[1] Na verdade, o mestre fitava-nos. Como era mais
severo para o filho, buscava-o muitas vezes com os olhos,
para trazê-lo mais aperreado. Mas nós também éramos finos,
[4] metemos o nariz no livro, e continuamos a ler. Afinal, cansou
e tomou as folhas do dia, três ou quatro, que ele lia devagar,
mastigando as ideias e as paixões. Não esqueçam que
[7] estávamos então no fim da Regência, e que era grande a
agitação pública. Policarpo tinha, decerto, algum partido,
mas nunca pude averiguar esse ponto. O pior que ele podia
[10] ter, para nós, era a palmatória. E essa lá estava, pendurada no
portal da janela, à direita, com os seus cinco olhos do diabo.
Era só levantar a mão, despendurá-la e brandi-la, com a força
[13] do costume, que não era pouca. E daí, pode ser que, alguma
vez, as paixões políticas dominassem nele a ponto de pouparnos
uma ou outra correção. (...)
[16] Estendi-lhe a mão direita, depois a esquerda, e fui
recebendo os bolos uns por cima dos outros, até completar
doze, que me deixaram as palmas vermelhas e inchadas.
[19] Acabou, pregou-nos outro sermão. Chamou-nos semvergonhas,
desaforados, e jurou que, se repetíssemos o
negócio, apanharíamos tal castigo que nos havíamos de
[22] lembrar para todo o sempre.
Machado de Assis. Contos de escola. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, p. 13 e 24.
Considerando o texto acima, extraído de Contos de Escola, e os diversos temas por ele suscitados, julgue o item.
Os vocábulos “vermelhas” (l.18) e “inchadas” (l.18), assim como “sem-vergonhas” (l.19-20) e “desaforados” (l.20), exercem a função de predicativo, respectivamente, da expressão “as palmas” (l.18) e da forma pronominal “nos” em “Chamou-nos” (l.19).