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Acesse GrátisQuestões de Português - Gramática
Questão 8 6706574
UNIFUNEC 2022Leia os dois primeiros parágrafos do conto “Primeiro de Maio”, de Mário de Andrade, para responder a questão.
No grande dia Primeiro de Maio, não eram bem seis horas e já o 35 pulara da cama, afobado. Estava bem disposto, até alegre, ele bem afirmara aos companheiros da Estação da Luz que queria celebrar e havia de celebrar. Os outros carregadores mais idosos meio que tinham caçoado do bobo, viesse trabalhar que era melhor, trabalho deles não tinha feriado. Mas o 35 retrucava com altivez que não carregava mala de ninguém, havia de celebrar o dia deles. E agora tinha o grande dia pela frente.
Dia dele... Primeiro quis tomar um banho pra ficar bem digno de existir. A água estava gelada, ridente, celebrando, e abrira um sol enorme e frio lá fora. Depois fez a barba. Barba era aquela penuginha meio loura, mas foi assim mesmo buscar a navalha dos sábados, herdada do pai, e se barbeou. Foi se barbeando. Nu só da cintura pra cima por causa da mamãe por ali, de vez em quando a distância mais aberta do espelhinho refletia os músculos violentos dele, desenvolvidos desarmoniosamente nos braços, na peitaria, no cangote, pelo esforço quotidiano de carregar peso. O 35 tinha um ar glorioso e estúpido. Porém ele se agradava daqueles músculos intempestivos, fazendo a barba.
(Contos novos, 1997.)
“Mas o 35 retrucava com altivez que não carregava mala de ninguém, havia de celebrar o dia deles.” (1º parágrafo)
Transposta para o discurso direto e mantendo o sentido original, a fala do “35” mudaria para:
Questão 7 7032027
FEMA Medicina 2021/1Para responder à questão, leia a crônica “Tatuagem”, de Moacyr Scliar.
Enfermeira inglesa de 78 anos manda tatuar mensagem no peito pedindo para não proceder a manobras de ressuscitação em caso de parada cardíaca.
Mundo Online, 4.fev.2003
Ela não era enfermeira (era secretária), não era inglesa (era brasileira) e não tinha 78 anos, mas sim 42: bela mulher, muito conservada. Mesmo assim, decidiu fazer a mesma coisa. Foi procurar um tatuador, com o recorte da notícia. O homem não comentou: perguntou apenas o que era para ser tatuado.
— É bom você anotar — disse ela — porque não será uma mensagem tão curta como essa da inglesa. Ele apanhou um caderno e um lápis e dispôs-se a anotar.
— “Em caso de que eu tenha uma parada cardíaca” — ditou ela
—, “favor não proceder à ressuscitação.” Uma pausa, e ela continuou:
— “E não procedam à ressuscitação, porque não vale a pena. A vida é cruel, o mundo está cheio de ingratos.”
Ele continuou escrevendo, sem dizer nada. Era pago para tatuar, e quanto mais coisas tatuasse, mais ganharia.
Ela continuou falando. Agora voltava à sua infância pobre; falava no sacrifício que fora para ela estudar. Contava do rapaz que conhecera num baile de subúrbio, tão pobre quanto ela, tão esperançoso quanto ela. Descrevia os tempos de namoro, o noivado, o casamento, o nascimento dos dois filhos, agora grandes e morando em outra cidade. Àquela altura o tatuador, homem vivido, já tinha adivinhado como terminaria a história: sem dúvida ela fora abandonada pelo marido, que a trocara por alguma mulher mais jovem e mais bonita. E antes que ela contasse sua tragédia resolveu interrompê-la. Desculpe, disse, mas para eu tatuar tudo que a senhora me contou, eu precisaria de mais três ou quatro mulheres.
Ela começou a chorar. Ele consolou-a como pôde. Depois, convidou-a para tomar alguma coisa num bar ali perto.
Estão vivendo juntos há algum tempo. E se dão muito bem. Ela sente um pouco de ciúmes quando ele é procurado por belas garotas, mas sabe que isso é, afinal, o seu trabalho. Além disso, ele fez uma tatuagem especialmente para ela, no seu próprio peito. Nada de muito artístico, o clássico coração atravessado por uma flecha, com os nomes de ambos. Mas cada vez que ela vê essa tatuagem, ela se sente reconfortada. Como se tivesse sido ressuscitada, e como se estivesse vivendo uma nova, e muito melhor, existência.
(Folha de S.Paulo, 10.03.2003.)
A voz do narrador e a voz de uma das personagens estão presentes no trecho:
Questão 17 9527463
UnB - PAS 2021/3Maria
Maria estava parada há mais de meia hora no ponto de ônibus. Estava cansada de esperar. Se a distância fosse menor, teria ido a pé. Era preciso mesmo ir se acostumando com a caminhada. Os ônibus estavam aumentando tanto! Além do cansaço, a sacola estava pesada. No dia anterior, no domingo, havia tido festa na casa da patroa. Ela levava para casa os restos. O osso do pernil e as frutas que tinham enfeitado a mesa. Ganhara as frutas e uma gorjeta. O osso a patroa ia jogar fora. Estava feliz, apesar do cansaço. A gorjeta chegara numa hora boa. Os dois filhos menores estavam muito gripados. Precisava comprar xarope e aquele remedinho de desentupir o nariz. Daria para comprar também uma lata de Toddy. As frutas estavam ótimas e havia melão. As crianças nunca tinham comido melão. Será que os meninos gostavam de melão?
A palma de umas de suas mãos doía. Tinha sofrido um corte, bem no meio, enquanto cortava o pernil para a patroa. Que coisa! Faca-laser corta até a vida!
Quando o ônibus apontou lá na esquina, Maria abaixou o corpo, pegando a sacola que estava no chão entre as suas pernas. O ônibus não estava cheio, havia lugares. Ela poderia descansar um pouco, cochilar até a hora da descida.
Conceição Evaristo. Olhos d’água.
Considerando esse fragmento do conto Maria, de Conceição Evaristo, julgue o item a seguir.
No trecho “Será que os meninos gostavam de melão?” (último período do primeiro parágrafo), a autora emprega o discurso indireto livre para representar a voz da personagem.
Questão 21 9527512
UnB - PAS 2021/3Em outras palavras, a questão é: qual é, nesses sistemas, a relação entre política e morte que só pode funcionar em um estado de emergência? Na formulação de Foucault, o biopoder parece funcionar mediante a divisão entre as pessoas que devem viver e as que devem morrer. Operando com base em uma divisão entre os vivos e os mortos, tal poder se define em relação a um campo biológico do qual toma o controle e no qual se inscreve. Esse controle pressupõe a distribuição da espécie humana em grupos, a subdivisão da população em subgrupos e o estabelecimento de uma cesura biológica entre uns e outros. Isso é o que Foucault rotula com o termo (aparentemente familiar) “racismo”.
Achille Mbembe. Necropolítica, p. 128.
A raça (ou, neste caso, o racismo) constitui uma figura proeminente no cálculo do biopoder e da necropolítica. Mais do que a ideia de classe (a ideologia que define a história como uma luta econômica de classes), a raça foi sempre uma sombra presente na prática e no pensamento político ocidental, especialmente quando tentou imaginar a desumanidade ou a subjugação dos povos estrangeiros. É difícil também não lembrar o regime do apartheid na África do Sul. Nele, a township (área residencial segregada para negros, localizada fora da cidade) era a forma estrutural pela qual se podia regular o fluxo de trabalho migratório e controlar a urbanização africana. A township era um lugar onde a pobreza e a forte opressão eram experimentadas todos os dias, num ambiente racista e classista. É Frantz Fanon quem descreve o modo de funcionamento do necropoder e da necropolítica: “A cidade do colonizado, a cidade indígena, a cidade negra, (...) é um lugar de má fama, povoado por homens também de má fama. Ali, nasce-se em qualquer lado, de qualquer maneira. Morre-se em qualquer parte e não se sabe nunca de quê. É um mundo sem intervalos, os homens estão uns sobre os outros, as cabanas dispõem-se do mesmo modo. A cidade do colonizado é uma cidade esfomeada, por falta de pão, de carne, de sapatos, de luz. A cidade do colonizado é uma cidade de joelhos. É uma cidade de negros”.
Achille Mbembe. Necropolítica. In: Políticas da Inimizade. Lisboa: Antígona, 2017 (com adaptações).
Tendo como referência os textos anteriores, bem como a obra Necropolítica, de Achille Mbembe, julgue o item.
Mantendo-se a correção gramatical e os sentidos do terceiro período do primeiro texto apresentado, o trecho “do qual toma o controle e no qual se inscreve” poderia ser substituído por que toma o controle e que nele se inscreve
Questão 24 6308536
ITA 2020Assinale a alternativa que relaciona corretamente um trecho em discurso indireto livre e sua função.
Questão 25 605043
UniAtenas 2019/1Entre a genialidade e a loucura, pintor baiano produz obra rara
Tatiana Mendonça
Aurelino paira sobre os homens. “Eu sou um avião”, diz, com um certo cansaço de quem precisa anunciar obviedades. Também é um avião o que ele está pintando na tela que repousa entre a mesa e o chão. Metade do quadro está pronto, a outra parte já está traçada, uma sequência de linhas retas feitas por réguas, faltando apenas as tintas para daremlhes vida. Conta que a obra ainda leva vinte dias para ser terminada. Mas do que já se pode espiar, e vendo as outras tantas que pintou, não resta dúvida nenhuma. Como é ordenado, colorido e maravilhoso o mundo quando visto lá de cima.
Na sua cabeça não são precisos, mas tortuosos os caminhos. É tido por louco, desses que perambulam pela rua falando sozinhos. Nascido em 1942, Aurelino dos Santos afirma ter 700 dias de idade. Não se tem notícia de que a ciência já lhe tenha batizado a doidice, porque de médico mesmo ele não gosta. Nem de Deus. “Deus partiu meu coração”, decreta ele, para depois apontá-lo numa mancha escura na parede da sala. “Aqui é Deus. E ali, no alto daquela casa. Você está vendo?”.
E o que é a arte, se não mostrar o que os outros não veem? Os quadros que Aurelino pinta em sua casa miúda, no Alto de Ondina, a poucos passos do mar, já foram expostos em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e integraram mostras na Alemanha, Espanha e França. (...)
http://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1953837-entre-a-genialidade-e-a-loucura-pintor-baiano-produz-obra-raraAcesso modificado em 25/09/2018
Discurso Direto, Discurso Indireto e Discurso Indireto Livre são tipos de discursos utilizados no gênero narrativo para introduzir as falas e os pensamentos dos personagens. Seu uso varia de acordo com a intenção do narrador. Nos fragmentos do texto grifados acima têm-se a presença