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Acesse GrátisQuestões de Português - Gramática
Questão 4 6732072
UECE 1ª Fase 2022Texto
O LEGADO FEMININO NAS OLIMPÍADAS DE TÓQUIO
Definitivamente, as mulheres
deixaram sua marca nas Olimpíadas de
Tóquio, que se encerram neste domingo. Elas
se destacaram desde a abertura dos Jogos,
[5] com a escolha da japonesa Naomi Osaka,
uma tenista negra, para acender a pira
olímpica, em uma edição com participação
recorde de atletas femininas: 48,8% do total.
Essas atletas, das mais diferentes
[10] nacionalidades, não só encantaram o mundo
com suas conquistas históricas e quebras de
recordes, como também jogaram luz sobre as
discriminações, preconceitos e o sexismo ao
qual ainda hoje muitas delas são submetidas,
[15] seja no esporte ou em tantas outras áreas.
GAROTAS DOURADAS
As atletas brasileiras, em especial,
voltam para a casa podendo comemorar o
maior número de pódios em uma única
[20] edição dos jogos, desde que a nadadora
Maria Lenk entrou para a história nacional
como a 1ª mulher brasileira a participar de
uma Olimpíada em 1932.
Uma trajetória que começou com a
[25] dança da nossa ‘Fadinha do Skate’? A
maranhense Rayssa Leal, de apenas 13 anos
de idade, a mais jovem atleta brasileira a
subir no pódio olímpico até hoje. Garantiu a
prata no ‘skate street’, uma das novas
[30] modalidades olímpicas que fizeram sua
estreia em Tóquio.
Em seguida, veio Rebeca Andrade, 1ª
ginasta brasileira a ganhar uma medalha
olímpica. Na verdade, ela fez história em
[35] dose dupla: com 1 medalha de ouro no salto
e outra prata no individual geral. O que lhe
garantiu o merecido convite para ser a porta-
bandeira do Brasil no encerramento dos
Jogos de Tóquio.
[40] Como ficar indiferente ao ouro
olímpico de Ana Marcela Cunha na maratona
aquática ou da dupla Martine Grael e Kahena
Kunze, amigas de infância e, agora,
bicampeãs olímpicas na classe 49er FX da
[45] vela?
Cabe ainda uma reverência à seleção
feminina de vôlei, que conseguiu chegar à
final, a despeito do baque sofrido com a
perda de uma de suas principais jogadoras,
[50] flagrada em exame antidoping na reta final
da disputa. Aplausos também à garra de
Beatriz Ferreira na busca de um ouro inédito
para o boxe feminino.
Medalhistas essas que ajudaram o
[55] Brasil a ter, em Tóquio, o seu melhor
desempenho em Olimpíadas, superando as
19 conquistadas no Rio de Janeiro em 2016.
Das 21 medalhas trazidas na
bagagem de volta para casa, 9 foram
[60] conquistadas por elas, refletindo o equilíbrio
entre homens e mulheres na composição da
delegação brasileira que desembarcou este
ano no Japão.
MUITO ALÉM DA PARIDADE
[65] Mas a pauta levantada pelas atletas
femininas desta edição olímpica foi muito
além da bem-vinda paridade de gênero, que
será adotada a partir dos Jogos de Paris em
2024.
[70] A ginasta norte-americana Simone
Biles, por exemplo, chegou ao Japão em
busca de um recorde de 6 medalhas de ouro,
o que a tornaria a atleta olímpica mais bem-
sucedida de todos os tempos. Acabou
[75] voltando para os Estados Unidos com uma
prata e um bronze, o suficiente para se
consagrar como a mulher negra mais
vitoriosa da história olímpica da ginástica
artística.
[80] Fora da arena olímpica, Biles ainda
deflagrou o debate mundial sobre a saúde
mental de atletas de alto rendimento. Isso,
após ela abandonar parte das provas que
disputaria e expor publicamente que estava
[85] lidando com twisties, uma espécie de
bloqueio mental que desorienta atletas em
movimentos que desafiam a gravidade.
