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Acesse GrátisQuestões de Português - Gramática
Questão 4 1374498
USS 2019/1DIVAGAÇÕES SOBRE AS ILHAS
Quando me acontecer alguma pecúnia1, passante de um milhão de cruzeiros, compro uma ilha; não
muito longe do litoral, que o litoral faz falta; nem tão perto, também, que de lá possa eu aspirar a fumaça
e a graxa do porto. Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto
de latitude e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado
[5] dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a arte do bem
viver; uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.
De há muito sonho esta ilha, se é que não a sonhei sempre. Se é que a não sonhamos sempre, inclusive
os mais agudos participantes. Objetais-me: “Como podemos amar as ilhas, se buscamos o centro
mesmo da ação?” Engajados, vosso engajamento é a vossa ilha, dissimulada e transportável. Por onde
[10] fordes, ela irá convosco. Significa a evasão daquilo para que toda alma necessariamente tende, ou seja,
a gratuidade dos gestos naturais, o cultivo das formas espontâneas, o gosto de ser um com os bichos, as
espécies vegetais, os fenômenos atmosféricos. Substitui, sem anular. Que miragens vê o iluminado no
fundo de sua iluminação?... Supõe-se político, e é um visionário. Abomina o espírito de fantasia, sendo
dos que mais o possuem. Nessa ilha tão irreal, ao cabo, como as da literatura, ele constrói a sua cidade
[15] de ouro, e nela reside por efeito da imaginação, administra-a, e até mesmo a tiraniza. Seu mito vale o
da liberdade nas ilhas. E, antagonista do mundo burguês, que outra coisa faz senão aplicar a técnica do
sonho, com que os sensíveis dentre os burgueses se acomodam à realidade, esquecendo-a?
A ilha que traço agora a lápis neste papel é materialmente uma ilha, e orgulha-se de sê-lo. Pode ser
abordada. Não pode ser convertida em continente. Emerge do pélago2 com a graça de uma flor criada
[20] para produzir-se sobre a água. Marca assim o seu isolamento, e como não tem bocas de fogo nem
expedientes astuciosos para rechaçar o estrangeiro, sucede que este isolamento não é inumano.
Inumano seria desejar, aqui, dos morros litorâneos, um cataclismo que sovertesse3 tão amena,
repousante, discreta e digna forma natural, inventada para as necessidades do ser no momento exato
em que se farta de seus espelhos, amigos como inimigos.
[25] E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade dos
regatos – tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe, com diferentes
pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra firme e longa. Resta ainda
o argumento da felicidade: “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta, para enaltecer, pelo contraste, a sua
Pasárgada4: mas será que se procura realmente nas ilhas a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? (...).
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Adaptado de Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979.
1Pecúnia: pagamento.
2Pélago: profundidade.
3Soverter: fazer desaparecer.
4Pasárgada: localidade fictícia em poema de Manuel Bandeira onde o eu lírico seria sempre feliz.
Supõe-se político, e é um visionário. Abomina o espírito de fantasia, sendo dos que mais o possuem. (l. 13-14)
No fragmento acima, há pares de ideias articuladas por uma relação lógica de
Questão 4 7835674
UNIFIMES 2019Sobre a frase “O homem observa, mas não emite um pensamento sequer” é possível construir a seguinte análise:
Questão 13 390486
EEAR 2019/1Marque a alternativa incorreta quanto à classificação das orações coordenadas sindéticas destacadas.
Questão 8 605946
Albert Einstein 2019Leia o trecho do romance Lavoura arcaica, de Raduan Nassar, para responder à questão.
– Meu coração está apertado de ver tantas marcas no teu rosto, meu filho; essa é a colheita de quem abandona a casa por uma vida pródiga.
– A prodigalidade também existia em nossa casa.
– Como, meu filho?
– A prodigalidade sempre existiu em nossa mesa.
– Nossa mesa é comedida, é austera, não existe desperdício nela, salvo nos dias de festa.
– Mas comemos sempre com apetite.
– O apetite é permitido, não agrava nossa dignidade, desde que seja moderado.
– Mas comemos até que ele desapareça; é assim que cada um em casa sempre se levantou da mesa.
– É para satisfazer nosso apetite que a natureza é generosa, pondo seus frutos ao nosso alcance, desde que trabalhemos por merecê-los. Não fosse o apetite, não teríamos forças para buscar o alimento que torna possível a sobrevivência. O apetite é sagrado, meu filho.
– Eu não disse o contrário, acontece que muitos trabalham, gemem o tempo todo, esgotam suas forças, fazem tudo que é possível, mas não conseguem apaziguar a fome.
– Você diz coisas estranhas, meu filho.
(Lavoura arcaica, 2001.)
“– É para satisfazer nosso apetite que a natureza é generosa, pondo seus frutos ao nosso alcance, desde que trabalhemos por merecê-los.” (9° parágrafo)
Considerado no contexto, o trecho sublinhado expressa ideia de
Questão 5 961383
UEA - SIS 3ª Etapa 2018Leia o trecho de O quinze, de Rachel de Queiroz (1910-2003), para responder à questão.
Mas foi em vão que Chico Bento contou ao homem das passagens a sua necessidade de se transportar a Fortaleza com a família. Só ele, a mulher, a cunhada e cinco filhos pequenos.
O homem não atendia.
– Não é possível. Só se você esperar um mês. Todas as passagens que eu tenho ordem de dar, já estão cedidas. Por que não vai por terra?
– Mas meu senhor, veja que ir por terra, com esse magote de meninos, é uma morte!
O homem sacudiu os ombros:
– Que morte! Agora é que retirante tem esses luxos... No 77 não teve trem para nenhum. É você dar um jeito, que, passagens, não pode ser...
Chico Bento foi saindo.
Na porta, o homem ainda o consolou:
– Pois se quiser esperar, talvez se arranje mais tarde. Imagine que tive de ceder cinquenta passagens ao Matias Paroara, que anda agenciando rapazes solteiros para o Acre!
Na loja do Zacarias, enquanto matava o bicho, o vaqueiro desabafou a raiva:
– Desgraçado! Quando acaba, andam espalhando que o governo ajuda os pobres... Não ajuda nem a morrer!
O Zacarias segredou:
– Ajudar, o governo ajuda. O preposto é que é um ratuíno... Anda vendendo as passagens a quem der mais...
Os olhos do vaqueiro luziram:
– Por isso é que ele me disse que tinha cedido cinquenta passagens ao Matias Paroara!...
– Boca de ceder! Cedeu, mas foi mão pra lá, mão pra cá... O Paroara me disse que pouco faltou pro custo da tarifa... Quase não deu interesse...
Chico Bento cuspiu com o ardor do mata-bicho:
– Cambada ladrona!
(O quinze, 2013.)
“andam espalhando que o governo ajuda os pobres... Não ajuda nem a morrer!” (11o parágrafo)
Em relação a “o governo ajuda os pobres”, o trecho “Não ajuda nem a morrer!” estabelece uma
Questão 59 1263348
FGV-SP Economia - 1ºFase - LEI/FIS/QUI/LPO - BLOCO 02 2018Leia o texto para responder à questão.
O século 20, com suas guerras mundiais e os conflitos que semearam, deixou muitas cicatrizes sobre a face da Terra. Entre elas, o famigerado Muro de Berlim, cuja demolição marcou o fim da Guerra Fria e o suposto final da história.
A história não termina, contudo. Novos e gigantescos muros continuam a ser erguidos, com alturas e extensões suficientes para deixar na sombra a barreira à liberdade erguida na capital alemã, que existiu por 28 anos.
A proliferação desses obstáculos a apartar pessoas e comunidades motivou a série de reportagens da Folha “Um Mundo de Muros”.
O Brasil tem os seus, desde sempre para manter a distância entre ricos e pobres – como o que impede a visão da miséria e do esgoto a céu aberto da Vila Esperança, em Cubatão/SP, a quem trafega pela via Imigrantes.
Nada diverso dos 10 km do Muro da Vergonha que apartam, na capital peruana, a esquálida comunidade de Pamplona Alta do afluente bairro Casuarinas, outro retrato desolador.
São situações, problemas e conflitos muito díspares, contra os quais se erguem barreiras que evocam o pior do século passado.
(Folha de S.Paulo, 10.09.2017. Adaptado)
No contexto em que está empregada, a frase “A história não termina, contudo.” expressa sentido de