E se a gordura fizer bem?
O conceito de alimentação saudável flutua há décadas ao sabor de condenações e absolvições. Novos estudos põem em xeque alimentos considerados saudáveis, ao mesmo tempo que resgatam outros, até então contraindicados. Entre os nutrientes que consumimos frequentemente, a gordura foi o menos atingido por essa montanha-russa de reputações. Desde que seu consumo foi associado a problemas do coração, há mais de 50 anos, a recomendação nunca mudou: gordura deve ser consumida com moderação; gordura saturada faz mal.
No entanto, pela primeira vez, essa imagem de vilã é contestada pelo livro The big fat surprise (A grande e gorda surpresa, em tradução livre), da jornalista americana Nina Teicholz. O livro esmiúça a história da gordura na alimentação ocidental com base em pesquisas, números e fatos, para defender uma tese provocativa: a gordura foi injustamente vilipendiada. Para a jornalista, a diminuição do consumo de gordura por recomendação médica contribuiu para que uma epidemia de obesidade e de diabetes do tipo 2 surgisse nos Estados Unidos e em outros países.
The big fat surprise parte de um paradoxo real e preocupante. Desde os anos 1970, formou-se um consenso: a gorduraé a principal responsável por sobrepeso e por doenças do coração. A partir daí, a onda de alimentos sem gordura, comidas light e orientação médica para cortar manteiga e bacon fez com que o consumo diminuísse em 11% nos Estados Unidos – enquanto a ingestão de carboidratos aumentou 26%, entre 1970 e 2010.
No livro, a primeira ideia defendida pela jornalista é simples: ao comermos menos gordura, comemos mais carboidrato e, consequentemente, passamos a ingerir mais alimentos de baixo teor de gordura fornecidos pela indústria alimentícia, como massas, biscoitos e barras de cereais. Para Nina, as campanhas de saúde pública erram ao se concentrarem na gordura como alvo e ignorarem os riscos dos carboidratos e açúcares em excesso presentes nesses alimentos industrializados.
De acordo com Marion Nestle, professora da Universidade de Nova Iorque, “quanto mais processado um alimento, menos nutrientes ele terá, portanto, para se aproximar de uma alimentação saudável, distancie-se do que é industrializado”.
(Flávia Yuri Oshima e Natália Spinacé. Época, 04.08.2014. Adaptado.)
Assinale a afirmação correta sobre as expressões destacadas.