Questões de Português - Gramática - Figuras de Linguagem
2.209 Questões
Questão 4 14031487
UEA - SIS 1º série 2025/2027 2024Para responder à questão, leia o trecho do “Sermão do Mandato”, de Antônio Vieira, pregado em Lisboa, no Hospital Real, ano de 1643.
Estes são os poderes do tempo sobre o amor. Mas sobre qual amor? Sobre o amor humano, que é fraco; sobre o amor humano, que é inconstante; sobre o amor humano, que não se governa por razão, senão por apetite; sobre o amor humano, que, ainda quando parece mais fino, é grosseiro e imperfeito. O amor, a quem remediou e pôde curar o tempo, bem poderá ser que fosse doença; mas não é amor. O amor perfeito, e que só merece o nome de amor, vive imortal sobre a esfera da mudança, e não chegam lá as jurisdições do tempo. Nem os anos o diminuem, nem os séculos o enfraquecem, nem as eternidades o cansam. Quis-nos declarar Salomão, diz Santo Agostinho, que o amor que é verdadeiro tem obrigação de ser eterno; porque, se em algum tempo deixou de ser, nunca foi amor. Notável dizer! Em todas as outras coisas o deixar de ser é sinal de que já foram; no amor o deixar de ser é sinal de nunca ter sido. Deixou de ser, pois nunca foi. Deixastes de amar, pois nunca amastes. O amor que não é de todo o tempo, e de todos os tempos, não é amor, nem foi; porque, se chegou a ter fim, nunca teve princípio. É como a eternidade, que se por impossível tivera fim, não teria sido eternidade.
(Antônio Vieira. Essencial, 2011. Adaptado.)
Antônio Vieira recorre a um enunciado antitético (ou seja, um enunciado em que duas palavras de sentido contrário se opõem) no seguinte trecho:
Questão 26 12065702
UFSM Tarde 2024Para responder à questão, considere o texto a seguir.
ÚLTIMA CARTA DE PAUL KLEE AOS GATOS DA SUA VIDA
Queridos Nuggi, Fritzy e Binho,
Chegando ao fim da minha vida, dirijo-vos esta
carta para vos dar conta da importância que tiveram
no meu atribulado percurso como pintor.
[5] Creio que não teria chegado aonde cheguei como
artista do meu tempo sem o vosso amor e a inspi-
ração que nunca me regatearam.
Fiz questão de vos manter presentes em tudo
quanto fiz, desde as cartas aos poemas, passando,
[10] naturalmente, pelos quadros em que tentei modes-
tamente representar-vos.
Vocês acompanharam-me nas horas de sofr-
imento e de incerteza, de exílio e de privação, mas
também naquelas que me deram a ilusão da feli-
[15] cidade. Primeiro, o meu querido Nuggi, cinzento e
meigo, ainda nos anos da juventude; depois, Fritzy,
tigrado, brincalhão e matreiro, a quem também
chamei Fripouille, nos tempos mais intensos da
criação pictórica e também do reconhecimento ar-
[20] tístico pelo público e pela crítica; por fim, Bimbo,
branco e discreto, já nos anos da doença e da de-
cadência física, sempre dedicado, sempre presente,
sempre terno e atento.
Devo confessar que sempre vislumbrei em vós um
[25] toque do sagrado, porque não hesito em considerar-vos
seres divinos, que eu não fui capaz de retratar com
o talento merecido nas telas e nos desenhos em que
vos tentei eternizar. Sim, é verdade que vos escrevi
cartas, sobretudo a Bimbo, já no fim da vida, e que
[30] não tinha sossego nos meus telefonemas sempre
que me diziam que algum de vocês estava doente ou
andava fugido. Isso nunca foi uma fraqueza minha e
sim uma das principais manifestações do amor que
consegui partilhar com outros seres.
[35] Ainda assim, alguns dos quadros de que mais
gosto são precisamente aqueles em que vos reser-
vei lugar, com títulos como O Gato e o Pássaro ou
A Montanha do Gato Sagrado. Os gatos ajudaram
também a fortalecer amizades com artistas e poetas
[40] que comungam comigo esse amor e essa admiração
irrenunciáveis. Foi o que aconteceu com Rainer Maria
Rilke. Até isso eu vos fiquei a dever, tributo reserva-
do a um pintor que tentou sempre estar à altura da
vossa ternura e infinita capacidade de dádiva.
[45] Agora que estou de partida, levo comigo a re-
cordação do que vocês foram para mim e a con-
vicção de que não teria sido o que fui, nem teria
chegado aonde cheguei, sem o vosso amparo e a
vossa dedicação. No meu íntimo, sei que volta-
[50] remos a encontrar-nos, porque não pode acabar
no perecível mundo material e terreno um amor
como foi o nosso.
Eternamente vosso,
Paul Klee
Fonte: LETRIA, J. J. Última carta de Paul Klee aos gatos da sua vida. In: LETRIA, J. J. Amados gatos: pequenas histórias de gatos célebres. Oficina do Livro: Alfragide, Portugal, 2005. (Adaptado)
Os termos “primeiro” (ℓ. 15), “depois” (ℓ. 16) e “por fim” (ℓ. 20) são empregados para indicar
Questão 9 12046592
UNIFESP 1º Dia 2024Leia o soneto de Manuel Maria Barbosa du Bocage para responder à questão.
Nos campos o vilão1 sem sustos passa,
Inquieto na corte o nobre mora;
O que é ser infeliz aquele ignora,
Este encontra nas pompas a desgraça.
Aquele canta e ri; não se embaraça
Com essas coisas vãs que o mundo adora;
Este (oh, cega ambição!) mil vezes chora,
Porque não acha bem que o satisfaça.
Aquele dorme em paz no chão deitado,
Este, no ebúrneo2 leito precioso,
Nutre, exaspera velador cuidado3.
.
Triste! Sai do palácio majestoso:
Se hás-de ser cortesão, mas desgraçado,
Antes ser camponês e venturoso!
(Bocage. Poemas escolhidos, 1974.)
1vilão: camponês.
2ebúrneo: feito de marfim.
3cuidado: preocupação, inquietação.
O eu lírico lança mão do recurso retórico conhecido como hipérbole no seguinte verso:
Questão 6 12046428
UNIFESP 1º Dia 2024Examine o meme publicado pelo perfil “Art Memes Central” no Instagram, em 17.05.2023.
Na construção de seu sentido, o meme explora fundamentalmente o seguinte recurso expressivo:
Questão 3 12012301
CEFET MG 2024Nessa noite, fui cedo para a cama, preparando-me para madrugar no dia seguinte. E tal era o meu propósito, que peguei logo num sono doce e tranquilo. Eram seis horas e eu já estava no jardim. Como quem desperta de um sono, apatetada, olhei à roda e só vi folhas, folhas e mais folhas verdes! Nem uma flor!
ALMEIDA, Júlia Lopes de. “As rosas”. In.: BORGES et al. (Org). Coletânea de contos fantásticos, de terror e de realismo mágico. Belo Horizonte: LED, 2021. p. 138.
A autora desse trecho recorre à repetição da palavra em destaque como estratégia para
Questão 1 12000962
FMP Medicina 2024Interativos demais
Antigamente, os escritores eram admirados apenas pelo que publicavam em livros e revistas. Quando
algum leitor gostava muito do que havia lido e queria compartilhar com alguém, dava o livro de presente
ou emprestava o seu. O conteúdo mantinha-se preservado, assim como seu autor. Ninguém divulgava um
texto de Somerset Maugham como sendo de Virginia Woolf, ninguém infiltrava parágrafos do Rubem
[5] Braga num texto do Sartre, ninguém criava novos finais para os poemas de Cecília Meireles. O escritor e
sua obra eram respeitados, e os leitores podiam confiar no que estavam consumindo.
Além disso, artistas de cinema, músicos e esportistas eram mitos a cuja intimidade não se tinha acesso.
Marilyn Monroe, Frank Sinatra e Ayrton Senna entregavam ao público o que prometiam – sua arte – e o
resto era especulação. Mais tarde pipocavam biografias, saciando a curiosidade do público, mas o legado
[10] desses ícones se manteve para sempre incorruptível: eram os donos legítimos de sua imagem, de sua voz
e de suas palavras.
Era uma época em que aceitávamos pacificamente nossa condição de plateia, até que se inventou o
conceito de interatividade e as ferramentas para exercê-la. Por um lado, a sociedade se democratizou, todos
passaram a ser ouvidos, diminuiu a distância entre patrões e empregados, produtores e consumidores: as
[15] relações ficaram mais funcionais.
Mas o uso dessas ferramentas acabou involuindo para a maledicência e a promiscuidade virtual. Hoje
ninguém consegue mais ter controle sobre sua imagem ou seu trabalho. Um ator de televisão diz “oi”
para uma amiga na rua e na manhã seguinte correm notícias de que estão de casamento marcado. Uma
cantora cancela um show porque está afônica e logo surge o boato de que tentou suicídio. Um escritor
[20] publica um texto no jornal e três segundos depois o mesmo texto está na internet, atribuído a Toulouse-
Lautrec, que nem escritor foi.
E no mundano da vida acontece algo similar. Fofocas se disseminam no Facebook, vídeos íntimos
são divulgados no Youtube, fotos de modelos vão parar em catálogos de prostituição e a credibilidade foi
para o beleléu. Ninguém mais confia totalmente no que vê ou lê e isso pouco importa. Informações são
[25] inventadas, adulteradas, inexatas, porque, por trás das telas dos computadores, há muita gente querendo
ter seu dia de autor, mesmo que autor de uma mentira.
Sinto nostalgia pelo tempo em que éramos seduzidos de frente, não pelas costas. Não se sabia toda a
verdade sobre nossos ídolos, mas o mistério era justamente a melhor parte. Sentíamo-nos honrados por
sermos receptores apenas do que eles tinham de melhor: o seu talento. Hoje não só engolimos qualquer
[30] factoide, qualquer manipulação, mas também a produzimos. A invencionice suplantou a arte.
Adaptado de MEDEIROS, M. Interativos demais. 28 de agosto de 2011. In: _____. A graça da coisa. Porto Alegre: L&PM, 2013.
Nos dois primeiros parágrafos, o enunciador rememora a:
Pastas
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