TEXTO II
A FAVOR DA DIFERENÇA, CONTRA TODA DESIGUALDADE *
A maioria das pessoas acredita que está isenta
de preconceitos. No entanto até sua linguagem contradiz
esta crença. De modo especial, o corpo, que deveria ser
um elemento de agregação e de comunicação, se torna
[5] elemento de discriminação.
Coube-me fazer uma pesquisa com dez
adolescentes sobre a presença da violência na escola
através da palavra. Todos afirmaram que já agrediram e
foram agredidos com palavras. Surpreende que os
[10] adolescentes veem no corpo um elemento de
discriminação. A obesidade, a altura, pequenos defeitos
físicos são motivos de preconceito.
Acontece que nossa sociedade seleciona um
determinado corpo como modelo e quem não obedece a
[15] este padrão está fora de cogitação. Num país de pobres
que não conseguem ter uma alimentação equilibrada e
nem os cuidados mínimos com a saúde, a consequência
é a marginalização.
As pessoas com necessidades especiais
[20] também são consideradas anormais. É muito comum
agredir verbalmente as pessoas chamando-as de
retardadas. Até os pobres entram na dança da agressão.
Um xingamento comum é o de vileiro ou favelado. E o
que dizer dos adolescentes homossexuais?
[25]
Diferença x desigualdade
Existe a visão de que a diferença se identifica
com a desigualdade. Há um padrão de ser humano
[30] estandardizado e único que deve servir de metro para o
julgamento das pessoas. O grande desafio para a
educação é descobrir este currículo oculto verdadeiro e
forte para enfrentá-lo adequadamente.
Há pessoas que dizem que só a educação é
[35] capaz de salvar e desenvolver um país. Até aqui todos
estão de acordo. Contudo é importante se perguntar
qual é o tipo de educação necessária para um país
como o Brasil, que tem uma das maiores concentrações
de renda do mundo. Há pessoas que tiveram acesso a
[40] todos os estudos possíveis e, no entanto, continuam
defendendo uma sociedade livre sem ser justa, o que,
convenhamos é uma grande possibilidade.
Pesquisa realizada pela Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (Fipe), a pedido do MEC,
[45] demonstrou que quanto mais preconceito e práticas
discriminatórias existem numa escola, pior é o
desempenho de seus estudantes. Foram entrevistadas
18.500 pessoas entre alunos, pais, diretores,
professores e funcionários de 501 escolas de todo o
[50] Brasil. Do total de estudantes entrevistados, 70% têm
menos de 20 anos.
Esta pesquisa revela que praticamente todos os
entrevistados (99,3%) têm preconceito em algum nível.
Sobre contra quem eles admitem ter preconceito,
[55] revelaram: homossexual, deficiente mental, cigano,
deficiente físico.
Enquanto a educação não enfrentar essas
questões, o que está acontecendo em nossas escolas é
apenas uma transmissão de conteúdos, um verniz
[60] colorido que não penetra o profundo, a consciência e o
coração das pessoas. (...)
SANDRINI, Marcos. Mundo jovem. Realidade brasileira Fevereiro de 2013.
Assinale a alternativa que apresenta uma inferência INCORRETA.