No verão de 1949, os nativos estavam inquietos no país do Carnaval.
As cuícas iriam roncar nas ruas do Rio em fevereiro, e as válvulas
dos Philcos já pegavam fogo ao som dos sucessos daquele ano. De
três em três minutos, a Rádio Nacional martelava “Chiquita Bacana”,
[5] com Emilinha Borba. Era um massacre, a que nem os surdos eram
poupados. E até que aquele não seria um Carnaval dos piores:
alguns sambas e marchinhas eram divertidos, como o eufórico
“Que samba bom!”. E dezenas de outros, feitos para durar apenas
por pouco tempo, mas que as pessoas aprendiam e cantavam -
[10] nada a ver com os paquidérmicos sambas-enredo de hoje. As escolas
de samba existiam em função dos sambistas, não dos cambistas -
não que elas fossem muito importantes para o Carnaval. E, como
não existia televisão, ninguém ficava apalermado em casa, vivendo
vicariamente o espalhafato alheio. Saía-se às ruas para brincar e,
[15] durante os dois primeiros meses do ano, todo o Rio de Janeiro era
um Carnaval com um elenco de milhões. Mais exatamente 2 377 451
figurantes, segundo diria o IBGE em 1950.
Adaptado de Chega de saudade, de Ruy Castro
Considere as seguintes afirmações:
I. O texto faz implicitamente uma crítica ao Carnaval dos nossos tempos, concentrados no luxo televisivo e espetacular das dispendiosas escolas de samba.
II. O narrador observa, nostalgicamente, velhos tempos carnavalescos da cidade carioca, quando imperava a alegria das marchinhas e do Carnaval de rua.
III. A leveza das letras e ritmo das marchinhas são contrapostos a um ritmo pesado e nada leve dos sambas-enredo atuais.
Assinale: