TEXTO
Em Busca de Novas Armas Contra o Aedes Aegypt
O infectologista Rivaldo Venâncio da Cunha já
foi diagnosticado com dengue duas vezes.
[40] Nenhuma surpresa. O coordenador de
Vigilância em Saúde e Laboratórios de
Referência da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) e professor da Medicina da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
[45] vive no Brasil, país castigado pela doença nas
últimas três décadas e por outras também
transmitidas pelo Aedes aegypt. Essas
epidemias, explica o pesquisador nesta
entrevista, devem continuar décadas adiante:
[50] “Ainda utilizamos o modelo de controle do
mosquito que foi exitoso há 110 anos com
Oswaldo Cruz”. Nem as águas de março que
acabaram de fechar o verão são promessa de
uma trégua. “Temos observado que, em
[55] algumas localidades do Brasil, o padrão de
ocorrência da dengue tem se mantido estável
mesmo fora do verão. Isso aponta o óbvio: a
população e as autoridades sanitárias têm de
atuar durante todo o ano, e não somente no
[60] verão. Infelizmente, isso não ocorre em um
padrão homogêneo”, ensina Cunha, que
comemora, no entanto, abordagens
promissoras para o controle do mosquito e vê
uma melhora da vigilância nas últimas
[65] décadas.
Ciência Hoje: O Brasil sofreu
recentemente com grandes surtos de
dengue, zika e febre amarela. Devemos
esperar novos surtos em breve? O que
[70] dizem os dados epidemiológicos?
Rivaldo Venâncio da Cunha: As doenças
transmitidas pelo Aedes continuarão ocorrendo
nos próximos 20 ou 30 anos. Por que
continuarão ocorrendo? Porque utilizamos o
[75] modelo de controle do mosquito que foi
exitoso há 110 anos com Oswaldo Cruz e,
depois, com Clementino Fraga e outros. Se
não houver uma nova abordagem para
controle do vetor, continuaremos tendo
[80] epidemias, porque, infelizmente, as questões
estruturais da sociedade permanecem
praticamente inalteradas. Essa bárbara
segregação social que o Brasil tem,
esse apartheid social, que é fruto de séculos,
[85] criou condições para haver comunidades
extremamente vulneráveis, onde a coleta do
lixo, quando existe, é feita de forma
inadequada, e nas quais o fornecimento de
água é irregular. São lugares onde o Estado
[90] inexiste. Há comunidades em que policiais não
podem entrar a qualquer hora, imagine um
agente de controle de vetores. Essa
complexidade urbana não aparenta que será
modificada nos próximos anos.
CUNHA, Rivaldo Venâncio da. Em Busca de Novas Armas Contra o Aedes Aegypt. Ciência Hoje, São Paulo, n.353, abr. 2019. Entrevista concedida a Valquíria Daher. Disponível em: http://cienciahoje.org.br/artigo/em-busca-de-novasarmas-contra-o-aedes-aegypt/. Acessado em 27 de abril de 2019.
A intertextualidade é um dos fatores responsáveis pela construção de sentido. Ela é percebida quando o leitor recupera, no texto em tela, informações de outros textos que se encontram explícitas ou inferidas. Sobre essa questão, considere as seguintes afirmativas:
I. “Nem as águas de março que acabaram de fechar o verão são promessa de uma trégua” (linhas 52-54).
II. “Essa bárbara segregação social que o Brasil tem, esse apartheid social [...] criou condições para haver comunidades extremamente vulneráveis [...]” (linhas 82- 86).
III. “Essa complexidade urbana não aparenta que será modificada nos próximos anos” (linhas 92-94).
É correto afirmar que há intertextualidade em