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Acesse GrátisQuestões de Português - Análise e reflexão sobre a língua e a linguagem
Questão 6 8484553
UNICAMP 1° Fase 2023Você provavelmente já encontrou pelas redes sociais o famigerado #sqn, aquele jeito telegráfico de dizer que tal coisa é muito legal, “só que não”. Agora, imagine uma língua diferente do português que tenha incorporado um conceito parecido na própria estrutura das palavras, criando o que foi apelidado de “sufixo frustrativo”. Bom, é assim no kotiria, um idioma da família linguística tukano falado por indígenas do Alto Rio Negro, na fronteira do Brasil com a Colômbia. Para exprimir a função “frustrativa”, o kotiria usa um sufixo com a forma -ma. Você quer dizer que foi até um lugar sem conseguir o que queria indo até lá? Basta pegar o verbo ir, que é wa’a em kotiria, e acrescentar o sufixo: wa’ama, “ir em vão”.
(Adaptado de: LOPES, R. J. L. A sofisticação das línguas indígenas. Superinteressante, 18/11/2021.)
O excerto, retirado de uma revista de jornalismo científico, exemplifica um processo de formação de palavras na língua indígena kotiria e o compara com o uso da hashtag #sqn.
É correto afirmar que essa comparação
Questão 7 6431514
UEA - SIS 1° Etapa 2022Para responder a questão, leia o trecho do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira, proferido em 1655.
E para que um discurso tão importante e tão grave vá assentado sobre fundamentos sólidos e irrefragáveis¹, suponho primeiramente que sem restituição do alheio não pode haver salvação. [...] Quer dizer: se o alheio que se tomou ou retém, se pode restituir e não se restitui, a penitência deste e dos outros pecados não é verdadeira penitência, senão simulada e fingida, porque se não perdoa o pecado sem se restituir o roubado, quando quem o roubou tem possibilidade de o restituir. Esta única exceção da regra foi a felicidade do bom ladrão, e esta a razão por que ele se salvou, e também o mau se pudera salvar sem restituírem. Como ambos saíram do naufrágio desta vida despidos, e pegados a um pau, só esta sua extrema pobreza os podia absolver dos latrocínios que tinham cometido, porque impossibilitados à restituição ficavam desobrigados dela. Porém se o bom ladrão tivera bens com que restituir, ou em todo, ou em parte o que roubou, toda a sua fé e toda a sua penitência tão celebrada dos santos, não bastara a o salvar, se não restituísse. Duas coisas lhe faltavam a este venturoso homem para se salvar: uma como ladrão que tinha sido, outra como cristão que começava a ser. Como ladrão que tinha sido, faltava-lhe com que restituir: como cristão que começava a ser, faltava-lhe o batismo, mas assim como o sangue que derramou na cruz, lhe supriu o batismo, assim a sua desnudez, e a sua impossibilidade lhe supriu a restituição, e por isso se salvou. Vejam agora, de caminho, os que roubaram na vida; e nem na vida, nem na morte restituíram, antes na morte testaram de muitos bens, e deixaram grossas heranças a seus sucessores; vejam aonde irão ou terão ido suas almas, e se se podiam salvar.
(Antônio Vieira. Essencial, 2011. Adaptado.)
O orador dirige-se diretamente a seus ouvintes no seguinte trecho:
Questão 9 6710985
UNIFIMES 2022Leia o texto de Jaime Pinsky para responder a questão.
Um presente do Nilo
Heródoto, historiador grego que viveu no século V, tem uma célebre frase em que afirma ser o Egito uma dádiva, um presente do Nilo. A frase atravessou séculos e é repetida acriticamente por todos os manuais de história que falam do Egito. Fica, para muitos, a impressão que Heródoto efetivamente quis passar, ou seja, que mais importante do que a ação do homem, é o dom da natureza. Etnocêntricos e pretensiosos, os gregos tinham um despeito enorme do Egito, sabidamente já uma grande civilização, quando eles mesmos ainda viviam em aldeias isoladas. Considerando-se superiores, não podiam aceitar esse fato a não ser atribuindo-o a razões sobrenaturais ou, simplesmente, a razões geográficas.
