Interrogação
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Camilo Pessanha
A propósito do texto, seguem as afirmativas:
I. O eu-lírico nega e confirma seu amor, pondo em dúvida esse sentimento.
II. O poema apresenta como característica do Simbolismo a musicalidade nos versos.
III. Confirmação e negação do amor alternam-se nos trechos ...” procuro teu olhar “ e “... nunca pensei num lar onde fosses feliz, e eu feliz contigo.”
IV. O título confirma a declaração de um sentimento sobre o qual o eu-lírico não tem dúvidas.
É correto o que se afirma apenas em: