Assaltos insólitos
[...]
— É um assalto, fica quieto senão leva chumbo.
Ele já se preparava para toda sorte de tragédias quando um dos ladrões pergunta:
— Cadê o patrão?
Num rasgo de criatividade, respondeu:
— Saiu, foi com a família ao mercado, mas já volta. — Então vamos lá dentro, mostre tudo.
Fingindo-se, então, de empregado de si mesmo, e, ao mesmo tempo para livrar sua cara, começou a dizer:
— Se quiserem levar, podem levar tudo, estou me lixando, não gosto desse patrão. Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam aquele rádio ali? Olha, se eu fosse vocês, levava aquele som também. Na cozinha tem uma batedeira ótima da patroa. Não querem uns discos? Dinheiro não tem, pois ouvi dizerem que botam tudo no banco, mas ali dentro do armário tem uma porção de caixas de bombons, que o patrão é tarado por bombom.
Os ladrões recolheram tudo o que o falso empregado indicou e saíram apressados.
Daí a pouco chegavam a mulher e os filhos.
Sentado na sala, o marido ria, ria, tanto nervoso quanto aliviado do próprio assalto que ajudara a fazer contra si mesmo.
SANTANNA, Affonso Romano. Porta de colégio e outras crônicas, São Paulo: Ática 1995.
O texto “Assaltos insólitos” é uma crônica porque