Decibéis
Um poeta paulista disse-me, numa esquina movimentada, que o homem moderno havia perdido o prazer do silêncio. Já se passaram mais de trinta anos. A coisa só piorou.
A capacidade que as pessoas das grandes cidades possuem de produzir e suportar barulho é espantosa.
Já repararam como as pessoas falam alto, berram umas com as outras nas novelas hoje em dia? Precisava ser assim? E os anúncios da televisão? A gente tem de abaixar o volume na hora do comercial e levantar de novo quando o programa recomeça.
O cinema – já notaram como ficou barulhento? Você quase tem de assistir a esses filmes apocalípticos com protetores de ouvido. Até filmes de qualidade, como O Senhor dos Anéis, tentam destruir nossos ouvidos junto com os inimigos dos heróis. As novas tecnologias de som são incríveis, sem dúvida, mas parecem brinquedo em mão de criança. Por que tão alto?
Ir a um restaurante com música ao vivo é um risco. Não se consegue conversar, a comida fica até sem graça. Qual é a ideia da música alta em um lugar aonde você foi para comer e bater papo?
São muitos os ruídos que desafiam o humor citadino. Buzinas de automóvel, eis uma falta de civilidade já antiga. Motocicletas pipocantes e seu bi-bi-bi são mais recentes, irritam motoristas e pedestres. Helicópteros, depois que viraram transporte urbano e cabine de reportagem, perturbam. Caminhões de lixo noturnos trituram o silêncio. Mesma coisa com o bate-estaca do novo lançamento imobiliário. Termina essa fase da obra, ai que alívio, e então chegam as serras elétricas.
Com tudo isso se revezando ou se somando, acho que vou passar uma semana no mato. Estou precisando ouvir o silêncio.(Ivan Angelo. Veja SP, 08.11.2006. Adaptado.)
De acordo com as informações do texto, é correto afirmar que