Leia algumas partes de uma bula de um medicamento:
1- IDENTIFICAÇÃO DO MEDICAMENTO
dipirona monoidratada
Medicamento Genérico Lei Nº 9.787, de 1999
APRESENTAÇÕES
dipirona monoidratada solução oral (Gotas) 500 mg/mL: Cartucho com 01 frasco gotejador de plástico opaco com
10mL ou 20mL.
dipirona monoidratada solução oral (Gotas) 500 mg/mL.: Caixa com 100 frascos gotejadores de plástico opaco com
10mL ou 20mL (Embalagem Hospitalar).
dipirona monoidratada solução oral (Gotas) 500 mg/mL: Caixa com 100 frascos gotejadores de vidro âmbar com
10mL ou 20mL. (Embalagem Hospitalar).
USO ORAL. USO ADULTO E PEDIÁTRICO ACIMA DE 3 MESES.
COMPOSIÇÃO
Cada mL contém 500 mg de dipirona monoidrutada.
Excipientes: fosfato de sódio monobásico, fosfato de sódio dibásico, sacarina sódica c água purificada.
Cada 1 mL deste medicamento equivale a 20 gotas e 1 gota equivale a 25 mg de dipirona monoidratada.
Como devo usar este medicamento?
Cada 1 mL = 20 gotas (quando o frasco for mantido na posição vertical para gotejar a quantidade pretendida de gotas
conforme indicado em "Modo de usar").
Adultos e adolescentes acima de 15 anos: 20 a 40 gotas em administração única ou até o máximo de 40 gotas, 4 vezes
ao dia.
As crianças devem receber dipirona monoidratada conforme seu peso seguindo a orientação deste Esquema:
Se o efeito de uma única dose for insuficiente ou após o efeito analgésico ter diminuído, a dose pode ser repetida respeitando-se o modo de usar e a dose máxima diária, conforme descrito acima.
Por segurança e para garantir a eficácia deste medicamento, a administração deve ser somente por via oral.
Siga corretamente o modo de usar. Em caso de dúvidas sobre este medicamento, procure orientação do farmacêutico. Não desaparecendo os sintomas, procure orientação de seu médico ou do cirurgião-dentista.
Nas partes da bula demonstradas, predominam os seguintes tipos textuais:
Leia o texto “A síndrome do terceiro ano”, para responder à questão.
A síndrome do terceiro ano
Moacyr Scliar*
Tive um colega que ficava impressionado com o número de enfermidades que podem acometer o ser humano. Ele percorria o índice do Harrison, o manual de medicina interna, onde estavam listadas centenas de enfermidades, suspirava e sacudia a cabeça: é muita doença, dizia e acrescentava com atemorizada resignação:
– Uma delas vai acabar me pegando.
Não era o único a nutrir tais temores. Esse colega era um caso típico de uma curiosa situação psicológica, que conhecíamos como “a doença do terceiro ano”. Por que o terceiro ano? Porque era esse o ano que, depois de passar pelas cadeiras básicas, entrávamos no ciclo clínico. E entrar no ciclo clínico era um choque. No hospital em que tínhamos aulas, a Santa Casa de Porto Alegre, só víamos doentes graves, pela óbvia razão de que os serviços que ali funcionavam eram todos centros de excelência médica; ali chegavam pacientes de todo o Rio Grande do Sul e de outros Estados.
Enfermidades raras não faltavam, e só contribuíam para aumentar nossa apreensão e em alguns casos transformavam-se na hipocondria do estudante de medicina, ou doença do estudante de medicina, ou síndrome do estudante de medicina. Conhecida nos Estados Unidos como medical studentitis, esta é uma situação muito frequente. Numa pesquisa realizada com 215 estudantes de medicina do terceiro e quarto anos da Universidade de Maastricht (Holanda), verificou-se que 30% deles tinham sintomas relacionados com doenças que estavam estudando. Mais que isto, existe uma correlação entre a síndrome (ou doença) do estudante de medicina e a tendência para fantasias, avaliada por testes psicológicos. Ou seja: quanto mais fértil a imaginação, maior a chance de aparecer a síndrome.
O problema não se restringe aos alunos de medicina. Ocorre com estudantes de outras áreas de saúde, como psicologia. Detalhe curioso: atores contratados para desempenhar o papel de doentes no ensino de estudantes de medicina às vezes começam a apresentar sintomas de doenças.
