TEXTO:
A cultura dominante, hoje mundializada, se estrutura
ao redor da vontade de poder, que se traduz por vontade
de dominação da natureza, do outro, dos povos e dos
mercados. Essa é a lógica dos dinossauros que criou a
[5] cultura do medo e da guerra. Praticamente em todos os
países, as festas nacionais e seus heróis são ligados a
feitos de guerra e de violência. Os meios de comunicação
levam ao paroxismo, à magnificação de todo tipo de
violência, bem simbolizado nos filmes de Schwazenegger,
[10] como o “Exterminador do Futuro”. Nessa cultura, o militar,
o banqueiro e o especulador valem mais do que o poeta,
o filósofo e o santo. E sempre de novo faz suscitar a
pergunta que, de forma dramática, Einstein colocou a
Freud nos idos de 1932: é possível superar ou controlar
[15] a violência? Freud, realisticamente, responde: “É
impossível aos homens controlar totalmente o instinto
de morte… Esfaimados, pensamos no moinho que tão
lentamente mói que poderíamos morrer de fome antes
de receber a farinha”.
[20] Sem detalhar a questão, diríamos que, por detrás
da violência, funcionam poderosas estruturas. A primeira
delas é o caos sempre presente no processo
cosmogênico. Viemos de uma imensa explosão, o big
bang. E a evolução comporta violência em todas as suas
[25] fases. A expansão do universo possui também o
significado de ordenar o caos. Possivelmente a própria
inteligência nos foi dada para pormos limites à violência
e conferir-lhe um sentido construtivo.
Em segundo lugar, somos herdeiros da cultura
[30] patriarcal que instaurou a dominação do homem sobre a
mulher e criou as instituições do patriarcado assentadas
sobre mecanismos de violência, como o Estado, as
classes, o projeto da tecnociência, os processos de
produção como objetivação da natureza e sua sistemática
[35] depredação.
Em terceiro, essa cultura patriarcal gestou a guerra
como forma de resolução dos conflitos. Sobre essa vasta
base, se formou a cultura do capital, hoje globalizada;
sua lógica é a competição e não a cooperação, por isso,
[40] gera guerras econômicas e políticas e, com isso,
desigualdades, injustiças e violências. Todas essas
forças se articulam estruturalmente para consolidar a
cultura da violência que nos desumaniza.
A essa cultura da violência há que se opor à cultura
[45] da paz. Hoje ela é imperativa, porque as forças de
destruição estão ameaçando, por todas as partes, o
pacto social mínimo sem o qual regredimos a níveis de
barbárie. É imperativa porque o potencial destrutivo já
montado pode ameaçar toda a biosfera e impossibilitar a
[50] continuidade do projeto humano. Ou limitamos a violência
e fazemos prevalecer o projeto da paz ou conheceremos,
no limite, o destino dos dinossauros.
O ser humano é o único ser que pode intervir nos
processos da natureza e copilotar a marcha da evolução.
[55] Ele foi criado criador. Dispõe de recursos de reengenharia
da violência mediante processos civilizatórios de
contenção e uso de racionalidade. A competitividade
continua a valer, mas no sentido do melhor e não de
destruição do outro. Assim todos ganham e não apenas
[60] um.
Onde buscar as inspirações para cultura da paz?
Mais que imperativos voluntarísticos, é o próprio processo
antroprogênico a nos fornecer indicações objetivas e
seguras. Ao lado de estruturas de agressividade, temos
[65] capacidades de afetividade, compaixão, solidariedade e
amorização. Hoje é urgente que desentranhemos tais
forças para conferir rumo mais benfazejo à história. Toda
protelação é insensata.
BOFF, Leonardo. Cultura da paz. Disponível em: <http://www.leonar doboff.com/site/vista/2001-2002/culturapaz.htm.>. Acesso em: 12 jul. 2016. Adaptado.
No que diz respeito aos recursos linguísticos presentes no texto, está correto o que se afirma em
I. O termo preposicionado “da natureza” (l. 3) exerce a mesma função sintática que “de comunicação” (l. 7), ambos tendo valor passivo, pois completam o sentido de um nome.
II. O vocábulo “países” (l. 6) é acentuado, porque o -i- do hiato não aparece antecedido de ditongo, forma sílaba sozinho, e não vem seguido de -nh, enquanto a acentuação do ditongo aberto -oi- de “heróis” (l. 6) e de “mói” (l. 18) deve-se, respectivamente, ao fato de se tratar de palavra oxítona e de um monossílabo tônico.
III. A presença do sinal de crase em “à magnificação” (l. 8) revela a fusão de duas vogais idênticas, embora pertencentes a classes gramaticais diferentes, sendo uma decorrente de regência verbal, e outra determinante de um nome feminino.
IV. Os verbos em negrito no fragmento “superar ou controlar a violência” (l. 14-15) classificam-se como transitivos, fazem parte da mesma conjugação e compõem orações subjetivas que se alternam entre si.
V. As palavras “desigualdades” (l. 41) e “injustiças” (l. 41) são derivadas pelo mesmo processo, não obstante os prefixos que as formam expressarem diferentes ideias.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a