Questões de Português - Gramática - Sintaxe - Orações subordinadas adverbiais
421 Questões
Os elementos coesivos são responsáveis por conectar ideias e termos em uma sentença ou sentenças. Eles estabelecem a coesão em um texto, isto é, auxiliam na formação de uma estrutura textual clara e coerente. As conjunções coordenativas e subordinativas são elementos coesivos por excelência, por exemplo:
Na tirinha da Mafalda há vários elementos coesivos, conectando uma frase à outra, na conversa com a mãe.
Assinale a alternativa correta quanto à afirmação.
Para responder à questão de Língua Portuguesa utilize como base os textos a seguir.
Texto 1
Cotado, Dino diz que há vários critérios de indicação ao STF além de raça e gênero
Ministro da Justiça É principal citado para a vaga de Resa Webes, Lula já disse não tee pressa com
sua senha
27 set. 2023 às 12h52 Marianna Holanda
BRASÍLIA ? O ministro Flávio Dino (Justiça) disse nesta quarta-feira (27) que existem vários critérios para a indicação do presidente Lula (PT) à vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) além de raça e gênero.
Dino é o principal cotado hoje na bolsa de apostas de candidatos à sucessão da ministra Rosa Weber, que se aposenta da corte nos próximos dias. O outro nome cotado é o do ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias.
O chefe do Executivo tem sido pressionado pela sociedade civil e por aliados a não diminuir a representatividade feminina na Suprema Corte, que hoje é de 2 mulheres para 9 homens. Há uma ânsia comum na parte que Lula escolha uma mulher negra para o posto.
"Toda reivindicação dos movimentos sociais é legítima, sempre. Agora lembramos que é um sistema. Temos instituições de Justiça com várias instâncias, com vários tribunais, e o presidente tem observado isso, sou testemunha. Ele tem nomeado muitas mulheres, pessoas negras", disse Dino a jornalistas no Palácio do Planalto [...].
"Então, ele [Lula] leva em conta isso como critério, e de fato é algo que nosso governo preza muito. Em relação ao Supremo, é claro, existem vários critérios. E aí é um arbitramento que cabe a ele, né?", completou.
Dino se declarou partido ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nas últimas eleições.
[...]
Além do o presidente ter sinalizado não ter pressa para as indicações, Lula disse nesta semana que gênero e cor não serão critérios para a sua escolha.
"O critério não será mais esse. Eu estou muito tranquilo por isso que eu tô dizendo que eu vou escolher uma pessoa que possa atender aos interesses e expectativas do Brasil. Uma pessoa que possa servir o Brasil. Uma pessoa que tenha respeito com a sociedade brasileira. Uma pessoa que vote adequadamente sem ficar votando pela imprensa. Saber?", afirmou o presidente a jornalistas no Itamaraty nesta semana.
A crítica a quem possa ficar "votando pela imprensa" ocorrerá três semanas depois de o mandatário já ter sugerido que votos de ministros da Suprema Corte façam eco sobre sigilo. À época, ele disse que seria para não criar "animosidade" com os magistrados e que a sociedade não tem que saber como eles votam.
Depois, Lula seguiu e disse que já tem várias pessoas "em mira". Mas, questionado sobre o nome de Dino, o presidente se esquivou e disse que vai indicar a pessoa mais correta que ele conhecer.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/09/cotado-dino-diz-que-ha-varios-criterios-de-indicacao-ao-stf-alem-de-raca-e-genero.shtml. Acesso em: 10 nov. 2023. (Adaptado)
Texto 2
O retrocesso bate à porta do STF
Diversidade não é bônus ou agrado, é dever indelével de nossos representantes 31.out.2023 às 22h00 Atualizado: 31.out.2023 às 22h58 Sheila Neder Cerezetti e Lívia Gil Guimarães
Diante da aposentadoria da ministra Rosa Weber, proliferam manifestações favoráveis à indicação de uma mulher ao posto. Nada mais natural, dado o enorme retrocesso que opção diversa representaria.
Até um dia antes de sua aposentadoria, o Supremo Tribunal Federal era composto por 9 homens e 2 mulheres; ou seja, o gênero feminino significava apenas 18,2% da mais alta corte do país. Se a vaga for preenchida por um homem, a porcentagem cairá para 9,1%. Dos atuais 10 integrantes, 1 se autoidentifica como pardo, os demais são brancos. Nunca uma mulher negra compôs o tribunal.
A ausência de indicação de uma mulher reforçaria o fato de que o Brasil está longe de alcançar equidade de gênero, sendo reflexo do descaso do Estado brasileiro em relação à situação de discriminação a que mulheres e meninas estão submetidas diariamente. É sob o prisma de evidente subvalorização do gênero feminino refletida nos índices de violência, desigualdade salarial e diminuta participação em espaços de poder que deve ser discutida a presença de ministras no STF
O debate deve centrar-se no imperativo de uma sociedade mais justa e igualitária, em que a exclusão de determinados grupos sociais seja constantemente rechaçada e combatida. Inexiste justificativa plausível para que homens sigam em pujante maioria nos altos postos públicos.
Por uma questão de igualdade distributiva e de reconhecimento, mulheres devem ter a oportunidade de contribuir ativamente nos espaços de tomada de decisão que dizem respeito às questões mais fundamentais da sociedade. Pensar diferente disso apenas revela o profundo descompasso do Brasil com instrumentos internacionais como a Cedaw (Convenção para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher) e o objetivo 5 da Agenda 2030 da ONU. Não podemos mais faltar com atenção à necessidade de combater preconceitos e discriminações que persistem na trajetória de mulheres.
Os marcadores sociais da diferença "raça" e "etnia" não devem ser entendidos como acessórios nessa análise: o Brasil historicamente secundarizou o exercício da cidadania de pessoas negras e indígenas, porque subalternizou- as em um projeto político e econômico. Na ótica interseccional, gênero e raça despontam como fatores de discriminação indevida e representam preconceitos e vivências de exclusão na dinâmica histórica brasileira.
Em perspectiva comparada, o Brasil possui posição bastante fragilizada. A ocupação feminina de apenas um assento no Supremo colocaria o país em penúltimo lugar na lista daqueles com maior desigualdade de gênero em cortes supremas da América Latina, à frente apenas da Argentina, segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). Isso sem falar na comparação, por exemplo, com Canadá e Estados Unidos, em que mulheres ocupam 44,4% desses espaços.
Em 2022, esses países acompanharam inéditas indicações de juízas de suprema corte que levaram em consideração os marcadores sociais da diferença etnia e raça em intersecção com gênero. No caso canadense, houve a primeira mulher oriunda de povos originários e, nos EUA, a primeira mulher negra. Vê-se que as discussões sobre maior diversidade em cortes estão em pauta, especialmente em momentos de necessária oposição ao obscurantismo.
Perdemos reiteradamente oportunidades de melhorar os números nacionais e de favorecer a igualdade com as últimas indicações de homens brancos ao STF Diversidade não é bônus ou agrado; é dever permanente de nossos representantes, assim como o é o combate às desigualdades impregnadas nas estruturas das instituições estatais e privadas deste país.
A indicação de uma mulher progressista é ato inegociável de promoção da participação de brasileiras na vida pública. É a única medida aceitável se não quisermos compactuar com o gritante retrocesso que se avizinha e que poderá durar longos cinco anos até a próxima aposentadoria. Opções qualificadas não faltam ao presidente Lula.
Sheila Neder Cerezetti Professora de direito comercial da Faculdade de Direito da USP, é coordenadora do Grupo de Pesquisa e Estudos de Inclusão na Academia (Gpeia-USP)
Lívia Gil Guimarães Doutora e mestra em direito constitucional (USP), é autora da tese "Mulheres na Composição de Cortes Supremas: Um Estudo sobre a Desigualdade de Gênero"; coordenadora do Gpeia- USP e pesquisadora do grupo Constituição, Política e Instituições (Copi-USP)
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2023/10/o-retrocesso-bate-a-porta-do-stf.shtml.Acesso em: 10 nov. 2023. (Adaptado)
"Dino é o principal cotado hoje na bolsa de apostas de candidatos à sucessão da ministra Rosa Weber, que se aposenta da corte nos próximos dias".
Nesse trecho, retirado do primeiro parágrafo do texto 1, a oração destacada é subordinada
Leia o texto a seguir para responder a QUESTÃO
Texto I
Empatia, exigência do mundo atual
Na atualidade, precisamos do homo empaticus mais do que do homo ‘vingativus’. Empatia significa capacidade psicológica para sentir o que sentiria outra pessoa caso estivesse na mesma situação. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo. A empatia leva as pessoas a ajudar umas às outras; está intimamente ligada ao altruísmo – amor e interesse pelo próximo – e à capacidade de ajudar. Quando um indivíduo consegue sentir a dor ou o sofrimento do outro ao se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo princípios morais.
A capacidade de se colocar no lugar do outro, que se desenvolve pela empatia, ajuda a compreender melhor o comportamento em determinadas circunstâncias e a forma como o outro toma as decisões. Ser empático é ter afinidades e se identificar com outra pessoa. É saber ouvir os outros, compreender os seus problemas e emoções. Quando alguém diz “houve uma empatia imediata entre nós”, significa que houvegrande envolvimento, identificação imediata. O contato com a outra pessoa gerou prazer, alegria e satisfação. Houve compatibilidade. Nesse contexto, a empatia pode ser considerada o oposto de antipatia.
[...] A empatia é diferente da simpatia, porque a simpatia é majoritariamente uma resposta intelectual, enquanto a empatia é uma fusão emotiva. Enquanto a simpatia indica vontade de estar na presençade outra pessoa e de agradar a ela, a empatia faz brotar a vontade de compreender e conhecer outra pessoa.
[...] A empatia é, de fato, um ideal que tem o poder tanto de transformar nossas vidas quanto de promover profundas mudanças sociais. A empatia pode gerar uma revolução: uma revolução nas relações humanas. [...]
Estamos excessivamente absortos em nossas próprias vidas para dedicar muita atenção a qualquer outra pessoa.
Empatia é a arte de se colocar no lugar do outro por meio da imaginação, compreendendo seus sentimentos e suas perspectivas e usando essacompreensão para guiar as próprias ações. A empatia é uma questão de descobrir esses gostos diferentes. [...]
Por essa atitude, nasce o reconhecimento da importância de tentar olhar por meio dos olhos das pessoas que usarão os produtos que são criados. Olhar com os olhos dos outros torna-se um esforço pessoalmente desafiador (às vezes divertido), mas tem extraordinário potencialcomo força de mudança social.
Empatia = compreensão de que o tamanho único não serve para todos.
A ideia de empatia não é nova. Na última década, porém, apesar da força da ideia de que somos criaturas egoístas por definição, preocupadas em se autoproteger, voltadas para os próprios fins individualistas, essa ideia foi deixada de lado por evidências de que somos também homo empathicus – fisicamente equipados para sentir empatia. E três frentes tornaram o avanço da empatia algo importante:
• Neurocientistas identificaram em nosso cérebro um ‘conjunto de circuitos da empatia’ com 10 seções que, se danificado, pode restringirnossa capacidade de compreender o que outras pessoas estão sentindo;
• Biólogos evolucionistas mostraram que somos animais sociais que evoluímos naturalmente para sermos empáticos e cooperativos, comonossos primos primatas;
• Psicólogos revelaram que até mesmo crianças de três anos são capazes de sair de si mesmas e ver a partir da perspectivas de outraspessoas [...]
É preciso pensar novas rotinas, novos desafios, novas ações, novas sensações, pois cuidar de si mesmo está se tornando uma aspiração ultrapassada, à medida que começamos a perceber que a empatia está no cerne do ser humano. Estamos no meio de uma grande transição da era cartesiana, de ‘penso, logo sou’ para uma era empática de ‘você é, logo sou’. [...]
Quase todas as pessoas possuem capacidade de criar empatia, ainda que nem todas a usem. [...]. Mas não vivemos num mundo insensível: a empatia é a matéria em meio à qual nos movemos.
Só que, neste momento da História, estamos sofrendo um ‘déficit de empatia’ crônico, tanto na sociedade quanto em nossa vida pessoal. Há mais pessoas morando sozinhas e passando menos tempo envolvidas em atividades sociais e comunitárias que promovam a sensibilidade empática. As redes sociais são boas para disseminar informações, mas – pelo menos até agora – pouco competentes em difundir empatia.
Violência urbana, política e étnica, intolerância religiosa, pobreza e fome, abusos dos direitos humanos, aquecimento global – há uma necessidade urgente de utilizar o poder da empatia para enfrentar essas crises e transpor as divisões sociais. Isso exige que pensemos sobre a empatia não apenas como uma relação entre indivíduos, mas como uma força coletiva que pode alterar os contornos da paisagem social e política.
Precisamos reconhecer que a empatia não apenas nos torna bons – ela nos faz bem. Stephen Covey afirma que "‘a comunicação empática’ é uma das chaves para o aperfeiçoamento das relações interpessoais. (...) O pensamento criativo também melhora com uma injeção de empatia, pois ela nos permite ver problemas e perspectivas que de outra maneira permaneceriam ocultos". [...]
Empatia é o antídoto para o individualismo absorto em si mesmo que herdamos do século passado. Vamos pensar em uma era da ‘outrospecção’,na qual encontramos melhor equilíbrio entre olhar para dentro e olhar para fora; é a ideia de descobrir quem somos e como devemos viver saindo de nós mesmos e explorando as vidas e perspectivas de outras pessoas. E a forma de arte essencial para Era da Outrospecção é a empatia. O movimento do pêndulo histórico equilibra melhor a introspecção aceitando o movimento de outrospecção. Precisamos de um movimento para fora do ‘eu’.
Mas não sejamos ingênuos. A empatia não é uma panaceia para todos os problemas do mundo, nem para todas as lutas que enfrentamos em nossas vidas. É importante ser realista com relação ao que ela pode e não pode realizar. A maneira mais eficaz de promover uma profundamudança social não está nos meios tradicionais da política partidária e na introdução de novas leis e políticas, mas na mudança do modo como as pessoas se tratam umas às outras num plano individual – em outras palavras, por meio da empatia.
Fonte: NUNES, Claudia. Empatia, exigência do mundo atual. Revista Educação Pública, v. 19, nº 1, 8 de janeiro de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/1/empatia-exigencia-do-mundoatual. Acesso em: 01 março 2023. (adaptado)
Em “Quase todas as pessoas possuem capacidade de criar empatia, ainda que nem todas a usem.” (14º parágrafo), o elemento em destaque introduz uma oração:
Na tirinha há uma oração subordinada substantiva completiva nominal.
Identifique-a.
Texto
O MEDO DO SILÊNCIO E O VÍCIO DA INFORMAÇÃO DESENFREADA
Julián Fuks
Não sou o único, suspeito que seja
um entre milhares, um entre milhões, a
ocupar de palavras cada instante vago, a
fugir do silêncio, do vazio, do marasmo.
[05] Faço isso contra mim mesmo, obedeço ao
meu vício, me saturo, me embriago de
linguagem. Entro no elevador e já apalpo o
bolso à procura do celular, para que me
acompanhe por um minuto até que a porta
[10] se abra. Se a notícia é forte, se a conversa
é enfática, caminho pela rua dividindo o
olhar entre a tela e a calçada, e espero na
fila do mercado absorvido em comentários
erráticos de pessoas que conheço mal.
[15] Durante todo o trajeto, perdi rostos,
pensamentos, paisagem, fui uma ausência
entre ausências no mundo que reputo real.
A princípio a novidade me pareceu
um disparate: poderíamos agora acelerar o
[20] som dos programas que ouvimos, dos
áudios que recebemos. Quem teria tanta
pressa, cheguei a me perguntar, quem
aceitaria deturpar as vozes dos amigos,
fazer de suas vagarezas habituais um
[25] discurso impaciente, ansioso, seco?
Brinquei com as minhas filhas de acelerar
as nossas vozes, de falar tão rápido quanto
podíamos e em seguida ouvir nossas
asperezas, nossos atropelos. E então a
[30] graça foi se perdendo pelos dias em sua
presteza, o que era insólito se fez ordinário,
e passei a ouvir quase tudo apressado, com
um módico incremento de ritmo e de raiva.
Adensei de informações a minha existência,
[35] reduzi ao mínimo meu silêncio, meu tédio,
minha inteligência.
Meu vício é por notícias, por
análises, por debates, meu vício é por
imagens improváveis, meu vício é por
[40]comentários jocosos, piadas de
circunstância, risos fáceis. Nunca estive tão
abastecido de produtos que possam saciar
essa ânsia, nunca dispus de uma
comunicação tão irrefreável, e ainda assim
[45] não me sacio. Dormir é calar a profusão de
palavras, acordar é voltar a aceitá-la.
Guardo consciência de que tudo isso não
está me preenchendo de nada, de que
estou me esvaziando, estou hipertrofiado de
[50] informações, atrofiado de interioridade. Há
dias em que me escuto muito mal, quase
não me escuto com tanto ruído que me
invade.
Pouca paciência me resta para o
[55] cinema que antes me encantava. Vejo um
homem cruzando um deserto, atravessando
uma praça, seguindo pelo corredor de um
hotel, e anseio para que apresse o passo,
para que enfim a cena comece, para que se
dê o diálogo. É como se quisesse optar, nos
[60] mesmos filmes que admirava, nos filmes
que ainda admiro, por uma nova
velocidade, uma que não me obrigue à
assimilação lenta de cada detalhe. Não é
[65] um desejo harmônico, não é nada unânime
entre os muitos que sou. Sou impaciente
com a minha própria impaciência, luto
contra mim para recuperar a tranquilidade,
para voltar a ser um sujeito de pálpebras
[70] baixas disposto à divagação e à
contemplação desarmada.
Penso no tempo em que a
incomunicação ditava o sentido do cinema,
da literatura, das artes. Víamos
[75] contundência e beleza no marasmo, víamos
um homem em estado de solidão e
pensávamos capturar seu desamparo, seu
desconsolo, sua profundidade. Hoje a dor
desse homem se converteu num tédio que
[80] já não suportamos. Samuel Beckett virou
tema para estudiosos, suas esperas falam
pouco aos ouvidos ansiosos, a
incomunicação não nos comunica mais
nada. O autor que quiser dar conta deste
[85] tempo atordoante terá que abrir espaço aos
excessos da comunicação, fazer reverberar
em sua obra essas vozes que nunca calam,
nunca cansam de falar, em ritmo agora
turbinado.
[90] E, no entanto, o que procuro na
literatura é o contrário, é nela que me
abrigo do ruído, com suas palavras
reinstauro o silêncio necessário. No
intervalo entre dois versos, entre duas
[95] linhas de um romance bom, me desvio para
os meus próprios pensamentos e é como se
os reencontrasse, à minha espera, calmos,
imperturbáveis. Geralmente, querem me
falar sobre coisas muito diferentes dessa
[100] existência vertiginosa, seu tempo não é o
presente, outro é seu horizonte, outra sua
cadência. Quando o pensamento se
emancipa do vício, o passado é vasto, o
futuro é franco, o mundo não se limita a
[105] esse caos rumoroso que nos consome e nos
debilita.
O último pensamento me conduziu a
uma nostalgia: nostalgia do silêncio, da
conversa ineficiente, do encontro vadio. Dos
[110] amigos que pouco vejo neste mundo de
atropelos, das vozes queridas que acelerei
para meu desprazer. De vocês, não quero
mais a informação certeira, não quero a
eficácia comunicativa. Quero voltar a ouvir
[115]suas pausas, suas hesitações, seus
descaminhos, quero voltar a adivinhar o
rumo de seus juízos. Preciso de vocês para
combater o meu vício, para me munir de
palavras ociosas e indolentes. Aguardo
[120] áudios que me adormeçam, que me
despertem.
Disponível em https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julianfuks/2021/08/21/o-medo-do-silencio-e-o-vicio-dainformacao-desenfreada.htm. Acesso em 01 de setembro de 2021.
Atente para as orações destacadas nos seguintes trechos:
“Se a notícia é forte, se a conversa é enfática, caminho pela rua dividindo o olhar entre a tela e a calçada” (linhas 10-12);
“Guardo consciência de que tudo isso não está me preenchendo de nada” (linhas 47-48);
“Hoje a dor desse homem se converteu num tédio que já não suportamos” (linhas 78-80)
“Quando o pensamento se emancipa do vício, o passado é vasto” (linhas 102-103).
As orações acima destacadas são respectivamente classificadas como
Considere o poema “O menino sem passado”, de Murilo Mendes, para responder à questão.
Monstros complicados
não povoaram meus sonhos de criança
porque o saci-pererê não fazia mal a ninguém
limitando-se moleque a dançar maxixes desenfreados
no mundo das garotas de madeira
que meu tio habilidoso fazia para mim.
A mãe-d’água só se preocupava
em tomar banhos asseadíssima
na piscina do sítio que não tinha chuveiro.
De noite eu ia no fundo do quintal
para ver se aparecia um gigante com trezentos anos
que ia me levar dentro dum surrão,
mas não acreditava nada.
Fiquei sem tradição sem costumes nem lendas
estou diante do mundo
deitado na rede mole
que todos os países embalançam.
(Os melhores poemas, 2000.)
Na terceira estrofe, o trecho “para ver se aparecia um gigante com trezentos anos” indica ideia de
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