Questões de Português - Gramática - Sintaxe - Discurso Direto
Texto
Leia a seguir a nota sobre uma palestra do crítico literário Manuel da Costa Pinto.
O termo utopia, criado por Thomas More para projetar uma espécie de sociedade ideal, batizou um subgênero literário cujo contraponto é a distopia. “As utopias e as distopias estão se realizando no presente”, afirmou o crítico literário Manuel da Costa Pinto em sua palestra.
“Desde More, temos 300 anos de utopia, como narrativas sobre cidades ideais. As distopias estão localizadas no século XX, que consagra a orientação unilateral da sociedade”. Segundo ele, o “Big Brother” da TV deve seu nome ao líder totalitário de “1984”, de George Orwell, mas está materializado no romance “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury, que imagina a sociedade da doutrinação, do anestesiamento e da hipnose da indústria de entretenimento atual. No romance, as pessoas sabem ler, mas não estão interessadas, estão atentas só ao meio, e “o meio é a mensagem”, disse. “No livro, a periculosidade está associada aos livros. É o que pode combater uma sociedade anestesiada”. Bradbury, de acordo com o palestrante, falava de uma arte voltada para o corpo, não para as massas. Ele comparou essa arte voltada para o corpo às tecnologias 3D do cinema, na qual a experiência corporal tem preponderância em relação à reflexão proporcionada pelo filme.
Ainda segundo o especialista, a supressão da relação com o outro é um tema presente na obra dos escritores contemporâneos. “Vivemos um momento hoje pós-utópico. Brasília mostra o que o Brasil redundou”. “As narrativas utópicas hoje são distópicas. São pessimistas em relação ao caráter autoritário das utopias”, disse.
Ele citou o livro “Reprodução”, de Bernardo Carvalho, que abordava, ainda em 2013, as teorias conspiratórias da internet, como exemplo de livro premonitório sobre a utopia das redes sociais.
Para Costa Pinto, o projeto utópico do futuro logo mostra seu lado distópico e a busca excessiva do hedonismo é exemplo disso. “Quando se autoalimenta e vira prazer ininterrupto, a busca pelo hedonismo se torna alienante”.
(Adaptado de: “Utopias e distopias no presente”. Instituto CPFL. Disponível em: https://institutocpfl.org.br/utopias-e-distopias-do-presente-com-manuel-da-costapinto-versao-completa/. Acesso em 20/07/2023.)
Assinale a alternativa que descreve o uso de modos de citação de discurso alheio na construção do texto.
Leia o início do conto “Troca de datas”, de Machado de Assis, para responder à questão.
— Deixa-te de partes, Eusébio; vamos embora; isto não é bonito. Cirila...
— Já lhe disse o que tenho de dizer, tio João, respondeu Eusébio. Não estou disposto a tornar à vida de outro tempo. Deixem-me cá no meu canto. Cirila que fique...
— Mas, enfim, ela não te fez nada.
— Nem eu digo isso. Não me fez coisa nenhuma; mas... para que repeti-lo? Não posso aturá-la.
— Virgem Santíssima! Uma moça tão sossegada! Você não pode aturar uma moça, que é até boa demais?
— Pois, sim; eu é que sou mau; mas deixem-me.
Dizendo isto, Eusébio caminhou para a janela, e ficou olhando para fora. Dentro, o tio João, sentado, fazia circular o chapéu de Chile no joelho, fitando o chão com um ar aborrecido e irritado. Tinha vindo na véspera, e parece que com a certeza de voltar à fazenda levando o prófugo Eusébio. Nada tentou durante a noite, nem antes do almoço. Almoçaram; preparou-se para dar uma volta na cidade, e, antes de sair, meteu ombros ao negócio. Vã tentativa! Eusébio disse que não, e repetiu que não, à tarde, e no dia seguinte. O tio João chegou a ameaçá-lo com a presença de Cirila; mas a ameaça não surtiu melhor efeito, porque Eusébio declarou positivamente que, se tal sucedesse, então é que ele faria coisa pior. Não disse o que era, nem era fácil achar coisa pior do que o abandono da mulher, a não ser o suicídio ou o assassinato; mas vamos ver que nenhuma destas hipóteses era sequer imaginável. Não obstante, o tio João teve medo do pior, pela energia do sobrinho, e resignou-se a tornar à fazenda sem ele.
