Questões de Português - Gramática - Morfologia - Formação de palavras
Leia o trecho do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, para responder à questão
Só o nome da casa metia medo. O hospício! É assim como uma sepultura em vida, um semienterramento, enterramento do espírito, da razão condutora, de cuja ausência os corpos raramente se ressentem. A saúde não depende dela e há muitos que parecem até adquirir mais força de vida, prolongar a existência, quando ela se evola1 não se sabe por que orifício do corpo e para onde.
Com que terror, uma espécie de pavor de coisa sobrenatural, espanto de inimigo invisível e onipresente, não ouvia a gente pobre referir-se ao estabelecimento da praia das Saudades! Antes uma boa morte, diziam.
No primeiro aspecto, não se compreendia bem esse pasmo, esse espanto, esse terror do povo por aquela casa imensa, severa e grave, meio hospital, meio prisão, com seu alto gradil, suas janelas gradeadas, a se estender por uns centos de metros, em face do mar imenso e verde, lá na entrada da baía, na praia das Saudades. Entrava-se, viam-se uns homens calmos, pensativos, meditabundos, como monges em recolhimento e prece.
De resto, com aquela entrada silenciosa, clara e respeitável, perdia-se logo a ideia popular da loucura; o escarcéu, os trejeitos, as fúrias, o entrechoque de tolices ditas aqui e ali.
Não havia nada disso; era uma calma, um silêncio, uma ordem perfeitamente naturais. No fim, porém, quando se examinavam bem, na sala das visitas, aquelas faces transtornadas, aqueles ares aparvalhados, alguns idiotas e sem expressão, outros como alheados e mergulhados em um sonho íntimo sem fim, e via-se também a excitação de uns, mais viva em face à atonia de outros, é que se sentia bem o horror da loucura, o angustioso mistério que ela encerra, feito não sei de que inexplicável fuga do espírito daquilo que se supõe o real, para se apossar e viver das aparências das coisas ou de aparências das mesmas.
(Triste fim de Policarpo Quaresma, 2010.)
1evolar: voar para longe
A palavra “semienterramento” (1º parágrafo) é formada com o prefixo “semi-”, que adiciona à palavra “enterramento” o sentido de:
O termo circulado no texto é formado pelo processo de
Considere a frase:
- “Eu não fiz nada porque a responsa nesse caso não era minha.”
Dentre os processos existentes para a formação de novas palavras, verifica-se que o substantivo responsa é formado por:
A cada meio minuto, em algum lugar do planeta, uma pessoa morre vítima de câncer de pulmão. A mais
mortal entre todas as neoplasias malignas sempre desafiou a medicina. De evolução silenciosa, mas rápida,
sua detecção precoce ainda é rara. No Brasil, sete em cada dez casos são descobertos em estágios avançados,
quando as chances de cura são menores e as intervenções mais agressivas. Até chegar ao diagnóstico, 40%
[5] dos pacientes passam por ao menos três médicos, que, por falta de treinamento, não suspeitam da doença.
Tem mais. Pela estreita relação do câncer com o tabagismo, frequentemente, os doentes se culpam por sua
condição, o que tende a atrasar ainda mais o diagnóstico e o tratamento.
Graças aos avanços nos conhecimentos sobre oncogenética e ao aperfeiçoamento das tecnologias
diagnósticas e terapêuticas, esse cenário começa a mudar. No rastreamento do grupo de alto risco,
[10] tomografias computadorizadas conseguem diagnosticar a doença em estágios iniciais e reduzir em 20% a
taxa de mortalidade. A análise genômica dos tumores permite aos médicos determinar o melhor tratamento
para cada doente. O cuidado integrado, conduzido por um time de especialistas de diferentes áreas, refina a
abordagem do câncer de pulmão e garante o bem-estar do paciente, ao longo de toda a sua jornada.
“O trabalho coordenado de uma equipe multidisciplinar reduz o tempo de diagnóstico”, diz oncologista de
[15] instituição sediada em Salvador. A sintonia entre oncologistas, pneumologistas, paliativistas, radioterapeutas,
enfermeiros e psicólogos, entre outros profissionais, evita procedimentos desnecessários e redundantes.
Economizam-se recursos e ganha-se celeridade.
Com a descoberta das bases genéticas dos tumores malignos, a personalização torna-se realidade,
sobretudo no manejo do câncer de pulmão. Ferramentas ultramodernas, como os painéis genômicos por
[20] sequenciamento de nova geração, fornecem um retrato detalhado do DNA da célula tumoral na busca pelas
alterações associadas à gênese da doença de cada paciente. “Nos centros de excelência, os NGS não são mais
um luxo, já fazem parte do dia a dia dos consultórios”, diz outro especialista na área. Os tumores de pulmão
estão entre as neoplasias com o maior número de mutações associadas – dez no total. Identificado o defeito
genético, é possível prever não só a evolução do câncer e seu risco de metástase bem como antecipar a
[25] resposta do paciente a determinada terapia. Lançados na virada dos anos 1990 para 2000, os medicamentos
da chamada terapia alvo agem como mísseis teleguiados, projetados para agir nos genes e/ou proteínas
envolvidos na proliferação das células cancerosas.
