Instrução: A questão referem-se ao texto abaixo.
Entre a desordem carnavalesca, que
permite e estimula o excesso, e a ordem, que
requer a continência e a disciplina pela
obediência estrita às leis, como é que nós,
[5] brasileiros, ficamos? Qual a nossa relação e a
nossa atitude para com e diante de uma lei
universal que teoricamente deve valer para
todos? Como procedemos diante da norma
geral, se fomos criados numa casa onde, desde
[10] a mais tenra idade, aprendemos que há
sempre um modo de satisfazer nossas
vontades e desejos, mesmo que isso vá de
encontro às normas do bom-senso e da
coletividade em geral?
[15] Num livro que escrevi – Carnavais,
malandros e heróis –, lancei a tese de que o
dilema brasileiro residia numa trágica oscilação
entre um esqueleto nacional feito de leis
universais cujo sujeito era o indivíduo e
[20] situações onde cada qual se salvava e se
despachava como podia, utilizando para isso o
seu sistema de relações pessoais. Haveria,
assim, nessa colocação, um verdadeiro
combate entre as leis que devem valer para
[25] todos e as relações que evidentemente só
podem funcionar para quem as tem. O
resultado é um sistema social dividido e até
mesmo equilibrado entre duas unidades sociais
básicas: o indivíduo (o sujeito das leis
[30] universais que modernizam a sociedade) e a
pessoa (o sujeito das relações pessoais, que
conduz ao polo tradicional do sistema). Entre
os dois, o coração dos brasileiros balança. E no
meio dos dois, a malandragem, o “jeitinho” e o
[35] famoso e antipático “sabe com quem está
falando?” seriam modos de enfrentar essas
contradições e paradoxos de modo tipicamente
brasileiro. Ou seja: fazendo uma mediação
também pessoal entre a lei, a situação onde ela
[40] deveria aplicar-se e as pessoas nela
implicadas, de tal sorte que nada se modifique,
apenas ficando a lei um pouco desmoralizada,
mas, como ela é insensível e não é gente como
nós, todo mundo fica, como se diz, numa boa,
[45] e a vida retorna ao seu normal...
De fato, como é que reagimos diante de um
“proibido estacionar”, “proibido fumar”, ou
diante de uma fila quilométrica? Como é que
se faz diante de um requerimento que está
[50] sempre errado? Ou diante de um prazo que já
se esgotou e conduz a uma multa automática
que não foi divulgada de modo apropriado pela
autoridade pública? Ou de uma taxação injusta
e abusiva?
Adaptado de: DA MATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil?. Rio de Janeiro: Rocco, 1984. p. 97-99.
Considere as seguintes afirmações sobre o texto.
I - As interrogações no último parágrafo servem para o autor problematizar o tema com o leitor.
II - Os parênteses no segundo parágrafo servem para o autor explicar termos para o leitor.
III- As aspas no terceiro parágrafo servem para o autor introduzir passagens citadas de outros contextos.
Quais estão corretas?