Questões de Filosofia - Filosofia moderna
Eticamente correto é o que proporciona o maior bem para o
maior número possível de pessoas.
THIRY-CHERQUES, H. Ética para executivos. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
O argumento dessa assertiva está associado a qual Teoria da Ética Normativa?
Assim como há princípios físicos e químicos envolvidos na projeção de um filme, há princípios morais que regulam a fruição de uma sessão de cinema pelos espectadores. No campo da ética, é conhecido o princípio moral kantiano do imperativo categórico, segundo o qual uma pessoa deve sempre evitar uma ação que, caso seja realizada por todos os presentes no ambiente, torna impossível sua própria realização, ou seja, uma ação não universalizável naquele ambiente. Outra abordagem, distinta da kantiana, é a desenvolvida por Stuart Mill e conhecida como utilitarismo, na qual se postula que uma ação é eticamente correta quando preserva o bem-estar da maior parte das pessoas envolvidas na ação.
A partir desse texto, julgue o item que se segue.
Contar, em voz alta, o final de um filme durante a sessão em que o filme está sendo apresentado não viola o princípio ético utilitarista.
TEXTO
‘A única coisa que não pode ser comprada é o saber’,
diz Nuccio Ordine
por Leonardo Cazes
RIO - Na abertura dos seus cursos na
Universidade da Calábria, na Itália, o filósofo Nuccio
Ordine sempre pergunta aos seus alunos: “por que vocês
vieram para a universidade?”. A provocação de Ordine
[5] parte da sua constatação de que as instituições de ensino
se tornaram meras fábricas que despejam jovens
diplomados no mercado de trabalho, e não lugares aonde
se vai para compreender o mundo e a si mesmo.
Contra uma visão utilitarista dos saberes, o
[10] filósofo escreveu o manifesto “A utilidade do inútil” (...),
best-seller na Europa que chega agora ao Brasil.
Como convencer as pessoas da utilidade do
que é considerado inútil?
[15] É preciso olhar o mundo em que vivemos, onde
a lógica do dinheiro domina tudo. A única coisa que não
pode ser comprada é o saber. Não é possível se tornar
um homem culto com um cheque em branco. Criamos um
mundo onde as pessoas pensam apenas no seu próprio
[20] egoísmo. Perdeu-se de vista o sentido da solidariedade
humana. Um mundo que nos obriga a viver na dor é um
mundo possível? Eu não acredito. Os saberes, como a
música, a literatura, a filosofia, a arte, nos ensinam a
importância da gratuidade. Devemos fazer coisas que não
[25] buscam o lucro. A dignidade humana não é a conta que
temos no banco. A dignidade humana é a nossa
capacidade de abraçar os grandes valores, a
solidariedade, o amor pela justiça, o bem-estar. Como
convencer as pessoas disso? Meu argumento é que
[30] estamos numa rota autodestrutiva.
No livro, o senhor mostra que a discussão
sobre o utilitarismo e o poder do dinheiro existe há
séculos. O que há de diferente hoje?
[35] Desde o período clássico, vários autores
refletiram sobre o perigo do dinheiro. Mas, hoje, nós
temos uma radicalização na busca pelo lucro que se
tornou uma forma de autodestruição do próprio
capitalismo. É a ânsia de ganhar mais e mais que vai
[40] destruir o capitalismo.
(O Globo, Segundo Caderno, p. 06 – 27/02/2016.)
Assinale V para as proposições verdadeiras e F para as falsas.
A seguir, assinale a sequência correta.
( ) O “inútil” a ser valorizado pelas pessoas é a compreensão de si próprio e do mundo, a solidariedade, o amor pela justiça e o bem-estar.
( ) A visão utilitarista dos saberes diz respeito àqueles conhecimentos que são úteis na conquista do lucro e à manutenção de uma sociedade capitalista.
( ) A visão utilitarista dos saberes contribui na construção de uma sociedade mais evoluída moral e tecnologicamente, ou seja, contribui para o progresso do ser humano como um todo.
( ) Nas instituições de ensino, valorizam-se a literatura, a filosofia e a arte por serem disciplinas que ajudam na percepção do perigo do dinheiro.
( ) Paradoxalmente, a busca pelo lucro e a ânsia de acúmulo de capitais ensinam ao homem a importância da gratuidade e da solidariedade.
Texto 1: “Por princípio da utilidade entende-se aquele princípio que aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a tendência que tem a aumentar ou a diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse está em jogo, ou, o que é a mesma coisa em outros termos, segundo a tendência de promover ou comprometer a referida felicidade. Digo qualquer ação, com o que tenciono dizer que isto vale não somente para qualquer ação de um indivíduo particular, mas também de qualquer ato ou medida de governo. [...] A comunidade constitui um corpo fictício, composto de pessoas individuais que se consideram como constituindo os seus membros. Qual é, nesse caso, o interesse da comunidade? A soma dos interesses dos diversos membros que integram a referida comunidade”. (BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 10)
Texto 2: “Para compreendermos o valor que Mill atribui à democracia, é necessário observar com mais atenção a sua concepção de sociedade e indivíduo [...]. O governo democrático é melhor porque nele encontramos as condições que favorecem o desenvolvimento das capacidades de cada cidadão”. (WEFFORT, F. (org.). Os clássicos da política 2. 3 ed. São Paulo: Ática, 1991. p. 197-98).
Sobre o utilitarismo e o pensamento de Bentham e Stuart Mill, é INCORRETO afirmar.
Da soberania do indivíduo
Folha de S.Paulo, 24/10/2015
Hélio Schwartsman
SÃO PAULO – Alguns leitores ficaram um pouco bravos comigo porque eu afirmei na coluna de ontem que a legislação sobre costumes de um Estado moderno deve sempre seguir a inspiração liberal e não a conservadora. Diferentemente do que sugeriram certos missivistas, não escrevi isso porque minhas preferências pessoais coincidem com as ideias ditas progressistas, mas porque existe uma diferença qualitativa no papel que as duas visões de mundo reservam para a lei.
Na visão conservadora, é legítimo que o Estado opere ativamente para promover a coesão social, mesmo que, para isso , force o indivíduo a conformar-se ao "statu quo". Não dá para dizer que não funcione. Em que pese um certo autoritarismo intrínseco, sociedades que colocam os interesses coletivos acima dos individuais tendem a apresentar menores índices de violência interpessoal e menos desigualdade. Costumam sermenos inventivas também, mas esse é outro problema.
Já para os liberais, a ênfase recai sobre a liberdade individual. Bem no espírito de John Stuart Mill, atitudes e comportamentos, por mais exóticos que pareçam, só podem ser legitimamente proibidos ou limitados se resultarem em dano objetivo e demonstrável para terceiros. Caso contrário, "sobre si mesmo, seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano".
A implicação mais óbvia dessa diferença é que, enquanto a perspectiva liberal permite que cada grupo viva segundo suas próprias convicções, ainda que numa escala menor que a do todo, a concepção conservadora exige que as franjas minoritárias renunciem a seus valores. Trocando em miúdos, existem vários projetos de lei para proibir ou limitar o aborto e o casamento gay, mas não há nenhum com o intuito de torná-los obrigatórios. Numa época em que consensos sociais podem mudar rapidamente, conservadores deveriam ser os principais interessados numa legislação bem liberal.
No primeiro parágrafo do texto de Hélio Schwartsman, as duas visões de mundo às quais o autor se refere são
Racionalidade e tolerância no contexto pedagógico
Nadja Hermann – PUCRS
Stuart Mill (1806-1873) acrescenta à ideia de tolerância religiosa a importância do pluralismo, da liberdade de opinião e crença, baseado na independência do indivíduo. A liberdade compreende a “liberdade de pensamento e de sentimento, absoluta independência de opinião e de sentimento em todos os assuntos, práticos ou especulativos, científicos, morais ou teológicos” (MILL, 2000, p.21). Desse modo, Stuart Mill defende a tolerância a partir de um princípio bastante simples de que
a autoproteção constitui a única finalidade pela qual se garante à humanidade individual ou coletivamente, interferir na liberdade de ação de qualquer um. O único propósito de se exercer legitimamente o poder sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra sua vontade, é evitar danos aos demais.[...] Na parte que diz respeito apenas a si mesmo, sua independência é, de direito, absoluta. Sobre si mesmo, seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano (2000, p.18).
MILL, John Stuart. A liberdade. In: ____. A liberdade, utilitarismo. Trad. Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Trecho de artigo publicado no site do Grupo de Pesquisa “Racionalidade e Formação”. Disponível em: http://w3.ufsm.br/gpracioform/artigo%2002.pdf. Acesso em: 24 out.2015.
Indique o princípio de Stuart Mill do qual tanto Hélio Schwartsman como Nadja Hermann se valem para sustentar suas ideias.