Como era de esperar, a hipocondria do estudante de medicina melhora com o tempo. Uma pesquisa realizada na Universidade de Auckland, Nova Zelândia, mostrou que os estudantes de medicina mais jovens tinham mais nosofobia que seus colegas veteranos. Ou seja: lá pelas tantas o jovem cai na real. Doenças existem, e são tantas, que acabam até sobrecarregando a imaginação.
Falei num colega impressionado com doenças. Tive um outro colega que, este sim, era um hipocondríaco legítimo. Uma noite recebi um telefonema dele pedindo que fosse com urgência à sua casa: estava com um problema grave, urgente. Colega é colega, de modo que larguei o que estava fazendo e corri para o prédio em que morava. Já estava me esperando na porta do apartamento. Seu aspecto dava dó: pálido, olhos arregalados, segurava nas mãos trêmulas um livro: o Harrison, claro... Tão logo me viu e sem sequer me cumprimentar foi anunciando:
– Estou com lupus eritematoso sistêmico.
E começou a ler:
– Mal-estar geral, tenho; dores articulares, tenho; cansaço, tenho; falta de apetite, tenho; febre, tenho...
A lista de sinais e sintomas não era pequena, e ele tinha tudo. Eu o escutava, consternado e confuso. Meu colega estava falando de uma doença no mínimo preocupante, da qual (e não por coincidência) tínhamos visto um caso poucos dias antes. Mas, e justamente por causa disso, eu também tinha estudado aquele capítulo do Harrison. Com o que me ocorreu uma ideia que se revelou absolutamente salvadora:
– Mas o lupus – eu disse – é muito mais comum em mulheres, e pelo que me consta você não é mulher.
O efeito foi mágico. De imediato resolveu deixar o diagnóstico de lupus de lado; agora se contentava com uma simples gripe, que nem precisaria ser tão séria assim – nada que um analgésico não resolvesse. Ou seja: o raciocínio epidemiológico ali foi decisivo.
O meu colega nunca mais me falou sobre doenças. Estava livre da hipocondria? Acho que sim, mesmo porque estávamos terminando o terceiro ano. Aos poucos, mergulhávamos na realidade da doença, da verdadeira doença. Que a muitos de nós deixaria com saudades da hipocondria do terceiro ano.
*Scliar foi escritor, médico sanitarista, professor de Medicina e membro da Academia Brasileira de Letras com mais de 70 livros publicados.
http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=359 Acesso em: 15/04/2023
Tendo lido atentamente a crônica de Scliar, assinale a afirmativa CORRETA:
Leia o texto “A síndrome do terceiro ano”, para responder à questão.
A síndrome do terceiro ano
Moacyr Scliar*
Tive um colega que ficava impressionado com o número de enfermidades que podem acometer o ser humano. Ele percorria o índice do Harrison, o manual de medicina interna, onde estavam listadas centenas de enfermidades, suspirava e sacudia a cabeça: é muita doença, dizia e acrescentava com atemorizada resignação:
– Uma delas vai acabar me pegando.
Não era o único a nutrir tais temores. Esse colega era um caso típico de uma curiosa situação psicológica, que conhecíamos como “a doença do terceiro ano”. Por que o terceiro ano? Porque era esse o ano que, depois de passar pelas cadeiras básicas, entrávamos no ciclo clínico. E entrar no ciclo clínico era um choque. No hospital em que tínhamos aulas, a Santa Casa de Porto Alegre, só víamos doentes graves, pela óbvia razão de que os serviços que ali funcionavam eram todos centros de excelência médica; ali chegavam pacientes de todo o Rio Grande do Sul e de outros Estados.
Enfermidades raras não faltavam, e só contribuíam para aumentar nossa apreensão e em alguns casos transformavam-se na hipocondria do estudante de medicina, ou doença do estudante de medicina, ou síndrome do estudante de medicina. Conhecida nos Estados Unidos como medical studentitis, esta é uma situação muito frequente. Numa pesquisa realizada com 215 estudantes de medicina do terceiro e quarto anos da Universidade de Maastricht (Holanda), verificou-se que 30% deles tinham sintomas relacionados com doenças que estavam estudando. Mais que isto, existe uma correlação entre a síndrome (ou doença) do estudante de medicina e a tendência para fantasias, avaliada por testes psicológicos. Ou seja: quanto mais fértil a imaginação, maior a chance de aparecer a síndrome.
O problema não se restringe aos alunos de medicina. Ocorre com estudantes de outras áreas de saúde, como psicologia. Detalhe curioso: atores contratados para desempenhar o papel de doentes no ensino de estudantes de medicina às vezes começam a apresentar sintomas de doenças.
Como era de esperar, a hipocondria do estudante de medicina melhora com o tempo. Uma pesquisa realizada na Universidade de Auckland, Nova Zelândia, mostrou que os estudantes de medicina mais jovens tinham mais nosofobia que seus colegas veteranos. Ou seja: lá pelas tantas o jovem cai na real. Doenças existem, e são tantas, que acabam até sobrecarregando a imaginação.
Falei num colega impressionado com doenças. Tive um outro colega que, este sim, era um hipocondríaco legítimo. Uma noite recebi um telefonema dele pedindo que fosse com urgência à sua casa: estava com um problema grave, urgente. Colega é colega, de modo que larguei o que estava fazendo e corri para o prédio em que morava. Já estava me esperando na porta do apartamento. Seu aspecto dava dó: pálido, olhos arregalados, segurava nas mãos trêmulas um livro: o Harrison, claro... Tão logo me viu e sem sequer me cumprimentar foi anunciando:
– Estou com lupus eritematoso sistêmico.
E começou a ler:
– Mal-estar geral, tenho; dores articulares, tenho; cansaço, tenho; falta de apetite, tenho; febre, tenho...
A lista de sinais e sintomas não era pequena, e ele tinha tudo. Eu o escutava, consternado e confuso. Meu colega estava falando de uma doença no mínimo preocupante, da qual (e não por coincidência) tínhamos visto um caso poucos dias antes. Mas, e justamente por causa disso, eu também tinha estudado aquele capítulo do Harrison. Com o que me ocorreu uma ideia que se revelou absolutamente salvadora:
– Mas o lupus – eu disse – é muito mais comum em mulheres, e pelo que me consta você não é mulher.
O efeito foi mágico. De imediato resolveu deixar o diagnóstico de lupus de lado; agora se contentava com uma simples gripe, que nem precisaria ser tão séria assim – nada que um analgésico não resolvesse. Ou seja: o raciocínio epidemiológico ali foi decisivo.
O meu colega nunca mais me falou sobre doenças. Estava livre da hipocondria? Acho que sim, mesmo porque estávamos terminando o terceiro ano. Aos poucos, mergulhávamos na realidade da doença, da verdadeira doença. Que a muitos de nós deixaria com saudades da hipocondria do terceiro ano.
*Scliar foi escritor, médico sanitarista, professor de Medicina e membro da Academia Brasileira de Letras com mais de 70 livros publicados.
http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=359 Acesso em: 15/04/2023
O texto em análise apresenta diversas estratégias que concorrem para provocar e/ou fazer o leitor refletir sobre o tema abordado, EXCETO:
Leia o texto “A síndrome do terceiro ano”, para responder à questão.
A síndrome do terceiro ano
Moacyr Scliar*
Tive um colega que ficava impressionado com o número de enfermidades que podem acometer o ser humano. Ele percorria o índice do Harrison, o manual de medicina interna, onde estavam listadas centenas de enfermidades, suspirava e sacudia a cabeça: é muita doença, dizia e acrescentava com atemorizada resignação:
– Uma delas vai acabar me pegando.
Não era o único a nutrir tais temores. Esse colega era um caso típico de uma curiosa situação psicológica, que conhecíamos como “a doença do terceiro ano”. Por que o terceiro ano? Porque era esse o ano que, depois de passar pelas cadeiras básicas, entrávamos no ciclo clínico. E entrar no ciclo clínico era um choque. No hospital em que tínhamos aulas, a Santa Casa de Porto Alegre, só víamos doentes graves, pela óbvia razão de que os serviços que ali funcionavam eram todos centros de excelência médica; ali chegavam pacientes de todo o Rio Grande do Sul e de outros Estados.
Enfermidades raras não faltavam, e só contribuíam para aumentar nossa apreensão e em alguns casos transformavam-se na hipocondria do estudante de medicina, ou doença do estudante de medicina, ou síndrome do estudante de medicina. Conhecida nos Estados Unidos como medical studentitis, esta é uma situação muito frequente. Numa pesquisa realizada com 215 estudantes de medicina do terceiro e quarto anos da Universidade de Maastricht (Holanda), verificou-se que 30% deles tinham sintomas relacionados com doenças que estavam estudando. Mais que isto, existe uma correlação entre a síndrome (ou doença) do estudante de medicina e a tendência para fantasias, avaliada por testes psicológicos. Ou seja: quanto mais fértil a imaginação, maior a chance de aparecer a síndrome.
O problema não se restringe aos alunos de medicina. Ocorre com estudantes de outras áreas de saúde, como psicologia. Detalhe curioso: atores contratados para desempenhar o papel de doentes no ensino de estudantes de medicina às vezes começam a apresentar sintomas de doenças.
Como era de esperar, a hipocondria do estudante de medicina melhora com o tempo. Uma pesquisa realizada na Universidade de Auckland, Nova Zelândia, mostrou que os estudantes de medicina mais jovens tinham mais nosofobia que seus colegas veteranos. Ou seja: lá pelas tantas o jovem cai na real. Doenças existem, e são tantas, que acabam até sobrecarregando a imaginação.
Falei num colega impressionado com doenças. Tive um outro colega que, este sim, era um hipocondríaco legítimo. Uma noite recebi um telefonema dele pedindo que fosse com urgência à sua casa: estava com um problema grave, urgente. Colega é colega, de modo que larguei o que estava fazendo e corri para o prédio em que morava. Já estava me esperando na porta do apartamento. Seu aspecto dava dó: pálido, olhos arregalados, segurava nas mãos trêmulas um livro: o Harrison, claro... Tão logo me viu e sem sequer me cumprimentar foi anunciando:
– Estou com lupus eritematoso sistêmico.
E começou a ler:
– Mal-estar geral, tenho; dores articulares, tenho; cansaço, tenho; falta de apetite, tenho; febre, tenho...
A lista de sinais e sintomas não era pequena, e ele tinha tudo. Eu o escutava, consternado e confuso. Meu colega estava falando de uma doença no mínimo preocupante, da qual (e não por coincidência) tínhamos visto um caso poucos dias antes. Mas, e justamente por causa disso, eu também tinha estudado aquele capítulo do Harrison. Com o que me ocorreu uma ideia que se revelou absolutamente salvadora:
– Mas o lupus – eu disse – é muito mais comum em mulheres, e pelo que me consta você não é mulher.
O efeito foi mágico. De imediato resolveu deixar o diagnóstico de lupus de lado; agora se contentava com uma simples gripe, que nem precisaria ser tão séria assim – nada que um analgésico não resolvesse. Ou seja: o raciocínio epidemiológico ali foi decisivo.
O meu colega nunca mais me falou sobre doenças. Estava livre da hipocondria? Acho que sim, mesmo porque estávamos terminando o terceiro ano. Aos poucos, mergulhávamos na realidade da doença, da verdadeira doença. Que a muitos de nós deixaria com saudades da hipocondria do terceiro ano.
*Scliar foi escritor, médico sanitarista, professor de Medicina e membro da Academia Brasileira de Letras com mais de 70 livros publicados.
http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=359 Acesso em: 15/04/2023
Pode-se dizer que há um efeito explicativo SOMENTE no seguinte excerto:
Leia o texto “A síndrome do terceiro ano”, para responder à questão.
A síndrome do terceiro ano
Moacyr Scliar*
Tive um colega que ficava impressionado com o número de enfermidades que podem acometer o ser humano. Ele percorria o índice do Harrison, o manual de medicina interna, onde estavam listadas centenas de enfermidades, suspirava e sacudia a cabeça: é muita doença, dizia e acrescentava com atemorizada resignação:
– Uma delas vai acabar me pegando.
Não era o único a nutrir tais temores. Esse colega era um caso típico de uma curiosa situação psicológica, que conhecíamos como “a doença do terceiro ano”. Por que o terceiro ano? Porque era esse o ano que, depois de passar pelas cadeiras básicas, entrávamos no ciclo clínico. E entrar no ciclo clínico era um choque. No hospital em que tínhamos aulas, a Santa Casa de Porto Alegre, só víamos doentes graves, pela óbvia razão de que os serviços que ali funcionavam eram todos centros de excelência médica; ali chegavam pacientes de todo o Rio Grande do Sul e de outros Estados.
Enfermidades raras não faltavam, e só contribuíam para aumentar nossa apreensão e em alguns casos transformavam-se na hipocondria do estudante de medicina, ou doença do estudante de medicina, ou síndrome do estudante de medicina. Conhecida nos Estados Unidos como medical studentitis, esta é uma situação muito frequente. Numa pesquisa realizada com 215 estudantes de medicina do terceiro e quarto anos da Universidade de Maastricht (Holanda), verificou-se que 30% deles tinham sintomas relacionados com doenças que estavam estudando. Mais que isto, existe uma correlação entre a síndrome (ou doença) do estudante de medicina e a tendência para fantasias, avaliada por testes psicológicos. Ou seja: quanto mais fértil a imaginação, maior a chance de aparecer a síndrome.
O problema não se restringe aos alunos de medicina. Ocorre com estudantes de outras áreas de saúde, como psicologia. Detalhe curioso: atores contratados para desempenhar o papel de doentes no ensino de estudantes de medicina às vezes começam a apresentar sintomas de doenças.
Como era de esperar, a hipocondria do estudante de medicina melhora com o tempo. Uma pesquisa realizada na Universidade de Auckland, Nova Zelândia, mostrou que os estudantes de medicina mais jovens tinham mais nosofobia que seus colegas veteranos. Ou seja: lá pelas tantas o jovem cai na real. Doenças existem, e são tantas, que acabam até sobrecarregando a imaginação.
Falei num colega impressionado com doenças. Tive um outro colega que, este sim, era um hipocondríaco legítimo. Uma noite recebi um telefonema dele pedindo que fosse com urgência à sua casa: estava com um problema grave, urgente. Colega é colega, de modo que larguei o que estava fazendo e corri para o prédio em que morava. Já estava me esperando na porta do apartamento. Seu aspecto dava dó: pálido, olhos arregalados, segurava nas mãos trêmulas um livro: o Harrison, claro... Tão logo me viu e sem sequer me cumprimentar foi anunciando:
– Estou com lupus eritematoso sistêmico.
E começou a ler:
– Mal-estar geral, tenho; dores articulares, tenho; cansaço, tenho; falta de apetite, tenho; febre, tenho...
A lista de sinais e sintomas não era pequena, e ele tinha tudo. Eu o escutava, consternado e confuso. Meu colega estava falando de uma doença no mínimo preocupante, da qual (e não por coincidência) tínhamos visto um caso poucos dias antes. Mas, e justamente por causa disso, eu também tinha estudado aquele capítulo do Harrison. Com o que me ocorreu uma ideia que se revelou absolutamente salvadora:
– Mas o lupus – eu disse – é muito mais comum em mulheres, e pelo que me consta você não é mulher.
O efeito foi mágico. De imediato resolveu deixar o diagnóstico de lupus de lado; agora se contentava com uma simples gripe, que nem precisaria ser tão séria assim – nada que um analgésico não resolvesse. Ou seja: o raciocínio epidemiológico ali foi decisivo.
O meu colega nunca mais me falou sobre doenças. Estava livre da hipocondria? Acho que sim, mesmo porque estávamos terminando o terceiro ano. Aos poucos, mergulhávamos na realidade da doença, da verdadeira doença. Que a muitos de nós deixaria com saudades da hipocondria do terceiro ano.
*Scliar foi escritor, médico sanitarista, professor de Medicina e membro da Academia Brasileira de Letras com mais de 70 livros publicados.
http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=359 Acesso em: 15/04/2023
Atente para os excertos em que foram destacados alguns vocábulos e propostos sinônimos para eles:
I. “Eu o escutava, consternado e confuso.” → alentado.
II. “De imediato resolveu deixar o diagnóstico de lupus de lado; agora se contentava com uma simples gripe, que nem precisaria ser tão séria assim – nada que um analgésico não resolvesse.” → prognóstico.
III. “só víamos doentes graves, pela óbvia razão de que os serviços que ali funcionavam eram todos centros de excelência médica;” → proeminência.
IV. “Enfermidades raras não faltavam, e só contribuíam para aumentar nossa apreensão e em alguns casos transformavam-se na hipocondria do estudante de medicina, ou doença do estudante de medicina, ou síndrome do estudante de medicina. → aflição.
Estão CORRETOS apenas os sinônimos apresentados em:
Leia o texto “A síndrome do terceiro ano”, para responder à questão.
A síndrome do terceiro ano
Moacyr Scliar*
Tive um colega que ficava impressionado com o número de enfermidades que podem acometer o ser humano. Ele percorria o índice do Harrison, o manual de medicina interna, onde estavam listadas centenas de enfermidades, suspirava e sacudia a cabeça: é muita doença, dizia e acrescentava com atemorizada resignação:
– Uma delas vai acabar me pegando.
