Questões de Filosofia - Filosofia contemporânea - Escola de Frankfurt
[Para os membros desta escola filosófica] a sociologia não se reduz nem se dissolve em pesquisas setoriais e especializadas e em pesquisas de mercado (típicas, essas, da sociologia americana). A pesquisa social para eles é, ao contrário, "a teoria da sociedade como um todo", uma teoria posta sob o signo das categorias da totalidade e da dialética, e dirigida ao exame das relações existentes entre os âmbitos econômicos, psicológicos e culturais da sociedade contemporânea. Tal teoria é crítica enquanto dela emergem as contradições da sociedade industrializada moderna e particularmente da sociedade capitalista. Para maior precisão: o teórico crítico "é o teórico cuja única preocupação consiste em um desenvolvimento que leve a uma sociedade sem exploração".
(Reale e Antiseri, História da Filosofia. Adaptado)
Assinale a alternativa que corresponde a essa escola filosófica.
Leia o texto a seguir para responder à questão.
Imaginário e contágio psíquico
Segundo o documentário "The town that nearly danced itself to death" (2016) da BBC e a Revista Galileu (2016), no ano de 1518, na cidade de Estrasburgo, na França, uma mulher chamada Frau Troffea iniciou passos de dança no meio de uma rua. Em uma semana, 34 indivíduos, mulheres, homens e crianças, estavam contagiados pela dança que a mulher iniciara; em um mês, cerca de quatrocentos indivíduos ainda continuavam a dançar, tomando ruas adjacentes. Inicialmente, "médicos e astrônomos da época concluíram que a epidemia era uma doença natural, causada por "sangue quente". Sem que se soubesse como lidar com a situação, consta que "os habitantes saudáveis construíram palcos e levaram músicos ao local, pensando que a crise cessaria se fosse estimulada".
Entretanto, a estimulação por meio da música agravou o contágio, e a certo ponto da epidemia, os indivíduos já não dançavam mais por prazer, mas era impossível parar de dançar. Os relatos afirmam que, por não conseguirem parar de dançar, diversos indivíduos morreram de ataque cardíaco, derrame cerebral ou exaustão. A Revista Galileu ainda menciona que um jornal da época noticiou que cerca de quinze indivíduos morreram por dia durante esse estranho evento.
Esse caso, que poderia ser chamado de possessão coletiva, ocorrido em Estrasburgo, durou quatro meses, até cessar sem nenhuma causa aparente. Os indivíduos que sobreviveram voltaram a suas vidas cotidianas, enquanto "especialistas discutiram se a epidemia era uma doença real ou um fenômeno social. As evidências acabaram apontando que a epidemia era uma espécie de contágio cultural". O termo "contágio cultural", escolhido para designar o ocorrido, não poderia ser mais feliz, e se fôssemos buscar um nome mais apropriado, a partir do que hoje conhecemos sobre Psicologia Arquetípica, poderia ser designado por contágio psíquico.
Compreender de que forma esses contágios se dão alarga a discussão relativa aos fenômenos das massas. Desloca a atenção para o momento contemporâneo, no qual as massas, como tradicionalmente eram compreendidas, dissolvem-se, enquanto processos rizomáticos tomam seu lugar.
Na era das redes, em que cada nodo abriga potencialmente uma outra rede e em que as redes se entrelaçam de maneira complexa e não causal, problematizar o conceito de rede para pensar os fenômenos culturais, buscando por uma noção de rede mais complexa e menos tecno-funcional, nos aproxima, inevitavelmente, do Inconsciente Coletivo, como proposto por Jung.
É nesse sentido que não se pode considerar superados os fenômenos das massas, ainda que revisitemos toda a teoria sobre a qual suas análises se assentem até o final do século XX, sendo prudente não menosprezarmos os movimentos coletivos e o potencial de ressurgimento de um Leviatã, que agora se ergue de uma nova maneira.
(Malena Contrera & Leonardo Torres. Imaginário e contágio psíquico. Intexto, Porto Alegre, n. 40, pp. 11-22, 2017 [excerto]).
O texto de Contrera e Torres busca uma explicação para o "contágio psíquico" no conceito de inconsciente coletivo, de Carl Gustav Jung (1875-1961). Jung, psicanalista suíço, em seu livro Os arquétipos e o inconsciente coletivo (1959), assim define esse conceito: "O inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode distinguir-se de um inconsciente pessoal pelo fato de que não deve sua existência à experiência pessoal, não sendo portanto uma aquisição subjetiva".
De acordo com Contrera e Torres, esse conceito pode ser usado para compreender os "fenômenos das massas" nas redes sociais porque
Por força da industrialização da cultura, desde o começo do filme já se sabe como ele termina, quem é recompensado e, ao escutar a música, o ouvido treinado é perfeitamente capaz, desde os primeiros compassos, de adivinhar o desenvolvimento do tema e sente-se feliz quando ele tem lugar como previsto.
