Questões de Sociologia - Cultura - Diversidade Cultural / Antropologia
INSTRUÇÃO: Leia, atentamente, o texto a seguir para responder às questões que a ele se referem.
Algoritmos, mídias digitais e as novas dinâmicas do racismo estrutural
O que você faz quando precisa descobrir uma informação ou encontrar um determinado conteúdo,
como uma imagem ou um vídeo? Possivelmente, sua resposta a essa pergunta foi: “Procuro no Google!”.
[...] Com isso, nos acostumamos a fazer buscas na Internet e, a partir daí, tomar decisões, ou nos posicionar
sobre um tema. Porém, você já se perguntou quem ou o que decide qual a resposta correta para a busca
que você faz?
[5] Buscadores, como o Google, o Bing ou o DuckDuckGo, assim como plataformas de redes sociais,
como o Facebook, TikTok, Instagram e Twitter, são sistemas computacionais complexos. [...]
Na medida em que essas ferramentas passam a ser os principais meios informativos, e considerando
a natureza dos seus mecanismos de recomendação, as mídias digitais passam a ter um papel fundamental
[10] na definição de temas socialmente complexos. Pense na seguinte questão: o que é um cabelo bonito?
Qualquer resposta depende da pessoa que irá respondê-la e, obviamente, de suas preferências pessoais.
Ao mesmo tempo, essa pergunta retoma um espinhoso debate sobre padrões de beleza, os quais,
principalmente nas sociedades ocidentais, têm, historicamente, consagrado a brancura como ideal de belo
(o cabelo liso, o olho claro, a pele branca). Logo, trata-se de um tópico complexo, multifacetado e, em termos
[15] de debate, contextualmente dependente.
Esse mesmo tópico, quando pesquisado no Google, especialmente até o ano de 2019, levantava um
importante debate sobre como as mídias digitais participam (e reforçam) as dinâmicas estruturais do
racismo. [...]
Sistemas de busca como o Google funcionam por meio de modelos computacionais – os chamados
[20] algoritmos – que, genericamente falando, são desenvolvidos a partir da análise de uma imensa quantidade
de dados digitais: páginas da web, histórico das buscas, cliques realizados, termos utilizados etc. É nesse
processo que o chamado algoritmo do Google produz associações semânticas que servirão como elemento
chave para definição do que é apresentado em cada busca. Para o cientista da computação Gustavo
Honorato (COSTA, 2019), essa associação entre o termo, por exemplo, “cabelo feio” e a imagem de pessoas
[25] com cabelo crespo ou encaracolado deriva da análise que o algoritmo faz dos conteúdos disponíveis na
Internet:
O Google ainda não é capaz de ver e interpretar as imagens nas páginas disponíveis na
internet. Se ele lê citações das palavras “crespo” junto de palavras pejorativas como “feio”,
“ruim” ou outra qualquer, ele também vai entender que existe forte relação semântica entre
[30] esses termos. O robô é alimentado e cataloga as informações que estão disponíveis na
própria rede e não é ele, por si só, que define o que é feio ou bonito (COSTA, 2019, on-line).
Como sustenta Silva (2022), mesmo que não seja uma função inicialmente esperada no uso desses
mecanismos, o fomento a estereótipos e a violência discursiva acabam sendo consequências óbvias da
[35] ação de ferramentas desse tipo. Portanto, estereótipos e violência discursiva criados e mantidos por uma
maioria hegemônica acabam por, nesses sistemas, se converterem no que Silva (2022) chama de
microagressões algorítmicas contínuas: “As ofensas racistas a partir de interfaces como essas são
frequentes e geram uma agressão contínua aos grupos minorizados, alvos da algoritmização de ofensas,
o que tem impactos coletivos em diversas esferas, incluindo na saúde pública” (SILVA, 2022, p. 53). [...]
[40] Ao tentar refletir sobre esse tema, cabe aqui enfrentar as seguintes questões: tecnologias como
buscadores são racistas? Ou essa associação preconceituosa nas buscas é apenas um reflexo do racismo
que se manifesta na rede por meio de conteúdos que representam pejorativamente os negros? Não há uma
resposta certa para essas questões, e considero que a postura mais adequada nesse debate é fugir das
dicotomias, do sim e do não.
[45] O ponto central desta discussão é compreender que serviços digitais como os buscadores e sistemas
de recomendação (por exemplo, de vídeos, como no YouTube) amplificam e criam novas dimensões para
aspectos tóxicos das nossas sociedades, como a discriminação racial. [...] Nesse sentido, Silva e Araújo
(2020) defendem que aquilo que se passou a chamar de racismo algorítmico representa uma nova dinâmica,
mais complexa e exponencial, do racismo estrutural.
Fonte: ARAÚJO, Willian Fernandes. Algoritmos, mídias digitais e as novas dinâmicas do racismo estrutural. Disponível em: https://pedroejoaoeditores.com.br/2022/wp-content/uploads/2022/09/EBOOK_21-Textos-para-discutir-racismo-em-sala-deaula.pdf. Acesso em: 20 set. 2023. Adaptado.
É CORRETO afirmar, acerca da algoritmização enfocada no texto “Algoritmos, mídias digitais e as novas dinâmicas do racismo estrutural”, que
Textos para questão.
Charge 1
Charge 2
Disponível em: https://brainly.com.br. Acesso em: 3 nov. 2023.
Sobre as duas charges, que têm personagens infantis com características étnicas distintas, considere as assertivas a seguir.
I. O tema das duas charges é o mesmo: o racismo estrutural contra os negros resulta em uma tendência de realização de abordagens policiais truculentas contra eles devido à raça.
II. O racismo estrutural representa um processo histórico em que condições de desvantagens e privilégios a determinados grupos étnico-raciais são reproduzidas nos âmbitos políticos, econômicos, culturais e até mesmo nas relações cotidianas.
III. Devido ao racismo estrutural ocorrer há séculos no Brasil, segundo as charges, todos são conscientes de que ele existe e são precavidos nas abordagens policiais.
Está correto o que se afi rma em
O jogador de futebol Vini Jr sofreu várias manifestações racistas em algumas das partidas em que atuou na Europa. No Brasil ocorrem situações similares, “[...] segundo levantamento do Observatório da Discriminação Racial do Futebol, foram registrados 90 casos de ofensas raciais em 2022, contra 64 em 2021. Um aumento de 40%.”
Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/esportes/noticia/2023-05/ofensas-viniciusjunior-fazem-parte-de-historico-de-racismo-no-futebol
Em relação ao racismo no Brasil, assinale a alternativa CORRETA.
Os casos de feminicídio, no século XXI, têm sido constantemente anunciados na mídia. Embora possa parecer “algo novo”, já se afirmava a violência à mulher em séculos anteriores. Leia os textos sobre o tema. O primeiro descreve as formas de opressão sofridas pelas mulheres; o segundo define o conceito de feminicídio no mundo contemporâneo.
TEXTO I
NAS MÃOS DE UM HOMEM, A LÓGICA É MUITAS VEZES VIOLÊNCIA
0 casamento incita o homem a um imperialismo caprichoso: a tentação de dominar é a mais universal, a mais irresistível que existe; muitas vezes não basta ao esposo ser aprovado, admirado, aconselhar, guiar: ele ordena, representa o papel de soberano. Todos os rancores acumulados em sua infância, durante sua vida, acumulados quotidianamente entre os outros homens cuja existência o freia e fere, ele descarrega em casa, acenando para a mulher com sua autoridade; mima a violência, a força, a intransigência: dá ordens com voz severa, ou grita, bate na mesa; essa comédia é para a mulher uma realidade quotidiana. Ele se acha tão convencido de seus direitos que a menor autonomia conservada pela mulher lhe parece uma rebeldia; gostaria de impedi-la de respirar sem ele.
BEAUVOIR, Simone. Segundo Sexo. São Paulo, Nova Fonteira: 2020.
TEXTO II
O CONCEITO DE FEMINICÍDIO
“Trata-se de um crime de ódio. O conceito surgiu na década de 1970 com o fim de reconhecer e dar visibilidade à discriminação, opressão, desigualdade e violência sistemática contra as mulheres, que, em sua forma mais aguda, culmina na morte. Essa forma de assassinato não constitui um evento isolado e nem repentino ou inesperado; ao contrário, faz parte de um processo contínuo de violências, cujas raízes misóginas caracterizam o uso de violência extrema. Inclui uma vasta gama de abusos, desde verbais, físicos e sexuais, como o estupro, e diversas formas de mutilação e de barbárie.”
Eleonora Menicucci https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/feminicidio/capitulos/o-que-e-feminicidio/#o-que-e-feminicidio
Da leitura dos dois textos, pode-se afirmar que Beauvoir já identificava, nos anos 40 do século XX, que a violência contra a mulher sempre foi.
Na década de 80, a canção Mulher (Sexo frágil) fez muito sucesso. Trata-se de uma declaração sobre a força feminina, que se vale do poder que as mulheres têm na relação com os homens. Ao mesmo tempo que a canção mostra a realidade de como a mulher é vista na sociedade, o eu lírico marca a posição de quão equivocada é essa perspectiva.
Mulher (Sexo frágil)
Canção de Erasmo Carlos
Dizem que a mulher é o sexo frágil
Mas que mentira absurda!
Eu que faço parte da rotina de uma delas
Sei que a força está com elas
Vejam como é forte a que eu conheço
Sua sapiência não tem preço
Satisfaz meu ego se fingindo submissa
Mas no fundo me enfeitiça
Quando eu chego em casa à noitinha
Quero uma mulher só minha
Mas pra quem deu luz não tem mais jeito
Porque um filho quer seu peito
O outro já reclama a sua mão
E o outro quer o amor que ela tiver
Quatro homens dependentes e carentes
Da força da mulher
Mulher, mulher
Do barro de que você foi gerada
Me veio inspiração
Pra decantar você nessa canção
Na escola em que você foi ensinada
Jamais tirei um dez
Sou forte mas não chego aos seus pés
Mulher, mulher
Mulher, mulher
https://www.letras.mus.br/erasmo-carlos/
A letra da canção deixa transparecer o machismo vigente na sociedade.
Essa assertiva está comprovada nos seguintes versos:
O espaço urbano é onde proliferavam a pobreza e certa autonomia dos desqualificados sociais, bastante incômoda para as autoridades. Era justamente este o espaço social das mulheres pobres, livres, forras e escravizadas. Circulavam pelas fontes públicas, tanques, lavadouros, pontes, ruas e praças da cidade, onde era jogado o lixo das casas e o mato crescia a ponto de ocultar escravizados fugidos: o seu espaço social era justamente o ponto de interseção onde se alternavam e se sobrepunham as áreas de convívio das vizinhanças e dos forasteiros; a do fisco municipal e a do pequeno comércio clandestino; as margens da escravidão e do trabalho livre, o espaço do trabalho doméstico e o de sua extensão ou comercialização pelas ruas…
(Maria Odila Leite da Silva Dias. “Mulheres sem história”. In: Revista de História, 1983. Adaptado.)
Ao tratar de São Paulo do século XVIII, o excerto estabelece um paralelo entre a condição das mulheres no espaço urbano e
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