Se não é encontrada alguma mutação genética específica, o que contraindicaria a terapia alvo, é possível
recorrer à imunoterapia. Atualmente, também por meio de análise gênica do tumor, os especialistas
[30] conseguem moldar em laboratório as células de defesa do paciente de modo a programá-las a atacar
estruturas específicas na superfície das células tumorais.
Altamente precisos, os novos tratamentos são mais eficazes e oferecem menos efeitos colaterais em
comparação aos tratamentos convencionais, em especial a quimioterapia. “A terapia alvo e a imunoterapia
têm um impacto muito positivo na qualidade de vida dos pacientes”, afirma a Dra. Carolina Kawamura. Ou
[35] seja, os pacientes não só vivem mais, como vivem bem. “Hoje em dia, o desfecho de qualidade de vida tem
sido muito avaliado também”, explica a médica. “Os benefícios de um tratamento, por mais eficaz que ele
seja, são questionáveis se não oferecerem qualidade de vida.”
A melhor arma contra o câncer de pulmão, no entanto, continua sendo não fumar. A imensa maioria dos
pacientes é ou era tabagista – o que torna o mais mortal dos tumores um dos mais preveníveis. Classificado
[40] pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como epidemia, o consumo de tabaco está associado a 22% das
9,6 milhões de mortes anuais, por qualquer tipo de neoplasia, hoje, no mundo. Sem contar quem, apesar
de não fumante, está sob ameaça direta da doença, por causa do cigarro alheio –1,2 milhão de mortes, em
decorrência do tabagismo passivo. Combinados, os hábitos saudáveis e a oncologia de precisão têm tudo
para barrar a escalada de casos de câncer de pulmão.
Folha de São Paulo, 29/09/2022
Na palavra “preveníveis”, a terminação indica significado de:
Leia o texto a seguir para responder a questão.
A biotecnologia e sua influência na vida dos seres humanos
Certos domínios do conhecimento existem há séculos, como a Matemática, a Astronomia, etc.; outros, como a Computação, tem seu desenvolvimento oriundo de épocas mais recentes. A questão, entretanto, é que as grandes descobertas da história são baseadas na junção de duas ou mais dessas grandes áreas. Uma dessas junções criou a área conhecida hoje como Biotecnologia.
Uma das possíveis definições para Biotecnologia é: “qualquer aplicação tecnológica que faça o uso de conhecimentos sobre os processos biológicos e sobre as propriedades dos seres vivos, com o fim de resolver problemas e criar produtos de utilidade”. Em outras palavras, estudos e desenvolvimentos nessa área usam os conhecimentos existentes na biologia, unidos ao aspecto tecnológico, para criar novos produtos e serviços, como plantas transgênicas, clonagem, desenvolvimento de vacinas, criação de órgãos artificiais e implantes, entre inúmeros outros.
Durante a Campus Party Brasil 2013 foi possível saber mais sobre o assunto através de palestras como a de “Biologia Sintética: hackeando organismos vivos”, ministrada pelos Professores Dr. Carlos Hotta e Dr. Mateus Schreiner Garcez Lopes, e na qual foi apresentada uma breve explicação sobre a Biologia Sintética, uma das muitas vertentes da Biotecnologia. Para explicá-la, o palestrante fez uma associação com a programação de computadores. Da fala do palestrante, entendemos que assim como nós, estudantes de Sistemas de Informação, que escrevemos linhas de código para criar programas, na Biologia Sintética “programa-se” organismos vivos por meio da modificação do código genético.
Na palestra foram mostrados também alguns exemplos de pesquisas sobre como a Biologia Sintética pode trazer benefícios aos seres humanos: modificar células de peixe de modo que seja possível fazer fotossíntese e, assim não seria necessário alimentálos, diminuindo os gastos para a piscicultura; modificar as células de um indivíduo já infectado com o vírus HIV, impedindo que a doença se desenvolva; e alterar a genética de fungos para que estes consigam identificar se bebidas alcoólicas estão “adulteradas” (se estão com maior teor alcoólico que o indicado). [...]
Hoje sabemos que temos a capacidade e o costume de manipular informações (fotos, vídeos, textos, etc) graças a ferramentas como celulares, computadores e tablets que hoje estão consolidados e difundidos. Agora, imagine utilizar esse poder de controle ampliado para a criação de produtos e inovações que poderiam beneficiar as nossas vidas em diversos aspectos: iogurtes antidepressivos, novas espécies de animais, bactérias luminescentes, etc. As possibilidades de criação de novas ferramentas que nos beneficiem e façam o uso desses dispositivos só se limitam à nossa imaginação. E é este o patamar previsto para o futuro e que foi mostrado na palestra.
Contudo, é importante lembrar que junto à toda esta capacidade, está uma enorme responsabilidade. Por mais incríveis que possam ser os produtos criados com uma finalidade positiva, existe a possibilidade do desenvolvimento de técnicas nocivas como armas biológicas, por exemplo. Por esse motivo, deve haver transparência nos estudos e respeito das restrições criadas pelos órgãos fiscalizadores. [...]
A Biotecnologia é uma área que já nos trouxe muitos benefícios e agora com o poder que os Sistemas de Informação estão trazendo para a manipulação da informação, um mundo novo surge diante de nós. Provavelmente, a grande questão que precisa ser tratada agora é como fazer com que a ética e a moral sejam estabelecidas e aplicadas, a fim de evitar que esta vertente de pesquisa que pode beneficiar tanto o ser humano, também venha a prejudicá-lo.
Fonte: FERRARI, Átila; PEREIRA, Vivian Mayumi Yamassaki Pereira. 19 de junho de 2013. Disponível em: http://www.each.usp.br/petsi/jornal/?p=546. Acesso em: 31 ago. 2022 (adaptado).
Assinale a alternativa CORRETA quanto ao processo de formação da palavra “biotecnologia”.
Para responder à questão, leia o trecho do conto “A menina, as aves e o sangue”, do escritor moçambicano Mia Couto (1955).
Aconteceu, certa vez, uma menina a quem o coração batia só de quando em enquantos. A mãe sabia que o sangue estava parado pelo roxo dos lábios, palidez nas unhas. Se o coração estancava por demasia de tempo a menina começava a esfriar e se cansava muito. A mãe, então, se afligia: roía o dedo e deixava a unha intacta. Até que o peito da filha voltava a dar sinal:
— Mãe, venha ouvir: está a bater!
A mãe acorria, debruçando a orelha sobre o peito estreito que soletrava pulsação. E pareciam, as duas, presenciando pingo de água em pleno deserto. Depois, o sangue dela voltava a calar, resina empurrando a arrastosa vida.
Até que, certa noite, a mulher ganhou para o susto. Foi quando ela escutou os pássaros. Sentou na cama: não eram só piares, chilreinações. Eram rumores de asas, brancos drapejos de plumas. A mãe se ergueu, pé descalço pelo corredor. Foi ao quarto da menina e joelhou-se junto ao leito. Sentiu a transpiração, reconheceu o seu próprio cheiro. Quando lhe ia tocar na fronte a menina despertou:]
— Mãe, que bom, me acordou! Eu estava sonhar pássaros.
A mãe sortiu-se de medo, aconchegou o lençol como se protegesse a filha de uma maldição. Ao tocar no lençol uma pena se desprendeu e subiu, levinha, volteando pelo ar. A menina suspirou e a pluma, algodão em asa, de novo se ergueu, rodopiando por alturas do tecto. A mãe tentou apanhar a errante plumagem. Em vão, a pena saiu voando pela janela. A senhora ficou espreitando a noite, na ilusão de escutar a voz de um pássaro. Depois, retirou-se, adentrando-se na solidão do seu quarto. Dos pássaros selou-se o segredo, só entre as duas.[...]
Com o tempo, porém, cada vez menos o coração se fazia frequente. Quase deixou de dar sinais à vida. Até que essa imobilidade se prolongou por consecutivas demoras. A menina falecera? Não se vislumbravam sinais dessa derradeiragem. Pois ela seguia praticando vivências, brincando, sempre cansadinha, resfriorenta. Uma só diferença se contava.
Já à noite a mãe não escutava os piares.
— Agora não sonha, filha?
— Ai mãe, está tão escuro no meu sonho!
Só então a mãe arrepiou decisão e foi à cidade:
— Doutor, lhe respeito a permissão: queria saber a saúde de minha única. É seu peito... nunca mais deu sinal.
O médico corrigiu os óculos como se entendesse rectificar a própria visão. Clareou a voz, para melhor se autorizar. E disse:
— Senhora, vou dizer: a sua menina já morreu.
— Morta, a minha menina? Mas, assim...?
— Esta é a sua maneira de estar morta.
A senhora escutou, mãos juntas, na educação do colo. Anuindo com o queixo, ia esbugolhando o médico. Todo seu corpo dizia sim, mas ela, dentro do seu centro, duvidava. Pode-se morrer assim com tanta leveza, que nem se nota a retirada da vida? E o médico, lhe amparando, já na porta:
— Não se entristonhe, a morte é o fim sem finalidade.
A mãe regressou à casa e encontrou a filha entoando danças, cantarolando canções que nem existem. Se chegou a ela, tocou-lhe como se a miúda inexistisse. A sua pele não desprendia calor.
— Então, minha querida não escutou nada?
Ela negou. A mãe percorreu o quarto, vasculhou recantos. Buscava uma pena, o sinal de um pássaro. Mas nada não encontrou. E assim, ficou sendo, então e adiante.
Cada vez mais fria, a moça brinca, se aquece na torreira do sol. Quando acorda, manhã alta, encontra flores que a mãe depositou ao pé da cama. Ao fim da tarde, as duas, mãe e filha, passeiam pela praça e os velhos descobrem a cabeça em sinal de respeito.
E o caso se vai seguindo, estória sem história. Uma única, silenciosa, sombra se instalou: de noite, a mãe deixou de dormir. Horas a fio a sua cabeça anda em serviço de escutar, a ver se regressam as vozearias das aves.
(Mia Couto. A menina sem palavra, 2013.)
Constitui exemplo de neologismo formado pelo processo de sufixação a palavra
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