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
A crítica ao tipo de criação mencionada no texto teve como alvo, no campo da arte, a
A exigência de que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação. De tal modo ela precede quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário justificá-la. Não consigo entender como até hoje mereceu tão pouca atenção. Justificá-la teria algo de monstruoso em vista de toda a monstruosidade ocorrida. Mas a pouca consciência existente em relação a essa exigência e as questões que ela levanta provam que a monstruosidade não calou fundo nas pessoas, sintoma da persistência da possibilidade de que se repita, no que depender do estado de consciência e de inconsciência das pessoas. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação.
Theodor Adorno. A educação após Auschwitz (com adaptações).
A partir do fragmento de texto precedente, de Theodor Adorno, julgue o próximo item.
Em seu texto, ao apontar para o risco constante de retorno à barbárie, como a ocorrida em Auschwitz, Adorno remete à possível existência de uma monstruosidade nas pessoas
TEXTO
Yaqub vinha ruminando a mudança para São Paulo. Foi o padre Bolislau quem o aconselhou a partir. “Vá embora de Manaus”, dissera o professor de matemática. “Se ficares aqui, serás derrotado pela província e devorado pelo teu irmão.”
Um bom mestre, um exímio pregador, o Bolislau. A mãe se desnorteou com a notícia da viagem de Yaqub. O pai, ao contrário, estimulou o filho a ir morar em São Paulo, e ainda lhe prometeu uma parca mesada. Halim havia melhorado de vida nos anos do pós-guerra. Vendia de tudo um pouco aos moradores dos Educandos, um dos bairros mais populosos de Manaus, que crescera muito com a chegada dos soldados da borracha, vindos dos rios mais distantes da Amazônia. Com o fim da guerra, migraram para Manaus, onde ergueram palafitas à beira dos igarapés, nos barrancos e nos clarões da cidade. Manaus cresceu assim: no tumulto de quem chega primeiro. Desse tumulto participava Halim, que vendia coisas antes de qualquer um. Vendia sem prosperar muito, mas atento à ameaça da decadência, que um dia ele me garantiu ser um abismo. Não caiu nesse abismo, nem exigiu de si grandes feitos. O abismo mais temível estava em casa, e este Halim não pôde evitar.
O desfile com farda de gala fora a despedida de Yaqub: um pequeno espetáculo para a família e a cidade. No colégio dos padres prestaram-lhe uma homenagem. Ganhou duas medalhas e dez minutos de elogios, e ainda foi louvado por latinistas e matemáticos. Os religiosos sabiam que o ex-aluno tinha futuro; naquela época, Yaqub e o Brasil inteiro pareciam ter um futuro promissor. Quem não brilhou foi o outro, o Caçula, este, sim, um ser opaco para padres e leigos, um lunático, alheio, inebriado com a atmosfera libertina do Galinheiro dos Vândalos e da cidade.
Omar faltou ao jantar de despedida do irmão. Chegou de madrugada, no fim da festa, quando só os da família, exaustos, se despediam da última noite com Yaqub. Halim estava orgulhoso: o filho ia morar sozinho no outro lado do país, mas ia precisar de dinheiro, não podia viajar assim... Por um momento a voz de Yaqub ressoou na casa, uma voz já de homem, cheia de decisão, dizendo “Não, baba, não vou precisar de nada... Dessa vez quem quis ir embora fui eu”. Halim abraçou o filho, chorou como havia chorado na manhã em que Yaqub partira para o Líbano.
(HATOUM, Milton. Dois irmãos. 19. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 32-33.)
O Texto retrata a decisão de Yaqub deixar Manaus e ir para São Paulo. Pode-se observar que essa tomada de decisão da personagem representa a iluminação. Yaqub quer sua própria autonomia, ele não quer depender do pai e, por esse motivo, afirma ao pai que não precisa de dinheiro, uma vez que a decisão de ir para São Paulo é dele. Essa passagem do texto remete aos frankfurtianos para os quais não se adere à razão inocentemente. Conforme Horkheimer, na obra Eclipse da razão, existem dois tipos de razão.
Marque a alternativa que contempla corretamente esses dois tipos de razão:
A produção de mercadorias e o consumismo alteram as percepções não apenas do eu como do mundo exterior ao eu; criam um mundo de espelhos, de imagens insubstanciais, de ilusões cada vez mais indistinguíveis da realidade. O efeito refletido faz do sujeito um objeto; ao mesmo tempo, transforma o mundo dos objetos em uma extensão ou projeção do eu. É enganoso caracterizar a cultura do consumo como uma cultura dominada por coisas. O consumidor vive rodeado não apenas por coisas como também por fantasias. Vive em um mundo que não dispõe de existência objetiva ou independente e que parece existir somente para gratificar ou contrariar seus desejos.
Christopher Lasch. O mínimo eu, 1987. (Adaptado.)
Sob o ponto de vista filosófico, na sociedade de consumo, o indivíduo
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