De noite, falaram mansamente da fazenda e de outros negócios de Piraí; falaram também da guerra, e da batalha de Curuzu, em que Eusébio entrara, e donde saíra sem ferimento, adoecendo dias depois. De manhã, despediram-se; Eusébio deu muitas lembranças para a mulher, mandou-lhe mesmo alguns presentes, trazidos de propósito de Buenos Aires, e não se falou mais na volta.
— Agora, até quando?
— Não sei; pretendo embarcar daqui a um mês ou três semanas, e depois, não sei; só quando a guerra acabar.
II
Há uma porção de coisas que estão patentes ou se deduzem do capítulo anterior. Eusébio abandonou a mulher, foi para a guerra do Paraguai, veio ao Rio de Janeiro, nos fins de 1866, doente, com licença. Volta para a campanha. Não odeia a mulher, tanto que lhe manda lembranças e presentes. O que se não pode deduzir tão claramente é que Eusébio é capitão de voluntários; é capitão, tendo ido tenente; portanto, subiu de posto, e, na conversa com o tio, prometeu voltar coronel.
(Contos: uma antologia, 1998.)
O narrador manifesta-se explicitamente na narrativa no seguinte trecho:
Leia os dois primeiros parágrafos do conto “Primeiro de Maio”, de Mário de Andrade, para responder a questão.
No grande dia Primeiro de Maio, não eram bem seis horas e já o 35 pulara da cama, afobado. Estava bem disposto, até alegre, ele bem afirmara aos companheiros da Estação da Luz que queria celebrar e havia de celebrar. Os outros carregadores mais idosos meio que tinham caçoado do bobo, viesse trabalhar que era melhor, trabalho deles não tinha feriado. Mas o 35 retrucava com altivez que não carregava mala de ninguém, havia de celebrar o dia deles. E agora tinha o grande dia pela frente.
Dia dele... Primeiro quis tomar um banho pra ficar bem digno de existir. A água estava gelada, ridente, celebrando, e abrira um sol enorme e frio lá fora. Depois fez a barba. Barba era aquela penuginha meio loura, mas foi assim mesmo buscar a navalha dos sábados, herdada do pai, e se barbeou. Foi se barbeando. Nu só da cintura pra cima por causa da mamãe por ali, de vez em quando a distância mais aberta do espelhinho refletia os músculos violentos dele, desenvolvidos desarmoniosamente nos braços, na peitaria, no cangote, pelo esforço quotidiano de carregar peso. O 35 tinha um ar glorioso e estúpido. Porém ele se agradava daqueles músculos intempestivos, fazendo a barba.
(Contos novos, 1997.)
“Mas o 35 retrucava com altivez que não carregava mala de ninguém, havia de celebrar o dia deles.” (1º parágrafo)
Transposta para o discurso direto e mantendo o sentido original, a fala do “35” mudaria para:
Maria
Maria estava parada há mais de meia hora no ponto de ônibus. Estava cansada de esperar. Se a distância fosse menor, teria ido a pé. Era preciso mesmo ir se acostumando com a caminhada. Os ônibus estavam aumentando tanto! Além do cansaço, a sacola estava pesada. No dia anterior, no domingo, havia tido festa na casa da patroa. Ela levava para casa os restos. O osso do pernil e as frutas que tinham enfeitado a mesa. Ganhara as frutas e uma gorjeta. O osso a patroa ia jogar fora. Estava feliz, apesar do cansaço. A gorjeta chegara numa hora boa. Os dois filhos menores estavam muito gripados. Precisava comprar xarope e aquele remedinho de desentupir o nariz. Daria para comprar também uma lata de Toddy. As frutas estavam ótimas e havia melão. As crianças nunca tinham comido melão. Será que os meninos gostavam de melão?
A palma de umas de suas mãos doía. Tinha sofrido um corte, bem no meio, enquanto cortava o pernil para a patroa. Que coisa! Faca-laser corta até a vida!
Quando o ônibus apontou lá na esquina, Maria abaixou o corpo, pegando a sacola que estava no chão entre as suas pernas. O ônibus não estava cheio, havia lugares. Ela poderia descansar um pouco, cochilar até a hora da descida.