Não era o único a nutrir tais temores. Esse colega era um caso típico de uma curiosa situação psicológica, que conhecíamos como “a doença do terceiro ano”. Por que o terceiro ano? Porque era esse o ano que, depois de passar pelas cadeiras básicas, entrávamos no ciclo clínico. E entrar no ciclo clínico era um choque. No hospital em que tínhamos aulas, a Santa Casa de Porto Alegre, só víamos doentes graves, pela óbvia razão de que os serviços que ali funcionavam eram todos centros de excelência médica; ali chegavam pacientes de todo o Rio Grande do Sul e de outros Estados.
Enfermidades raras não faltavam, e só contribuíam para aumentar nossa apreensão e em alguns casos transformavam-se na hipocondria do estudante de medicina, ou doença do estudante de medicina, ou síndrome do estudante de medicina. Conhecida nos Estados Unidos como medical studentitis, esta é uma situação muito frequente. Numa pesquisa realizada com 215 estudantes de medicina do terceiro e quarto anos da Universidade de Maastricht (Holanda), verificou-se que 30% deles tinham sintomas relacionados com doenças que estavam estudando. Mais que isto, existe uma correlação entre a síndrome (ou doença) do estudante de medicina e a tendência para fantasias, avaliada por testes psicológicos. Ou seja: quanto mais fértil a imaginação, maior a chance de aparecer a síndrome.
O problema não se restringe aos alunos de medicina. Ocorre com estudantes de outras áreas de saúde, como psicologia. Detalhe curioso: atores contratados para desempenhar o papel de doentes no ensino de estudantes de medicina às vezes começam a apresentar sintomas de doenças.
Como era de esperar, a hipocondria do estudante de medicina melhora com o tempo. Uma pesquisa realizada na Universidade de Auckland, Nova Zelândia, mostrou que os estudantes de medicina mais jovens tinham mais nosofobia que seus colegas veteranos. Ou seja: lá pelas tantas o jovem cai na real. Doenças existem, e são tantas, que acabam até sobrecarregando a imaginação.
Falei num colega impressionado com doenças. Tive um outro colega que, este sim, era um hipocondríaco legítimo. Uma noite recebi um telefonema dele pedindo que fosse com urgência à sua casa: estava com um problema grave, urgente. Colega é colega, de modo que larguei o que estava fazendo e corri para o prédio em que morava. Já estava me esperando na porta do apartamento. Seu aspecto dava dó: pálido, olhos arregalados, segurava nas mãos trêmulas um livro: o Harrison, claro... Tão logo me viu e sem sequer me cumprimentar foi anunciando:
– Estou com lupus eritematoso sistêmico.
E começou a ler:
– Mal-estar geral, tenho; dores articulares, tenho; cansaço, tenho; falta de apetite, tenho; febre, tenho...
A lista de sinais e sintomas não era pequena, e ele tinha tudo. Eu o escutava, consternado e confuso. Meu colega estava falando de uma doença no mínimo preocupante, da qual (e não por coincidência) tínhamos visto um caso poucos dias antes. Mas, e justamente por causa disso, eu também tinha estudado aquele capítulo do Harrison. Com o que me ocorreu uma ideia que se revelou absolutamente salvadora:
– Mas o lupus – eu disse – é muito mais comum em mulheres, e pelo que me consta você não é mulher.
O efeito foi mágico. De imediato resolveu deixar o diagnóstico de lupus de lado; agora se contentava com uma simples gripe, que nem precisaria ser tão séria assim – nada que um analgésico não resolvesse. Ou seja: o raciocínio epidemiológico ali foi decisivo.
O meu colega nunca mais me falou sobre doenças. Estava livre da hipocondria? Acho que sim, mesmo porque estávamos terminando o terceiro ano. Aos poucos, mergulhávamos na realidade da doença, da verdadeira doença. Que a muitos de nós deixaria com saudades da hipocondria do terceiro ano.
*Scliar foi escritor, médico sanitarista, professor de Medicina e membro da Academia Brasileira de Letras com mais de 70 livros publicados.
http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=359 Acesso em: 15/04/2023
Em todas as frases abaixo o constituinte ‘que’ sublinhado refere-se a um nome, EXCETO em: