Questões de Literatura - Literatura portuguesa - Escolas Literárias - Humanismo
38 Questões
“Consagrai-vos a dois gêneros de estudos. Em primeiro lugar deveis adquirir um conhecimento das letras, não vulgar, mas sério e aprofundado.... Depois, familiarizai-vos com a vida e as boas maneiras – aquilo a que se chamam de estudos humanos, pois que eles embelezam os homens. Neste domínio os vossos conhecimentos devem ser extensos, variados e hauridos em todas as espécies de experiências, sem nada negligenciar daquilo que possa contribuir para a conduta da vossa vida, para a vossa glória e a vossa reputação. Aconselho-vos a ler os autores que possam ajudar-vos, não somente pelo seu assunto, mas também pelo esplendor de seu estilo e seu talento literário, a saber: as obras de Cícero e as de todos aqueles que se aproximam do seu nível..., pois quereria que um homem distinto seja muito erudito e capaz de dar aos seus conhecimentos uma formulação elegante... É por isso que não se deve somente seguir as lições dos mestres, mas também instruir-se com os poetas, os oradores e os historiadores, para adquirir um estilo elegante, eloquente...”
BRUNI, Leonardo. “Correspondência”. In: FREITAS, Gustavo. 900 Textos e documentos de História. Lisboa: Bertrand, 1976. p. 143.
Com qual dos movimentos intelectuais do período moderno o texto se relaciona?
TEXTO:
Auto da Barca do Inferno
(Aproxima-se um corregedor com uma vara na mão e diz chegando à Barca do Inferno:)
Corregedor – Hou da barca?
Diabo – Que quereis?
Corregedor – Está aqui o senhor juiz.
Diabo – Oh amador de perdiz* / quantos processos trazeis?
Corregedor – Por trazê-los, bem vereis, / venho muito contrafeito.
Diabo – Como anda lá o Direito?
Corregedor – Nos autos constatareis.
Diabo – Ora, pois, entrai, vejamos / o que dizem tais papéis.
Corregedor – Para onde vai o batel?
Diabo – No inferno nós ancoramos.
Corregedor – Como? À terra dos demônios / há de ir um corregedor? [...]
Diabo – Ora, entrai nos negros fados. / Ireis ao lago dos cães / e vereis os escrivães / como estão bem prosperados.
Corregedor – Vão à terra dos danados / os novos evangelistas?
Diabo – Os mestres das fraudes vistas / lá estão bem atormentados [...]
*“amador de perdiz” – referência ao fato de os juízes aceitarem, como agrado, a doação de coelhos e perdizes.
VICENTE, GIL. Três autos: da alma; da barca do inferno; de Mofina Mendes. Livre adaptação de Walmir Ayala. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. p. 145 -153.
Sobre o trecho da cena transcrito e a obra de onde foi extraído, é correto afirmar:
I. A cena se inicia com a chegada do corregedor, que é representante do judiciário, à Barca do Inferno, quando o Diabo lhe dirige a primeira acusação: a de corrupção, por manipular a justiça em benefício próprio, com a aceitação de suborno sob a forma de presentes ou doações.
II. Na obra, através de farta argumentação e de provas forjadas, o corregedor consegue convencer o Diabo e o Anjo de sua inocência. Por isso, após ser perdoado, aceita o pedido de desculpas de ambos e se encaminha para a Barca do Paraíso, onde é recebido com muitos festejos e intensa louvação.
III. Na obra, o autor, para relativizar os conceitos de bem e mal, de certo e errado, evitando uma perspectiva maniqueísta, coloca circunstâncias em que o Anjo e o Diabo trocam de papéis e passam a dirigir, respectivamente, a Barca do Inferno e a Barca da Glória. Com isso, o julgamento se torna mais preciso e a punição mais justa.
IV. O cenário da obra é um porto onde se encontram ancoradas duas barcas: uma, guiada pelo Diabo, tem como destino o inferno; outra, guiada por um Anjo, leva ao paraíso. Nelas são acomodadas as pessoas que se aproximam e que já morreram, selecionadas pelo Diabo ou pelo Anjo, segundo sua conduta quando estavam vivas.
V. A obra é uma sátira social e moral, pois veicula criticas aos costumes impróprios ou pecados de figuras poderosas da época, que são julgadas e punidas com a condenação ao inferno. Trata-se de uma temática que, embora contextualizada no século XVI, em Portugal, guarda certa atualidade e pertinência com questões contemporâneas.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a
Trecho I - retirado de Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente (os parênteses representam informações sobre o texto ou sinônimos)
DIABO: Quem vem aí? Oh! Santo sapateiro honrado, Como vens tão carregado!...
SAPATEIRO: Mandaram-me vir assim... (cheio de objetos (*) Os objetos que as personagem carregam representam os pecados que cometeram em vida.]
E para onde é a viagem?
DIABO: Para o lago dos danados.
SAPATEIRO: E os que morrem confessados, Onde têm a sua passagem?
DIABO: Não digas tais linguagem! Esta é a tua barca, esta!
(...)
