Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.
PESSOA, Fernando. Há doenças piores que as doenças. Disponível em: <http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/fernando-pessoa-poemas/>. Acesso em: 2 nov. 2016.
Nesses versos de Fernando Pessoa, o eu lírico revela que
I. o tédio e a sensação de inutilidade de estar no mundo o impelem a refletir sobre a própria identidade.
II. a dor física causada pela doença que o acometeu é encarada com serenidade, resignação e altivez.
III. o vinho é o remédio capaz de aliviar, diante da realidade palpável, o seu sofrimento metafísico.
IV. o sono resultante da ingestão do álcool lhe basta para fugir da angústia que o consome.
V. os conflitos existenciais vão sendo solucionados, paulatinamente, pelo desabafo.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a