Questões de Português - Leitura e interpretação de textos - Gêneros Textuais - Verbais/Dissertativo - debate
21 Questões
Questão 4 7109054
UEMA PAES 2022José Pereira da Graça Aranha nasceu, em São Luís do Maranhão, a 21 de junho de 1868. Foi nomeado, em 1890, Juiz Municipal em Cachoeiro de Santa Leopoldina, no Espírito Santo, onde recolheu material para a sua obra de maior interesse, que publicaria doze anos depois, Canaã. De acordo com a Bíblia, Canaã era a terra prometida por Deus a Abraão e descendentes. Por extensão, Canaã, na obra literária, poderia ser considerado um lugar paradisíaco na terra.
Nesse romance ideológico, Graça Aranha expõe uma crítica à fase em que o poder político e o social brasileiros sofrem influências de ricos cafeicultores no Sudeste do Brasil e do fluxo de imigrantes alemães, que, então, substituíam a mão de obra escrava dos recém-libertados, marginalizados e injustiçados, em regiões do Espírito Santo.
Leia o excerto para responder a questão.
O estrangeiro apertou a mão calosa e áspera do velho, que abriu os lábios numa rude expressão de riso, mostrando as gengivas roxas e desdentadas. A cafuza não se mexeu; apenas, mudando vagarosamente o olhar, descansou-o, cheio de preguiça e desalento, no rosto do viajante. A criança acolheu-se a ela, boquiaberta, com a baba a escorrer dos beiços túmidos.
[...]
— Mora aqui há muito tempo? perguntou Milkau.
— Fui nascido e criado nessas bandas, sinhô moço... Ali perto do Mangaraí.
— E, tateando o espaço, estendia a mão para o outro lado do rio. — Não vê um casarão lá no fundo? Foi ali que me fiz homem, na fazenda do Capitão Matos, defunto meu sinhô, que Deus haja! O estrangeiro, acompanhando o gesto, apenas divisava ao longe um amontoado de ruínas que interrompia a verdura da mata.
E a conversa foi continuando por uma série de perguntas de Milkau sobre a vida passada daquela região, às quais o velho respondia gostoso, por ter ocasião de relembrar os tempos de outrora, sentindo-se incapaz, como todos os humildes e primitivos, de tomar a iniciativa dos assuntos.
[...]
— Ah, tudo isto, meu sinhô moço, se acabou... Cadê fazenda? Defunto meu sinhô morreu, filho dele foi vivendo até que governo tirou os escravos. Tudo debandou. Patrão se mudou com a família para Vitória, onde tem seu emprego; meus parceiros furaram esse mato grande e cada um levantou casa aqui e acolá, onde bem quiseram. Eu com minha gente vim para cá, para essas terras do seu coronel. Tempo hoje anda triste. Governo acabou com as fazendas, e nos pôs todos no olho do mundo, a caçar de comer, a comprar de vestir, a trabalhar como boi para viver. Ah! tempo bom de fazenda!
[...]
— Mas, meu amigo — disse Milkau —, você aqui ao menos está no que é seu, tem sua casa, sua terra, é dono de si mesmo.
— Qual terra, qual nada... Rancho é do marido de minha filha, que está aí sentada, terra é de seu coronel, arrendada por dez mil-réis por ano. Hoje em dia tudo aqui é de estrangeiro, Governo não faz nada por brasileiro, só pune por alemão...
ARANHA, G. (1868-1931). Canaã. 3 ed. São Paulo: Martins Claret, 2013.
Dentre os trechos extraídos do diálogo dos personagens, indique aquele em que predomina a intenção crítica do autor acerca da política da época.
Questão 75 224343
PUC-SP Inverno 2017A queda do poderoso machão
Paula Cesarino Costa
OMBUDSMAN* da Folha de S.Paulo
Folha de S.Paulo, 09/04/2017
Em janeiro de 2016, a Folha anunciou a estreia de blog voltado à discussão das questões de gênero e do chamado empoderamento feminino. Nascido do movimento #Agora É Que São Elas, em que mulheres ocuparam o espaço de colunistas homens nos jornais, o blog homônimo se somava a dezenas de outros. Interpretei como saudável a oferta de novos temas aos leitores do jornal.
Neste espaço, já alertara de que os tempos de redes sociais turbulentas sinalizavam a hora de reinventar as páginas de opinião. Contabilizava, em agosto de 2016, 32 mulheres entre os 130 colunistas do jornal.
Na madrugada da sexta, 31 de março, o #Agora É Que São Elas publicou um post de potencial arrebatador nas redes sociais. O post "José Mayer me assediou" foi colocado no ar à 0h45. Nele, a figurinista Susllem Tonani acusava o ator de tê-la assediado durante oito meses na TV Globo. De manhã, o texto já era lido e compartilhado nas redes sociais. Por volta das 10h, a Folha tirou-o do ar sem dar explicação.
Cobrei do jornal, na crítica interna que circula em torno das 12h30, a obrigação de prestar satisfação ao leitor. Só às 14h22 foi publicada a justificativa para o sumiço do post: "O conteúdo foi retirado do ar porque desrespeitou o princípio editorial da Folha de só publicar acusação após ouvir e registrar os argumentos da parte acusada, salvo nos casos em que isso não for possível".
Às 17h30, o texto voltou a ficar disponível, ao mesmo tempo em que era publicada reportagem que resumia as acusações da figurinista e ouvia o ator. Ele negava o que lhe havia sido imputado. A TV Globo dizia não comentar assuntos internos, mas assegurava que haveria apuração rigorosa, "ouvidos todos os envolvidos, em busca da verdade".
Houve mobilização de funcionárias da emissora, que culminou em manifesto, cujo título se tornaria emblemático em camisetas e posts: "Mexeu com uma, mexeu com todas". Três dias depois do post original, a emissora divulgou a decisão de suspender José Mayer. Em carta, o ator assumiu ter errado e pediu desculpas. Tropeçou ao resumir o episódio como "brincadeira" e tentar dividir sua culpa com a geração de homens acima de 60 anos, como se fossem vítimas de uma catequese única e perversa.
A polêmica alcançou o topo das redes sociais, chegando a estar entre os dez assuntos mais comentados do mundo no Twitter. A retirada do ar do post pela Folha, sem explicação imediata, mas deixando rastros digitais, gerou reclamações e suscitou a elaboração de conjecturas:
"Acredito que a Folha precisa explicar o que motivou a retirada. Se está compactuando com uma operação abafa por parte da Globo ou se apurou erros no relato", registrou um leitor.
O editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, diz que a Direção foi surpreendida com o conteúdo e determinou sua retirada temporária até que o outro lado fosse ouvido. "Nesse intervalo, uma reportagem foi publicada para explicar o que havia acontecido. Não foi, portanto, sem qualquer explicação", afirma.
Para Dávila, no caso concreto, não havia impeditivo para que o procedimentopadrão de ouvir o outro lado não fosse respeitado.
A Folha tem hoje 124 colunistas e 48 blogs. Grande parte dos leitores não diferencia uns de outros. Mas, na estrutura interna do jornal, blogueiros e colunistas são tratados de forma diferenciada. Todos os colunistas são lidos por editores ou pelos secretários de Redação antes que seus textos sejam publicados.
Os blogs são acompanhados a posteriori, pela própria natureza de "diário" que a modalidade comporta. Os autores cuidam diretamente da publicação dos textos.
Argumenta Dávila que todos os que
escrevem na Folha, incluindo blogueiros, devem submeter quaisqueracusações de prática ilegal aos seus editores antes de publicá-las.
É dever das titulares de um blog feminino e feminista trazer a público, sabendo ser verdadeira, uma denúncia de prática machista. É dever do jornal trabalhar tal informação e dar voz àquele que é acusado do que quer que seja.
O correto teria sido a publicação do texto original no blog, com remissão simultânea para reportagem produzida pelo corpo editorial da Folha, submetida aos padrões exigidos pelo Manual de Redação de isenção, transparência e equilíbrio. A retirada do ar explicitou falhas de comunicação e procedimento.
Um poderoso machão sucumbiu. Os tempos são outros. Uma leitora, no entanto, lembrou a ombudsman de que nesta semana a Ilustrada ganhou três novos colunistas de humor. Eles dividirão espaço com o consagrado José Simão. Todos são homens. Também não há mulheres, por exemplo, no quadrado da charge da página 2 da Folha.
*Ombudsman é uma expressão de origem sueca que significa "representante do cidadão". A palavra é formada pela união de "ombuds"
(representante) e "man" (homem). O termo surgiu em 1809, nos países escandinavos, para designar um Ouvidor-Geral do Parlamento, responsável em mediar e tentar solucionar as reclamações da população junto ao governo.
Hoje em dia, o ombudsman se transformou em uma profissão presente em quase todas as grandes e médias empresas, sejam públicas ou privadas.
A função do búds, como também são conhecidos, é a de enxergar os problemas e pontos negativos de determinada empresa ou instituição, a partir da ótica do consumidor/cidadão, e tentar solucionar as crises de maneira imparcial.
Dentro da imprensa, o ombudsman é o intermediador entre a editoria do jornal, por exemplo, e seus leitores. Nos Estados Unidos, a função de ombudsman
surgiu nos anos 1960. No Brasil, o cargo existe desde 1989, quando o jornal Folha de S. Paulo publicou a primeira editoria do seu ombudsman, que ficaria responsável em ser o porta-voz dos leitores, solucionando e transmitindo as suas reclamações para o jornal.
Em muitas empresas o ombudsman é ligado ao departamento de Serviços Jurídicos.
Disponível em: https://www.significados.com.br/ombudsman/. Acesso em: 13 maio 2017. [Adaptado para fins de vestibular.]
• Nos segundo, décimo e último parágrafos, a ombudsman se vale de aspectos quantitativos como argumento de que,
Questão 7 407837
FACISB 2016Leia o texto de Marcos Dantas para responder à questão.
Uma utopia democrática
Nas décadas de 1910 e 1920, alguns milhares de pessoas, a maioria nos Estados Unidos, puseram-se a montar e usar equipamentos de radiotransmissão, passando a trocar mensagens sobre tudo, através das ondas hertzianas. Montar um equipamento era relativamente fácil: bastava comprar os componentes no comércio varejista e seguir as instruções divulgadas em revistas especializadas. “Entrar no ar” era um ato individual, inteiramente livre.
Essa liberdade de acesso ao espectro eletromagnético levou o dramaturgo marxista alemão Bertolt Brecht a formular uma “teoria do rádio” que propunha dotar todas as residências com aparelhos emissores-receptores, pelos quais os indivíduos (cidadãos) poderiam manter relações políticas e culturais entre si, construindo uma espécie de assembleia popular permanente.
Brecht vislumbrou aí a possibilidade de se instaurar uma esfera pública cidadã. Seria um espaço, sustentado numa infraestrutura técnica, no qual os indivíduos cidadãos poderiam intervir, na condição de produtores diretos e autônomos de cultura. Seria o alargamento e a consolidação do ideal iluminista de esfera pública burguesa, agora expandida para toda a sociedade democrática. Seria, pois, a radicalização da democracia.
(A lógica do capital-informação, 2002. Adaptado.)
Segundo o texto, Bertolt Brecht
Questão 8 787144
USS (Univassouras) 2015/1Texto
No dia a dia, o produtor de moda José Camarano, de 29 anos, nascido em Minas Gerais, conduz
uma rotina, de fato, contemporânea. Assim que acorda, abre o Facebook e se atualiza sobre os
acontecimentos noturnos da sua “rede social”. Daí em diante, Camarano só se desconecta quando
fecha novamente os olhos. Como Camarano tem tempo para tudo isso? Eis a questão.
[5] O sociólogo polonês Zigmunt Bauman começa o prefácio do livro Modernidade líquida, de 2001, com
uma análise precisa e ferina desses nossos tempos de rapidez e inconsistência, com um fragmento
de um texto do filósofo francês Paul Valéry, escrito lá no início do século XX: “Toda a questão se
reduz a isto: pode a mente humana dominar o que a mente humana cria?” Diversas correntes de
pensamento, das mais humanistas, como a filosofia budista, às, digamos, mais capitalistas, como
[10] os integrantes do Novo Clube de Paris, que inclui de matemáticos a ministros e presidentes de
bancos, coordenado pelo Banco Mundial e criado para estudar o que chamam de “bens intangíveis”,
acreditam que estamos chegando a um limite perigoso.
Ultraconectados ou não, passamos a viver o tempo imposto pela tecnologia de comunicação, a
indústria que mais se desenvolveu nas últimas duas décadas. O lado bom disso todos nós alardeamos
[15] e usufruímos: a internet trouxe o planeta para a tela dos nossos computadores e o celular nos
tornou pessoas acessíveis. Podemos até ir à praia e, simultaneamente, contar para os amigos tudo
que está acontecendo. Não precisamos mais ir aos Correios, ao banco, ao supermercado. Tudo ficou
prático, ao alcance dos dedos. O lado ruim é que perdemos, literalmente, a noção do tempo.
O fato é que, de acordo com Zigmunt Bauman, vivemos uma era que eliminou o tempo vazio,
[20] o tempo que não é preenchido com o consumo de imagens, sons, gostos, impressões táteis.
Tornamo-nos seres incapazes de sobreviver sem estímulos. O tempo vazio não é mais levado
em conta como tempo de reflexão, mas de tédio. O significado de tempo − ou o que estamos
fazendo com o nosso tempo − virou uma questão.
Segundo o matemático Marcos Cavalcanti, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro
[25] e integrante do seleto clubinho parisiense, a linha de raciocínio é a seguinte: a partir de meados dos
anos 1990, aconteceu o “povoamento virtual”. Com isso, aumentou a circulação de “conhecimento
explícito”. Ou seja, informação pura e simples. De uma hora para outra, todo mundo passou a ter
a possibilidade de se tornar um ser humano bem informado. Só que a avalanche detonou uma
quase catástrofe: a redução de pessoas capazes de produzir “conhecimento tácito”, aquilo que só o
[30] indivíduo pode fazer.
− Não adianta só ter informação. Um computador manipula melhor do que qualquer ser humano
o conhecimento explícito. O que o computador não sabe é se está faltando uma pitada de sal para
realçar o doce do bolo. E esse conhecimento só é gerado com reflexão, concentração, investimento
pessoal − diz Cavalcanti. − Aí entra a questão do tempo. Em vez de correr para não perder nada, o
[35] ideal é consumir pouca informação e parar para pensar. A sociedade da informação está migrando
para a sociedade do conhecimento. O frenesi de informações causa angústia, ansiedade e nenhum
conteúdo. O que está faltando na vida das pessoas é se dar um tempo.
KARLA MONTEIRO Adaptado de Revista O Globo, 26/04/2009.
Ultraconectados ou não, passamos a viver o tempo imposto pela tecnologia de comunicação, a indústria que mais se desenvolveu nas últimas duas décadas. (l. 13-14)
Neste fragmento, distinguem-se os indivíduos na contemporaneidade em dois grupos.
Apesar dessa distinção, pode-se concluir que esses grupos compartilham a seguinte característica em relação à organização social:
Questão 4 46107
PUC-SP Inverno 2012
DEBATE ABERTO – Carta Maior, 12 mar. 2012
Proibir ou não, eis a não questão
Não adianta proibir uma torcida de assistir aos jogos. Pois basta que os mesmos sujeitos entrem com camisas brancas e pronto, a proibição está contor - nada. A questão é mais complicada, e tem ressalvas, confissões, críticas, soluções, avisos e enfins.
José Roberto Torero
Num vídeo disponível na internet, André Lezo, o torcedor que morreu neste domingo, fala que a Mancha e o Palmeiras eram sua vida. Isso é triste por várias razões:
Primeiro, pelo infeliz trocadilho, pois André não teve vida, mas morte, por conta de Palmeiras e Mancha.
Em segundo lugar, porque há uma certa desesperança em alguém dizer que o futebol é a coisa mais importante de sua vida. É muita falta de expectativa. É sinal de uma vida sem sentido.
Acredito que este crescimento da importância do futebol tem duas causas. A primeira é a queda do nível da educação nacional, que começou em meados dos anos sessenta, durante a ditadura militar. No longo prazo, essa educação falha fez com que valores fossem substituídos, que a cultura ficasse em segundo plano, que a participação na sociedade fosse evitada etc. Por outro lado, algumas forças sociais, como partidos políticos, comunidades eclesiais de base, sociedades amigos de bairro e sindicatos perderam seu poder de atração. Sem a ditadura como inimigo óbvio, elas não conseguiram criar novos desejos, novas causas.
As pessoas querem agir, querem fazer parte. E, sem muita concorrência, o futebol acabou canalizando boa parte deste desejo.
O que é uma pena, porque o futebol não tem importância nenhuma.
Disponível em: http://www.cartamaior.com.br/templates/ colunaMostrar.cfm?coluna_id=5531. Acesso em: 8.mai.2012.
No lead, abertura do texto cuja função é apresentar uma síntese do assunto e destacar pontos de relevância, o autor emprega a palavra “enfins”. Qual o efeito de sentido desse emprego?
Questão 4 6901580
EBMSP Medicina 2022/1A vida é de fato muito curta para ser pequena. O que é mesmo cidadania plena? É uma vida que, coletivamente, não apequene a própria vida. Ou seja, é necessário que você e eu construamos, juntos, o inédito viável.
Segundo o grande pensador da educação Paulo Freire, é preciso ter esperança para chegar ao inédito viável e ao sonho. Cuidado! Há pessoas que têm esperança do verbo “esperar”. Esse grande educador e filósofo falava da esperança do verbo “esperançar”. Esperar é “Ah, eu espero que dê certo, espero que aconteça, espero que resolva”. Esperançar é ir atrás, é não desistir. Esperançar é ser capaz de buscar o que é viável para fazer o inédito. Esperançar significa não se conformar.
Quando eu coloco água em um copo, ela se conforma ao recipiente e está aprisionada nele. É preciso que você e eu sejamos capazes de transbordar. A esperança permite que você transborde, isto é, vá além da borda.
A ambição, diferentemente da ganância, faz com que você e eu não nos conformemos. [...]
CORTELLA, Mário Sérgio. O verbo esperançar. Disponível em: http://www. mscortella.com.br/o-verbo-esperancar-4a. Acesso em: out. 2021.
A fim de garantir a defesa de sua tese, o enunciador do discurso usa, como estratégia argumentativa, uma
Pastas
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