Que os gregos subestimassem os egípcios é, pois, compreensível. O que não é aceitável, contudo, é a repetição do mesmo preconceito, livro após livro. Na verdade, não há um milagre egípcio, ele tem bases muito concretas. O rio, em si, oferece condições potenciais, que foram aproveitadas pela força de trabalho dos camponeses egípcios — os felás —, organizados por um poder central, no período faraônico. Trabalho e organização foram, pois, os ingredientes principais da civilização egípcia. O rio, em si, como pode ser visto em ilustrações, ao mesmo tempo que fertilizava, inundava. A cheia atingia de modo violento as regiões mais ribeirinhas e parcamente as mais distantes. Era necessário organizar a distribuição da água de forma mais ampla, para se poderem evitar alagados ou pântanos em algumas áreas e terrenos secos em outras. A solução foi o trabalho coletivo e solidário, intenso e organizado.
(As primeiras civilizações, 1994. Adaptado.)
Na última oração do texto, a palavra “solidário” deve ser entendida como:
Questão 28 6982572
FUVEST 2022TEXTO PARA A QUESTÃO.
A escrita faz de tal modo parte de nossa civilização que poderia servir de definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a partir da escrita. Talvez venha o dia de uma terceira era — depois da escrita. Vivemos os séculos da civilização escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se no escrito. A lei escrita substitui a lei oral, o contrato escrito substitui a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E sobretudo não existe história que não se funde sobre textos.
Charles Higounet. A história da escrita. Adaptado.
A escrita poderia servir de definição da nossa civilização, uma vez que
Questão 14 7338169
PUC-GO 2022Leia atentamente o texto humorístico, Boateiro, de Stanislaw Ponte Preta:
Diz que era um sujeito tão boateiro que chegava a arrepiar. Onde houvesse um grupinho, ele estava na conversa e, em pouco tempo, estava informando:“Já prenderam o novo Presidente”, “Na Bahia os comunistas estão incendiando as igrejas”, “Mataram agorinha um cardeal”; enfim, essas boatices. O boateiro encheu tanto que um coronel resolveu dar-lhe uma lição. Mandou prender o sujeito e, no quartel, levou-o até um paredão, colocou o pelotão de fuzilamento na frente, vendou-lhe os olhos e berrou:
___ Fogooooo !!!
Ouviu-se aquele barulho de tiros, e o boateiro caiu desmaiado.
Sim, caiu desmaiado, porque o coronel queria apenas dar-lhe um susto. Quando o boateiro acordou na enfermaria do quartel, o coronel falou para ele:
___ Olhe, seu pilantra, isto foi apenas para lhe dar uma lição. Fique espalhando mais boato idiota por aí, que eu lhe mando prender outra vez e aí não vou fuzilar com bala de festim, não.
Daí soltou o cara que saiu meio escaldado pela rua e logo na primeira esquina encontrou uns conhecidos
__ Quais são as novidades? ___ perguntaram os conhecidos.
O boateiro olhou pros lados, tomou ar de cumplicidade e disse baixinho:
___ O nosso exército está completamente sem munição.
(PRETA, Stanislaw Ponte. Boateiro. In: ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola Editorial, 2010, p. 195-196. Adaptado.)
Analise as assertivas a seguir sobre os recursos linguísticos empregados na construção do texto Boateiro:
I - O uso da expressão “Daí” expressa marca da ordem sequencial da narrativa.
II - A expressão “[...] enfim, esses boatos” aponta o sentido de encerramento de uma enumeração.
III - A alternância entre o artigo indefinido e o artigo definido em “uns conhecidos” e “os conhecidos” sinaliza um elo de correferencialidade entre as duas expressões.
IV - A escolha do vocabulário, predominantemente coloquial, compromete a coerência, uma vez que se trata de narração de episódio anedótico.
Assinale a única alternativa que apresenta todos os itens corretos:
Questão 12 7573703
Unioeste Manhã 2022O MACHISMO BRASILEIRO E A DOMINAÇÃO DO MAL
A lógica da dominação masculina silencia e mata mulheres e homens
Uma aluna me interrompeu bruscamente quando eu estava dando uma aula para uma turma de psicologia sobre o livro “A dominação masculina”, de Pierre Bourdieu. “Você está comparando o sofrimento das mulheres com o dos homens?” Respondi que, para o sociólogo francês, a lógica da dominação masculina, além de oprimir, aprisionar e escravizar as mulheres, também provoca sofrimento nos homens que não conseguem corresponder ao modelo dominante de ser um “homem de verdade”.