PROTESTO CONTRA O SEXISMO
Já a equipe de ginastas da Alemanha
[90] marcou posição com a opção das atletas de
usar macacões até o tornozelo em vez dos
tradicionais collants, em protesto contra a
sexualização da ginástica artística feminina.
Um posicionamento político que
[95] reforça a discussão aberta, durante o último
campeonato europeu de handebol, sobre
como o sexismo se reflete no controle dos
uniformes de atletas. Na ocasião, a equipe
feminina da Noruega foi multada em 1,5 mil
[100] euros ao trocar o biquíni pelo short,
permitido apenas para homens, na
modalidade de praia.
MÃES OLÍMPICAS
A meio-fundista queniana Faith
[105] Kipyegon foi outra a fazer história em Tóquio,
ao vencer a prova dos 1.500 metros feminino
e bater o recorde olímpico que resistia desde
os Jogos de Seul, em 1988. E de quebra,
ainda deu uma resposta dourada àqueles que
[110] ela se afastou por 1 ano das pistas, em 2017,
para ser mãe.
Um enredo parecido com o
enfrentado por Allyson Felix, que conquistou
sua 10ª medalha em Tóquio e se igualou a
[115] Carl Lewis como a maior medalhista olímpica
do atletismo dos Estados Unidos. Ela já havia
ultrapassado a marca do ex-velocista
jamaicano Usain Bolt, em 2019, e se tornado
a maior medalhista da história em
[120] Campeonatos Mundiais, apenas 10 meses
após o nascimento da filha.
Aliás, quando engravidou da filha,
Felix indignou-se quando seus patrocinadores
propuseram a redução de 70% dos seus
[125] ganhos. Não só expôs publicamente a
discriminação contra atletas grávidas e mães,
como liderou uma campanha nos Estados
Unidos, que aboliram contratos deste tipo no
país. Fica assim a lição dessas maravilhosas
[130 ] mulheres olímpicas, que nos remetem a
imagens incríveis como a protagonizada pela
atleta holandesa Sifan Hassan, que caiu, se
levantou e venceu uma eliminatória para a
prova dos 1.500 m do atletismo feminino.
VASCONCELOS, ADRIANA. O LEGADO FEMININO NAS OLIMPÍADAS DE TÓQUIO. Disponível em https://www.poder360.com.br/opiniao/olimpiada/o-legadofeminino-nas-olimpiadas-de-toquio-escreve-adrianavasconcelos. Acesso em 16 de agosto de 2021. (Texto adaptado.)
Na expressão “GAROTAS DOURADAS” (linha 16), a palavra destacada é exemplo de
Questão 12 5451525
FAAP 2020Os versos abaixo são de Gregório de Matos. Leia-os para responder à questão.
“O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.”
Fica evidente nesses versos uma característica da linguagem barroca.
Assinale-a.
Questão 3 601867
UFN Verão 2018FALTA DE EDUCAÇÃO
A violência na escola é apenas uma extensão da violência fora dela – e a violência fora dela é a expressão de um país socialmente injusto, no qual acesso à educação de qualidade é um privilégio, não um direito.
Luiz Ruffato
30 AGO 2017 - 21:53 CEST
A imagem da professora Marcia Friggi com o rosto ensanguentado, após ter sido agredida por um aluno de 15 anos dentro da escola em Indaial, cidade catarinense de 55 mil habitantes, é emblemática da falência não do nosso sistema de ensino, mas da sociedade como um todo. O Brasil está doente, severamente doente, e assistimos apáticos a nossa própria agonia. A inacreditável proposta para resolução do problema, feita pelo pré- candidato à Presidência da República, deputado Jair Bolsonaro, de militarização do ensino e nomeação de um general no Ministério da Educação, é só mais um sintoma do nosso adiantado estado patológico.
O Brasil lidera o ranking mundial de violência escolar. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), utilizando dados de 2013, 12,5% dos professores disseram ter sido vítima de agressões verbais ou intimidações de alunos pelo menos uma vez por semana – um índice quatro vezes maior que a média dos 34 países pesquisados. Outro estudo, divulgado pelo portal QEdu – ligado à Fundação Lemann – indica que 55% dos diretores de escolas públicas já presenciaram agressões físicas ou verbais de alunos contra funcionários e professores. E entre os próprios estudantes a violência é ainda maior: 76% dos diretores relataram ter havido agressão verbal ou física entre alunos dentro do ambiente escolar.
A questão é que as escolas públicas brasileiras não são lugares apropriados para a aprendizagem. Os alunos, em todas as etapas do ensino, assistem aulas em prédios mal conservados ou depredados, ministradas por professores desestimulados – que, em número insuficiente, recebem salários baixos e contam com poucos recursos didáticos. Somente 4,5% do total das escolas possuem os itens de infraestrutura previstos no Plano Nacional de Educação. Faltam laboratórios de pesquisa, faltam quadras esportivas, faltam bibliotecas, faltam computadores, falta merenda adequada, falta esgotamento sanitário e, acima de tudo, falta interesse dos pais em participar da vida escolar dos filhos. E todos, alunos, funcionários e professores, vivem acossados pela violência urbana, modalidade em que ocupamos o nono lugar no ranking mundial.
O resultado desse descaso pode ser aferido no ranking de qualidade de educação da OCDE, que avalia o conhecimento de alunos na faixa de 15 anos em matemática, leitura e ciências: o Brasil ocupa o vergonhoso 60º lugar, numa lista de 76 países. Se somarmos o número de analfabetos funcionais (27% da população) às pessoas com alfabetização rudimentar (42%), teremos que apenas 31% dos brasileiros, ou seja, um em cada três, possuem domínio da leitura, da escrita e das operações matemáticas. Não por acaso, cerca de 19% do total dos alunos em idade escolar (nos ensinos fundamental e médio) estão matriculados em escolas privadas, em tese, de melhor qualidade.
A derrocada de nosso sistema público de ensino foi iniciada justamente no período da ditadura militar. Os gastos da União com educação, previstos no governo João Goulart em 12% do Produto Interno Bruto (PIB), diminuíram de maneira acentuada sob o governo militar: 7,6% em 1970, 4,31% em 1975 e 5% em 1978 – percentual que hoje se encontra em 5,7%. Esse baixo investimento influenciou diretamente na qualidade do ensino, conforme a professora Renata Machado de Assis, no artigo “A Educação brasileira durante o período militar: a escolarização dos 7 aos 14 anos”. “Os gastos do Estado com a educação foram insuficientes e declinaram, o que interferiu: na estrutura física das escolas, que apresentaram condições precárias de uso; no número de professores leigos, que aumentou entre 1973 e 1983; e nos salários e condições de trabalho dos professores, que sofreram um crescente processo de deterioração”.
O estado de degradação do sistema público de ensino é apenas mais um componente do desprezo que votamos ao patrimônio comum. Os índices de violência dentro do ambiente escolar, verificado nas escolas públicas, não se repetem nas escolas privadas – aliás, quanto mais elitistas, menos afeitas a distúrbios de qualquer natureza. Reduzir o problema a uma questão disciplinar, como arroga o deputado Jair Bolsonaro, é ignorar o abismo que separa ricos e pobres no Brasil, ou melhor, é aprofundá-lo. A violência na escola é apenas uma extensão da violência fora dela – e a violência fora dela é a expressão de um país socialmente injusto, no qual acesso à educação de qualidade é um privilégio, não um direito. No fundo, as nossas lideranças políticas, sejam de que cores forem, não querem transformar o sistema de ensino, porque não querem mudanças na sociedade. É mais fácil manter a população refém da ignorância para se perpetuar no poder.
(Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/30/opinion/1504096899_970922.html)
No trecho "O Brasil está doente, severamente doente (...)", encontramos figuras de linguagem identificadas como
Questão 40 6407628
EFOMM 2016FELICIDADE CLANDESTINA
Clarice Lispector
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando-me mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo.
Nessa passagem a figura de estilo que aparece sublinhada é
Questão 7 380122
UFAM PSC 2016/2Leia o trecho a seguir para responder à questão:
Os gatos têm a má fama de serem ariscos, esquivos, indiferentes; de não darem a mínima para o seu dono e de serem altivos até a intolerável arrogância. Em síntese, seriam verdadeiras ilhas. Por que tantos atributos negativos ao membro mais inofensivo da família dos felídeos? Talvez pela independência desses bichos. Por isso, muita gente os despreza e mesmo os detesta. Os gatos não fazem festa nem estardalhaço, não são excessivamente carentes de afeto, podem dormir e sonhar por um século e esquecer o mundo ao redor. Um dia, encontrei um bichaninho perto do edifico em que morava. Levei-o para o apartamento, onde foi um hóspede discreto. Curioso, olhava-me quando eu tomava café, segurando a asa da xícara. Esqueci-me de dizer: chamava-se Leon e era um gato de grande caráter.
(Milton Hatoum, “Elegia a um felino”, no livro Um solitário à espreita, p. 209-210. Texto adaptado.)
Observe os trechos a seguir: “seriam verdadeiras ilhas”, “podem dormir e sonhar por um século” e “olhavame quando eu tomava café, segurando a asa da xícara”. Neles estão expressas, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem:
Questão 4 388649
IFSulDeMinas 2016/2Texto
Querem assassinar o gênero
O ato violento de exclusão da palavra “gênero” do vocabulário legislativo não será suficiente para impedir novos enfrentamentos às opressões
por Maíra Kubík Mano — publicado 25/02/2016 02h35
Na semana passada, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou um destaque, proposto por um dos partidos políticos brasileiros, à Medida Provisória 696/15, para retirar “a perspectiva de gênero” do novo ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos. Assim, graças aos nobres congressistas, podemos ter um ministério das Mulheres que, ao menos formalmente, não reconhecerá as desigualdades entre homens e mulheres.
Agora eu pergunto: como explicar a dupla jornada de trabalho a que estamos submetidas – dentro e fora de casa – sem entender que existe uma diferenciação hierárquica, construída socialmente, que divide responsabilidades e coloca as mulheres como principais encarregadas de lavar a louça, limpar a casa e cuidar de crianças e idosos etc.?
Para traçar um paralelo, é como se “raça/etnia” e “geração” não fossem variáveis legítimas para analisar nossas relações sociais. Pergunto novamente: como refletir sobre os absurdos índices de assassinatos no Brasil sem enxergar que atingem uma maioria de pessoas jovem, negras e que vem de bairros periféricos?
É simplesmente impossível. É escamotear a realidade.
Afinal, por que querem banir do marco legal uma categoria de análise? Qual é o problema com "gênero"? Bom, ao dizermos que há uma relação de gênero, percebemos, com certa facilidade, que existe um posicionamento privilegiado nessa relação, o do homem, branco, heterossexual, cisgênero, que é o sujeito hegemônico em nossa sociedade. Isso mexe com nossa objetividade e nossas subjetividades, contribuindo para desnaturalizar as opressões.
E os “de cima”, como diria Florestan Fernandes, obviamente não querem mudar sua confortável posição. Pensam então ser preciso impedir o “gênero” de existir. Querem assassiná-lo e toda a pluralidade que vem com a possibilidade de reflexão.
Mas isso, nobres congressistas, é apenas tapar o sol com peneira. O ato violento de exclusão da palavra “gênero” do vocabulário legislativo, perpetrado consecutivamente nos últimos anos, não será suficiente para impedir novas existências, problematizações, rompimentos e enfrentamentos às opressões. As possibilidades se espalham mais rápido que do que vocês conseguem reagir. Assim nos mostraram os feminismos do passado.
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/querem-assassinar-o-genero. Adaptado.
“Assim, graças aos nobres congressistas, podemos ter um ministério das Mulheres que, ao menos formalmente, não reconhecerá as desigualdades entre homens e mulheres.” Que figura de linguagem foi utilizada nesse fragmento: