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Acesse GrátisQuestões de Literatura - Literatura de outros povos ou países de língua portuguesa
Questão 8 7165243
UNIMONTES 3° Etapa Socias 2020Texto
Sentimento do mundo
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do
microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo Andrade. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
Sobre o poema, analise as afirmativas que se seguem.
I. O poema Sentimento do Mundo é o primeiro poema da obra homônima de Drummond, em que o eu poético, com um olhar crítico e social, revela o momento difícil por que passava o mundo naquele momento.
II. A impotência perante a realidade, o medo, a efemeridade da vida, as preocupações com o ritmo da vida moderna e a alienação são alguns dos temas abordados nos poemas que compõem a obra Sentimento do Mundo.
III. Embora se perceba, na obra, que o olhar de Drummond ganha amplitude e se lança ao mundo, o olhar para o seu espaço de origem persiste, como se nota nos poemas Confidência do Itabirano e Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte.
IV. As rimas perfeitas e preciosas e a linguagem erudita estão entre os recursos usados por Drummond para a composição dos poemas, características observadas na estética literária modernista.
Estão CORRETAS as afirmativas:
Questão 17 7203126
PUC-GO 2018/2TEXTO
Chuva: a abensonhada
Estou sentado junto da janela olhando a chuva que cai há três dias. Que saudade me fazia o molhado tintintinar do chuvisco. A terra perfumegante semelha a mulher em véspera de carícia. Há quantos anos não chovia assim? De tanto durar, a seca foi emudecendo a nossa miséria. O céu olhava o sucessivo falecimento da terra, e em espelho, se via morrer. A gente se indaguava: será que ainda podemos recomeçar, será que a alegria ainda tem cabimento?
Agora, a chuva cai, cantarosa, abençoada. O chão, esse indigente indígena, vai ganhando variedades de belezas. Estou espreitando a rua como se estivesse à janela do meu inteiro país. Enquanto, lá fora, se repletam os charcos a velha Tristereza vai arrumando o quarto. Para Tia Tristereza a chuva não é assunto de clima mas recado dos espíritos. E a velha se atribui amplos sorrisos: desta vez é que eu envergarei o fato que ela tanto me insiste. Indumentária tão exibível e eu envergando mangas e gangas. Tristereza sacode em sua cabeça a minha teimosia: haverá razoável argumento para eu me apresentar assim tão descortinado, sem me sujeitar às devidas aparências? Ela não entende.
Enquanto alisa os lençóis, vai puxando outros assuntos. A idosa senhora não tem dúvida: a chuva está a acontecer devido das rezas, cerimónias oferecidas aos antepassados. Em todo o Moçambique a guerra está parar. Sim, agora já as chuvas podem recomeçar. Todos estes anos, os deuses nos castigaram com a seca. Os mortos, mesmo os mais veteranos, já se ressequiam lá nas profundezas. Tristereza vai escovando o casaco que eu nunca hei-de usar e profere suas certezas:
— Nossa terra estava cheia do sangue. Hoje, está ser limpa, faz conta é essa roupa que lavei. Mas nem agora, desculpe o favor, nem agora o senhor dá vez a este seu fato?
— Mas, Tia Tristereza: não será está chover de mais?
De mais? Não, a chuva não esqueceu os modos de tombar, diz a velha. E me explica: a água sabe quantos grãos tem a areia. Para cada grão ela faz uma gota. Tal igual a mãe que tricota o agasalho de um ausente filho. Para Tristereza a natureza tem seus serviços, decorridos em simples modos como os dela. As chuvadas foram no justo tempo encomendadas: os deslocados que regressam a seus lugares já encontrarão o chão molhado, conforme o gosto das sementes. A Paz tem outros governos que não passam pela vontade dos políticos.
Mas dentro de mim persiste uma desconfiança: esta chuva, minha tia, não será prolongadamente demasiada? Não será que à calamidade do estio se seguirá a punição das cheias?
Tristereza olha a encharcada paisagem e me mostra outros entendimentos meteorológicos que minha sabedoria não pode tocar. Um pano sempre se reconhece pelo avesso, ela costuma me dizer. Deus fez os brancos e os pretos para, nas costas de uns e outros, poder decifrar o Homem. E apontando as nuvens gordas me confessa:
— Lá em cima, senhor, há peixes e caranguejos. Sim, bichos que sempre acompanham a água.
E adianta: tais bichezas sempre caem durante as tempestades.
— Não acredita, senhor? Mesmo em minha casa já caíram.
— Sim, finjo acreditar. E quais tipos de peixes?
Negativo: tais peixes não podem receber nenhum nome. Seriam precisas sagradas palavras e essas não cabem em nossas humanas vozes. De novo, ela lonjeia seus olhos pela janela. Lá fora continua chovendo. O céu devolve o mar que nele se havia alojado em lentas migrações de azul. Mas parece que, desta feita, o céu entende invadir a inteira terra, juntar os rios, ombro a ombro. E volto a interrogar: não serão demasiadas águas, tombando em maligna bondade? A voz de Tristereza se repete em monotonia de chuva. E ela vai murmurrindo: o senhor, desculpe a minha boca, mas parece um bicho à procura da floresta. E acrescenta:
— A chuva está limpar a areia. Os falecidos vão ficar satisfeitos. Agora, era bom respeito o senhor usar este fato. Para condizer com a festa de Moçambique...
Tristereza ainda me olha, em dúvida. Depois, resignada, pendura o casaco. A roupa parece suspirar. Minha teimosia ficou suspensa num cabide. Espreito a rua, riscos molhados de tristeza vão descendo pelos vidros. Por que motivo eu tanto procuro a evasão? E por que razão a velha tia se aceita interior, toda ela vestida de casa? Talvez por pertencer mais ao mundo, Tristereza não sinta, como eu, a atração de sair. Ela acredita que acabou o tempo de sofrer, nossa terra se está lavando do passado. Eu tenho dúvidas, preciso olhar a rua. A janela: não é onde a casa sonha ser mundo?
A velha acabou o serviço, se despede enquanto vai fechando as portas, com lentos vagares. Entrou uma tristeza na sua alma e eu sou o culpado. Reparo como as plantas despontam lá fora. O verde fala a língua de todas as cores. A Tia já dobrou as despedidas e está a sair quando eu a chamo:
— Tristereza, tira o meu casaco.
Ela se ilumina de espanto. Enquanto despe o cabide, a chuva vai parando. Apenas uns restantes pingos vão tombando sobre o meu casaco. Tristereza me pede: não sacuda, essa aguinha dá sorte. E de braço dado, saímos os dois pisando charcos, em descuido de meninos que sabem do mundo a alegria de um infinito brinquedo.
(COUTO, Mia. Estórias abensonhadas. 5. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 43-46.)
No Texto, a chuva é “abensonhada” porque, além de ser “recado dos espíritos”, é esperada e sonhada pelo povo que vivia na seca e em conflitos.
Considere essa afirmação, as falas da velha Tristereza sobre esse fenômeno natural e assinale a alternativa que indica, corretamente, a representação da chuva no texto de Mia Couto:
Questão 24 6445334
UNIMES 2017Sou poeta e continuo trabalhando o domínio da poesia, mesmo que escreva em prosa. E quem me marcou mais foram os poetas brasileiros – os que chegaram a mim na altura em que eu começava a escrever. Principalmente o Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa. É um grande livro de cabeceira. Uma espécie de reencontro àquela linguagem que, nele, era um território. Era como a savana do meu país. Esse ‘sertão’ era qualquer coisa em que eu me reconhecia, me revia.
(“Mia Couto: ‘Sertão’, de Guimarães, é a savana africana”. http://veja.abril.com.br. Adaptado.)
No excerto, o escritor moçambicano Mia Couto identifica uma similaridade entre elementos e paisagens da obra de Guimarães Rosa com os da savana africana, presentes em seu país de origem.
Assim, conclui-se corretamente que o livro Grande Sertão: Veredas retrata características do bioma brasileiro denominado
Questão 15 1141094
Unichristus 1° Fase 2015/2Fragmento para a questão.
“Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita, como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado.”
A Cartomante. Machado de Assis.
Machado de Assis, o iniciador do Realismo brasileiro, não nutria grandes esperanças sobre a condição da humanidade: suas personagens masculinas são medíocres, de pouca inteligência e de objetivos superficiais, são salvas pelo status, revelando uma sociedade em que as pessoas valem pelo que têm, e não pelo que são. As personagens femininas não são melhores.
O fragmento, posto anteriormente, permite observar que a personagem feminina, presente nele, é uma mulher
Questão 24 7344230
UFF 2011/1TEXTO VIII
Latas pregadas em paus
fixados na terra
fazem a casa
Os farrapos completam
[5] a paisagem íntima
O sol atravessando as frestas
acorda o seu habitante
Depois as doze horas de trabalho
Escravo
[10] britar pedra
acarretar pedra
britar pedra
acarretar pedra
ao sol
[15] à chuva
britar pedra
acarretar pedra
A velhice vem cedo
Uma esteira nas noites escuras
[20] basta para ele morrer
grato
e de fome
Agostinho Neto
Agostinho Neto, poeta angolano, combatente da luta anticolonial e primeiro Presidente da República, apresenta uma obra que se confunde com a história de seu país. Um dos seus temas é a relação penosa do homem com o seu trabalho no cotidiano, tornando assim sua arte popular e engajada.
Em todas as alternativas, as obras de arte expressam uma das temáticas presentes no poema de Agostinho Neto (Texto VIII), EXCETO em:
Questão 19 6981149
FUVEST 2022Por narrativas paralelas entende-se um procedimento literário segundo o qual dois ou mais fios narrativos pertencentes a níveis distintos de realidade se desenrolam intercaladamente formando um todo.
Considerando-se a sua estrutura, as duas narrativas que podem ser identificadas com base nessa definição são: