Leia o texto a seguir para responder à questão.
Onde não é só lugar
Uma ideia que precisa definitivamente ser abandonada é a que a palavra “onde” só serve para indicar “lugar concreto, espaço físico”, como tenta impor (inutilmente) uma longa tradição normativista. Numa atitude típica de um tradicionalismo de costas voltadas para os estudos linguísticos mais criteriosos, Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante, em Gramática da língua portuguesa, assim se pronunciam:
Há uma forte tendência, na língua portuguesa atual, em usar o onde como relativo universal, um verdadeiro cola - tudo. Esse uso curiosamente tende a ocorrer quando um falante de desempenho linguístico pouco eficiente “procura falar difícil”.
(CIPRO NETO; INFANTE, 1997, p. 436)
Temos aí, em tão poucas linhas, pelo menos três inverdades. Primeira: o uso de “onde” com diversos valores sintáticos e semânticos não é uma “forte tendência na língua portuguesa atual”; é um uso devidamente registrado na língua desde suas fases mais remotas. Segunda: “onde” não é usado como “relativo universal, um verdadeiro cola- tudo” - existem regras para o uso do “onde”, só que, por serem regras não abonadas pela norma-padrão clássica, nenhum autor de gramática normativa se dá ao trabalho de descrevê-las e registrá-las. Terceira: o uso de “onde” para se referir a outras coisas além de “espaço físico” não ocorre na produção verbal de falantes “de desempenho linguístico pouco eficiente”. A menos que os autores da gramática citada assim considerem, por exemplo, o poeta Luís de Camões.
BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro: um convite à pesquisa. 2. ed. São Paulo: Parábola, 2001. p. 150. (Adaptado).
No texto, Marcos Bagno toma a palavra “onde” como objeto temático.
Portanto, o texto é construído a partir de um procedimento