Conceição Evaristo. Olhos d’água.
Considerando esse fragmento do conto Maria, de Conceição Evaristo, julgue o item a seguir.
No trecho “Será que os meninos gostavam de melão?” (último período do primeiro parágrafo), a autora emprega o discurso indireto livre para representar a voz da personagem.
Trecho 1
“Até hoje permanece certa confusão em torno da morte de Quincas Berro d’Água. Dúvidas por explicar, detalhes absurdos, contradições nos depoimentos das testemunhas, lacunas diversas.” (p.15).
Trecho 2
“Quando finalmente, naquela manhã, um santeiro estabelecido na ladeira do Taboão chegou aflito à pequena porém bem arrumada casa da família Barreto e comunicou à filha Vanda e ao genro Leonardo estar Quincas definitivamente espichado, morto em sua pocilga miserável...” (p. 21).
Trecho 3
“Quando finalmente, naquela manhã, um santeiro estabelecido na ladeira do Taboão chegou aflito à pequena porém bem arrumada casa da família Barreto e comunicou à filha Vanda e ao genro Leonardo estar Quincas definitivamente espichado, morto em sua pocilga miserável...” (p. 21).
Trecho 3
“Quando já estavam fartos de tanto cantar, Curió perguntou: - Não era hoje de noite a moqueca de Mestre Manuel? - Hoje mesmo. Moqueca de Arraia – acentou Pé de Vento. - Ninguém faz moqueca igual a Maria Clara – afirmou Cabo. Quincas estalou a língua. Negro Pastinha riu: -Tá doidinho pela moqueca.” (p. 91).
AMADO, Jorge. A morte e a morte de Quincas Berro d’Água. Rio de Janeiro: Record, 42 ed., 1980.
Os trechos destacados permitem afirmar que a narrativa utilizada pelo autor se dá
Leia o texto que se segue, a fim de responder à questão que a ele se refere ou que o toma como ponto de partida.
QUANDO IRÁ A MÁQUINA SUPERAR OS HUMANOS?
[1] [...] Atualmente, as máquinas só conseguem fazer aquilo para o que foram programadas. Para que
viessem a se tornar uma ameaça ou tão somente rebeldes, seria necessário que adquirissem autoconsciência.
Na prática, elas precisariam ser capazes de reescrever seu próprio código – a essência de seu “ser”.
Para alguns estudiosos, como o filósofo americano John Searle, da Universidade da Califórnia, o
[5] risco não existe: se de fato houver tamanha inteligência, ela estará automaticamente domada e limitada pela
própria arquitetura computacional. Para outros estudiosos, como Bostrom, é apenas questão de tempo para
que as máquinas se livrem de suas amarras.
O professor, que também tem formação em computação e física, está entusiasmado com o fato de
que o assunto tornou-se alvo de atenção, em especial dos últimos dois anos, desde que seu livro foi lançado,
[10] em 2014.
Na opinião de Bostrom, se as pessoas estiverem devidamente alertadas para os riscos, resta um
“desafio”: investir as energias numa solução construtiva para o “problema do controle”, como diz à Folha.
Ele afirma que seu objetivo é lançar as bases para que a colaboração entre indústria e academia se efetive e
possa guiar as pesquisas para o futuro, atentando para princípios morais humanos.
[15] Para ele, a superinteligência nos conduziria rapidamente a um estado de maturidade tecnológica no
qual “muitas coisas que hoje parecem ficção científica seriam possíveis”. Por exemplo: “Uma extrema
extensão do tempo de vida, a colonização do espaço, o upload de mentes em computadores e muitas outras
aplicações que não dependam de violar as leis da física e as limitações da matéria”.
Para que a superinteligência seja realmente usada para finalidades como as que elenca, é crucial
[20] resolver a questão do controle. “Uma vez resolvida, dependerá de escolhermos ou não direcionar a mira
para esses objetivos”, diz. [...]
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/04/1761289-quando-ira-a-maquina superar-os-humanos.shtml>. Acesso em: 14 set. 2017. Adaptado.
No segundo parágrafo do texto, podemos observar
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