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Acesse GrátisQuestões de Português - Gramática
Questão 21 987308
UERJ 2020/1O CONTO A SEGUIR FOI RETIRADO DO LIVRO HORA DE ALIMENTAR SERPENTES, DE MARINA COLASANTI.
PESCANDO NA MARGEM DO RIO
Era um homem muito velho, que cada manhã acordava certo de que aquela seria a última. E porque
seria a última, pegava o caniço, a latinha de iscas, e ia pescar na beira do rio. As poucas pessoas
que ainda se ocupavam dele reclamaram, a princípio. Que aquilo era perigoso, que ficava muito só,
que poderia ter um mal súbito. Depois, considerando que um mal súbito seria solução para vários
[5] problemas, deixaram que fosse, e logo deixaram de reparar quando ia. O velho entrou, assim, na
categoria dos ausentes.
Ausente para os outros, continuava docemente presente para si mesmo.
Ia ao rio com a alma fresca como a manhã. Demorava um pouco a chegar porque seus passos eram
lentos, mas, não tendo pressa alguma, o caminho lhe era só prazer. Não havia nada ali que não
[10] conhecesse, as pedras, as poças, as árvores, e até o sapo que saltava na poça e as aves que cantavam
nos galhos, tudo lhe era familiar. E embora a natureza não se curvasse para cumprimentá-lo, sabia-se
bem-vindo.
O dia escorria mais lento que a água. Quando algum peixe tinha a delicadeza de morder o seu
anzol, ele o limpava ali mesmo, cuidadoso, e o assava sobre um fogo de gravetos. Quando nenhuma
[15] presença esticava a linha do caniço, comia o pão que havia trazido, molhado no rio para não ferir
as gengivas desguarnecidas.
À noite, em casa, ninguém lhe perguntava como havia sido o seu dia.
Fazia-se mais fraco, porém.
E chegou a manhã em que, debruçando-se sobre a água antes mesmo de prender a isca na barbela
[20] afiada, viu faiscar um brilho novo. Apertou as pálpebras para ver melhor, não era um peixe. Movido
pela correnteza, um anzol bem maior do que o seu agitava-se, sem isca. Por mais que se esforçasse,
não conseguiu ver a linha, enxergava cada vez menos. Nem havia qualquer pescador por perto.
O velho não descalçou as sandálias, as pedras da margem eram ásperas.
Entrou na água devagar, evitando escorregar. Não chegou a perceber o frio, o tempo das percepções
havia acabado. Alongou-se na água, mordeu o anzol que havia vindo por ele, e deixou-se levar.
Falas e pensamentos de personagens podem ser incorporados pelo narrador, em discurso indireto livre, como se observa em:
Questão 8 605769
FAMERP 2019Leia o trecho do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, para responder à questão.
Quaresma viveu lá, no manicômio, resignadamente, conversando com os seus companheiros, onde via ricos que se diziam pobres, pobres que se queriam ricos, sábios a maldizer da sabedoria, ignorantes a se proclamarem sábios; mas, deles todos, daquele que mais se admirou, foi de um velho e plácido negociante da Rua dos Pescadores que se supunha Átila1 . Eu, dizia o pacato velho, sou Átila, sabe? Sou Átila. Tinha fracas notícias da personagem, sabia o nome e nada mais. Sou Átila, matei muita gente – e era só.
Saiu o major mais triste ainda do que vivera toda a vida. De todas as cousas tristes de ver, no mundo, a mais triste é a loucura; é a mais depressora e pungente.
Aquela continuação da nossa vida tal e qual, com um desarranjo imperceptível, mas profundo e quase sempre insondável, que a inutiliza inteiramente, faz pensar em alguma cousa mais forte que nós, que nos guia, que nos impele e em cujas mãos somos simples joguetes. Em vários tempos e lugares, a loucura foi considerada sagrada, e deve haver razão nisso no sentimento que se apodera de nós quando, ao vermos um louco desarrazoar, pensamos logo que já não é ele quem fala, é alguém, alguém que vê por ele, interpreta as cousas por ele, está atrás dele, invisível!...
(Triste fim de Policarpo Quaresma, 1992.)
1 Átila: rei dos hunos, governou o maior império europeu de seu tempo, desde o ano 434 até sua morte em 453; muitas lendas o retratam como um imperador violento e cruel.
A transposição da frase “Eu, dizia o pacato velho, sou Átila” (1° parágrafo) para o discurso indireto resultará em:
Questão 3 324572
UNIMONTES 3° Etapa 2017Leia o texto que se segue, a fim de responder à questão que a ele se refere ou que o toma como ponto de partida.
