Prefeito: É para isso. Se você foi suficientemente indiscreto para compartilhar com outras pessoas um assunto da diretoria, será impossível, é claro, abafar a questão, conforme seria a melhor solução. Agora, eis o que a Prefeitura espera de ti. Tens de pedir outros exames, outros. Os novos exames provarão que, embora o problema exista, não é tão grave quanto parecia. Então prestará uma declaração pública, que o governo desta cidade saberá resolver tudo, justa e conscienciosamente. Estamos entendidos.
Stockman: Não se pode matar micróbios com política.
Prefeito: Como funcionário do estabelecimento não tens direito a essa opinião.
Stockman: Vai ser difícil explicar isso aos que morrerem por causa das águas.
Prefeito: A questão não é médica, é econômica. Teremos de tomar os cuidados, eu sei, sou um político. Mas como político, tenho de defender a maioria e não o caso particular, os fins justificam os meios. Tua atitude é individualista e alienada, e desse modo terei de pedir que redijas tua carta de demissão. Não é possível ter dentro do serviço público um homem que ataca as próprias fontes onde o povo vai buscar sua subsistência.
Stockman: Mas desgraçado, escuta. As fontes estão envenenadas! Causam doenças em quem as bebe. O comércio, do qual vivemos, é um comércio de imundícies, nossa vida social, embora florescente, repousa sobre uma mentira... o povo...
Prefeito: Não ouse pronunciar tal palavra. Um homem que emite tão odiosas insinuações sobre a sua própria cidade, não preza seus concidadãos. É um inimigo do Povo!
Henrik Ibsen. Um inimigo do povo.
A partir do texto apresentado, extraído da obra Um inimigo do povo, de Henrik Ibsen, julgue o próximo item.
A obra Um inimigo do povo é uma exceção no teatro, onde raramente são tratados temas que envolvem conflitos entre interesses individuais e coletivos, morais e éticos, políticos e econômicos, já que se trata de um meio de entretenimento.