Na lógica da dominação masculina, os homens devem ser sempre superiores às mulheres: mais velhos, mais altos, mais fortes, mais poderosos, mais ricos, mais escolarizados etc. Essa lógica tem como efeito colocar as mulheres em um permanente estado de insegurança, inferioridade e dependência. Delas se espera que sejam submissas, contidas, discretas, apagadas, inferiores, invisíveis.
No entanto, essa lógica aprisiona as mulheres e também os homens, já que eles precisam fazer um esforço desesperado e patético, segundo Bourdieu, para estar à altura do ideal de masculinidade: força física, altura, sucesso, poder, prestígio, dinheiro, potência, virilidade, tamanho do pênis etc.
A aluna reagiu agressivamente: “Mas os homens não precisam ser defendidos pelas mulheres. Eles são os agressores, os inimigos, não as vítimas. Todos os homens são culpados ou cúmplices da violência que as mulheres sofrem”.
Tentei argumentar mostrando que os discursos sobre masculinidade podem ter mudado, mas que muitos comportamentos e valores permanecem, de forma consciente ou inconsciente, reproduzindo e fortalecendo a lógica da dominação masculina, inclusive pelas próprias mulheres.
“Ninguém está defendendo os machistas, só estamos refletindo sobre como a lógica da dominação masculina aprisiona mulheres e homens. Não estamos diminuindo o sofrimento feminino, mas apenas mostrando que os homens também sofrem. E sofrem calados.”
Dei então alguns exemplos das minhas pesquisas. Quando perguntei: “O que todo homem é?”, as respostas mais citadas foram: machista, galinha e infiel. Para “O que toda mulher é?”, a maioria respondeu: maternal, sensível e romântica.
Quando perguntei: “Você chora muito ou pouco?”, 52% das mulheres responderam que choram muito, 46% choram pouco e 2% nunca choram. Já os homens disseram que choram pouco (58%) ou nunca (37%). Apenas 5% choram muito. Perguntei: “Quem chora mais: o homem ou a mulher?”: 95% concordaram que a mulher chora mais e 5% que homens e mulheres choram igual.
Muitos homens cresceram ouvindo: “Homem não chora”; “Homem que chora é mulherzinha”; “Engole o choro, seja um homem de verdade”; “Chorar é frescura, coisa de maricas”. Alguns choram escondido, dentro do banheiro, pois não querem revelar seus medos, fraquezas e inseguranças para a esposa, namorada, filhos, pais e amigos. Outros confessaram que só choram quando estão bêbados, como um estudante de 18 anos: “Quando minha namorada terminou comigo entrei em depressão, passei a beber muito, tomar muito remédio. Muitas vezes me escondi para chorar no banheiro do bar para meus amigos não zombarem de mim.”
Mostrei pesquisas sobre o número de homens que morrem de infartos, suicídios, violência urbana. E outras sobre aposentados que se tornaram alcoólatras por se sentirem inúteis, invisíveis e descartáveis. Apresentei os resultados de pesquisas sobre jovens que têm vergonha do tamanho do pênis e que tomam Viagra por medo de brochar. A aluna gritou: “todos os homens são machistas”.
A turma tinha 100 alunos: 75 mulheres e 25 homens. Por que ninguém mais disse o que pensava? Por que todos ficaram calados?
Muitos alunos e alunas vieram conversar comigo depois da aula. “Professora, o discurso odiento e raivoso silencia as vozes de todos, não importa o assunto, pode ser machismo ou outro qualquer. Ela não quer ouvir ninguém, só quer vomitar seu ódio. Vivemos em uma época em que mesmo que 99% pensem diferente, o mal e o ódio venceram, estão no poder. Não existe a banalização do mal? Agora é a era da dominação do mal.”
Mirian Goldenberg, Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/miriangoldenberg/2022/04/o-machismo-brasileiro-e-a-dominacao-do-mal.shtml
Os trechos “Muitos homens cresceram ouvindo: ‘Homem não chora’; ‘Homem que chora é mulherzinha’; ‘Engole o choro, seja um homem de verdade’; ‘Chorar é frescura, coisa de maricas’” servem como: