Questões de Português - Gramática - Sintaxe - Discurso Direto
97 Questões
Questão 3 9141232
FCMSCSP - Santa Casa Medicina 2023Leia o início do conto “Troca de datas”, de Machado de Assis, para responder à questão.
— Deixa-te de partes, Eusébio; vamos embora; isto não é bonito. Cirila...
— Já lhe disse o que tenho de dizer, tio João, respondeu Eusébio. Não estou disposto a tornar à vida de outro tempo. Deixem-me cá no meu canto. Cirila que fique...
— Mas, enfim, ela não te fez nada.
— Nem eu digo isso. Não me fez coisa nenhuma; mas... para que repeti-lo? Não posso aturá-la.
— Virgem Santíssima! Uma moça tão sossegada! Você não pode aturar uma moça, que é até boa demais?
— Pois, sim; eu é que sou mau; mas deixem-me.
Dizendo isto, Eusébio caminhou para a janela, e ficou olhando para fora. Dentro, o tio João, sentado, fazia circular o chapéu de Chile no joelho, fitando o chão com um ar aborrecido e irritado. Tinha vindo na véspera, e parece que com a certeza de voltar à fazenda levando o prófugo Eusébio. Nada tentou durante a noite, nem antes do almoço. Almoçaram; preparou-se para dar uma volta na cidade, e, antes de sair, meteu ombros ao negócio. Vã tentativa! Eusébio disse que não, e repetiu que não, à tarde, e no dia seguinte. O tio João chegou a ameaçá-lo com a presença de Cirila; mas a ameaça não surtiu melhor efeito, porque Eusébio declarou positivamente que, se tal sucedesse, então é que ele faria coisa pior. Não disse o que era, nem era fácil achar coisa pior do que o abandono da mulher, a não ser o suicídio ou o assassinato; mas vamos ver que nenhuma destas hipóteses era sequer imaginável. Não obstante, o tio João teve medo do pior, pela energia do sobrinho, e resignou-se a tornar à fazenda sem ele.
De noite, falaram mansamente da fazenda e de outros negócios de Piraí; falaram também da guerra, e da batalha de Curuzu, em que Eusébio entrara, e donde saíra sem ferimento, adoecendo dias depois. De manhã, despediram-se; Eusébio deu muitas lembranças para a mulher, mandou-lhe mesmo alguns presentes, trazidos de propósito de Buenos Aires, e não se falou mais na volta.
— Agora, até quando?
— Não sei; pretendo embarcar daqui a um mês ou três semanas, e depois, não sei; só quando a guerra acabar.
II
Há uma porção de coisas que estão patentes ou se deduzem do capítulo anterior. Eusébio abandonou a mulher, foi para a guerra do Paraguai, veio ao Rio de Janeiro, nos fins de 1866, doente, com licença. Volta para a campanha. Não odeia a mulher, tanto que lhe manda lembranças e presentes. O que se não pode deduzir tão claramente é que Eusébio é capitão de voluntários; é capitão, tendo ido tenente; portanto, subiu de posto, e, na conversa com o tio, prometeu voltar coronel.
(Contos: uma antologia, 1998.)
O narrador manifesta-se explicitamente na narrativa no seguinte trecho:
Questão 8 6706574
UNIFUNEC 2022Leia os dois primeiros parágrafos do conto “Primeiro de Maio”, de Mário de Andrade, para responder a questão.
No grande dia Primeiro de Maio, não eram bem seis horas e já o 35 pulara da cama, afobado. Estava bem disposto, até alegre, ele bem afirmara aos companheiros da Estação da Luz que queria celebrar e havia de celebrar. Os outros carregadores mais idosos meio que tinham caçoado do bobo, viesse trabalhar que era melhor, trabalho deles não tinha feriado. Mas o 35 retrucava com altivez que não carregava mala de ninguém, havia de celebrar o dia deles. E agora tinha o grande dia pela frente.
Dia dele... Primeiro quis tomar um banho pra ficar bem digno de existir. A água estava gelada, ridente, celebrando, e abrira um sol enorme e frio lá fora. Depois fez a barba. Barba era aquela penuginha meio loura, mas foi assim mesmo buscar a navalha dos sábados, herdada do pai, e se barbeou. Foi se barbeando. Nu só da cintura pra cima por causa da mamãe por ali, de vez em quando a distância mais aberta do espelhinho refletia os músculos violentos dele, desenvolvidos desarmoniosamente nos braços, na peitaria, no cangote, pelo esforço quotidiano de carregar peso. O 35 tinha um ar glorioso e estúpido. Porém ele se agradava daqueles músculos intempestivos, fazendo a barba.
(Contos novos, 1997.)
“Mas o 35 retrucava com altivez que não carregava mala de ninguém, havia de celebrar o dia deles.” (1º parágrafo)
Transposta para o discurso direto e mantendo o sentido original, a fala do “35” mudaria para:
Questão 17 9527463
UnB - PAS 2021/3Maria
Maria estava parada há mais de meia hora no ponto de ônibus. Estava cansada de esperar. Se a distância fosse menor, teria ido a pé. Era preciso mesmo ir se acostumando com a caminhada. Os ônibus estavam aumentando tanto! Além do cansaço, a sacola estava pesada. No dia anterior, no domingo, havia tido festa na casa da patroa. Ela levava para casa os restos. O osso do pernil e as frutas que tinham enfeitado a mesa. Ganhara as frutas e uma gorjeta. O osso a patroa ia jogar fora. Estava feliz, apesar do cansaço. A gorjeta chegara numa hora boa. Os dois filhos menores estavam muito gripados. Precisava comprar xarope e aquele remedinho de desentupir o nariz. Daria para comprar também uma lata de Toddy. As frutas estavam ótimas e havia melão. As crianças nunca tinham comido melão. Será que os meninos gostavam de melão?
A palma de umas de suas mãos doía. Tinha sofrido um corte, bem no meio, enquanto cortava o pernil para a patroa. Que coisa! Faca-laser corta até a vida!
Quando o ônibus apontou lá na esquina, Maria abaixou o corpo, pegando a sacola que estava no chão entre as suas pernas. O ônibus não estava cheio, havia lugares. Ela poderia descansar um pouco, cochilar até a hora da descida.
Conceição Evaristo. Olhos d’água.
Considerando esse fragmento do conto Maria, de Conceição Evaristo, julgue o item a seguir.
No trecho “Será que os meninos gostavam de melão?” (último período do primeiro parágrafo), a autora emprega o discurso indireto livre para representar a voz da personagem.
Questão 5 4060769
UNIVAG 2019/1Leia a crônica “Eloquência singular”, do escritor Fernando Sabino (1923-2004), para responder às questões de 02 a 05.
Mal iniciara seu discurso, o deputado embatucou:
— Senhor Presidente: eu não sou daqueles que…
O verbo ia para o singular ou para o plural? Tudo
indicava o plural. No entanto, podia perfeitamente ser o
[05] singular:
— Não sou daqueles que…
Não sou daqueles que recusam… No plural soava
melhor. Mas era preciso precaver-se contra essas arma-
dilhas da linguagem — que recusa? — ele que tão facil-
[10] mente caía nelas, e era logo massacrado com um aparte.
Não sou daqueles que… Resolveu ganhar tempo:
— …embora perfeitamente cônscio das minhas al-
tas responsabilidades como representante do povo nesta
Casa, não sou…
[15] Daqueles que recusa, evidentemente. Como é que
podia ter pensado em plural? Era um desses casos que
os gramáticos registram nas suas questiúnculas de por-
tuguês: ia para o singular, não tinha dúvida. Idiotismo de
linguagem, devia ser.
[20] — …daqueles que, em momentos de extrema gravi-
dade, como este que o Brasil atravessa…
Safara-se porque nem se lembrava do verbo que
pretendia usar:
— Não sou daqueles que…
[25] Daqueles que o quê? Qualquer coisa, contanto que
atravessasse de uma vez essa traiçoeira pinguela gra-
matical em que sua oratória lamentavelmente se havia
metido logo de saída. Mas a concordância? Qualquer
verbo servia, desde que conjugado corretamente, no sin-
[30] gular. Ou no plural:
— Não sou daqueles que, dizia eu — e é bom que
se repita sempre, senhor Presidente, para que possamos
ser dignos da confiança em nós depositada…
Intercalava orações e mais orações, voltando sempre
[35] ao ponto de partida, incapaz de se definir por esta ou
aquela concordância.
[...]
A concordância que fosse para o diabo. Intercalou
mais uma oração e foi em frente com bravura, disposto a
[40] tudo, afirmando não ser daqueles que…
— Como?
Acolheu a interrupção com um suspiro de alívio:
— Não ouvi bem o aparte do nobre deputado.
Silêncio. Ninguém dera aparte nenhum.
[45] — Vossa Excelência, por obséquio, queira falar mais
alto, que não ouvi bem — e apontava, agoniado, um dos
deputados mais próximos.
— Eu? Mas eu não disse nada…
— Terei o maior prazer em responder ao aparte do
[50] nobre colega. Qualquer aparte.
O silêncio continuava. Interessados, os demais de-
putados se agrupavam em torno do orador, aguardando
o desfecho daquela agonia, que agora já era, como no
verso de Bilac, a agonia do herói e a agonia da tarde.
[55] — Que é que você acha? – cochichou um.
— Acho que vai para o singular.
— Pois eu não: para o plural, é lógico.
O orador seguia na sua luta:
— Como afirmava no começo de meu discurso, se-
[60] nhor Presidente…
Tirou o lenço do bolso e enxugou o suor da testa.
Vontade de aproveitar-se do gesto e pedir ajuda ao pró-
prio Presidente da mesa: por favor, apura aí pra mim,
como é que é, me tira desta…
[65] — Quero comunicar ao nobre orador que o seu tem-
po se acha esgotado.
— Apenas algumas palavras, senhor Presidente,
para terminar o meu discurso: e antes de terminar, quero
deixar bem claro que, a esta altura de minha existência,
[70] depois de mais de vinte anos de vida pública…
E entrava por novos desvios:
— Muito embora… sabendo perfeitamente… os im-
perativos de minha consciência cívica… senhor Presi-
dente… e o declaro peremptoriamente… não sou daque-
[75] les que…
O Presidente voltou a adverti-lo de que seu tempo se
esgotara. Não havia mais por onde fugir:
— Senhor Presidente, meus nobres colegas!
Resolveu arrematar de qualquer maneira. Encheu o
[80] peito e desfechou:
— Em suma: não sou daqueles. Tenho dito.
Houve um suspiro de alívio em todo o plenário, as
palmas romperam. Muito bem! Muito bem! O orador foi
vivamente cumprimentado.
(A companheira de viagem, 1972.)
“O Presidente voltou a adverti-lo de que seu tempo se esgotara” (linhas 76-77)
Ao se adaptar este trecho para o discurso direto, o verbo “esgotara” assume a forma:
Questão 3 324572
UNIMONTES 3° Etapa 2017Leia o texto que se segue, a fim de responder à questão que a ele se refere ou que o toma como ponto de partida.
QUANDO IRÁ A MÁQUINA SUPERAR OS HUMANOS?
[1] [...] Atualmente, as máquinas só conseguem fazer aquilo para o que foram programadas. Para que
viessem a se tornar uma ameaça ou tão somente rebeldes, seria necessário que adquirissem autoconsciência.
Na prática, elas precisariam ser capazes de reescrever seu próprio código – a essência de seu “ser”.
Para alguns estudiosos, como o filósofo americano John Searle, da Universidade da Califórnia, o
[5] risco não existe: se de fato houver tamanha inteligência, ela estará automaticamente domada e limitada pela
própria arquitetura computacional. Para outros estudiosos, como Bostrom, é apenas questão de tempo para
que as máquinas se livrem de suas amarras.
O professor, que também tem formação em computação e física, está entusiasmado com o fato de
que o assunto tornou-se alvo de atenção, em especial dos últimos dois anos, desde que seu livro foi lançado,
[10] em 2014.
Na opinião de Bostrom, se as pessoas estiverem devidamente alertadas para os riscos, resta um
“desafio”: investir as energias numa solução construtiva para o “problema do controle”, como diz à Folha.
Ele afirma que seu objetivo é lançar as bases para que a colaboração entre indústria e academia se efetive e
possa guiar as pesquisas para o futuro, atentando para princípios morais humanos.
[15] Para ele, a superinteligência nos conduziria rapidamente a um estado de maturidade tecnológica no
qual “muitas coisas que hoje parecem ficção científica seriam possíveis”. Por exemplo: “Uma extrema
extensão do tempo de vida, a colonização do espaço, o upload de mentes em computadores e muitas outras
aplicações que não dependam de violar as leis da física e as limitações da matéria”.
Para que a superinteligência seja realmente usada para finalidades como as que elenca, é crucial
[20] resolver a questão do controle. “Uma vez resolvida, dependerá de escolhermos ou não direcionar a mira
para esses objetivos”, diz. [...]
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/04/1761289-quando-ira-a-maquina superar-os-humanos.shtml>. Acesso em: 14 set. 2017. Adaptado.
No segundo parágrafo do texto, podemos observar
Questão 25 80260
UNEMAT 2014/1''[...] Seo Priscílio apareceu, falou com seo Giovânio: se que estórias seriam aquelas, de um cavalo beber cerveja? Apurava com ele, apertava. Seo Giovânio permanecia muito cansado, sacudia devagar a cabeça, fungando o escorrido do nariz, até o toco do charuto; mas não fez mau rosto ao outro. Passou muito a mão na testa: - “Lei, quer ver?”. Saiu, para surgir com um cesto com as garrafas cheias, e uma gamela, nela despejou tudo, às espumas. Me mandou buscar o cavalo: 0 alazão canela-clara, bela face. O qual - era de se dar a fé? - Já avançou, avispado, de atreitas orelhas, arredondando as ventas, se
lambendo: e grosso bebeu o rumor daquilo, gostado, até o fundo; a gente vendo que ele já era manhudo, cevado naquilo! Quando era que tinha sido ensinado, possível? Pois, o cavalo ainda queria mais e mais cerveja. Seo Priscílio se vexava, no que agradeceu e se foi. Meu patrão assoviou de esguicho, olhou para mim: - “lriva/íni, que estes tempos vão cambiando mal. Não laxa as armas!” Aproveitei. Sorri de que ele tivesse as todas manhas e patranhas. Mesmo assim, meio me desgostava”.
(“O cavalo que bebia cerveja”. In: ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 145).
Primeiras Estórias, publicado em 1962, é um livro de contos, cujas personagens pertencem, quase todas, a duas categorias: a de loucos e a de crianças. Considerando o texto base, identifique os trechos que confirmam que o conto “O cavalo que bebia cerveja” está narrado em primeira pessoa:
Pastas
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