Tu morreste excomungado! Mesmo sem o saberes. O que esperavas depois de viver, Fazendo dois mil engano… Tu roubaste em trinta anos, O povo com a tua mestria. (com o teu oficio) Embarca, esta barca é para ti, Que há já muito que te espero!
SAPATEIRO: Pois digo-te que não quero!
DIABO: Mas hás de ir, sim, sim!
SAPATEIRO: Quantas missas eu ouvi... Não me hão elas de agora prestar? (valer)
DIABO: Ouvir missa, depois roubar... É caminho para aqui.
SAPATEIRO: E as ofertas que servirão? (as esmolas) E as horas dos finados?
DIABO: E os dinheiros mal cobrados, Que foi da tua satisfação?
Trecho II - Retirado de Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna
,PADEIRO: Que história é essa? Então Vossa Senhoria pode benzer o cachorro do major Antônio Morais e o meu não?
PADRE, apaziguador: Que é isso, que é isso?
PADEIRO: Eu é que pergunto: que é isso? Afinal de contas eu sou presidente da Irmandade das Almas, e isso é alguma coisa.
JOÃO GRILO: É, padre, o homem aí é coisa muita. Presidente da Irmandade das Almas! Para mim isso, é um caso claro de cachorro bento. Benza logo o cachorro e tudo fica em paz.
PADRE: Não benzo, não benzo e acabou-se! Não estou pronto para fazer essas coisas assim de repente. Sem pensar, não.
MULHER, furiosa: Quer dizer, quando era o cachorro do major, já estava tudo pensado, para benzer o meu é essa complicação! Olhe que meu marido é presidente e sócio benfeitor da Irmandade Almas! Vou pedir a demissão dele!
Ao analisar os personagens que aparecem nos trechos citados, conclui-se que:
INSTRUÇÃO: Para responder à questão, considere o seguinte texto, sobre um aspecto essencial da cultura renascentista, no início da Idade Moderna.
“Apostura dos humanistas valorizava o que de divino havia em cada homem, induzindo-o a expandir suas forças, a criar e a produzir, agindo sobre o mundo para transformá-lo de acordo com sua vontade e interesse.”
(SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento, São Paulo: Atual, 1985, p. 16)
O autor destaca no texto especificamente a característica do humanismo renascentista denominada
O trecho abaixo, extraído de uma peça de Shakespeare, escrita em 1599, deve ser utilizado para responder à pergunta
“Toda vez que a Águia Inglaterra sai para caçar, deixando o seu ninho desguarnecido, a fuinha Escócia vem rastejando para comer os seus principescos ovos; na ausência do gato, o rato faz bagunça, rompendo e destruindo mais do que pode comer.”
Personagem Westmoreland. Cena 2, Ato I de Henrique V.
(SHAKESPEARE, William. The Complete Works. New York, Gramercy, 1975.)
Como pode ser percebido no texto, uma das características das peças históricas de Shakespeare é a exaltação nacionalista.
Contudo, a produção do grande dramaturgo possui também características marcantes do movimento artístico-cultural conhecido como
TEXTO
Vai-se Pero Marques e diz Inês Pereira:
INÊS PEREIRA
Pessoa conheço eu
que levara outro caminho...
Casai lá com um vilãozinho
mais covarde que um judeu!
Se fora outro homem agora
e me topara a tal hora,
estando assi às escuras,
falara-me mil doçuras,
ainda que mais não fora...
Vem a Mãe e diz:
MÃE
Pero Marques foi-se já?
INÊS PEREIRA
Para que ele aqui?
MÃE
Não te agrada ele a ti?
INÊS PEREIRA
Vá-se muitieramá!1
Que sempre disse e direi:
Mãe, eu me não casarei
Senão com homem discreto,2
E assi vo-lo prometo;
ou antes o leixarei.
Que seja homem malfeito,
feio, pobre, sem feição;
como tiver discrição
não lhe quero mais proveito.
E saiba tanger viola,
E como eu pão e cebola,
Sequer uma cantiguinha!
Discreto feito em farinha,
Porque isto me degola.3
MÃE
Sempre tu hás-de bailar,
e sempre ele há-de tanger?
Se não tiveres que comer,
O tanger te há-de fartar?
INÊS PEREIRA
“Cada louco com sua teima.”
Com uma borda de boleima4
e uma vez de água fria,
não quero mais cada dia.
MÃE
Como às vezes isso queima!
E que é desses escudeiros?
INÊS PEREIRA
Eu falei ontem ali
que passaram por aqui
os judeus casamenteiros,
e hão de vir logo aqui.
1 - Mandar alguém para o inferno.
2 - Pessoa com aparência educada.
3 - Aquilo que apraz, satisfaz.
4 - Fatia de pão.
VICENTE, GIL. Farsa de Inês Pereira. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2006.p.68-70.
Segundo os estudiosos de Gil Vicente, a Farsa de Inês Pereira foi escrita a partir do mote “Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube”, dado ao autor como desafio à dúvida de certos homens sobre as suas produções literárias.
Assim o mote se configura, dentro da peça, na personagem
Adicionar à pastas
06
Faça seu login GRÁTIS
Minhas Estatísticas Completas
Estude o conteúdo com a Duda
Estude com a Duda
Selecione um conteúdo para aprender mais: