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CONTO “COPACABANA”
Copacabana, essa sim, eu conhecia de ponta a ponta, mas mesmo morando diante do mar, às vezes me sentia contaminado pelo lado sombrio do bairro. Visto de frente, eu era um adolescente de belas cores, o rosto bronzeado e uns olhos claros de fulminar as garotas que mirava na praia. Já minhas costas eram de pobre, apinhadas de cravos, espinhas, quistos e furúnculos (p. 91)
A descrição física do personagem o mostra como uma representação do bairro de Copacabana, também descrito.
Essa representação se constrói por meio de um recurso conhecido como:
Em Dois irmãos, de Milton Hatoum, os gêmeos Yaqub e Omar representam duas personalidades antagônicas que se enfrentam ao longo da narrativa.
A rivalidade entre eles tem como resultado:
Leia o trecho inicial do conto “Miss Dollar”, de Machado de
Assis, para responder a questão.
Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar. Mas por outro lado, sem
a apresentação de Miss Dollar, seria o autor obrigado a longas
digressões, que encheriam o papel sem adiantar a ação. Não
há hesitação possível: vou apresentar-lhes Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina
que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada, escassa
de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dous grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas longas tranças louras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal
como uma criação de Shakespeare; deve ser o contraste
do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do
Reino Unido [...] A sua fala deve ser um murmúrio de harpa-
-eólia1; o seu amor um desmaio, a sua vida uma contemplação, a sua morte um suspiro.
A figura é poética, mas não é a da heroína do romance.
Suponhamos que o leitor não é dado a estes devaneios
e melancolias; nesse caso imagina uma Miss Dollar totalmente diferente da outra. Desta vez será uma robusta americana, vertendo sangue pelas faces, formas arredondadas,
olhos vivos e ardentes, mulher feita, refeita e perfeita. [...]
Já não será do mesmo sentir o leitor que tiver passado a
segunda mocidade e vir diante de si uma velhice sem recurso. Para esse, a Miss Dollar verdadeiramente digna de ser
contada em algumas páginas, seria uma boa inglesa de cinquenta anos, dotada com algumas mil libras esterlinas, e que,
aportando ao Brasil em procura de assunto para escrever um
romance, realizasse um romance verdadeiro, casando com o
leitor aludido. [...]
Mais esperto, que os outros, acode um leitor dizendo que
a heroína do romance não é nem foi inglesa, mas brasileira
dos quatro costados, e que o nome de Miss Dollar quer dizer
simplesmente que a rapariga é rica.
A descoberta seria excelente, se fosse exata; infelizmente nem esta nem as outras são exatas. A Miss Dollar do
romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta,
nem a velha literata, nem a brasileira rica. Falha desta vez a
proverbial perspicácia dos leitores; Miss Dollar é uma cadelinha galga2
(Todos os contos, 2019. Adaptado.)
1 harpa-eólia: instrumento musical antigo em que o som é produzido pela
fricção do vento em cordas tensionadas.
2 galgo: raça canina cujos indivíduos têm patas e pescoço alongados.
No primeiro parágrafo, o narrador comenta possibilidades sobre a composição da narrativa que ele próprio está escrevendo. Em outras palavras, a narrativa debruça-se sobre aspectos da própria narrativa.
A tal procedimento dá-se o nome de
Leia o trecho inicial do conto “Miss Dollar”, de Machado de
Assis, para responder a questão.
Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar. Mas por outro lado, sem
a apresentação de Miss Dollar, seria o autor obrigado a longas
digressões, que encheriam o papel sem adiantar a ação. Não
há hesitação possível: vou apresentar-lhes Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina
que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada, escassa
de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dous grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas longas tranças louras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal
como uma criação de Shakespeare; deve ser o contraste
do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do
Reino Unido [...] A sua fala deve ser um murmúrio de harpa-
-eólia1; o seu amor um desmaio, a sua vida uma contemplação, a sua morte um suspiro.
A figura é poética, mas não é a da heroína do romance.
Suponhamos que o leitor não é dado a estes devaneios
e melancolias; nesse caso imagina uma Miss Dollar totalmente diferente da outra. Desta vez será uma robusta americana, vertendo sangue pelas faces, formas arredondadas,
olhos vivos e ardentes, mulher feita, refeita e perfeita. [...]
Já não será do mesmo sentir o leitor que tiver passado a
segunda mocidade e vir diante de si uma velhice sem recurso. Para esse, a Miss Dollar verdadeiramente digna de ser
contada em algumas páginas, seria uma boa inglesa de cinquenta anos, dotada com algumas mil libras esterlinas, e que,
aportando ao Brasil em procura de assunto para escrever um
romance, realizasse um romance verdadeiro, casando com o
leitor aludido. [...]
Mais esperto, que os outros, acode um leitor dizendo que
a heroína do romance não é nem foi inglesa, mas brasileira
dos quatro costados, e que o nome de Miss Dollar quer dizer
simplesmente que a rapariga é rica.
A descoberta seria excelente, se fosse exata; infelizmente nem esta nem as outras são exatas. A Miss Dollar do
romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta,
nem a velha literata, nem a brasileira rica. Falha desta vez a
proverbial perspicácia dos leitores; Miss Dollar é uma cadelinha galga2
(Todos os contos, 2019. Adaptado.)
1 harpa-eólia: instrumento musical antigo em que o som é produzido pela
fricção do vento em cordas tensionadas.
2 galgo: raça canina cujos indivíduos têm patas e pescoço alongados.
Um procedimento típico em Machado de Assis utilizado no conto é:
Leia o trecho inicial do conto “Miss Dollar”, de Machado de Assis, para responder à questão abaixo.
Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar. Mas por outro lado, sem a apresentação de Miss Dollar, seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada, escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dous grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas longas tranças louras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare; deve ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido [...] A sua fala deve ser um murmúrio de harpa- -eólia1 ; o seu amor um desmaio, a sua vida uma contemplação, a sua morte um suspiro.
A figura é poética, mas não é a da heroína do romance. Suponhamos que o leitor não é dado a estes devaneios e melancolias; nesse caso imagina uma Miss Dollar totalmente diferente da outra. Desta vez será uma robusta americana, vertendo sangue pelas faces, formas arredondadas, olhos vivos e ardentes, mulher feita, refeita e perfeita. [...]
Já não será do mesmo sentir o leitor que tiver passado a segunda mocidade e vir diante de si uma velhice sem recurso. Para esse, a Miss Dollar verdadeiramente digna de ser contada em algumas páginas, seria uma boa inglesa de cinquenta anos, dotada com algumas mil libras esterlinas, e que, aportando ao Brasil em procura de assunto para escrever um romance, realizasse um romance verdadeiro, casando com o leitor aludido. [...]
Mais esperto, que os outros, acode um leitor dizendo que a heroína do romance não é nem foi inglesa, mas brasileira dos quatro costados, e que o nome de Miss Dollar quer dizer simplesmente que a rapariga é rica.
A descoberta seria excelente, se fosse exata; infelizmente nem esta nem as outras são exatas. A Miss Dollar do romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta, nem a velha literata, nem a brasileira rica. Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores; Miss Dollar é uma cadelinha galga2 .
(Todos os contos, 2019. Adaptado.)
1 harpa-eólia: instrumento musical antigo em que o som é produzido pela fricção do vento em cordas tensionadas.
2 galgo: raça canina cujos indivíduos têm patas e pescoço alongados.
No primeiro parágrafo, o narrador comenta possibilidades sobre a composição da narrativa que ele próprio está escrevendo. Em outras palavras, a narrativa debruça-se sobre aspectos da própria narrativa.
A tal procedimento dá-se o nome de
Leia o trecho inicial do conto “Miss Dollar”, de Machado de Assis, para responder à questão abaixo.
Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar. Mas por outro lado, sem a apresentação de Miss Dollar, seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada, escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dous grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas longas tranças louras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare; deve ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido [...] A sua fala deve ser um murmúrio de harpa- -eólia1 ; o seu amor um desmaio, a sua vida uma contemplação, a sua morte um suspiro.
A figura é poética, mas não é a da heroína do romance. Suponhamos que o leitor não é dado a estes devaneios e melancolias; nesse caso imagina uma Miss Dollar totalmente diferente da outra. Desta vez será uma robusta americana, vertendo sangue pelas faces, formas arredondadas, olhos vivos e ardentes, mulher feita, refeita e perfeita. [...]
Já não será do mesmo sentir o leitor que tiver passado a segunda mocidade e vir diante de si uma velhice sem recurso. Para esse, a Miss Dollar verdadeiramente digna de ser contada em algumas páginas, seria uma boa inglesa de cinquenta anos, dotada com algumas mil libras esterlinas, e que, aportando ao Brasil em procura de assunto para escrever um romance, realizasse um romance verdadeiro, casando com o leitor aludido. [...]
Mais esperto, que os outros, acode um leitor dizendo que a heroína do romance não é nem foi inglesa, mas brasileira dos quatro costados, e que o nome de Miss Dollar quer dizer simplesmente que a rapariga é rica.
A descoberta seria excelente, se fosse exata; infelizmente nem esta nem as outras são exatas. A Miss Dollar do romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta, nem a velha literata, nem a brasileira rica. Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores; Miss Dollar é uma cadelinha galga2 .
(Todos os contos, 2019. Adaptado.)
1 harpa-eólia: instrumento musical antigo em que o som é produzido pela fricção do vento em cordas tensionadas.
2 galgo: raça canina cujos indivíduos têm patas e pescoço alongados.
Um procedimento típico em Machado de Assis utilizado no conto é:
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