Leia agora o início da crônica “O Vassoureiro”, de Rubem Braga, antes de responder à questão, que a ela se refere:
Em um piano distante alguém estuda uma lição lenta, em notas graves. De muito longe, de outra esquina, ouve-se também o som de um realejo. Conheço o velho que o toca, ele anda sempre pelo meu bairro; já fez o periquito tirar para mim um papelucho em que são garantidos 93 anos de vida, muita riqueza, poder e felicidade.
Ora, não preciso de tanto. Nem de tanta vida, nem de tanta coisa mais. Dinheiro apenas para não ter as aflições da pobreza; poder somente para mandar um pouco, pelo menos, em meu nariz; e da felicidade um salário mínimo: tristezas que possa aguentar, remorsos que não doam demais, renúncias que não façam de mim um velho amargo.
Joguei uma prata da janela, e o periquito do realejo me fez um ancião poderoso, feliz e rico. De rebarba me concedeu 14 filhos, tarefa e honra que me assustam um pouco. Mas os periquitos são muito exagerados, e o costume de ouvir o dia inteiro trechos de óperas não deve lhes fazer bem à cabeça. Os papagaios são mais objetivos e prudentes, e só se animam a afirmar uma coisa depois que a ouvem repetidas vezes.
Enquanto isso – oh! – Chiquita, a pequenina jabota, passeia a casa inteira, erguendo com certa graça o casco pesado sobre as quatro patinhas tortas, e espichando e encolhendo o pescoço curioso, tímido e feio. Nunca diz nada, o que é pena, pois deve ter uma visão muito particular das coisas.
Leia as afirmativas a seguir, feitas a respeito de fenômenos sintáticos e linguísticos do texto de Rubem Braga:
I. O primeiro período (que começa com “Em um piano”) é simples e, por desconhecer a identidade de quem pratica a ação, o cronista emprega um pronome indefinido.
II. No período seguinte, a expressão “o som de um realejo” exerce a função sintática de objeto direto.
III. Ao dizer que precisa apenas de um salário mínimo de felicidade, o cronista está empregando uma metáfora.
IV. No último parágrafo, a fim de expressar seu espanto e admiração, o autor empregou e escreveu de modo correto a interjeição “oh!”
Assinale a alternativa correta: