[...] a intensidade do uso das tecnologias e suas interferências nas atividades comunicativas diárias propiciaram o surgimento de novos gêneros textuais, formas inovadoras. Fato já notado por Bakhtin (1997) quando falava na transmutação dos gêneros e na assimilação de um gênero por outro, gerando novos. Exemplos: a) conversa -> telefonema b) bilhete -> carta -> e-mail. Os limites entre a oralidade e a escrita tornam-se menos visíveis, a isto, chama-se hibridismo (Luís Antônio Marcuschi).
Com base na opinião de Marcuschi, o gênero que se evidencia na constituição da publicidade abaixo
[...] a intensidade do uso das tecnologias e suas
interferências nas atividades comunicativas diárias propiciaram
o surgimento de novos gêneros textuais, formas inovadoras.
Fato já notado por Bakhtin (1997) quando falava na
transmutação dos gêneros e na assimilação de um gênero por
outro, gerando novos. Exemplos: a) conversa -> telefonema b)
bilhete -> carta -> e-mail. Os limites entre a oralidade e a escrita
tornam-se menos visíveis, a isto, chama-se hibridismo (Luís
Antônio Marcuschi).
Diz o texto: “Fato já notado por Bakhtin (1997) quando falava na transmutação dos gêneros”. Isso quer dizer que Bakhtin já antecipava que os gêneros textuais
Observando a charge, pode-se afirmar que a mensagem expressa pelo vendedor de peixes
A máscara da face
Já escrevi aqui sobre o rosto humano, a propósito da descoberta que fizera então, óbvia e surpreendente, de que “estamos na cara”, isto é, em nossa cara. E apesar de já tê-lo dito e de sabê-lo, continuo a me surpreender com esse fato banal, que se torna mais evidente quando vejo um lindo rosto de mulher: ela tem ombros, busto, quadris, coxas e pernas, move-se na quadra de tênis como se voasse – como Maria Sharapova –, mas tudo se resume, para nós, num rosto.
E então pensei no contrário do rosto: pensei na máscara, no que não somos. Porque o rosto é o que somos, inventou-se a máscara, a ocultação do que somos.
Certamente já escreveram sobre isso. Deve haver estudos e teorias sobre esse tema, pelo qual nunca me interessara, até este momento. Lembro-me de que uma das primeiras pinturas rupestres, do paleolítico, mostra uma figura mascarada, que se supõe seja um feiticeiro ou um caçador disfarçado de animal. Se for uma coisa ou outra, o significado de mascarar-se será diferente: sendo o caçador, é um disfarce; se for um feiticeiro, trata-se da representação de uma entidade mítica, dotada de poderes sobrenaturais.
Ao longo da história, em povos e civilizações diferentes, a máscara representava espíritos em geral demoníacos, que participavam de rituais, fosse para exorcizá-los, fosse para atemorizar os membros da comunidade e torná-los obedientes e submissos. Muitas dessas máscaras, que estão hoje em museus de antropologia, exageram na expressão assustadora, na feiura que seria própria dos demônios.
Mas a máscara tem tido funções diferentes nas diferentes culturas, seja como um modo de garantir a vida depois da morte, como no antigo Egito, seja como um modo de enganá-la, cobrindo o rosto do cadáver com uma cara inventada.
Aliás, como é óbvio, a máscara, falso rosto, foi criada para enganar, pelo fato mesmo de que, como ficou dito, nosso rosto somos nós. E, se assim é, ele nos identifica e, portanto, nos denuncia, pelos traços fisionômicos, mas também pela expressão do olhar. De cara exposta, olho no olho, é quase impossível fingir, mentir, enganar, mas, por trás da máscara, estamos a salvo do olhar perscrutador. Não adianta fitar os olhos, se não sabe de quem são.
Devemos admitir que desse olhar perscrutador queremos todos escapar e aí talvez esteja a razão fundamental porque a máscara esteve sempre tão presente na vida dos povos. No Ocidente, particularmente, a partir do desenvolvimento da economia, o olhar que indaga foi se tornando mais agudo e necessário: é que nasceu o comércio, a transação fundada na confiança e, então, segundo Arnaldo Hauser, surge a psicologia. Essa situação fez nascer um outro tipo de máscara, ou seja, o cara-de-pau, que não hesita em se fazer passar pelo que não é. E assim, além da máscara material, existe a de cara limpa. A máscara virtual do fingidor.
E aqui tocamos num ponto que explica, em grande parte, a invenção da máscara pelo homem, o fato de que, se o rosto que temos somos nós, nem sempre queremos expô-lo, porque nem sempre queremos nos expor, não só por autodefesa como também porque não sabemos quem somos e não sabemos, tampouco, se o outro, ao nos olhar, nos vê como somos ou desejamos ser vistos. É que o que somos só ganha realidade pelo reconhecimento do outro, ou seja, não somos, de fato, senão porque nos inventamos tal como queremos que o outro nos reconheça e aprove. Esse personagem inventado, que mostramos ao outro, exige de nós equilíbrio e adequação ao meio social, a fim de que ele nos aceite como pessoa verdadeira e não como um "mascarado".
Essa relação do rosto e da máscara parece decorrer da necessidade que temos de ficar livres do olhar do outro e livres, portanto, de sermos, para ele, aquela mesma pessoa de quem espera as mesmas coisas. Por essa razão, Jean-Paul Sartre dizia que “o inferno são os outros”.
A questão toda é que nem para nós somos os mesmos, sempre, totalmente fiéis aos princípios que decidimos adotar. Ser ético não é jamais se deixar tentar pelo erro e, sim, resistir à tentação, para poder, depois, olhar-se no espelho, sem sentir constrangimento.
Talvez o certo seja dizer que o rosto é a máscara que o acaso biológico nos impôs como identidade e é o espelho que nos informa da cara que é nossa, gostemos ou não. Mas, segundo li, nos Estados Unidos, graças à cirurgia plástica, já se pode trocar o rosto de nascença pelo de uma bela atriz ou de um belo ator, que se admira. E andar com a cara dela (ou dele) pelas ruas da cidade.
(Ferreira Gullar, Folha de S. Paulo, de 6/08/08)
Dadas as proposições subsequentes, com base nos aspectos morfossintáticos,
I. Em “Ser ético não é jamais se deixar tentar pelo erro e, sim, resistir à tentação” (10º parágrafo), a conjunção “e” deve ser classificada como coordenativa e inicia oração com valor semântico de oposição.
II. No trecho “Mas a máscara tem tido funções diferentes nas diferentes culturas” (5º parágrafo), os termos em destaque são ambos adjetivos; contudo, apresentam distintas funções sintáticas e foram empregados, também, com sentidos distintos.
III. Os verbos “nascer” e “andar”, presentes em “Essa situação fez nascer um outro tipo de máscara” (7º parágrafo) e em “E andar com a cara dela (ou dele) pelas ruas da cidade” (11º parágrafo), são transitivos e foram empregados com complemento direto e indireto, respectivamente.
IV. No período “Muitas dessas máscaras, que estão hoje em museus de antropologia, exageram na expressão assustadora, na feiura que seria própria dos demônios”
(4º parágrafo), os termos destacados são classificados morfologicamente como pronomes relativos e exercem funções sintáticas de sujeito e de objeto direto, respectivamente.
verifica-se que
A máscara da face
Já escrevi aqui sobre o rosto humano, a propósito da descoberta que fizera então, óbvia e surpreendente, de que “estamos na cara”, isto é, em nossa cara. E apesar de já tê-lo dito e de sabê-lo, continuo a me surpreender com esse fato banal, que se torna mais evidente quando vejo um lindo rosto de mulher: ela tem ombros, busto, quadris, coxas e pernas, move-se na quadra de tênis como se voasse – como Maria Sharapova –, mas tudo se resume, para nós, num rosto.
E então pensei no contrário do rosto: pensei na máscara, no que não somos. Porque o rosto é o que somos, inventou-se a máscara, a ocultação do que somos.
Certamente já escreveram sobre isso. Deve haver estudos e teorias sobre esse tema, pelo qual nunca me interessara, até este momento. Lembro-me de que uma das primeiras pinturas rupestres, do paleolítico, mostra uma figura mascarada, que se supõe seja um feiticeiro ou um caçador disfarçado de animal. Se for uma coisa ou outra, o significado de mascarar-se será diferente: sendo o caçador, é um disfarce; se for um feiticeiro, trata-se da representação de uma entidade mítica, dotada de poderes sobrenaturais.
Ao longo da história, em povos e civilizações diferentes, a máscara representava espíritos em geral demoníacos, que participavam de rituais, fosse para exorcizá-los, fosse para atemorizar os membros da comunidade e torná-los obedientes e submissos. Muitas dessas máscaras, que estão hoje em museus de antropologia, exageram na expressão assustadora, na feiura que seria própria dos demônios.
Mas a máscara tem tido funções diferentes nas diferentes culturas, seja como um modo de garantir a vida depois da morte, como no antigo Egito, seja como um modo de enganá-la, cobrindo o rosto do cadáver com uma cara inventada.
Aliás, como é óbvio, a máscara, falso rosto, foi criada para enganar, pelo fato mesmo de que, como ficou dito, nosso rosto somos nós. E, se assim é, ele nos identifica e, portanto, nos denuncia, pelos traços fisionômicos, mas também pela expressão do olhar. De cara exposta, olho no olho, é quase impossível fingir, mentir, enganar, mas, por trás da máscara, estamos a salvo do olhar perscrutador. Não adianta fitar os olhos, se não sabe de quem são.
Devemos admitir que desse olhar perscrutador queremos todos escapar e aí talvez esteja a razão fundamental porque a máscara esteve sempre tão presente na vida dos povos. No Ocidente, particularmente, a partir do desenvolvimento da economia, o olhar que indaga foi se tornando mais agudo e necessário: é que nasceu o comércio, a transação fundada na confiança e, então, segundo Arnaldo Hauser, surge a psicologia. Essa situação fez nascer um outro tipo de máscara, ou seja, o cara-de-pau, que não hesita em se fazer passar pelo que não é. E assim, além da máscara material, existe a de cara limpa. A máscara virtual do fingidor.
E aqui tocamos num ponto que explica, em grande parte, a invenção da máscara pelo homem, o fato de que, se o rosto que temos somos nós, nem sempre queremos expô-lo, porque nem sempre queremos nos expor, não só por autodefesa como também porque não sabemos quem somos e não sabemos, tampouco, se o outro, ao nos olhar, nos vê como somos ou desejamos ser vistos. É que o que somos só ganha realidade pelo reconhecimento do outro, ou seja, não somos, de fato, senão porque nos inventamos tal como queremos que o outro nos reconheça e aprove. Esse personagem inventado, que mostramos ao outro, exige de nós equilíbrio e adequação ao meio social, a fim de que ele nos aceite como pessoa verdadeira e não como um "mascarado".
Essa relação do rosto e da máscara parece decorrer da necessidade que temos de ficar livres do olhar do outro e livres, portanto, de sermos, para ele, aquela mesma pessoa de quem espera as mesmas coisas. Por essa razão, Jean-Paul Sartre dizia que “o inferno são os outros”.
A questão toda é que nem para nós somos os mesmos, sempre, totalmente fiéis aos princípios que decidimos adotar. Ser ético não é jamais se deixar tentar pelo erro e, sim, resistir à tentação, para poder, depois, olhar-se no espelho, sem sentir constrangimento.
Talvez o certo seja dizer que o rosto é a máscara que o acaso biológico nos impôs como identidade e é o espelho que nos informa da cara que é nossa, gostemos ou não. Mas, segundo li, nos Estados Unidos, graças à cirurgia plástica, já se pode trocar o rosto de nascença pelo de uma bela atriz ou de um belo ator, que se admira. E andar com a cara dela (ou dele) pelas ruas da cidade.
(Ferreira Gullar, Folha de S. Paulo, de 6/08/08)
Considerando a sintaxe da língua portuguesa, assinale a opção em que o trecho do texto destacado apresenta duas orações comparativas, uma delas principal de uma oração condicional.
A máscara da face
Já escrevi aqui sobre o rosto humano, a propósito da descoberta que fizera então, óbvia e surpreendente, de que “estamos na cara”, isto é, em nossa cara. E apesar de já tê-lo dito e de sabê-lo, continuo a me surpreender com esse fato banal, que se torna mais evidente quando vejo um lindo rosto de mulher: ela tem ombros, busto, quadris, coxas e pernas, move-se na quadra de tênis como se voasse – como Maria Sharapova –, mas tudo se resume, para nós, num rosto.
E então pensei no contrário do rosto: pensei na máscara, no que não somos. Porque o rosto é o que somos, inventou-se a máscara, a ocultação do que somos.
Certamente já escreveram sobre isso. Deve haver estudos e teorias sobre esse tema, pelo qual nunca me interessara, até este momento. Lembro-me de que uma das primeiras pinturas rupestres, do paleolítico, mostra uma figura mascarada, que se supõe seja um feiticeiro ou um caçador disfarçado de animal. Se for uma coisa ou outra, o significado de mascarar-se será diferente: sendo o caçador, é um disfarce; se for um feiticeiro, trata-se da representação de uma entidade mítica, dotada de poderes sobrenaturais.
Ao longo da história, em povos e civilizações diferentes, a máscara representava espíritos em geral demoníacos, que participavam de rituais, fosse para exorcizá-los, fosse para atemorizar os membros da comunidade e torná-los obedientes e submissos. Muitas dessas máscaras, que estão hoje em museus de antropologia, exageram na expressão assustadora, na feiura que seria própria dos demônios.
Mas a máscara tem tido funções diferentes nas diferentes culturas, seja como um modo de garantir a vida depois da morte, como no antigo Egito, seja como um modo de enganá-la, cobrindo o rosto do cadáver com uma cara inventada.
Aliás, como é óbvio, a máscara, falso rosto, foi criada para enganar, pelo fato mesmo de que, como ficou dito, nosso rosto somos nós. E, se assim é, ele nos identifica e, portanto, nos denuncia, pelos traços fisionômicos, mas também pela expressão do olhar. De cara exposta, olho no olho, é quase impossível fingir, mentir, enganar, mas, por trás da máscara, estamos a salvo do olhar perscrutador. Não adianta fitar os olhos, se não sabe de quem são.
Devemos admitir que desse olhar perscrutador queremos todos escapar e aí talvez esteja a razão fundamental porque a máscara esteve sempre tão presente na vida dos povos. No Ocidente, particularmente, a partir do desenvolvimento da economia, o olhar que indaga foi se tornando mais agudo e necessário: é que nasceu o comércio, a transação fundada na confiança e, então, segundo Arnaldo Hauser, surge a psicologia. Essa situação fez nascer um outro tipo de máscara, ou seja, o cara-de-pau, que não hesita em se fazer passar pelo que não é. E assim, além da máscara material, existe a de cara limpa. A máscara virtual do fingidor.
E aqui tocamos num ponto que explica, em grande parte, a invenção da máscara pelo homem, o fato de que, se o rosto que temos somos nós, nem sempre queremos expô-lo, porque nem sempre queremos nos expor, não só por autodefesa como também porque não sabemos quem somos e não sabemos, tampouco, se o outro, ao nos olhar, nos vê como somos ou desejamos ser vistos. É que o que somos só ganha realidade pelo reconhecimento do outro, ou seja, não somos, de fato, senão porque nos inventamos tal como queremos que o outro nos reconheça e aprove. Esse personagem inventado, que mostramos ao outro, exige de nós equilíbrio e adequação ao meio social, a fim de que ele nos aceite como pessoa verdadeira e não como um "mascarado".
Essa relação do rosto e da máscara parece decorrer da necessidade que temos de ficar livres do olhar do outro e livres, portanto, de sermos, para ele, aquela mesma pessoa de quem espera as mesmas coisas. Por essa razão, Jean-Paul Sartre dizia que “o inferno são os outros”.
A questão toda é que nem para nós somos os mesmos, sempre, totalmente fiéis aos princípios que decidimos adotar. Ser ético não é jamais se deixar tentar pelo erro e, sim, resistir à tentação, para poder, depois, olhar-se no espelho, sem sentir constrangimento.
Talvez o certo seja dizer que o rosto é a máscara que o acaso biológico nos impôs como identidade e é o espelho que nos informa da cara que é nossa, gostemos ou não. Mas, segundo li, nos Estados Unidos, graças à cirurgia plástica, já se pode trocar o rosto de nascença pelo de uma bela atriz ou de um belo ator, que se admira. E andar com a cara dela (ou dele) pelas ruas da cidade.
(Ferreira Gullar, Folha de S. Paulo, de 6/08/08)
Considerando os aspectos linguísticos e gramaticais, dadas as proposições subsequentes,
I. O trecho “Deve haver estudos e teorias sobre esse tema, pelo qual nunca me interessara, até este momento” (3º parágrafo) pode ser reescrito, sem que haja prejuízo semântico ou gramatical, da seguinte forma: Devem ter estudos e teorias sobre esse tema, pelo qual nunca me tinha interessado, até este momento.
II. A conjugação subordinativa “porque”, presente na passagem “Porque o rosto é o que somos, inventou-se a máscara, a ocultação do que somos” (2º parágrafo), poderia ser substituída, sem que houvesse modificação de sentido, pela locução conjuntiva posto que.
III. Embora a pontuação tenha sido empregada com finalidade estilística no final do sétimo parágrafo, o vocábulo “assim”, presente no trecho “E assim, além da máscara material, existe a de cara limpa” (7º parágrafo), pode ser classificado como conjunção coordenativa conclusiva.
IV. Nas passagens “a ocultação do que somos” (2º parágrafo) e “pensei na máscara, no que não somos” (2º parágrafo), os termos destacados são contrações de preposição e artigo definido masculino, iniciando termos com funções sintáticas distintas.
verifica-se que somente