Questões de Português - Gramática - Figuras de Linguagem - Alegoria
12 Questões
Questão 28 6206326
UEA-Específico Biológicas 2020Leia o primeiro capítulo do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, para responder a questão.
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso
— Continue, disse eu acordando.
— Já acabei, murmurou ele.
— São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando- -me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você”. — “Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo.” — “Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça.”
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.
(Dom Casmurro, 2008.)
Neste primeiro capítulo de Dom Casmurro, há comentários e explicações sobre o título do livro.
O procedimento, semelhante ao encontrado em alguns dos principais textos de Machado de Assis, no qual a construção da narrativa é um aspecto da própria narrativa, é um exemplo de
Questão 28 6146037
UEA-Específico Exatas 2020Leia o primeiro capítulo do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, para responder à questão.
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
— Continue, disse eu acordando.
— Já acabei, murmurou ele.
— São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando- -me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você”. — “Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo.” — “Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça.”
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.
(Dom Casmurro, 2008.)
Neste primeiro capítulo de Dom Casmurro, há comentários e explicações sobre o título do livro.
O procedimento, semelhante ao encontrado em alguns dos principais textos de Machado de Assis, no qual a construção da narrativa é um aspecto da própria narrativa, é um exemplo de
Questão 25 1252901
ENEM 1° Dia (Amarela) 2019Ela nasceu lesma, vivia no meio das lesmas, mas não estava satisfeita com sua condição. Não passamos de criaturas desprezadas, queixava-se. Só somos conhecidas por nossa lentidão. O rastro que deixaremos na História será tão desprezível quanto a gosma que marca nossa passagem pelos pavimentos.
A esta frustração correspondia um sonho: a lesma queria ser como aquele parente distante, o escargoft. O simples nome já a deixava fascinada: um termo francês, elegante, sofisticado, um termo que as pessoas pronunciavam com respeito e até com admiração. Mas, lembravam as outras lesmas, os escargots são comidos, enquanto nós pelo menos temos chance de sobreviver. Este argumento não convencia a insatisfeita lesma, ao contrário: preferiria exatamente terminar sua vida desta maneira, numa mesa de toalha adamascada, entre talheres de prata e cálices de cristal. Assim como o mar é o único túmulo digno de um almirante batavo, respondia, a travessa de porcelana é a única lápide digna dos meus sonhos.
SCLIAR, M. Sonho de lesma. In: ABREU, C. F. et al. A prosa do mundo. São Paulo: Global, 2009.
Incorporando o devaneio da personagem, o narrador compõe uma alegoria que representa o anseio de
Questão 86 305872
UnB 2018/1A tragédia revela o desejo do herói em busca de segurança e felicidade, entretanto, em sua caminhada, ele se dirige a um destino maior que suas forças, sucumbindo à desgraça. Em Édipo Rei e em Hamlet, o ato trágico inaugural se estrutura em torno da figura paterna. As duas tragédias encenam a violação da lei de proibição do assassinato do pai (parricídio). A transgressão da lei instaura o ato trágico, que produz a consequência de se habitar um mundo desgovernado, pois a lei — não matar o pai — porta a estrutura fundante da civilização. Essas duas tragédias foram motivo de interesse para o fundador da psicanálise, Freud, que via nelas o retorno do recalcado. A vingança nesses textos é mais antiga do que mostram as tragédias: trata-se de desejos recalcados que polarizam a criança entre o amor e o ódio pelo pai. O conflito encenado no palco produz no espectador um sentimento de identificação que ele aceita como parte de sua realidade, o que já fora estudado pelo filósofo grego Aristóteles como parte do seu conceito de catarse.
Tendo esse texto como referência inicial, julgue o item seguinte, a respeito dos gêneros teatrais.
O Teatro do oprimido, de Augusto Boal, propõe-se a colocar o sujeito como protagonista de sua realidade, tanto em nível estético quanto político.
Questão 1 126317
FAMEMA 2016Este é tempo de partido,
tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.
[...]
O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta,
um verme.
(Reunião, 1969.)
No excerto, o eu lírico
Questão 8 210243
UECE 1ª Fase 2014/2Texto 2
José Paulo Florenzano
FUTEBOL E RACISMO: O MITO DA
[50] DEMOCRACIA EM CAMPO
A história do futebol brasileiro contém, ao
longo de quase um século, registros de
episódios marcados pelo racismo. Eis o
paradoxo: se de um lado a atividade
[55] futebolística era depreciada aos olhos da
“boa sociedade” enquanto profissão destinada
a pobres, negros e marginais, de outro ela se
achava investida do poder de representar e
projetar a nação em escala mundial.
[60] VÍNCULO MENOS ASSIMÉTRICO ENTRE
NEGROS E BRANCOS
O trem do futebol descortinava perspectivas
promissoras no terreno das relações sociais.
Mas embora transportasse ricos e pobres,
[65] negros e brancos, ele o fazia alocando os
diversos grupos em vagões separados.
Enquanto a juventude privilegiada agia de
modo a reforçar as divisões internas da
composição, a mocidade alegre dos subúrbios
[70] buscava franquear a passagem a fim de
enriquecer a experiência da viagem. Caberia,
nesse sentido, um papel de destaque aos
jogadores que logravam transitar entre os
diversos compartimentos.
[75] LEÔNIDAS DA SILVA: IDENTIDADE AMBÍGUA
DO ATLETA
Seria nesta conjuntura adversa que
Leônidas da Silva pegaria o bonde da história.
Símbolo da proeminência adquirida pelo boleiro
[80] em detrimento do sportsman, ele encarnava a
mudança destinada a apagar os últimos
vestígios da marca refinada, esnobe e
excludente que a juventude privilegiada
procurara atribuir à prática do esporte inglês,
[85] substituindo-a gradativamente por uma feição
mais popular do jogo, por uma dimensão mais
nacional do futebol, por uma identidade mais
ambígua do atleta.
RISCOS SIMBÓLICOS
[90] A realização da Copa do Brasil em 1950
viria a se constituir, neste sentido, em uma
rara oportunidade. No dia da decisão contra o
Uruguai sobreveio o inesperado revés. Foi,
então, que os torcedores descobriram os riscos
[95] simbólicos envolvidos na tarefa de reimaginar
a nação dentro das quatro linhas do campo. As
reportagens da crônica esportiva elegiam o
goleiro Barbosa e o defensor Bigode como
bodes expiatórios, exprimindo a vontade de
[100] “descarregar nas costas” dos referidos
jogadores os “prejuízos” acarretados pela
derrota. Uma chibata moral, eis a sentença
proferida no tribunal dos brancos.
A REVOLTA DA CHIBATA
[105] Nos anos 1970, por não atender às
expectativas normativas suscitadas pelo
estereótipo do “bom negro”, Paulo César Lima
foi classificado como “jogador-problema”.
Responsabilizado pelo fracasso do Brasil na
[110] Copa da Alemanha, pleiteava o direito de voltar
a vestir a camisa verde e amarela. O rumor de
que o banimento tinha o respaldo de um
ministro de Estado, não o surpreendia: “Se for,
mais uma vez vou ter a certeza de que sou um
[115] negro que incomoda muita gente”. E
acrescentava: “Não vou ser um negro tímido,
quieto, com medo e temor das pessoas”. Dessa
maneira, nas páginas de O Estado de S. Paulo,
Paulo César esboçava a revolta da chibata no
[120] futebol brasileiro. Enquanto Barbosa e Bigode,
sem alternativa, suportaram com dignidade o
linchamento moral na derrota de 1950, Paulo
César contra-atacava os que pretendiam
condená-lo pelo insucesso de 1974, reeditando
[125] as acusações de “covarde” e de “mercenário” –
as mesmas dirigidas a Leônidas no passado.
Paulo César, no entanto, assumia, sem
ambiguidades, as cores e as causas defendidas
pela esquadra dos pretos em todas as esferas
[130] da vida social. “Sinto na pele esse racismo
subjacente”, revelou certa vez à imprensa
francesa: “Isto é, ninguém ousa pronunciar a
palavra racismo. Mas posso garantir que ele
existe, mesmo na Seleção Brasileira”. Sua
[135] ousadia consistiu em pronunciar a palavra
interdita no espaço simbólico utilizado pelo
discurso oficial para reafirmar o mito da
democracia racial.
José Paulo Florenzano é professor de Antropologia da PUC-SP e autor do livro “A Democracia Corinthiana” (2009). Texto adaptado.
Na segunda seção, o enunciador, para representar a difícil relação entre negros e brancos, mediada pelo futebol, lança mão de uma imagem, o trem. Assinale a opção que reúne somente expressões que remetem, direta ou indiretamente, a trem.
Pastas
06