UEMA 2016 PAES
65 Questões
O Auto da Barca do Inferno é uma das três peças que compõem a Trilogia das Barcas do teatro vicentino. Gil Vicente é autor do período literário português, conhecido como Humanismo.
Texto I
ANJO: Que mandais?
FIDALGO: Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do paraíso
é esta em que navegais.
ANJO: Esta é; que lhe buscais?
FIDALGO: Que me deixeis embarcar;
sou fidalgo de solar,
é bem que me recolhais.
[...]
ANJO: Pra vossa fantasia
mui pequena é esta barca.
FIDALGO: Pra senhor de tal marca
não há aqui mais cortesia?
VICENTE, Gil. Auto da Barca do Inferno. São Paulo: FTD, 1997.
Os diálogos entre o anjo e o fidalgo põem em discussão não só os valores de um mundo medieval, mas também do mundo contemporâneo. A atualidade dessa discussão decorre de que o homem de hoje, ainda, assume falsos posicionamentos semelhantes ao de uma das personagens da cena.
Essa atualidade é apresentada, por meio de
O Texto II mostra um diálogo entre o Diabo e a segunda personagem, o Onzeneiro, quando chega à Barca do Inferno.
Leia-o para responder à questão proposta.
Texto II
ONZENEIRO: Para onde caminhais?
DIABO: Oh! Que má-hora venhais,
onzeneiro meu parente!
[...]
DIABO: Ora mui muito me espanto
não vos livrar o dinheiro.
ONZENEIRO: Nem tão só para o barqueiro
não me deixaram nem tanto.
[...]
E para onde é a viagem?
DIABO: Para onde tu hás-de ir;
estamos para partir,
não cures de mais linguagem.
[...]
VICENTE, Gil. Auto da Barca do Inferno. São Paulo: FTD, 1997.
O Diabo ouve o pretexto do Onzeneiro, mas não se deixa levar pelos artifícios da eloquência do passageiro.
Essa atitude do Diabo pode ser comprovada no verso
Leia o texto publicado em revista de grande circulação para responder à questão 03.
“Professores, acordem! Caros professores: vocês se meteram em uma enrascada. Há décadas, as lideranças de vocês vêm construindo um discurso de vitimização. A imagem que vocês vendem não é de profissionais competentes, mas a de coitadinhos, estropiados e maltratados. E vocês venceram: a população brasileira está do seu lado, comprou essa imagem (nada seduz mais a alma brasileira do que um coitado, afinal).”
IOSCHPE, G. Revista Veja. 2014.
Para sustentar a argumentação são utilizados variados recursos.
A seleção léxico-semântica utilizada pelo autor para sustentar a argumentação marca o emprego de uma imagem crítica, com um tom
Vidas Secas, de Graciliano Ramos, obra da segunda fase do Modernismo brasileiro, conta a saga de uma família de retirantes, marcada por uma ostensiva exclusão social.
Texto III
[...]
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
- Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho capaz de vencer dificuldades.
Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
- Um bicho, Fabiano.
[...]
Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro.
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, a sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra.
[...]
Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia!
[...]
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 127 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.
Com marcas temporais adequadas, o narrador usa o recurso do flashback para
Texto III
[...]
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
- Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho capaz de vencer dificuldades.
Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
- Um bicho, Fabiano.
[...]
Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro.
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, a sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra.
[...]
Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia!
[...]
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 127 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.
A pontuação sintático-estilística, no fragmento, compõe a autoexpressividade da personagem, com o emprego da vírgula no vocativo, no seguinte trecho:
Texto IV
Cadeia
Estava tão cansado, tão machucado, que ia quase adormecendo no meio daquela desgraça. Havia ali um bêbedo tresvariando em voz alta [...] Discutiam, queixava-se da lenha molhada. Fabiano cochilava, a cabeça pesada inclinava-se para o peito e levantava-se. [...] Acordou sobressaltado. Pois não estava misturando as pessoas, desatinando? Talvez fosse efeito da cachaça. Não era: tinha bebido um copo. [...]
Ouviu o falatório do bêbedo e caiu numa indecisão dolorosa. Ele também dizia palavras sem sentido, conversava à toa. Mas irou-se com a comparação, deu marradas na parede. Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava preso por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele? Vivia trabalhando como um escravo.
[...]
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. (Adaptado) 127 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.
A leitura do segundo parágrafo permite depreender a imagem que Fabiano tem de si mesmo e a sua reação ao domínio a que se submete, por meio do discurso indireto livre. Esse discurso é efetivado pela