QUANDO IRÁ A MÁQUINA SUPERAR OS HUMANOS?
[1] [...] Atualmente, as máquinas só conseguem fazer aquilo para o que foram programadas. Para que
viessem a se tornar uma ameaça ou tão somente rebeldes, seria necessário que adquirissem autoconsciência.
Na prática, elas precisariam ser capazes de reescrever seu próprio código – a essência de seu “ser”.
Para alguns estudiosos, como o filósofo americano John Searle, da Universidade da Califórnia, o
[5] risco não existe: se de fato houver tamanha inteligência, ela estará automaticamente domada e limitada pela
própria arquitetura computacional. Para outros estudiosos, como Bostrom, é apenas questão de tempo para
que as máquinas se livrem de suas amarras.
O professor, que também tem formação em computação e física, está entusiasmado com o fato de
que o assunto tornou-se alvo de atenção, em especial dos últimos dois anos, desde que seu livro foi lançado,
[10] em 2014.
Na opinião de Bostrom, se as pessoas estiverem devidamente alertadas para os riscos, resta um
“desafio”: investir as energias numa solução construtiva para o “problema do controle”, como diz à Folha.
Ele afirma que seu objetivo é lançar as bases para que a colaboração entre indústria e academia se efetive e
possa guiar as pesquisas para o futuro, atentando para princípios morais humanos.
[15] Para ele, a superinteligência nos conduziria rapidamente a um estado de maturidade tecnológica no
qual “muitas coisas que hoje parecem ficção científica seriam possíveis”. Por exemplo: “Uma extrema
extensão do tempo de vida, a colonização do espaço, o upload de mentes em computadores e muitas outras
aplicações que não dependam de violar as leis da física e as limitações da matéria”.
Para que a superinteligência seja realmente usada para finalidades como as que elenca, é crucial
[20] resolver a questão do controle. “Uma vez resolvida, dependerá de escolhermos ou não direcionar a mira
para esses objetivos”, diz. [...]
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/04/1761289-quando-ira-a-maquina superar-os-humanos.shtml>. Acesso em: 14 set. 2017. Adaptado.
No segundo parágrafo do texto, podemos observar
Questão 6 482254
IFNMG 2015/1INSTRUÇÃO: Leia o TEXTO para responder à questão.
TEXTO
Imagens santas em carro alegórico abrem polêmica
Beija-Flor alega que carro com Nossas Senhoras e ‘Ser de Luz’ semelhante a Cristo representam religiosidade de Roberto Carlos, mas Arquidiocese reage e vai ao barracão
Por Thiago Feres
Rio - Antes mesmo de ser concluído no barracão da Beija-Flor de Nilópolis, na Cidade do Samba, o carro alegórico em que desfilará o Rei Roberto Carlos já está provocando reações da Arquidiocese do Rio de Janeiro. A alegoria terá diversas imagens ligadas à Igreja Católica, como face de Jesus Cristo, quatro imagens de Nossa Senhora e anjos que cercarão o carro, já na fase de acabamento. Centenas de crianças desfilarão ao lado de Roberto Carlos, e objetivo é representar o céu. A Arquidiocese pretende visitar o barracão para analisar a obra.
O diretor de Carnaval da Beija-Flor, Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, explica que o carro representa a religiosidade do Rei. Ele não acredita que a escola tenha problema. Alega que não tem como falar de Roberto Carlos sem mostrar sua fé. “Não estamos denegrindo qualquer símbolo da Igreja, mas exaltando a fé e a religião presentes no cotidiano do Roberto Carlos, nosso homenageado. Além disso, não representamos Jesus Cristo, mas um ser de luz”, defendeu-se.
Ao saber das imagens católicas no desfile da escola mais vitoriosa dos últimos anos do Carnaval carioca, a Arquidiocese do Rio afirmou que vai procurar a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). Ontem à noite, a Liga alegou não ter conhecimento do fato. “Não estou sabendo de nada. No entanto, assim que recebermos qualquer comunicado, tomaremos as providências”, disse, sem entrar em detalhes, o responsável pelo setor de Comunicação da Liesa, Vicente Dattoli.
O procedimento padrão adotado pela Arquidiocese em polêmicas semelhantes ocorridas nos anos anteriores com agremiações foi o envio de representantes até o barracão da agremiação envolvida, fato que deverá se repetir este ano. “Ainda estamos checando melhor os detalhes. Não podemos descartar nada. É provável que haja uma visita ao barracão da Beija-Flor”, informou a assessoria da instituição religiosa.
[...]
Iniciativa da escola de samba de Nilópolis divide opiniões
O carnavalesco Chico Spinoza criticou a interferência da Igreja. “Classifico como incompatível. O desfile de escola de samba não é lugar de religiosos. Eles têm que se preocupar com o templo deles”, revolta-se. Atualmente ele atua na Tom Maior, escola de samba de São Paulo.
Já o carnavalesco Milton Cunha comentou que prefere não envolver os principais símbolos religiosos da Igreja Católica na que é considerada a maior festa popular do planeta. Para ele, a exibição de corpos e o excesso cometido durante os dias de folia não combinam com a fé. “Acho que o sagrado deve estar separado do profano. Considero complicado demais envolver, por exemplo, imagens de Jesus Cristo e Moisés. Uma boate já me chamou para decorar paredes com santos e não aceitei”, opinou.
[...]
Publicado em O Dia Online, 12/01/11.
http://odia.ig.com.br/portal/o-dia-na-folia/imagens-santas-em-carro-aleg%C3%B3rico-abrem-pol%C3%AAmica-1.279946
Marque a alternativa que apresenta um discurso indireto:
Questão 19 4359987
UNESP Cursos da área de biológicas 2021Leia a narrativa “O leão, o burro e o rato”, de Millôr Fernandes, para responder à questão.
Um leão, um burro e um rato voltaram, afinal, da caçada que haviam empreendido juntos1 e colocaram numa clareira tudo que tinham caçado: dois veados, algumas perdizes, três tatus, uma paca e muita caça menor. O leão sentou-se num tronco e, com voz tonitruante que procurava inutilmente suavizar,
berrou:
— Bem, agora que terminamos um magnífico dia de trabalho, descansemos aqui, camaradas, para a justa partilha do nosso esforço conjunto. Compadre burro, por favor, você, que é o mais sábio de nós três, com licença do compadre rato, você, compadre burro, vai fazer a partilha desta caça em três partes absolutamente iguais. Vamos, compadre rato, até o rio, beber um pouco de água, deixando nosso grande amigo burro em paz para deliberar.
Os dois se afastaram, foram até o rio, beberam água2 e ficaram um tempo. Voltaram e verificaram que o burro tinha feito um trabalho extremamente meticuloso, dividindo a caça em três partes absolutamente iguais. Assim que viu os dois voltando, o burro perguntou ao leão:
— Pronto, compadre leão, aí está: que acha da partilha?
O leão não disse uma palavra. Deu uma violenta patada na nuca do burro, prostrando-o no chão, morto.
Sorrindo, o leão voltou-se para o rato e disse:
— Compadre rato, lamento muito, mas tenho a impressão de que concorda em que não podíamos suportar a presença de tamanha inaptidão e burrice. Desculpe eu ter perdido a paciência, mas não havia outra coisa a fazer. Há muito que eu não suportava mais o compadre burro. Me faça um favor agora — divida você o bolo da caça, incluindo, por favor, o corpo do compadre burro. Vou até o rio, novamente, deixando-lhe calma para uma deliberação sensata.
Mal o leão se afastou, o rato não teve a menor dúvida. Dividiu o monte de caça em dois: de um lado, toda a caça, inclusive o corpo do burro. Do outro, apenas um ratinho cinza morto por acaso. O leão ainda não tinha chegado ao rio, quando o rato o chamou:
— Compadre leão, está pronta a partilha!
O leão, vendo a caça dividida de maneira tão justa, não pôde deixar de cumprimentar o rato:
— Maravilhoso, meu caro compadre, maravilhoso! Como você chegou tão depressa a uma partilha tão certa?
E o rato respondeu:
— Muito simples. Estabeleci uma relação matemática entre seu tamanho e o meu — é claro que você precisa comer muito mais. Tracei uma comparação entre a sua força e a minha — é claro que você precisa de muito maior volume de alimentação do que eu. Comparei, ponderadamente, sua posição na floresta com a minha — e, evidentemente, a partilha só podia ser esta. Além do que, sou um intelectual, sou todo espírito!
— Inacreditável, inacreditável! Que compreensão! Que argúcia! — exclamou o leão, realmente admirado. — Olha, juro que nunca tinha notado, em você, essa cultura. Como você escondeu isso o tempo todo, e quem lhe ensinou tanta sabedoria?
— Na verdade, leão, eu nunca soube nada. Se me perdoa um elogio fúnebre, se não se ofende, acabei de aprender tudo agora mesmo, com o burro morto.
MORAL: Só um burro tenta ficar com a parte do leão.
1 A conjugação de esforços tão heterogêneos na destruição do meio ambiente é coisa muito comum.
2 Enquanto estavam bebendo água, o leão reparou que o rato estava sujando a água que ele bebia. Mas isso já é outra fábula.
(100 fábulas fabulosas, 2012.)
“E o rato respondeu:
— Muito simples. Estabeleci uma relação matemática entre seu tamanho e o meu — é claro que você precisa comer muito mais.” (12° e 13° parágrafos)
Ao se transpor esse trecho para o discurso indireto, o termo sublinhado assume a seguinte forma:
Questão 6 5636157
FAMERP 2021Considere a crônica “Iniciativa”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
É sina de minha amiga penar pela sorte do próximo, se bem que seja um penar jubiloso. Explico-me. Todo sofrimento alheio a preocupa, e acende nela o facho da ação, que a torna feliz. Não distingue entre gente e bicho, quando tem de agir, mas como há inúmeras sociedades (com verbas) para o bem dos homens, e uma só, sem recursos, para o bem dos animais, é nesta última que gosta de militar. Os problemas aparecem-lhe em cardume, e parece que a escolhem de preferência a outras criaturas de menor sensibilidade e iniciativa. Os cães postam-se no seu caminho, e:
— Dona, me leva — murmuram-lhe os olhos surrados pela vida mas sempre meigos.
Outro dia o cão vinha pela rua, mancando, amarrado a um barbante e puxado por um bêbado pobre, mas tão bêbado como qualquer outro. Com o aperto do laço, o infeliz punha a alma pela boca. E o bêbado resmungava ameaças confusas. Minha amiga aproximou-se, com jeito.
— Não faça assim com o pobrezinho, que ele sufoca.
— Faço o que eu quero, ele é meu.
— Mas é proibido maltratar os animais.
— Eu não vou maltratar. Vou matar com duas navalhadas. Minha amiga pulou como Ademar Ferreira da Silva1.
— Me dá esse cachorro.
— Dar, não dou, mas vendo.
Dez cruzeiros selaram o negócio, e, livre do barbante, o cachorro embarcou no carro de minha amiga. Felizmente, anoitecia — e ela penetrou no apartamento, sem impugnação do porteiro. Que prodígios não faz para amortecer o latido dos hóspedes, lá dentro! (Uma vez, ante a reclamação do vizinho, explicou que era disco de jazz.) Já havia três cães instalados, não cabia mais. Tratou do bicho, chamou-lhe veterinário, curou-lhe a pata, deu-lhe vitamina e carinho. Só depois começou a providenciar uma casa de confiança para ele. Seu método consiste numa conversa mole com a pessoa: tem cachorro em casa? Por que não tem mais? Fugiu? Morreu de velho? (Se o cão fugiu, o dono não presta.) Conforme a ficha da pessoa, minha amiga lhe oferece o animal, ou não, e passa adiante.
Desta vez o escolhido foi José, contínuo de autarquia (não carece ser rico, mas bom, paciente, bem-humorado). José tem crianças, espaço cercado e vocação para dedicar- -se. Minha amiga ofereceu-se para levar o cachorro ao longe subúrbio, José disse que não precisava, ela insistiu, ele idem. Afinal foram juntos, o carro subiu ladeira, desceu ladeira, e no alto do morro desvendou-se a triste casa de José, que não era casa cercada, era um corredor de cabeça de porco2 , com cinco crianças, mulher e sogra de José empilhadas.
Minha amiga compreendeu. José era mais pobre do que o cachorro e sem um mínimo de dinheiro não se compra ar livre e espaço para brincar. Seria cruel dizer a José: “Volto com o cachorro”. Felizmente o animal salvou a situação, tentando morder um dos garotos que lhe fizera festa. Minha amiga iluminou-se: “Está vendo, José? Ele não se acostuma. Vou te trazer outro, novinho”. José, desolado, aquiesceu. Minha amiga saiu voando para a cidade, entrou numa dessas casas onde se martirizam animais à venda, e resgatou o menor dos cachorrinhos recém-nascidos, que já penava numa jaula sem água e alimento, a um sol de fogo. “Para este, qualquer coisa é negócio, e melhora a vida.” Levou-o rápido, para José, que o recebeu de alma embandeirada
Agora, minha amiga tem dois problemas: arranjar um dono para o cachorro do bêbado, e dar um jeito nos cinco filhos de José. Mas resolve, não tenham dúvida.
(70 historinhas, 2016.)
1Ademar Ferreira da Silva: atleta brasileiro, primeiro bicampeão olímpico do país; conquistou as medalhas de ouro no salto triplo nos Jogos de Helsinque 1952 e de Melbourne 1956.
2cabeça de porco: cortiço.
“— Não faça assim com o pobrezinho, que ele sufoca.” (4º parágrafo)
Uma redação adequada desse trecho, transposto para o discurso indireto, seria: