Leia o conto “A opinião em palácio”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder
O rei fartou-se de reinar sozinho e decidiu partilhar o
poder com a Opinião Pública.
— Chamem a Opinião Pública — ordenou aos serviçais.
Eles percorreram as praças da cidade e não a encontraram. Havia muito que a Opinião Pública deixara de frequentar lugares públicos. Recolhera-se ao Beco sem Saída,
onde, furtivamente, abria só um olho, isso mesmo lá de vez
em quando.
Descoberta, afinal, depois de muitas buscas, ela consentiu em comparecer ao palácio real, onde sua majestade,
acariciando-lhe docemente o queixo, lhe disse:
— Preciso de ti.
A Opinião, muda como entrara, muda se conservou.
Perdera o uso da palavra ou preferia não exercitá-lo. O rei
insistia, oferecendo-lhe sequilhos e perguntando o que ela
pensava disso e daquilo, se acreditava em discos voadores,
horóscopos, correção monetária, essas coisas. E outras. A
Opinião Pública abanava a cabeça: não tinha opinião.
— Vou te obrigar a ter opinião — disse o rei, zangado.
— Meus especialistas te dirão o que deves pensar e manifestar. Não posso mais reinar sem o teu concurso. Instruída
devidamente sobre todas as matérias, e tendo assimilado o
que é preciso achar sobre cada uma em particular e sobre a
problemática geral, tu me serás indispensável.
E virando-se para os serviçais:
— Levem esta senhora para o Curso Intensivo de Conceitos Oficiais. E que ela só volte aqui depois de decorar bem
as apostilas.
(Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis, 2012.)
“— Chamem a Opinião Pública — ordenou aos serviçais.” (2º parágrafo) “
— Vou te obrigar a ter opinião — disse o rei, zangado. Meus especialistas te dirão o que deves pensar e manifestar.” (7º parágrafo)
Transpondo-se os trechos para o discurso indireto, os verbos sublinhados assumem, respectivamente, as seguintes formas: