Questões de Português - Gramática - Morfologia - Classes de palavras
670 Questões
Questão 8 6666808
FEMA 2022Leia o trecho do ensaio “Ondulações paranoides de uma época”, de Pascal Dibie, para responder à questão.
Meu fascínio pela juventude atual, movida por aquilo que podemos chamar de natureza cibernética, está ligado ao fato de que ela nos escapa sem precisar fugir nem se esconder. Os jovens são capazes de partir, sob nossos olhos, para lugares projetados apenas por eles, aos quais não temos verdadeiramente acesso. Nós, os adultos de hoje, não temos disciplina e, talvez, nem mesmo concentração para entrar na medida cibernética. Isso não impede que a informática seja para as nossas crianças um prolongamento indispensável ao seu equilíbrio e à apreensão do mundo no qual elas vivem.
Parece evidente que as crianças de hoje não repetem mais os nossos jogos em grupo; jogos que se pareciam com aqueles que nossos pais tinham eles mesmos repetido de seus pais: bichinhos de massa de modelar, vida da fazenda, soldadinhos, jogos de montar, trens elétricos, etc., enfim, todos os brinquedos saídos do neolítico, explicitamente desinteressantes para crianças de 4 ou 5 anos que já usam o computador só com um dedo.
Idem para nossas exigências domésticas: as crianças parecem cada vez menos compreender as razões que nos levam a sentar à mesa em horas fixas (isso se chamava “comensalidade”), a mandá-las dormir cedo (era uma questão de higiene de vida). Enfim, as crianças resistem às nossas tentativas de impor a elas um ritmo de vida familiar que fazia parte da normalidade que limitava nossa própria infância; ritmos (e pais) um pouco tirânicos — falo dos anos 1960.
Elas entraram em um futuro quase alcançável, no qual as noções de tempo e de espaço foram definitivamente embaralhadas. As “cibercrianças” inventam novas formas de solidariedade e organizam-se em comunidades lúdicas numa escala que chega a ser planetária. No universo dos jogos em rede, as crianças ficam sentadas durante horas para resolver um enigma e, de passagem, livrar-se de armadilhas, tomar decisões a todo instante, preencher vazios de informação, enfim, explorar a lógica da simulação. Temos de reconhecer que, durante tais atividades, essas crianças desenvolvem operações cognitivas extremamente complexas, certamente mais complexas do que aquelas que tínhamos de resolver na idade delas.
(https://artepensamento.com.br. Adaptado.)
Mantêm-se a correção gramatical e a coerência caso se substitua o trecho sublinhado em “as crianças parecem cada vez menos compreender as razões que nos levam a sentar à mesa em horas fixas” (3º parágrafo) pelo que se encontra em:
Questão 8 6761269
UFRR 3° Etapa 2021Em relação à frase “... Macunaíma correu pela praia e pranteou-se.”, é CORRETO afirmar que:
Questão 22 6088157
ENEM 1° Dia (Prova Azul) 2021Os linguistas têm notado a expansão do tratamento informal. “Tenho 78 anos e devia ser tratado por senhor, mas meus alunos mais jovens me tratam por você”, diz o professor Ataliba Castilho, aparentemente sem se incomodar com a informalidade, inconcebível em seus tempos de estudante. O você, porém, não reinará sozinho. O tu predomina em Porto Alegre e convive com o você no Rio de Janeiro e em Recife, enquanto você é o tratamento predominante em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Salvador. O tu já era mais próximo e menos formal que você nas quase 500 cartas do acervo on-line de uma instituição universitária, quase todas de poetas, políticos e outras personalidades do final do século XIX e início do XX.
Disponível em hap irevatapesquisa fapesp br Acesso em 21 aér 2015 (adaptado)
No texto, constata-se que os usos de pronomes variaram ao longo do tempo e que atualmente têm empregos diversos pelas regiões do Brasil.
Esse processo revela que
Questão 4 5948913
PUC-MG Medicina 2021/2A importância do ato de ler
Paulo Freire
Rara tem sido a vez, ao longo de tantos anos de prática pedagógica, por isso política, em que me tenho permitido a tarefa de abrir, de inaugurar ou de encerrar encontros ou congressos. Aceitei fazê-la agora, da maneira, porém, menos formal possível. Aceitei vir aqui para falar um pouco da importância do ato de ler.
Me parece indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo do momento mesmo em que me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processo em que me inseri enquanto ia escrevendo este texto que agora leio, processo que envolvia uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, eu me senti levado - e até gostosamente - a "reler" momentos fundamentais de minha prática, guardados na memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo.
Ao ir escrevendo este texto, ia "tomando distância” dos diferentes momentos em que o ato de ler se veio dando na minha experiência existencial. Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que me movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da “palavramundo”.
A retomada da infância distante, buscando a compreensão do meu ato de “ler” o mundo particular em que me movia - e até onde não sou traído pela memória -, me é absolutamente significativa. Neste esforço a que me vou entregando, re-crio, e revivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra. Me vejo então na casa mediana em que nasci, no Recife, rodeada de árvores, algumas delas como se fossem gente, tal a intimidade entre nós - à sua sombra brincava e em seus galhos mais dóceis à minha altura eu me experimentava em riscos menores que me preparavam para riscos e aventuras maiores.
A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço - o sítio das avencas de minha mãe -, o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu primeiro mundo. [...] Os "textos", as "palavras”, as "letras” daquele contexto - em cuja percepção experimentava e, quanto mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber - se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão eu ia apreendendo no meu trato com eles nas minhas relações com meus irmãos mais velhos e com meus pais.
Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto se encarnavam no canto dos pássaros - o do sanhaçu, o do olha-pro-caminho-quem-vem, o do bem-te-vi, o do sabiá; na dança das copas das árvores sopradas por fortes ventanias que anunciavam tempestades, trovões, relâmpagos; as águas da chuva brincando de geografia: inventando lagos, ilhas, rios, riachos. Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto se encarnavam também no assobio do vento, nas nuvens do céu, nas suas cores, nos seus movimentos; na cor das folhagens, na forma das folhas, no cheiro das flores - das rosas, dos jasmins -, no corpo das árvores, na casca dos frutos. Na tonalidade diferente de cores de um mesmo fruto em momentos distintos. [...]
Daquele contexto faziam parte igualmente os animais: os gatos da família, a sua maneira manhosa de enroscar-se nas pernas da gente, o seu miado, de súplica ou de raiva; Joli, o velho cachorro negro de meu pai, o seu mau humor toda vez que um dos gatos incautamente se aproximava demasiado do lugar em que se achava comendo [...].
Daquele contexto - o do meu mundo imediato - fazia parte, por outro lado, o universo da linguagem dos mais velhos, expressando as suas crenças, os seus gostos, os seus receios, os seus valores. Tudo isso ligado a contextos mais amplos que o do meu mundo imediato e de cuja existência eu não podia sequer suspeitar. No esforço de re-tomar a infância distante, a que já me referi, buscando a compreensão do meu ato de ler o mundo particular em que me movia, permitam-me repetir, re-crio, re-vivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra. E algo que me parece importante, no contexto geral de que venho falando, emerge agora insinuando a sua presença no corpo destas reflexões. [...]
Mas, é importante dizer, a “leitura” do meu mundo, que me foi sempre fundamental, não fez de mim um menino antecipado em homem, um racionalista de calças curtas. A curiosidade do menino não iria distorcer-se pelo simples fato de ser exercida, no que fui mais ajudado do que desajudado por meus pais. E foi com eles, precisamente, em certo momento dessa rica experiência de compreensão do meu mundo imediato, sem que tal compreensão tivesse significado malquerenças ao que ele tinha de encantadoramente misterioso, que eu comecei a ser introduzido na leitura da palavra.
A decifração da palavra fluía naturalmente da “leitura” do mundo particular. Não era algo que se estivesse dando superpostamente a ele. Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior dos meus pais. O chão foi o meu quadro-negro; gravetos, o meu giz. Por isso é que, ao chegar à escolinha particular de Eunice Vasconcelos [...] já estava alfabetizado. Eunice continuou e aprofundou o trabalho de meus pais. Com ela, a leitura da palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a "leitura" do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da “palavramundo”.
Atente para o excerto:
Rara tem sido a vez, ao longo de tantos anos de prática pedagógica, por isso política, em que me tenho permitido a tarefa de abrir, de inaugurar ou de encerrar encontros ou congressos. Aceitei fazê-la agora, da maneira, porém, menos formal possível. Aceitei vir aqui para falar um pouco da importância do ato de ler.
Sobre ele, a afirmação CORRETA encontra-se na opção:
Questão 9 5636253
FAMERP 2021Para responder à questão, leia o trecho do livro O mundo assombrado pelos demônios, de Carl Sagan, publicado originalmente em 1995.
A ciência e a tecnologia não são apenas cornucópias1 despejando dádivas sobre o mundo. Os cientistas não só conceberam as armas nucleares; eles também pegaram os líderes políticos pela lapela, argumentando que a sua nação tinha que ser a primeira a fabricar uma dessas armas. E assim eles produziram mais de 60 mil armas nucleares. Durante a Guerra Fria, os cientistas nos Estados Unidos, na União Soviética, na China e em outras nações estavam dispostos a expor os seus conterrâneos à radiação — na maioria dos casos, sem o conhecimento deles — a fim de se preparar para a guerra nuclear. A nossa tecnologia produziu a talidomida, os CFCs, o agente laranja, os gases que atacam o sistema nervoso, a poluição do ar e da água, as extinções de espécies, e indústrias tão poderosas que podem arruinar o clima do planeta. Aproximadamente metade dos cientistas na Terra dedica parte de seu tempo de trabalho para fins militares. Embora alguns cientistas ainda sejam vistos como estranhos ao sistema, criticando corajosamente os males da sociedade e dando os primeiros avisos sobre catástrofes tecnológicas potenciais, muitos são considerados oportunistas submissos ou uma fonte complacente de lucros empresariais e de armas de destruição em massa - não importa quais sejam as consequências a longo prazo. Os perigos tecnológicos que a ciência apresenta, seu desafio implícito ao conhecimento recebido e sua visível dificuldade são razões para que as pessoas, desconfiadas, a evitem. Existe uma razão para as pessoas ficarem nervosas a respeito da ciência e da tecnologia.
(O mundo assombrado pelos demônios, 2006. Adaptado.)
1cornucópia: vaso em forma de chifre, com frutas e flores que dele extravasam profusamente, antigo símbolo da fertilidade, riqueza, abundância.
Retoma um termo mencionado anteriormente no texto a palavra sublinhada em:
Questão 81 5945428
PUC-SP 2020Tecnologia pode tirar ciências humanas da Idade Média, diz Pierre Lévy
Raphael Hernandes
Folha de S.Paulo, 10 de setembro de 2019. Caderno Ilustrada, p. C6
SÃO PAULO – Quando Pierre Lévy, 63, começou a escrever sobre cibercultura, a internet era mato. O filósofo é dos pioneiros a tratar da relação entre sociedade e computador. Para ele, as ciências humanas precisam passar por uma revolução, como passaram as naturais, e a tecnologia é a chave para atingir um “patamar mínimo”. “Nas humanidades ainda estamos na Idade Média.”
“Em vez de desenvolver máquinas inteligentes, deveríamos usar os computadores para nos tornar mais inteligentes”, diz. O filósofo quer reorganizar o conhecimento. Trabalha numa linguagem que faria humanos conversarem com máquinas sem o intermédio da programação. Em 2020, deve lançar um livro explicando a gramática dessa língua (sem data e editora definidos).
Lévy nasceu na Tunísia, mas desenvolveu carreira na França. Ele falou à Folha antes de vir ao Brasil, onde participa do Fronteiras do Pensamento, em Salvador, nesta terça-feira (10), com ingressos esgotados.
• Pergunta 1: Vivemos em um mundo conectado. O que isso muda para a sociedade?
A chegada de computadores pessoais, depois, a internet, o smartphone e por aí vai, transformam o sistema de comunicação da nossa sociedade.
Em nosso novo sistema de comunicação toda informação é acessível e onipresente. As pessoas estão interconectadas, o que é ainda mais importante. E temos robôs capazes de automaticamente transformar símbolos, como fazer traduções ou cálculos estatísticos. Isso é novo. Aconteceu em apenas 20 ou 30 anos. É muito difícil pensar no que serão as implicações dessa mudança na comunicação, estamos só no começo dessa nova civilização.
• Pergunta 2: O que é inteligência coletiva?
É algo muito velho, de antes da espécie humana. Abelhas acumulam mel para si e para a comunidade. Formigas conseguem sinalizar onde estão as coisas boas para comer. Comunicação, coordenação e colaboração entre animais sociais é frequente. Isso é ainda mais forte entre mamíferos e primatas. Temos essa inteligência coletiva, mas temos algo que os outros animais não têm: linguagem.
Ela permite que acumulemos conhecimento de geração para geração, e serve para criar novas formas de coordenar e cooperar, mais complexas do que no mundo animal.
Cada vez que somos capazes de fortalecer nossa habilidade linguística, agora, com a comunicação digital, aumentamos a inteligência coletiva.
É quase o oposto de inteligência artificial. Não sou contra, mas o objetivo geral deveria ser inteligência coletiva.
Há muita memória em comum à disposição. Podemos aumentá-la [com o conteúdo disponível digitalmente]. Podemos aumentar nossa habilidade de coordenar e colaborar, por exemplo, pelo uso de redes sociais. Não só para o público geral, mas também para empresas, governos.
• Pergunta 3: Inteligência coletiva está amarrada à internet?
A biblioteca era a forma antiga de memória coletiva. A internet é a nova forma. Em vez de ter palavras escritas em papel, você tem códigos que não são totalmente materiais, mas que têm que estar em um computador em algum lugar. Falta habilidade e educação para tirar o melhor disso.
Pergunta 4: E o que seria tirar o melhor dessas possibilidades?
Você tem de aprender a controlar ou gerenciar sua atenção. Precisa poder categorizar dados corretamente, avaliar a confiança que pode dar a fontes de informação, ser capaz de comparar diferentes fontes. E aprender a se comportar numa inteligência coletiva para trabalhar com outros a fim de transformar todos esses dados em conhecimento.
• Pergunta 5: E onde entra o big data?
É a nova forma de memória. Hoje, temos toda a realidade representada por um mar de dados. Tudo gera dados. Agora, há o problema de o que faremos com isso e como extraímos conhecimento útil deles.
E é toda a metodologia científica que está em jogo aqui. Não acho que a estatística sozinha seja o que a gente precise. Precisamos categorizar todos os dados com hipóteses, modelos causais e estatística para testar nossas hipóteses.
É uma reprodução do método científico, mas para todos. É só o começo da transformação de dados em conhecimento.
• Pergunta 6: E onde a linguagem artificial IEML (sigla em inglês para Metalinguagem da Economia da Informação) se encaixa?
IEML é uma língua, que tem a característica de ter semântica computável e de ter significado unívoco.
Hoje, os algoritmos são capazes de entender a linguagem natural, mas só com cálculos estatísticos. Com IEML o significado é acessível e pode ser usado como sistema semântico universal. Ele faria a análise de big data e a extração de conhecimento de dados muito mais fácil do que quando os dados estão categorizados em linguagem natural. Porque línguas naturais são irregulares e diversas.
• Pergunta 7: Uma linguagem para fazer a conexão entre humanos e máquinas?
Exatamente. Criada para ser uma linguagem que máquinas podem entender. Mas pode ser traduzida em línguas naturais para que humanos entendam, diferente de uma linguagem de programaçãoA grande revolução científica que está na nossa frente é nas ciências humanas. Já fizemos a revolução das ciências naturais, mas para as humanidades estamos na Idade Média. É só por meio do uso dos dados que estão disponíveis, com todo o poder computacional e usando ferramentas como IEML para categorizar os dados, e expressar fatos e teorias de forma rigorosa, que poderíamos alcançar um patamar mínimo no tratamento científico das humanidades.
• Pergunta 8: Como o sr. vê o futuro dessa sociedade digital e conectada?
Duas coisas não vão acontecer. Primeiro, todo problema ser resolvido pela tecnologia. Isso nunca vai acontecer. Sempre vão surgir novos problemas. A segunda é que robôs não vão assumir o poder. É simplesmente impossível. Nossa civilização vai evoluir de forma que é difícil de prever.
[Adaptado.]
De acordo com a ordem em que são empregados, indique a que se referem os pronomes destacados no texto.
Pastas
06