
Faça seu login
Acesse GrátisQuestões de Português - Gramática
Questão 3 9141232
FCMSCSP - Santa Casa Medicina 2023/1Leia o início do conto “Troca de datas”, de Machado de Assis, para responder à questão.
— Deixa-te de partes, Eusébio; vamos embora; isto não é bonito. Cirila...
— Já lhe disse o que tenho de dizer, tio João, respondeu Eusébio. Não estou disposto a tornar à vida de outro tempo. Deixem-me cá no meu canto. Cirila que fique...
— Mas, enfim, ela não te fez nada.
— Nem eu digo isso. Não me fez coisa nenhuma; mas... para que repeti-lo? Não posso aturá-la.
— Virgem Santíssima! Uma moça tão sossegada! Você não pode aturar uma moça, que é até boa demais?
— Pois, sim; eu é que sou mau; mas deixem-me.
Dizendo isto, Eusébio caminhou para a janela, e ficou olhando para fora. Dentro, o tio João, sentado, fazia circular o chapéu de Chile no joelho, fitando o chão com um ar aborrecido e irritado. Tinha vindo na véspera, e parece que com a certeza de voltar à fazenda levando o prófugo Eusébio. Nada tentou durante a noite, nem antes do almoço. Almoçaram; preparou-se para dar uma volta na cidade, e, antes de sair, meteu ombros ao negócio. Vã tentativa! Eusébio disse que não, e repetiu que não, à tarde, e no dia seguinte. O tio João chegou a ameaçá-lo com a presença de Cirila; mas a ameaça não surtiu melhor efeito, porque Eusébio declarou positivamente que, se tal sucedesse, então é que ele faria coisa pior. Não disse o que era, nem era fácil achar coisa pior do que o abandono da mulher, a não ser o suicídio ou o assassinato; mas vamos ver que nenhuma destas hipóteses era sequer imaginável. Não obstante, o tio João teve medo do pior, pela energia do sobrinho, e resignou-se a tornar à fazenda sem ele.
De noite, falaram mansamente da fazenda e de outros negócios de Piraí; falaram também da guerra, e da batalha de Curuzu, em que Eusébio entrara, e donde saíra sem ferimento, adoecendo dias depois. De manhã, despediram-se; Eusébio deu muitas lembranças para a mulher, mandou-lhe mesmo alguns presentes, trazidos de propósito de Buenos Aires, e não se falou mais na volta.
— Agora, até quando?
— Não sei; pretendo embarcar daqui a um mês ou três semanas, e depois, não sei; só quando a guerra acabar.
II
Há uma porção de coisas que estão patentes ou se deduzem do capítulo anterior. Eusébio abandonou a mulher, foi para a guerra do Paraguai, veio ao Rio de Janeiro, nos fins de 1866, doente, com licença. Volta para a campanha. Não odeia a mulher, tanto que lhe manda lembranças e presentes. O que se não pode deduzir tão claramente é que Eusébio é capitão de voluntários; é capitão, tendo ido tenente; portanto, subiu de posto, e, na conversa com o tio, prometeu voltar coronel.
(Contos: uma antologia, 1998.)
O narrador manifesta-se explicitamente na narrativa no seguinte trecho:
Questão 8 6706574
UNIFUNEC 2022Leia os dois primeiros parágrafos do conto “Primeiro de Maio”, de Mário de Andrade, para responder a questão.
No grande dia Primeiro de Maio, não eram bem seis horas e já o 35 pulara da cama, afobado. Estava bem disposto, até alegre, ele bem afirmara aos companheiros da Estação da Luz que queria celebrar e havia de celebrar. Os outros carregadores mais idosos meio que tinham caçoado do bobo, viesse trabalhar que era melhor, trabalho deles não tinha feriado. Mas o 35 retrucava com altivez que não carregava mala de ninguém, havia de celebrar o dia deles. E agora tinha o grande dia pela frente.
Dia dele... Primeiro quis tomar um banho pra ficar bem digno de existir. A água estava gelada, ridente, celebrando, e abrira um sol enorme e frio lá fora. Depois fez a barba. Barba era aquela penuginha meio loura, mas foi assim mesmo buscar a navalha dos sábados, herdada do pai, e se barbeou. Foi se barbeando. Nu só da cintura pra cima por causa da mamãe por ali, de vez em quando a distância mais aberta do espelhinho refletia os músculos violentos dele, desenvolvidos desarmoniosamente nos braços, na peitaria, no cangote, pelo esforço quotidiano de carregar peso. O 35 tinha um ar glorioso e estúpido. Porém ele se agradava daqueles músculos intempestivos, fazendo a barba.
(Contos novos, 1997.)
“Mas o 35 retrucava com altivez que não carregava mala de ninguém, havia de celebrar o dia deles.” (1º parágrafo)
Transposta para o discurso direto e mantendo o sentido original, a fala do “35” mudaria para:
Questão 21 987308
UERJ 2020/1O CONTO A SEGUIR FOI RETIRADO DO LIVRO HORA DE ALIMENTAR SERPENTES, DE MARINA COLASANTI.
PESCANDO NA MARGEM DO RIO
Era um homem muito velho, que cada manhã acordava certo de que aquela seria a última. E porque
seria a última, pegava o caniço, a latinha de iscas, e ia pescar na beira do rio. As poucas pessoas
que ainda se ocupavam dele reclamaram, a princípio. Que aquilo era perigoso, que ficava muito só,
que poderia ter um mal súbito. Depois, considerando que um mal súbito seria solução para vários
[5] problemas, deixaram que fosse, e logo deixaram de reparar quando ia. O velho entrou, assim, na
categoria dos ausentes.
Ausente para os outros, continuava docemente presente para si mesmo.
Ia ao rio com a alma fresca como a manhã. Demorava um pouco a chegar porque seus passos eram
lentos, mas, não tendo pressa alguma, o caminho lhe era só prazer. Não havia nada ali que não
[10] conhecesse, as pedras, as poças, as árvores, e até o sapo que saltava na poça e as aves que cantavam
nos galhos, tudo lhe era familiar. E embora a natureza não se curvasse para cumprimentá-lo, sabia-se
bem-vindo.
O dia escorria mais lento que a água. Quando algum peixe tinha a delicadeza de morder o seu
anzol, ele o limpava ali mesmo, cuidadoso, e o assava sobre um fogo de gravetos. Quando nenhuma
[15] presença esticava a linha do caniço, comia o pão que havia trazido, molhado no rio para não ferir
as gengivas desguarnecidas.
À noite, em casa, ninguém lhe perguntava como havia sido o seu dia.
Fazia-se mais fraco, porém.
E chegou a manhã em que, debruçando-se sobre a água antes mesmo de prender a isca na barbela
[20] afiada, viu faiscar um brilho novo. Apertou as pálpebras para ver melhor, não era um peixe. Movido
pela correnteza, um anzol bem maior do que o seu agitava-se, sem isca. Por mais que se esforçasse,
não conseguiu ver a linha, enxergava cada vez menos. Nem havia qualquer pescador por perto.
O velho não descalçou as sandálias, as pedras da margem eram ásperas.
Entrou na água devagar, evitando escorregar. Não chegou a perceber o frio, o tempo das percepções
havia acabado. Alongou-se na água, mordeu o anzol que havia vindo por ele, e deixou-se levar.
Falas e pensamentos de personagens podem ser incorporados pelo narrador, em discurso indireto livre, como se observa em:
Questão 8 605769
FAMERP 2019Leia o trecho do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, para responder à questão.
Quaresma viveu lá, no manicômio, resignadamente, conversando com os seus companheiros, onde via ricos que se diziam pobres, pobres que se queriam ricos, sábios a maldizer da sabedoria, ignorantes a se proclamarem sábios; mas, deles todos, daquele que mais se admirou, foi de um velho e plácido negociante da Rua dos Pescadores que se supunha Átila1 . Eu, dizia o pacato velho, sou Átila, sabe? Sou Átila. Tinha fracas notícias da personagem, sabia o nome e nada mais. Sou Átila, matei muita gente – e era só.
Saiu o major mais triste ainda do que vivera toda a vida. De todas as cousas tristes de ver, no mundo, a mais triste é a loucura; é a mais depressora e pungente.
Aquela continuação da nossa vida tal e qual, com um desarranjo imperceptível, mas profundo e quase sempre insondável, que a inutiliza inteiramente, faz pensar em alguma cousa mais forte que nós, que nos guia, que nos impele e em cujas mãos somos simples joguetes. Em vários tempos e lugares, a loucura foi considerada sagrada, e deve haver razão nisso no sentimento que se apodera de nós quando, ao vermos um louco desarrazoar, pensamos logo que já não é ele quem fala, é alguém, alguém que vê por ele, interpreta as cousas por ele, está atrás dele, invisível!...
(Triste fim de Policarpo Quaresma, 1992.)
1 Átila: rei dos hunos, governou o maior império europeu de seu tempo, desde o ano 434 até sua morte em 453; muitas lendas o retratam como um imperador violento e cruel.
A transposição da frase “Eu, dizia o pacato velho, sou Átila” (1° parágrafo) para o discurso indireto resultará em:
Questão 13 7076986
UNEB Medicina 2019/1Trecho 1
“Até hoje permanece certa confusão em torno da morte de Quincas Berro d’Água. Dúvidas por explicar, detalhes absurdos, contradições nos depoimentos das testemunhas, lacunas diversas.” (p.15).
Trecho 2
“Quando finalmente, naquela manhã, um santeiro estabelecido na ladeira do Taboão chegou aflito à pequena porém bem arrumada casa da família Barreto e comunicou à filha Vanda e ao genro Leonardo estar Quincas definitivamente espichado, morto em sua pocilga miserável...” (p. 21).
Trecho 3
“Quando finalmente, naquela manhã, um santeiro estabelecido na ladeira do Taboão chegou aflito à pequena porém bem arrumada casa da família Barreto e comunicou à filha Vanda e ao genro Leonardo estar Quincas definitivamente espichado, morto em sua pocilga miserável...” (p. 21).
Trecho 3
“Quando já estavam fartos de tanto cantar, Curió perguntou: - Não era hoje de noite a moqueca de Mestre Manuel? - Hoje mesmo. Moqueca de Arraia – acentou Pé de Vento. - Ninguém faz moqueca igual a Maria Clara – afirmou Cabo. Quincas estalou a língua. Negro Pastinha riu: -Tá doidinho pela moqueca.” (p. 91).
AMADO, Jorge. A morte e a morte de Quincas Berro d’Água. Rio de Janeiro: Record, 42 ed., 1980.
Os trechos destacados permitem afirmar que a narrativa utilizada pelo autor se dá
Questão 3 324572
UNIMONTES 3° Etapa 2017Leia o texto que se segue, a fim de responder à questão que a ele se refere ou que o toma como ponto de partida.
QUANDO IRÁ A MÁQUINA SUPERAR OS HUMANOS?
[1] [...] Atualmente, as máquinas só conseguem fazer aquilo para o que foram programadas. Para que
viessem a se tornar uma ameaça ou tão somente rebeldes, seria necessário que adquirissem autoconsciência.
Na prática, elas precisariam ser capazes de reescrever seu próprio código – a essência de seu “ser”.
Para alguns estudiosos, como o filósofo americano John Searle, da Universidade da Califórnia, o
[5] risco não existe: se de fato houver tamanha inteligência, ela estará automaticamente domada e limitada pela
própria arquitetura computacional. Para outros estudiosos, como Bostrom, é apenas questão de tempo para
que as máquinas se livrem de suas amarras.
O professor, que também tem formação em computação e física, está entusiasmado com o fato de
que o assunto tornou-se alvo de atenção, em especial dos últimos dois anos, desde que seu livro foi lançado,
[10] em 2014.
Na opinião de Bostrom, se as pessoas estiverem devidamente alertadas para os riscos, resta um
“desafio”: investir as energias numa solução construtiva para o “problema do controle”, como diz à Folha.
Ele afirma que seu objetivo é lançar as bases para que a colaboração entre indústria e academia se efetive e
possa guiar as pesquisas para o futuro, atentando para princípios morais humanos.
[15] Para ele, a superinteligência nos conduziria rapidamente a um estado de maturidade tecnológica no
qual “muitas coisas que hoje parecem ficção científica seriam possíveis”. Por exemplo: “Uma extrema
extensão do tempo de vida, a colonização do espaço, o upload de mentes em computadores e muitas outras
aplicações que não dependam de violar as leis da física e as limitações da matéria”.
Para que a superinteligência seja realmente usada para finalidades como as que elenca, é crucial
[20] resolver a questão do controle. “Uma vez resolvida, dependerá de escolhermos ou não direcionar a mira
para esses objetivos”, diz. [...]
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/04/1761289-quando-ira-a-maquina superar-os-humanos.shtml>. Acesso em: 14 set. 2017. Adaptado.
No segundo parágrafo do texto, podemos observar