Redação #763
Desde o início do surgimento das artes tais como são hoje, a música mantém papel primordial na formação cultural e identitária de indivíduos e sociedades. Ela transita desde instrumento de entretenimento até formadora de opinião e veículo de discussão. Diferentes formas de expressão se enquadram na infinidade de instrumentos musicais, composições lírias e arranjos de melodia. Mas cabe a questão: qual o peso da música hoje? Qual o valor da transição sofrida pela música, especialmente a chamada MPB (música popular brasileira), que já passou pelos seus anos dourados de instrumento de questionamento da realidade e modificação do pensamento social?
A diversificação dos estilos e composições musicais é reflexo das mudanças sociais ocorridas ao redor do mundo e ao longo das épocas. No Brasil, a música nacional contou com seus anos de lírica poética, atravessou com comoção épocas de turbulência em que assumiu caráter crítico e politizado e hoje também passa pela sua fase do que uns chamam de "música comercial". Trata-se da música de melodia nem um pouco complexa, com letras menos complexas ainda, cujo ritmo faz com que também sejam caracterizadas como "músicas-chiclete". Quase se equiparam aos jingles de comerciais televisivos.
Como já observado anteriormente, a música reflete os aspectos sociais vigentes. Em músicas como "Adultério", do funkeiro Mr. Catra, observa-se um valor já dito pelo próprio título da música, bem como objetificação da mulher. Os ritmos comerciais que são atualmente tão veiculados, como o sertanejo universitário e o funk, dificilmente possuem exemplares líricos que não contenham algum tipo de conceito deturpado que afete a realidade social ao seu redor. Machismo, homofobia, objetificação do corpo, apologia a drogas e violência são temas intrínsecos a muitas músicas que hoje são largamente ouvidas com grande efervescência. Até mesmo outros estilos ligeiramente mais tradicionais, como axé, forro e samba, hoje contam com um conteúdo crítico absurdamente mais raso que o vigente em épocas anteriores no Brasil. E é absolutamente equivocado pensar que essa cultura espelhada pela música não se imprime em atitudes cotidianas, vulgo estupros, tratamento da mulher como objeto, intolerância, etc.
Por tudo que é exprimido nas melodias - tanto as nacionais quanto as internacionais -, fica a pergunta: o que é a MPB hoje? Se significa "Música Popular Brasileira", procede caracterizar melodias vazias ou politicamente incorretas como a nova assinatura musical brasileira? A música certamente deve ter seu valor de entretenimento, mas ele não deve deturpar juízos de valor que possibilitem perpetuar preconceitos e atos violentos.
Trata-se da deterioração dos juízos sociais a nível nacional - logo, trata-se de uma questão muito mais delicada. Por este motivo, o redirecionamento musical não deve se iniciar com censura nem críticas agressivas ao que se ouve, mas sim a reconstrução dos valores que se arraigam na sociedade e que são assimilados desde a infância do próprio país. Isso vem como papel do núcleo familiar, da instituição de ensino, dos meios midiáticos e também do Estado. O governo tem o papel de fazer valer todas as colocações legais que enfatizam o respeito à diversidade, a igualdade de gênero e tudo que se enquadra como condizente com os direitos humanos, podendo ser através de ações afirmativas como campanhas, projetos e incentivo à pesquisa na área; tornado isso mais claro, é papel das escolas conduzir a educação de crianças e jovens por caminhos que privilegiem ideais de tolerância e ensinem que uma melodia racista, por exemplo, não é "só" uma melodia racista. Também é papel do ensino, bem como da família, educar crianças e jovens não somente a respeito de seus valores, mas também do consumo consciente de cultura - pois todo esse problema se iniciou pelo "simples" fato de que, em determinado momento, melodias vazias de conotação preconceituosa ou desrespeitosa passaram a ser levadas a sério. Ao fim, e apenas ao fim, é que ocorre a real mudança musical, em que a própria produção midiática se torna consciente e cautelosa para com os valores que transmite.
A população forma sua cultura e seus juízos; a música é um mero reflexo disso. Logo, a retomada do tradicional valor da MPB como instrumento da cultura, do entretenimento e do pensar deve partir de uma reformulação social antes de qualquer reformulação musical.
A diversificação dos estilos e composições musicais é reflexo das mudanças sociais ocorridas ao redor do mundo e ao longo das épocas. No Brasil, a música nacional contou com seus anos de lírica poética, atravessou com comoção épocas de turbulência em que assumiu caráter crítico e politizado e hoje também passa pela sua fase do que uns chamam de "música comercial". Trata-se da música de melodia nem um pouco complexa, com letras menos complexas ainda, cujo ritmo faz com que também sejam caracterizadas como "músicas-chiclete". Quase se equiparam aos jingles de comerciais televisivos.
Como já observado anteriormente, a música reflete os aspectos sociais vigentes. Em músicas como "Adultério", do funkeiro Mr. Catra, observa-se um valor já dito pelo próprio título da música, bem como objetificação da mulher. Os ritmos comerciais que são atualmente tão veiculados, como o sertanejo universitário e o funk, dificilmente possuem exemplares líricos que não contenham algum tipo de conceito deturpado que afete a realidade social ao seu redor. Machismo, homofobia, objetificação do corpo, apologia a drogas e violência são temas intrínsecos a muitas músicas que hoje são largamente ouvidas com grande efervescência. Até mesmo outros estilos ligeiramente mais tradicionais, como axé, forro e samba, hoje contam com um conteúdo crítico absurdamente mais raso que o vigente em épocas anteriores no Brasil. E é absolutamente equivocado pensar que essa cultura espelhada pela música não se imprime em atitudes cotidianas, vulgo estupros, tratamento da mulher como objeto, intolerância, etc.
Por tudo que é exprimido nas melodias - tanto as nacionais quanto as internacionais -, fica a pergunta: o que é a MPB hoje? Se significa "Música Popular Brasileira", procede caracterizar melodias vazias ou politicamente incorretas como a nova assinatura musical brasileira? A música certamente deve ter seu valor de entretenimento, mas ele não deve deturpar juízos de valor que possibilitem perpetuar preconceitos e atos violentos.
Trata-se da deterioração dos juízos sociais a nível nacional - logo, trata-se de uma questão muito mais delicada. Por este motivo, o redirecionamento musical não deve se iniciar com censura nem críticas agressivas ao que se ouve, mas sim a reconstrução dos valores que se arraigam na sociedade e que são assimilados desde a infância do próprio país. Isso vem como papel do núcleo familiar, da instituição de ensino, dos meios midiáticos e também do Estado. O governo tem o papel de fazer valer todas as colocações legais que enfatizam o respeito à diversidade, a igualdade de gênero e tudo que se enquadra como condizente com os direitos humanos, podendo ser através de ações afirmativas como campanhas, projetos e incentivo à pesquisa na área; tornado isso mais claro, é papel das escolas conduzir a educação de crianças e jovens por caminhos que privilegiem ideais de tolerância e ensinem que uma melodia racista, por exemplo, não é "só" uma melodia racista. Também é papel do ensino, bem como da família, educar crianças e jovens não somente a respeito de seus valores, mas também do consumo consciente de cultura - pois todo esse problema se iniciou pelo "simples" fato de que, em determinado momento, melodias vazias de conotação preconceituosa ou desrespeitosa passaram a ser levadas a sério. Ao fim, e apenas ao fim, é que ocorre a real mudança musical, em que a própria produção midiática se torna consciente e cautelosa para com os valores que transmite.
A população forma sua cultura e seus juízos; a música é um mero reflexo disso. Logo, a retomada do tradicional valor da MPB como instrumento da cultura, do entretenimento e do pensar deve partir de uma reformulação social antes de qualquer reformulação musical.
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Beatriz Ferreira Avinco
Uberlândia - MG