Questões de Português - Leitura e interpretação de textos - Gêneros textuais - Verbais/Narrativos - Romance
315 Questões
Questão 9 10526883
FUVEST (USP) 2024“O lugar do ensino superior agora tem as portas abertas. A (...) Constituição é que impõe essa situação por decreto. Mas (...) este não pode garantir que todos tenham a tal ‘capacidade’ que lhes vai permitir o aproveitamento dessa educação. Há rapazes – até agora são poucas as moças com a força de vontade que Jabu, ainda menina, tinha para dar e vender – que recebem bolsas ou auxílios de algum tipo (...). As ‘aulas de reforço’ (...): um band-aid. Steve sabe que isso não é uma solução para o abismo da educação ruim do fundo do qual os alunos tentam emergir.
A Luta não terminou.
– (...) Eu tenho alunos de estudos africanos que não sabem escrever (...).
– Então o que é que nós devíamos estar fazendo? (...) O professor Nielson ainda usa terno (...), embora o padrão da indumentária tenha relaxado a partir do exemplo dado pelas túnicas de Mandela. (...) – Você não está propondo que a gente baixe ainda mais os critérios de admissão à universidade. Então a universidade é pra avançar no conhecimento ou é pra andar pra trás?
O que Steve está perguntando é se esse ensino adicional de faz de conta na esperança de elevar os alunos a um nível universitário pode compensar dez anos de educação primária e secundária de péssimo nível.”
GORDIMER, Nadine. O melhor tempo é o tempo presente. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p.82-83.
No excerto do romance da escritora sul-africana Nadine Gordimer, é possível identificar:
Questão 12 8847436
UFT Manhã 2023/1Leia os fragmentos para responder a QUESTÃO.
Texto I
Era o sertão vasto lamaçal. Com o clarear do dia, a chuva fina e insistente transformou-se em neblina, neblina de prata, escondendo os morros altos.
“Neblina na serra, chuva na terra” – pensou Vicente, que aí notou que estava encharcado, molhado da cabeça aos pés.
Já haviam descambado a serra, rompido mais de légua, chegavam às margens do córrego Gameleira. Não era o rio manso e cristalino de costume. Rolava águas barrentas, espumejando no meio da garrancheira. Atravessaram-no com água pelo peito. Do outro lado, estendia-se a mata ribeirinha, transformada em tijuco. O pé fincava-se no barro negro e peganhento, quando saía, lá ficava a botina. A gente tirava a botina da lama, calçava, dava novo passo e novamente os pés se prendiam no barro.
Fonte: ÉLIS, Bernardo. O tronco. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, p. 260, (fragmento).
Texto II
Aquele também foi o último ano que vi uma plantação extensa de arroz naquelas terras. O arroz, dependente de água, foi o primeiro a secar com a estiagem. Depois secaram a cana, as vagens de feijão, os umbuzeiros, os pés de tomates, quiabo e abóbora. Havia uma reserva de grãos guardada em casa e no galpão da fazenda. Com a seca, veio o medo de que nos mandassem embora por falta de trabalho. Depois veio o medo mais imediato da fome. (...).
Foi possível temperar os peixes enquanto havia umbu, que, junto com o sal, garantiu algum sabor à carne. Quando a farinha passou a rarear, meu pai recordou a receita do beiju de jatobá que Donana fazia. Havia vagens em abundância. Era uma árvore que resistia bem à falta d’água, frondosa, imponente, uma reserva de alimento de segunda linha, ignorada quando havia tudo o mais. Assim, comemos beiju de jatobá por meses, até enjoar.
Fonte: VIEIRA JUNIOR, Itamar. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019, p. 67-68, (fragmento).
Em relação ao modo como esses fragmentos dos romances de Bernardo Élis e Itamar Vieira Junior estão estruturados, é CORRETO afirmar que ambos trazem:
Questão 27 9884869
UNIEVA Medicina 2022/2Leia o excerto da obra de Émile Zola, Germinal.
Afinal, o que estava acontecendo com ela naquele dia? Nunca se sentira tão mole. Devia ser o ar contaminado. Não havia ventilação no fundo daquela via longínqua. Respirava-se toda espécie de vapores que saíam do carvão com uma efervescência de fonte, e às vezes com tal abundância que as lâmpadas apagavam-se. [...]
Não podendo mais, sentia necessidade de tirar a camisa. [...] tirou tudo, a corda e a camisa, com tanta ânsia que teria arrancado a pele, se pudesse. E agora, nua, deplorável, rebaixada ao trote de fêmea ganhando a vida pela lama dos caminhos, esfalfava-se, com a garupa coberta de fuligem e barro até a barriga, como uma égua de carroça. De quatro patas, ela empurrava o vagonete.
(ZOLA, Émile. Germinal. Trad. Francisco Bittencourt. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 318-319. [Fragmento])
A personagem passa por um processo de animalização, demonstrando a perda da própria humanidade. Assinale a alternativa que revela esse processo:
Questão 14 7338169
PUC-GO 2022Leia atentamente o texto humorístico, Boateiro, de Stanislaw Ponte Preta:
Diz que era um sujeito tão boateiro que chegava a arrepiar. Onde houvesse um grupinho, ele estava na conversa e, em pouco tempo, estava informando:“Já prenderam o novo Presidente”, “Na Bahia os comunistas estão incendiando as igrejas”, “Mataram agorinha um cardeal”; enfim, essas boatices. O boateiro encheu tanto que um coronel resolveu dar-lhe uma lição. Mandou prender o sujeito e, no quartel, levou-o até um paredão, colocou o pelotão de fuzilamento na frente, vendou-lhe os olhos e berrou:
___ Fogooooo !!!
Ouviu-se aquele barulho de tiros, e o boateiro caiu desmaiado.
Sim, caiu desmaiado, porque o coronel queria apenas dar-lhe um susto. Quando o boateiro acordou na enfermaria do quartel, o coronel falou para ele:
___ Olhe, seu pilantra, isto foi apenas para lhe dar uma lição. Fique espalhando mais boato idiota por aí, que eu lhe mando prender outra vez e aí não vou fuzilar com bala de festim, não.
Daí soltou o cara que saiu meio escaldado pela rua e logo na primeira esquina encontrou uns conhecidos
__ Quais são as novidades? ___ perguntaram os conhecidos.
O boateiro olhou pros lados, tomou ar de cumplicidade e disse baixinho:
___ O nosso exército está completamente sem munição.
(PRETA, Stanislaw Ponte. Boateiro. In: ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola Editorial, 2010, p. 195-196. Adaptado.)
Analise as assertivas a seguir sobre os recursos linguísticos empregados na construção do texto Boateiro:
I - O uso da expressão “Daí” expressa marca da ordem sequencial da narrativa.
II - A expressão “[...] enfim, esses boatos” aponta o sentido de encerramento de uma enumeração.
III - A alternância entre o artigo indefinido e o artigo definido em “uns conhecidos” e “os conhecidos” sinaliza um elo de correferencialidade entre as duas expressões.
IV - A escolha do vocabulário, predominantemente coloquial, compromete a coerência, uma vez que se trata de narração de episódio anedótico.
Assinale a única alternativa que apresenta todos os itens corretos:
Questão 12 5835253
INSPER ENG 2020/1Leia o texto para responder à questão.
Na quinta-feira, os três [Jorge, Sebastião e Julião], que se tinham encontrado na casa Havanesa, eram introduzidos por uma rapariguita vesga, suja como um esfregão, na sala do Conselheiro. Um vasto canapé1 de damasco amarelo ocupava a parede do fundo, tendo aos pés um tapete onde um chileno roxo caçava ao laço um búfalo cor de chocolate; por cima uma pintura tratada a tons cor de carne, e cheia de corpos nus cobertos de capacetes, representava o valente Aquiles arrastando Heitor em torno dos muros de Troia. Um piano de cauda, mudo e triste sob a sua capa de baeta2 verde, enchia o intervalo das duas janelas. Sobre uma mesa de jogo, entre dois castiçais de prata, uma galguinha3 de vidro transparente galopava; e o objeto em que se sentia mais o calor do uso era uma caixa de música de dezoito peças!
(Eça de Queirós. O primo Basílio, 1993.)
1canapé: espécie de sofá com encosto e braços.
2baeta: tecido de lã ou algodão, de textura felpuda, com pelo em ambas as faces.
3galguinha: referente à raça de cães altos, esguios e de pelagem curta.
As descrições nas passagens “suja como um esfregão” e “o objeto em que se sentia mais o calor do uso” indicam, respectivamente, que:
Questão 59 3652234
UERJ 2020/2Esboçamos as preocupações fundamentais que a nossa peça procura refletir. A primeira e mais importante de todas se refere a uma face da sociedade brasileira que ganhou relevo nos últimos anos: a experiência capitalista que se vem implantando aqui − radical, violentamente predatória, impiedosamente seletiva − adquiriu um trágico dinamismo. O santo que produziu o milagre é conhecido por todas as pessoas de boa-fé e bom nível de informação: a brutal concentração da riqueza elevou a capacidade de consumo de bens duráveis de uma parte da população, enquanto a maioria ficou no ora veja. [Adaptado da apresentação.]
CREONTE:
(...)
O trem atrasa o quê? Nem meia hora
E o cara quebra tudo... Acha que é certo,
Jasão?...
JASÃO:
Não discuto quebrar... Agora,
quem às três da manhã tá de olho aberto,
se espreme pra chegar no emprego às sete,
lá passa o dia todo, volta às onze
da noite pra acordar a canivete
de novo às três, tinha que ser de bronze
para fazer isso sempre, todo dia,
levando na marmita arroz, feijão
e humilhação...
(...)
CREONTE:
Sociologia, Jasão...
JASÃO:
Não...
(...)
O cara já tá por aqui. Tá perto
de explodir, um trem que atrasa, ele mata,
quebra mesmo, é a gota d`água...
BUARQUE, C.; PONTES, P. Gota d’agua: uma tragédia brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
Encenada pela primeira vez em 1975, a premiada peça de teatro Gota d`água foi reapresentada diversas vezes. No momento em que foi escrita, como indicam seus autores, a peça buscou explicitar questionamentos sobre mudanças que afetaram a sociedade brasileira durante os governos militares.
Tendo como base o diálogo citado acima, entre os personagens Creonte e Jasão, um dos efeitos dessas mudanças na experiência capitalista do Brasil da época foi a:
Pastas
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