[Para Leonardo da Vinci,] a Pintura é um meio de analisar a Natureza, de produzir uma visão especulativa de suas formas regulares e inteligíveis, sujeitas às mesmas leis gerais que as ciências começariam, depois, a identificar e a traduzir em linguagem matemática. Essa análise que a visão do artista realiza e que a sua atividade transforma em obra, completa- -se na síntese do quadro, da tela pintada, que permite ver, em sua beleza intrínseca, graças à perspectiva geométrica, um pedaço da realidade natural. A Natureza revela-se aos olhos dos que sabem vê-la e, através desse meio privilegiado que é a Pintura, torna-se visível e inteligível para os outros.
NUNES, Benedito. Introdução à Filosofia da Arte.
O trecho acima exemplifica uma concepção segundo a qual a função da obra de arte...
Os filósofos cínicos são conhecidos pelas respostas mordazes e pelo chiste. Entre o arsenal dos filósofos cínicos, notadamente em Diógenes de Sinope, está o uso da piada e do humor frente ao rito, frente ao mito e frente às ideologias. Diógenes é um oponente desinibido do nomos (lei) e ridiculariza as atividades rituais. Então, leia, atentamente, o excerto abaixo, que trata da piada:
Uma piada tem em comum com um rito o fato de que ambos conectam conceitos amplamente diferentes. (...). O rito impõe ordem e harmonia, enquanto a piada desorganiza. Do físico ao pessoal, ao social, ao cósmico, grandes rituais criam unidade na experiência. Eles afirmam a hierarquia e a ordem. Ao fazê-lo, afirmam o valor do padrão simbólico do universo. Cada nível desse padrão é validado e enriquecido por associação com o restante. Mas piadas têm o efeito oposto. Elas conectam campos amplamente diferentes, mas a conexão destrói a hierarquia e a ordem. Elas não afirmam os valores dominantes, mas os denigrem e desvalorizam (DOUGLAS. Mary, The Social Control of Cognitions: Some Factors in Joke Perception)
Sobre o excerto acima, seguem as seguintes afirmações:
I Naquilo que o ritual é socialmente conservador e consolidador, a piada implica adesão ao social e ao cósmico.
II A piada é uma afirmação de liberdade em que é possível fugir dos padrões, da hierarquia e da ordem.
III Fundamentalmente, piada e rito acabam sendo a mesma coisa, porque conectam conceitos semelhantes sobre a hierarquia e a ordem, enriquecidas por associação.
IV A piada tem efeito subversivo sobre a estrutura dominante das ideias, porque subverte as pressuposições.
Considerando os itens I, II, III e IV, assinale a alternativa CORRETA.
No período medieval, Pedro Abelardo se empenha em elucidar os mistérios da fé por via racional. Assim, em seu pensamento afloram questões básicas da ética: o ato e a intenção, as relações entre indivíduos e o coletivo, a natureza da culpa e do mérito, a função ética da recompensa e da punição, o significado moral da responsabilidade e da liberdade. Julga que, sem a intenção consciente e deliberada, não há mérito nem culpa. Dito isso, observe a citação a seguir:
Para definir pecado, Abelardo recorrerá, então, aos dois conceitos (...) ou seja, o conceito de “más obras”, que são ações e omissões a que nos conduzem nossos vícios, e o conceito de “vício”, que são nossas tendências adquiridas ou inatas, às ações e omissões que denominamos más. Isso feito, ele introduz entre eles, forjando uma sequência cronológica bem determinada, um conceito novo, até então não mencionado: o “consentimento” às más obras que seria o pecado. (...) Portanto, cometeremos pecado no momento em que, depois de impulsionados por nossas tendências viciosas, emprestamos nosso consentimento às eventuais obras subsequentes que venhamos a executar inclinados por nossos vícios.
Para definir pecado, Abelardo recorrerá, então, aos dois conceitos (...) ou seja, o conceito de “más obras”, que são ações e omissões a que nos conduzem nossos vícios, e o conceito de “vício”, que são nossas tendências adquiridas ou inatas, às ações e omissões que denominamos más. Isso feito, ele introduz entre eles, forjando uma sequência cronológica bem determinada, um conceito novo, até então não mencionado: o “consentimento” às más obras que seria o pecado. (...) Portanto, cometeremos pecado no momento em que, depois de impulsionados por nossas tendências viciosas, emprestamos nosso consentimento às eventuais obras subsequentes que venhamos a executar inclinados por nossos vícios.
CHAVES-TANATÚS. A ética de Pedro Abelardo, 1996.
A respeito da citação acima, seguem as seguintes afirmações:
I Não há como deixar de consentir com nossas tendências inatas.
II Pecado se localiza em uma decisão individual e interior.
III O vício, em si mesmo, não é pecado.
IV A ética está na intenção, e não na ação.
Frente a isso, assinale a alternativa CORRETA.
A concepção de uma lei da natureza é parte indispensável das doutrinas éticas e políticas de John Locke. O reconhecimento de um fundamento racional para a moralidade fez dele um dos inspiradores de uma tradição que culminou com a promulgação da Declaração universal dos direitos humanos. É sobre esse fundamento que se assenta qualquer configuração de vida em sociedade politicamente organizada. Segundo Locke, a sociedade é fundada para que se evite a inimizade e destruição características de um estado de guerra que é a perversão manifesta da justiça e a adulteração da lei da natureza. Eis um trecho de sua autoria:
Não sendo escrita a lei da natureza, não se podendo encontrá-la em outro qualquer lugar senão no espírito dos homens, os que a citarem erroneamente ou a aplicarem mal por paixão ou interesse, não podem tão facilmente ser convencidos do erro se não existe juiz autorizado; e assim sendo, não se presta como devia para determinar os direitos e limitar as propriedades dos que sob ela vivem, especialmente quando todos são juízes, executores e intérpretes dela, e tudo isso nos seus próprios casos; e aquele que tiver o direito de seu lado não possuindo ordinariamente
senão a própria força isolada, não possui o suficiente para se defender de danos ou castigar delinquentes. A fim de evitar esses inconvenientes que perturbam as propriedades dos homens no estado de natureza, estes se unem em sociedade para que disponham da força reunida da sociedade inteira para garantir-lhes e assegurar-lhes a propriedade, e para que gozem de leis fixas que a limitem, por meio das quais todos saibam o que lhes pertence. É para esse fim que os homens transferem todo poder natural que possuem à sociedade para a qual entram, e a comunidade põe o poder legislativo nas mãos que julga mais convenientes para esse encargo, a fim de que sejam governados por leis declaradas, senão ainda ficarão na mesma incerteza a paz, a propriedade e a tranquilidade, como se encontravam no estado de natureza.
LOCKE, John. Segundo tratado de governo civil, §136.
Com base nos textos acima e em seus conhecimentos sobre o tema, considere as afirmações abaixo e, em seguida, marque a alternativa que CORRETAMENTE indica seus valores de verdade.
I Para Locke, a lei da natureza é uma referência universal de justiça, anterior seja à lei positiva, à voluntariedade de um rei soberano, ou à autoridade de uma instituição religiosa.
II Para Locke, ao desrespeitar os acordos coletivos expressos em leis positivas, um indivíduo perde sua condição de membro da sociedade, não sendo mais sujeito dos direitos naturais.
III Para Locke, como a lei da natureza advém da racionalidade, cabe ao indivíduo encontrá-la em si e agir segundo sua convicção a fim de defender seus direitos na sociedade.
A respeito da intuição, tal como elaborada na Crítica da Razão Pura, de Kant (1724-1804), lemos:
A intuição, exatamente como o conceito, tem o caráter primário de representação. A representação, como um representar, significa referir-se a um objeto. Intuição e conceitos são os dois modos de representar que Kant conhece. A intuição, como um modo determinado do representar, caracteriza-se por referir-se a um objeto de tal modo que, nele, o objeto se dá imediatamente (...). Os modos desse dar-se são os sentidos, e cada um dá, respectivamente, em um determinado círculo, uma multiplicidade, cada um tem seu círculo de doação. (...) Kant viu que o múltiplo desse modo de doação de um sentido, e dos sentidos em geral, na medida em que é algo múltiplo (...) está determinado pelo caráter da sucessão ou da simultaneidade.
HEIDEGGER, Martin, em Lógica – a pergunta pela verdade.
É indiferente que haja ordem ou desordem no visto, mas o critério para essa ordenação ou para a desordem, ou seja, a possibilidade mesma de que o múltiplo intuído (o “visto imediatamente”) tenha alguma ordem é uma representação prévia ao intuído, que lhe dá forma.
Tratando-se da forma da intuição sensível, e levando em conta seus conhecimentos a respeito de Kant, é CORRETO, a partir também do enunciado acima, afirmar.
Considere o seguinte excerto:
Quando, então, no Tractatus [Tractatus Logico-Philosophicus, 1921], Wittgenstein analisa a Linguagem, esta não é abordada como corpus empírico, mas como variedade de articulações lógicas possíveis. (...) Eis a Linguagem, tal como é tematizada no Tractatus: é o conjunto de formas lógicas proposicionais possíveis de representação dos fatos. Essa concepção de Linguagem não tem, assim, nada em comum com a prática científica do linguista, que trabalha sobre corpus específicos de línguas determinadas (...). MORENO, Arley. Wittgenstein – ensaio introdutório.
Obra que marca a primeira fase da filosofia de Wittgenstein e que teve forte influência sobre grande número de filósofos, no século XX, o Tractatus é tema contínuo de debates em filosofia da linguagem.
A respeito das teses wittgensteinianas dessa obra, assinale a alternativa CORRETA.