nem a morrer!
O Zacarias segredou:
– Ajudar, o governo ajuda. O preposto é que é um ratuíno... Anda vendendo as passagens a quem der mais...
Os olhos do vaqueiro luziram:
– Por isso é que ele me disse que tinha cedido cinquenta passagens ao Matias Paroara!...
– Boca de ceder! Cedeu, mas foi mão pra lá, mão pra cá... O Paroara me disse que pouco faltou pro custo da tarifa... Quase não deu interesse...
Chico Bento cuspiu com o ardor do mata-bicho:
– Cambada ladrona!
(O quinze, 2013.)
“andam espalhando que o governo ajuda os pobres... Não ajuda nem a morrer!” (11o parágrafo)
Em relação a “o governo ajuda os pobres”, o trecho “Não ajuda nem a morrer!” estabelece uma