Leia o trecho do texto de Vera da Silva Telles para responder à questão.
Como bem sabemos, a produção da chamada “cidade ilegal” não é novidade, já desde bastante tempo é item obrigatório da agenda de estudos urbanos, quanto mais não seja pelas características predatórias da urbanização de nossas cidades, via de regra pela expansão da ocupação irregular do solo urbano, de que o crescimento exponencial do favelamento e das zonas de ocupação no correr dos anos 1990 é evidência gritante. No entanto, o que merece uma interrogação mais detida são as novas mediações e conexões pelas quais essas ilegalidades variadas vêm sendo urdidas no cenário urbano. Na verdade, esse jogo entre legal e ilegal é hoje feito em termos muito diferentes do tão debatido descompasso entre a cidade legal e a cidade real. Pois não se trata propriamente de ilegalidades (novas e velhas), mas de uma crescente e ampliada zona de indiferenciação entre o lícito e o ilícito, entre o direito e o não-direito, entre o público e o privado, entre a norma e a exceção, projetando uma inquietante linha de sombra no conjunto da vida urbana e de suas formas políticas. Zona de indiferenciação que cria situações, cada vez mais frequentes, que desfazem formas de vida e transformam todos e cada um em “vida matável”. uma zona incerta não se reduz fronteiras físicas (se é que elas existem) do que chamamos de “periferia”, passa por todo o entrelaçado da vida social, pelas práticas e suas mediações, pelos circuitos da vida urbana e pelas conexões que se fazem nas dobraduras da vida social.
(“Transitando na linha de sombra, tecendo as tramas da cidade”. In: Francisco de Oliveira e Cibele Rizek (orgs). A era da indeterminação, 2007. Adaptado.)
Assinale a alternativa que preenche as lacunas do texto, mantendo sua coerência e respeitando a norma-padrão da língua portuguesa.