I.
Todos aqueles que se aproximam dos pestíferos aspergem-se com vinagre, perfumam suas roupas, em caso de necessidade usam máscaras. [...] Os padres dão absolvição de longe e distribuem a comunhão por meio de uma espátula de prata fixada a uma vara que pode ultrapassar um metro. Desse modo, as relações humanas são totalmente conturbadas: é o momento em que a necessidade dos outros se faz mais imperiosa — e em que, de hábito, eles se encarregavam dos cuidados — que agora abandonam os doentes. O tempo da peste é o da solidão forçada.
(DELUMEAU, 1989, p. 123).
II.
Os baianos passaram a ter medo dos mortos, dos doentes, dos vivos. Mas também tinham medo dos médicos e dos hospitais. Cruz Cordeiro testemunhou que os habitantes de Salvador, ao atenderem às visitas domiciliares das comissões, se mostravam incomodados com a presença de médicos e estudantes em suas casas. [...] Alguns doentes procuravam negar os seus padecimentos, “com o temor de serem conduzidos para o hospital, ou para os postos sanitários!”.
(DAVID, 1996, p. 64).
III.
O ebola afeta o indivíduo de duas formas: biologicamente, o vírus causa a doença; psicologicamente, transmite pânico. Não há vacina ou tratamento específico para o ebola. É isso que provoca medo, inclusive entre os profissionais de saúde. O medo não é bom em nenhuma situação de emergência de saúde pública. Quando isso ocorre, aumenta a probabilidade de erros e, consequentemente, o risco de infecção é maior.
(CUMINALE, 2014, p. 83).
Séculos separam as epidemias da Peste Negra (Idade Média), do cólera (século XIX /Bahia) e do ebola (África atual), tratadas pelos textos citados.
O traço comum que se revela nos comportamentos coletivos neles registrados, diz respeito