Questões de Português - Leitura e interpretação de textos
“Ciclo"
Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!
Dia. A flor, — o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A árvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!
Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hóstia da ideia em perfeição... Pensar!
Noite. Oh! saudade!...A dolorosa rama
Da árvore a aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar!”
(BILAC, Olavo. Tarde. 1.ed. Rio de Janeiro; São Paulo; Belo Horizonte: Libraria Francisco Alves, p. 12-13, 1919.)
No soneto “Ciclo”,
Neste mês, as cigarras cantam
e os trovões caminham por cima da terra,
agarrados ao sol.
Neste mês, ao cair da tarde, a chuva corre pelas montanhas,
e depois a noite é mais clara,
e o canto dos grilos faz palpitar o cheiro molhado do chão.
Mas tudo é inútil,
porque os teus ouvidos estão como conchas vazias,
e a tua narina imóvel
não recebe mais notícias
do mundo que circula no vento.
MEIRELES, Cecília. Disponível em: https://poetisarte.com/autores/cecilia-meireles/elegia/. Acesso em: 13 mar. 2023.
O recurso expressivo usado no verso em destaque é chamado de
Depois que morrer
Nascemos livres, iguais, dignos e com direitos.
Da liberdade, somente a ilusão.
Da igualdade, no máximo, a comunhão.
Da dignidade, é melhor não falar.
Dos direitos, nem dos “manos” nem dos humanos.
Iguais em cor, sexo, religião e opinião.
Do preto ao índio, “de cara” a exclusão.
Do sexo, por favor, não seja veado!
Da religião, nada que bata tambor.
Da opinião: – Cala a boca, falastrão!
Direito à vida, segurança, identidade e paz.
Do viver, ninguém pede para nascer.
Da segurança, que segurança?
Da identidade, somente no RG.
Da paz, só depois que morrer.
DOBROVOLISKI, Elton Paulo. Disponível em: https://ucpparana.edu.br/content. Acesso em: abr. 2023.
Os versos do autor evidenciam um jogo de palavras que revela uma
Texto
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio tão amargo.
[5] Eu não tinha estas mãos tão sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
[10] Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou retida
a minha face?
MEIRELES, Cecília. Retrato. In: Viagem [1939]. Rio de Janeiro, Ed. Global, 2012, p. 29
O sentido de “Eu não tinha este coração/que nem se mostra.” (linhas 63-64) é semelhante a: Eu não tinha este coração que está
Na ribeira do Eufrates assentado,
Discorrendo me achei pela memória
Aquele breve bem, aquela glória,
Que em ti, doce Sião, tinha passado.
Da causa de meus males perguntado
Me foi: Como não cantas a história
De teu passado bem e da vitória
Que sempre de teu mal hás alcançado?
Não sabes, que a quem canta se lhe esquece
O mal, inda que grave e rigoroso?
Canta, pois, e não chores dessa sorte.
Respondi com suspiros: Quando cresce
A muita saudade, o piedoso
Remédio é não cantar senão a morte.
(Luís de Camões, 20 sonetos. Org. Sheila Hue. Campinas: Editora da Unicamp, 2018, p.113).
Considerando as características formais e o núcleo temático, é correto afirmar que o poema retoma o dito popular
Considere o poema “O menino sem passado”, de Murilo Mendes, para responder à questão.
Monstros complicados
não povoaram meus sonhos de criança
porque o saci-pererê não fazia mal a ninguém
limitando-se moleque a dançar maxixes desenfreados
no mundo das garotas de madeira
que meu tio habilidoso fazia para mim.
A mãe-d’água só se preocupava
em tomar banhos asseadíssima
na piscina do sítio que não tinha chuveiro.
De noite eu ia no fundo do quintal
para ver se aparecia um gigante com trezentos anos
que ia me levar dentro dum surrão,
mas não acreditava nada.
Fiquei sem tradição sem costumes nem lendas
estou diante do mundo
deitado na rede mole
que todos os países embalançam.
(Os melhores poemas, 2000.)
Na terceira estrofe, o trecho “para ver se aparecia um gigante com trezentos anos” indica ideia de